04-01-2021, 07:36 PM
5. As tendências de instalação da crença
Os homens são tão inocentes que acreditam rapidamente em qualquer comportamento que os pilantras simulem. Também tendem a crer, sem duvidar, no que dizem pessoas que admiram ou amam. Quando algo é dito para alguém através de palavras diretas, a pessoa tende mais facilmente a desconfiar do que quando é dito indiretamente, através de palavras que tenham o desdobramento desejado pelo manipulador ou através de comportamentos simulados.
Este é o mecanismo da propaganda subliminar utilizada por muitas empresas e desenvolvidos por certos especialistas na arte de ludibriar os trouxas. Parece-me sobremaneira difícil aos homens duvidarem dos comportamentos simulados. Basta que alguém simule desafiar um homem, ridicularizá-lo ou estar interessado em sua esposa para desviar rapidamente sua atenção de alvos que não tenham relação com esses pontos.
Então o mesmo se converterá em vítima indefesa. Uma mulher é incapaz de crer que um homem está fingindo quando este simula olhar para seus decotes ou para suas pernas. Um indivíduo arrogante não consegue desconfiar da autenticidade do comportamento daquele que simula ser submisso ou se envergonhar diante de seus ataques. Conduz-se facilmente a crença alheia quando se tenta direcioná-las no rumo de suas tendências naturais: seus desejos e medos. As pessoas acreditam facilmente no que temem e no que desejam.
Deste modo, suas paixões são excitadas. Para domar sua vítima, é fundamental ao charlatão enganá-la, fazendo-a crer através de atitudes manipulatórias. Mas o manipulador também pode se valer da fala indireta ou da fala direta a um terceiro que seja caro à vítima. Um dos segredos da manipulação consiste em conseguir identificar as possibilidades de indução de crença no outro e instrumentalizá-las. O manipulador necessita saber em que campo aplicá-las e principalmente, diante da necessidade, saber qual é a melhor crença que poderá ser induzida.
Se o manipulador falhar nesse cálculo, cairá no descrédito e seu poder magnético ficará reduzido. A reação antipática do manipulador à forma peculiar de expressão do outro dificulta a manipulação. Ao invés de opor força contra força, tentando forçar a vítima a deixar de ter a atitude antipática, os mais astutos consideram estratégico receber e aceitar a pessoa tal como é e lhes chega, dirigindo suas crenças dentro das possibilidades fornecidas por suas tendências passionais naturais. Não é possível criar paixões novas mas é possível atiçar e excitar paixões latentes previamente existentes.
A dificuldade está em encontrar as tendências espontâneas do outro que sejam úteis aos propósitos manipulatórios. Na manipulação, importa mais a capacidade de encontrar sentido nas fraquezas passionais previamente existentes da vítima do que a capacidade de forçar sua vontade. Mas para tanto, faz-se necessário antecipar os resultados que a excitação das paixões provocará e escolher a paixão correta que resultará no resultado almejado. Trata-se de um cálculo em que um pequeno erro pode ser fatal.
A miopia em detectar os efeitos de uma paixão excitada pode fazer com que os mesmos sejam revertidos contra quem tentou desencadeá-los. Daí a importância, nos casos de legítima defesa em que devolvemos os feitiços e desarticulamos manipulações, de termos uma consciência penetrante e envolvente, que consiga captar os fatos com abrangência e profundidade para minimizar o risco dos efeitos colaterais e, ao mesmo tempo, sermos altamente resistentes ao contra-impacto magnético do manipulador que estiver sofrendo os efeitos do retorno especular.
O contra-impacto magnético é o efeito colateral da tentativa de fascinação e pode surgir como reação consciente de defesa legítima por parte daquele que está recebendo o contra-feitiço. Somente a fortificação da vontade por meio da morte dos egos confere resistência contra o mesmo. Quando o manipulador se depara com uma pessoa resistente ao seu magnetismo, sente-se impotente e é atingido pela antipatia.
O caminho para não termos nossas crenças manipuladas é isolar o manipulador em suas tentativas de manipulação, para que ele perca o seu tempo com vãs tentativas solitárias.
6. A natureza da paixão
A essência da paixão é a necessidade. Aquele que está apaixonado necessita do objeto de paixão e não suporta a sua falta. O objeto de paixão sempre é visto como superior pelo apaixonado e jamais como inferior ou igual. Daí sucede que o repúdio intensifica o desejo do repudiado. Desejamos aquilo que acreditamos necessitar, mesmo que seja apenas para o nosso bem estar. Não há desejo sem necessidade, ainda que apenas psíquica. Quando não desejamos algo, não precisamos daquilo. E se temos aversão, precisamos é do afastamento.
As mulheres amam alucinadamente os homens ricos, famosos e poderosos porque eles não necessitam delas. Os homens desejam ardentemente as mulheres lindas porque elas não necessitam deles. Sabendo disso, há pessoas que manipulam as paixões alheias e submetem o próximo a torturas emocionais. Através das atitudes, comunicam subliminarmente ao outro que estão em posições vantajosas e não necessitam de ninguém, inclusive no sentido afetivo-erótico.
