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[Os Doze Trabalhos] O Sexto Trabalho: Os Pássaros de Estínfale
#1
[Os Doze Trabalhos] O Sexto Trabalho: Os Pássaros de Estínfale
por DiomedesRJ

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Após algum tempo, se preparando e mantendo corpo e armas prontas para o necessário, o Arauto de Euristeu procurou novamente a Hércules, determinando a ele seu Sexto Trabalho.

O Lago Estínfale era um poço de corrupção no meio da verdejante Arcádia. Ele foi ocupado por ferozes aves rapinantes, dedicadas a Marte, o Deus da Guerra. Eram grandes como garças, mas com bicos longos e afiados como espadas, e penas metálicas que tanto agiam em sua defesa, quanto podiam ser arremessadas contra os incautos. Elas se alimentavam de qualquer carne disponível em sua vizinhança, o que deixava ossadas de animais e homens espalhadas nas margens do lago. Seu estrume era altamente tóxico, e como atualmente, elas se agrupavam aos milhares, transformaram o lago num pântano ardiloso e fétido.

A missão de Hércules era o de retirar as aves do Lago Estínfale, assim, oferecendo o trabalho para a Deusa mais cultuada de Arcádia, Diana, com a qual o Rei Euristeu havia se desentendido quando do cumprimento do Terceiro Trabalho.

O Filho de Júpiter então tomou suas armas, e a maior quantidade de flechas que pode carregar, e partiu novamente para Arcádia.

O terreno próximo do Lago Estínfale já tinha se tornado mais árido e pedregoso, graças as águas malsãs do local. Mas ele estranhou de fato, foi um coral profano formado por gralhares agudos somados ao rilhar de mil espadas ao longe, mas que mesmo assim, era altamente incômodo e perturbador. Ao chegar ao topo do último monte que lhe separava do lago, ele entendeu o motivo.

Estínfale tinha de fato se transformado num enorme pântano, com um número gigantesco de aves agrupadas sobre um bosque de árvores mortas no seu centro. O som que ouvia era das próprias aves, seu som pessoal se somando ao entrechoque de suas penas de metal, formando um concerto agressivo tanto aos ouvidos, quanto à moral de qualquer homem – mesmo à distância.

Sem se atemorizar, mesmo com o sentimento de que o som estava lhe cortando por dentro, Hércules terminou sua viagem até as margens do Estínfale.

Em suas margens, ele observou melhor os milhares de pássaros que ali viviam, em constante agressão uns contra os outros, suas próprias armaduras de penas lhes impedindo que se aniquilassem mutuamente. Muito embora, o Filho de Júpiter tenha percebido que as penas eram mais finas no ventre dos animais, o que lhes concedia um ponto fraco que poderia explorar.

Nesse momento, ele viu que sua chegada não tinha sido ignorada: três pássaros se separaram do bando, e voavam velozmente em sua direção. Hércules aprumou o corpo, tomou sua clava, e se preparou para a peleja.

O líder do grupo voou certeiro contra o peito do semideus, que aguardou a distância adequada, e golpeando-o de baixo para cima, o esmagou em pleno ar. Um segundo pássaro visou seu ombro, mas por estar resguardado pela Couraça de Neméia, seu bico se quebrou, e ao cair no chão, foi também esmagado pelo pé do semideus. O terceiro pássaro já estava em fuga. Pelas penas que estavam amassadas em suas costas, o animal arremessou algumas atrás de Hércules, um ataque covarde frustrado pela proteção invulnerável do herói.

Hércules tomou suas flechas, e tentou um disparo contra o terceiro pássaro, mas quando disparou, sua flecha colidiu contra a armadura de outro pássaro, sendo inútil. Ele atirou mais algumas, mas o resultado era o mesmo: quando estavam todas juntas, seu vôo confuso e próximo tornava qualquer ataque à distância impossível de ser bem sucedido.

Ao final do dia, Hércules cogitou a possibilidade de espalhar armadilhas, contando assim como o instinto das aves para destruí-las. Mas a água do lago combinada com o estrume dos milhares de animais que lá viviam, se transformou num lodo gelatinoso que não lhe permitia dar mais do que alguns passos sem estar afundado quase até a cintura.

Sem saber como solucionar a questão, o Filho de Júpiter subiu novamente ao monte mais próximo para acampar e refazer suas forças.

A noite escura e sem lua foi de pouco sono para Hércules. A luz de sua fogueira era pouco para lhe trazer um sono sereno, ou uma forma de vencer seu obstáculo. No meio da noite, porém, uma outra luz, branca, inicialmente pálida, mas gradualmente potente, se formava à sua frente. Ele conhecia bem que isso significava uma presença divina – e que a única Deusa cuja luz era confortante e não ofuscava os olhos era de Atena, Deusa da Sabedoria.

Diante de Hércules como em seu costume, com seus olhos serenos contrastando com sua armadura de combate completa, a Deusa fala a ele:

– Tu estudaste seu oponente, mas venho a ti para revelar o que não percebeste, Filho Amado de Meu Pai: as Aves do Estínfale nunca ouviram um som mais alto do que o delas próprias. Durma agora, e não tema. Nossa orientação e teu suor, amanhã, te trarão o êxito.

Dito isso, sua luz a envolveu até se apagar e a levar consigo.

Hércules então, conciliou seu sono, desejando poupar forças para o dia que viria.

