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Conhecendo o Autor #05 - Nelson Rodrigues
#1
Salve.

Depois de um tempão sem postar nada, vou tentar voltar com essa “série”.
O último tópico que fiz foi sobre o Ernest Hemingway. Abaixo, a lista completa.

Conhecendo o Autor #01 - Charles Bukowski
Conhecendo o Autor #02 - Franz Kafka
Conhecendo o Autor #03 - Álvares de Azevedo
Conhecendo o Autor #04 - Ernest Hemingway

Nesse tópico vou deixar algumas informações da vida e das obras do Nelson Rodrigues, o terror da classe média carioca. Um grande realista dos tempos em que nós nem pensávamos em nascer Gargalhada.

[Image: 9cee9a55a38c65c25c775edfa6cdc592-gpLarge.jpg]

Nasceu em Recife, em 23 de agosto de 1912. Era filho de um grande jornalista da época, Mário Rodrigues. Teve 13 irmãos. Faleceu em 21 de dezembro de 1980, aos 68 anos de idade, de complicações cardíacas e respiratórias.

Foi escritor, jornalista, cronista, dramaturgo, fodido financeiramente, entre outras ocupações.
Desde a infância, era um leitor compulsivo de livros românticos e um apaixonado por futebol.

Começou sua carreira jornalística no jornal que seu pai era sócio, A Manhã, na seção Polícia, com relatos de crimes passionais e pactos de morte.
Detalhe, isso com 13 anos de idade (já havia lido várias obras de Dostoiévski). Criou seu próprio tabloide, a Alma Infantil.

Mais tarde, também foi cronista esportiva e fez vários textos famosos sobre o Fluminense, clube o qual torcia. Muitos dizem que Nelson foi fundamental para que o Fla-Flu tivesse a relevância de Fla-Flu.

Quando tinha 17 anos, viu seu irmão ser assassinado. O motivo foi adultério. uma mulher queria matar seu pai, mas como não o encontrou, matou o irmão (já que não tem tu, vai tu mesmo).
Isso desencadeia uma série de problemas emocionais para a família.

O pai de Nelson Rodrigues havia perdido o jornal A Manhã, tendo fundado, posteriormente, o Crítica.

Durante a revolução de 30, o jornal acabou deixando de existir e a família Rodrigues, que vivia confortavelmente, passou a ter problemas financeiros, a ponto de terem que usar praticamente a mesma roupa todos os dias.

Pouco depois, seu irmão começou a trabalhar na redação do jornal O Globo, que havia acabado de “cair nas mãos” de Roberto Marinho. Seu irmão arrumou uma vaga para ele no local.

Depois disso (em 1934), descobriu que tinha tuberculose e passou 14 meses em um sanatório em Campos do Jordão (tratamento custeado pelo próprio Roberto Marinho, inclusive).

Devido à situação financeira complicada, achou no teatro uma oportunidade de ganhar dinheiro.
Sua primeira peça foi A Mulher Sem Pecado, em 1941. A peça ficou em cartaz por apenas duas semanas e não teve muitos adeptos.
Após, ele escreve sua segunda peça, O Vestido de Noiva (1943), e aí sim começa o seu prestígio como dramaturgo.

Intitulava-se reacionário e era católico.

Citação:Reacionário é aquele que reage a tudo que não presta

As obras de Nelson Rodrigues são carregadas de realismo, erotismos e adultérios.
Ele retratava a sociedade como ela era (e ainda é, por isso sua obra continua tão atual e, a meu ver, é atemporal).
A hipocrisia das classes da sociedade e do indivíduo em si não passava desapercebida pelo Nelson Rodrigues.
Ao que parece, praticamente todas as obras (e peças) dele contém canalhas, mentirosos, hipócritas e, principalmente, a figura da adúltera.

Aos integrantes da ala que oram pela mulher exceção, preparem o psicológico se forem ler Nelson Rodrigues, pois vocês serão nocauteados com muita classe, elegância e inúmeras pitadas de humor e tragédia.
Nelson Rodrigues deveria ser leitura obrigatória na Real, assim como Nessahan Alita Gargalhada.

Se o Nelson escrevesse livros nos dias de hoje, com certeza iria ser cancelado pela turma da lacrolândia todo santo dia, o que no caso só corrobora com o teor de suas obras.
Para tanto, ele dizia que suas obras eram sobre o amor e a morte.
Devido ao seu modo peculiar e único de escrita, bem como o teor de suas obras, acabou recebendo a alcunha d’O Anjo Pornográfico, nome da biografia escrita por Ruy Castro.


COMENTÁRIOS SOBRE AS OBRAS DO NELSON RODRIGUES

Ler Nelson Rodrigues é deveras prazeroso.
Sempre há uma merda a mais para acontecer; quando está tudo de cabeça para baixo, algum acontecimento vem para piorar ainda mais a situação.
Apesar disso, é impossível ler alguma obra dele sem dar boas gargalhadas. Humor áspero e trágico, atrelado ao realismo das obras. Mistura perfeita.
 