As pessoas que exercem sobre o sexo oposto atrações poderosas comportam-se como se tivessem à sua disposição, a qualquer momento, os seres mais interessantes e desejáveis do mundo. Deste modo, sugerem sutilmente, de maneira quase invisível: “Não preciso de você porque disponho do amor e do desejo de pessoas muito melhores”.
O inconsciente das vítimas, então, acredita que estas pessoas altamente atraentes sejam quase sobre-humanas e escondam algum segredo maravilhoso, prazeres inimagináveis e amores inefáveis. Este é o motivo pelo qual as mulheres se lançam com tanta determinação na conquista de um homem quando sabem que ele dispõe de uma companheira maravilhosa, que todos gostariam de ter.
O processo de apaixonamento é o processo de instalação de uma crença através da imaginação exaltada: a crença de que o outro é infinitamente superior a nós e um caminho para a realização de todos os nossos sonhos. Portanto, no jogo da paixão vence aquele que possui mais força interna e não se deixa fascinar.
A oscilação intencional entre atitudes opostas é uma artimanha do elemento ativo, apaixonador, para estimular a paixão da vít ima até a loucura; é aplicada por meio de estratégias práticas que variam infinitamente. As estratégias consistem, muitas vezes, em enviar sinais opostos ao inconsciente do elemento passivo de modo a confundí-lo e submetê-lo. Vejamos alguns exemplos:
1. Marcar um encontro, aparecer e tratar bem a pessoa de modo a encantá-la. No dia seguinte faltar e apresentar uma desculpa a tempo, antes que o elemento passivo se polarize na aversão.
2. Maltratar levemente o apaixonante e agradá-lo após algum tempo, antes que se polarize na aversão.
Aquele que tenta encantar sem ter a força interna necessária para resistir aos efeitos colaterais do encantamento é fulminado pelas forças que desencadeou. Se um homem quer fazer-se notar por uma mulher que o despreza, basta fazer algo que a desagrada. Será imediatamente notado e marcará a sua imaginação na proporção da ousadia do ato desagradável.
O excesso na ousadia de tal ato ou um erro qualitativo na direção do mesmo, porém, será destrutivo a esse homem. Se, além de fazer-se notar, ele quiser aproximar-se dela, terá que contrabalançar o ato desagradável com atos favoráveis à mulher. A dosagem e a forma como os atos contrários se combinam somente pode ser determinada pela experiência, pelo conhecimento específico da personalidade sobre a qual se opera e pelas circunstâncias específicas em que se dá a operação magnética.
Mulheres e homens experientes ou que sofreram muitas vezes com o apaixonamento, desenvolvem grande resistência ao encantamento. Administram os opostos à vontade porque não temem perder o parceiro. Dificilmente caem nas garras de elementos apaixonantes porque estão protegidos pelo ceticismo e duvidam do comportamento simulado do manipulador. A superação da barreira manipulatória imposta pelos jogos de atitudes contrastantes é alcançada quando o fluxo hipnótico é devolvido ao emissor.
A devolução requer:
1. que a vítima apaixonante perceba a intenção das estratégias do outro;
2. comporte-se como se não tivesse ciência do que se passa;
3. conquiste a independência interna (conseguindo ser indiferente tanto às manifestações de amor como de desprezo);
4. administre os sentimentos do apaixonador com suas próprias estratégias.
A vítima apaixonante é mantida constantemente na dúvida através das atitudes contraditórias do apaixonador. Um mistério é criado e mantido a todo custo por meio de atitudes incoerentes e contrastantes. As atitudes de afastamento, geradoras de repulsão, nunca são extremas. São sempre tênues pois as atitudes extremas eliminam a dúvida na vítima e a tornam capaz de se decidir, optando pelo afastamento definitivo.
O apaixonador luta por não se polarizar em nenhum lado. O mais desapaixonado é o mais apto a jogar com suas próprias atitudes contrastantes de modo a confundir o outro a respeito de suas intenções e manter o mistério. Então a vítima será incapaz de tirar uma conclusão definitiva a respeito do que o outro sente e do valor que confere à relação por não ter parâmetros coerentes para julgar.
As atitudes são tomadas em função do que acreditamos e se os dados forem contraditórios, não conseguiremos acreditar se a outra pessoa nos ama ou nos despreza. Não obstante, o manipulador sugere à vítima, sem lhe dar certeza, que a ama e não de que a odeia. Excita sua imaginação ao sugerir-lhe que seu anelo de ser amado pode ser satisfeito. A mentira, sagrada lei regente das relações sociais neste mundo tenebroso, se mescla constantemente à verdade na fala e no comportamento geral do perigoso apaixonador.
A proteção é conseguida preservando-se a ciência de que as atitudes do apaixonador formam um conjunto de mentiras misturadas com verdades no qual não se pode acreditar e nem tampouco passar ao extremo oposto: o da descrença absoluta. Há uma grande vantagem em sermos desapaixonados porque, deste modo, nos tornamos resistentes às tentativas de encantamento por parte de pessoas desonestas.