Das obras do Nelson, já li:

A FALECIDA – engraçado, cômico, absurdo. Zulmira está quase morrendo e, como viveu uma vida pobre, seu último pedido é um enterro luxuoso, até pelo fato dela querer se vingar de sua prima, com quem nutri um sentimento de ódio.
Ela diz ao seu marido, Tuninho, que tem um certo nojo dela, procurar um certo homem rico que ele dará o dinheiro necessário para seu enterro chique.
Muita merda acontece.
 
VIUVA, PORÉM HONESTA – essa obra é completamente atemporal e retrata a hipocrisia da sociedade de forma magistral.
Todos tentando ser o que não são. Tudo começa quando Ivonete, a filha de um dono(diretor) de jornal, fica viúva e decide nunca mais se sentar, como forma de demonstrar sua fidelidade ao marido falecido.
Dr. JB, o dono do jornal, convoca várias pessoas para analisarem o problema da filha: um médico, um otorrino, uma madame, um psicanalista e o próprio diabo em pessoa. Nelson Rodrigues tinha o dom da escrita, despejando toda sua crítica através de ironias e sátiras, tudo regado a um excelente humor ácido e muito deboche (o que me agrada demais, pois quase sempre as histórias não têm finais felizes).
 
TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA (ESSE LIVRO É BOM DEMAIS, DE CAGAR DE RIR) – Herculano é um viúvo que está em depressão devido à morte de sua esposa. Patrício, seu irmão, faliu e ficou com raiva de Herculano, pois este nada fez para tentar ajudar.
Patrício traça um plano para se vingar: dá ao viúvo um litro de pinga e a foto de Gina, uma prostituta, nua.
Herculano se apaixona pela donzela e acorda, no dia seguinte, no bordel. Herculano tem um filho, Serginho, de 18 anos, criado pelas tias.
Serginho é tão incapaz de se virar sozinho que suas tias o dão banho. É simplesmente genial essa obra.
Falsos moralismos sendo expostos com extrema elegância e simplicidade por Nelson Rodrigues.


ALGUMAS FRASES REALISTAS/LENDÁRIAS DE NELSON RODRIGUES
 
Citação:Se todo mundo soubesse o que os vizinhos fazem no quarto, ninguém daria bom dia no elevador

Citação:Os idiotas vão tomar conta do mundo, não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos

Citação:Todas as qualidades que a mulher ama no amante, detestaria no marido

Citação:Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro 

Citação:A juventude é um mal que o tempo corrige

Citação:No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte

 
Acho que é isso.

Se alguém quiser acrescentar alguma coisa importante da vida ou da obra do Nelson Rodrigues, fique à vontade.
Valeu.
Mateus 21:22
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#2
Ótimo tópico, confrade!
Acompanhando este e os demais.
"Paulistarum Terra Matter..."
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#3
Nelson é um grande escritor mas era cheio de vícios literários. Os livros começam  e se desenvolvem bem mas costumam descambar no final. E era meio obsessivo com o bizarro, o que acabava tirando a veracidade da obra, que tinha como objetivo ser uma obra realista, mas acabava exagerando e ficando inverossímil. Em algumas obras ele acerta a medida e temos clássico do teatro brasileiro, o vestido de noiva sendo o mais conhecido deles.

Me lembro a primeira vez que fui ver o beijo no asfalto. Montagem excelente, os atores não eram ruins e a direção foi boa. Mesmo assim, a cena final se tornou chacota involuntária o que era pra acabar como um cena de drama virou uma gargalhada geral no teatro, principalmente da molecada mais nova que tava vendo os espetáculo.

Mesmo assim vale a pena ler a obra toda dele. Tem um momentos meio ruins e indigestos, mas é um grande escritor, sem duvida.

Vamos a dois clássicos:

A tal cena da chacota que me referi:




E o diálogo que marcou o cinema brasileiro:





A famosa cena do contínuo, cargo muito comum que era o equivalente a officeboy, garoto de recados, profissional de copiadora,etc. Mostra bem o que é a sociedade brasileira dos anos 80:


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#4
(30-03-2024, 08:24 PM)victorbossuet Escreveu: E o diálogo que marcou o cinema brasileiro:




GargalhadaGargalhadaGargalhada

Excelente contribuição.

Eu não sei os senhores (e talvez seja até falta de cultura da minha parte), mas eu acho essas peças/filmes uma porcaria tremenda. 
Ainda bem que existem os livros.

É igual Romeu e Julieta, do Shakespeare. Se o livro já é chato pra cacete, imagina uma peça dessa merda.
Mateus 21:22
Responda-o
#5
(30-03-2024, 08:24 PM)victorbossuet Escreveu: Nelson é um grande escritor mas era cheio de vícios literários. Os livros começam  e se desenvolvem bem mas costumam descambar no final. E era meio obsessivo com o bizarro

Será que exagerava mesmo?

Não se esqueça que estamos falando do Brasil, onde o absurdo é logo ali...  Gargalhada Gargalhada Gargalhada
"Paulistarum Terra Matter..."
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