Ao despertar e se alimentar, sem ainda saber o que fazer, Hércules repara num fato curioso. Uma coruja estava em galho próximo ao dele, exposta, desperta, como que o vigiando. Sabendo que corujas são seres noturnos, mas sorrindo ao lembrar que elas são mensageiras de Atena, se aproximou dela. A ave então, alça lento vôo, que o semideus prontamente segue.

A coruja parou numa planície mais próxima do lago, com cena perturbadora lá o aguardando. Pelo tipo das ossadas, um grupo de pastores incautos passou próximo do Estínfale com grande rebanho, e foram mortos e devorados pelas criaturas. Seus ossos limpos ali ficaram como memória da matança.

Hércules passou em meio aos ossos de homens e animais, até que um som lhe chamou a atenção. Algo como o bronze, algo como um sino. Ele olhou para baixo, e viu que ele tinha esbarrado em uma das ossadas do gado e com isso, fez tocar um sino que ele tinha em seu pescoço. O semideus então viu que todos os bois tinham esse sino, e que a carroça dos pastores tinha mais um bom número deles consigo, junto com algumas ferramentas e um pequeno altar móvel dedicado à Vulcano, Ferreiro do Olimpo e Deus dos Artesãos.

O semideus olhou agradecido para o Alto, e para as inspirações dadas pelos dois Deuses. Agora, ele sabia o que fazer.

Ao fim do dia, Hércules carregava em seus ombros um carrilhão enorme, feito de centenas de pequenos sinos de bronze, alguns reunidos e moldados para serem bem maiores. O mero ato de caminhar com eles lhe incomodava os ouvidos, logo, ele também tinha protegido os ouvidos antes de deixar a caravana condenada.

Ele subiu ao monte onde estava acampado, o mais próximo do Lago. Tomou o carrilhão em seus braços… e o tocou, com toda a sua divina força.

O som era poderoso e quase ensurdecedor – mais forte do que qualquer coisa que já tinha ouvido antes, mas harmônico, diferente da cacofonia agressiva das Aves do Estínfale.

Enquanto tocava, ele viu uma ave alçar voo veloz para longe do lago… duas… cinco… dez… cem… e em pouco tempo, todos os Pássaros Guerreiros batiam em retirada desesperada, aterrorizados com o som do bronze tocado por Hércules, inclusive com alguns se matando na sua fuga.

Ao parar de tocar, com a noite já começada, e quando o zumbido de seus ouvidos passou, ele não podia ouvir mais nada. O silêncio e a paz haviam retornado ao Lago Estínfale, e em breve, ele retornaria para sua pureza e fecundidade natural.

– Tome essas aves mortas e entregue ao nosso Rei. O Estínfale está livre das Aves, e elas jamais retornarão. Meu Trabalho está cumprido. Aguardarei pelo próximo, junto aos outros servos – disse Hércules ao Arauto de Euristeu, ao retornar para Micenas.

Enquando Hércules se banhava, retirando o suor de sua jornada de volta, ele se lembrou que ofertou o carrilhão para Atena e para Vulcano, em agradecimento por sua orientação. Se havia algo que ele sabia que era mais forte que o som que ele tinha gerado, era o poder da sua gratidão pelo que tinha recebido em seu trabalho.

Ao se secar, ele viu uma coruja voando, saindo da casa dos servos de Euristeu, em direção ao horizonte. Hércules sorriu, e preparou seu íntimo para o que lhe aguardaria para o Sétimo Trabalho.

:::::::::::::::::::::::

Com a conclusão do Sexto Trabalho, Hércules passa a ter seus feitos conhecidos de forma pública e notória, não apenas por si mesmo, mas também pelo feito em favor do outro. Da mesma forma, quando o Realista passa a usar de sua força e sabedoria não apenas para a melhoria de si mesmo, mas para a elevação da vida de sua sociedade, ele passa a ser confrontado com forças que não é capaz de enfrentar frontalmente.

O agressor moral possui força covarde, caminha em bandos, está armado com o bico perfurante da calúnia, protegido pela racionalização de sua própria infâmia, a que gera as penas arremessadas da difamação.

Sua armadura é imperfeita, o que permite serem enfrentados individualmente, posto que seus ataques são inúteis diante da fortaleza da personalidade do Realista, conquistada através da vitória sobre seu ego, mas seus iguais se protegem mutuamente, apesar de estarem em eterno conflito. A inveja venenosa que defecam torna seus ninhos local pestilento, cuja aproximação para conflito direto torna impossível.

Assim sendo, uma vitória definitiva contra a agressão moral é aparentemente inconquistável.

Contudo, um Realista iluminado é capaz de perceber que o agressor moral é ao mesmo tempo encantado e surdo ao som de sua própria voz e reflexões – o que é sua definitiva fraqueza.

Sendo ele capaz de reunir pequenas porções de conhecimento, com a diligência pontual de sua lógica, ele é capaz de formular aquilo que lhe dará sua vitória: a declaração definitiva da Verdade, que se sobrepõe dominante sobre a racionalização insana e enlouquecedora das criaturas que o ameaçam, se demonstrada com toda a energia do íntimo do Realista.

Diante dessa declaração, o agressor moral, assustado por ter tal poder soado dentro de si de forma inegável – uma força tão poderosa que o próprio declarante deve ter atenção para não ser igualmente ferido por ela – não tem outra escolha senão cessar seus ataques, e partir para não mais retornar.

O confronto contra a inveja, a calúnia, e a difamação são conflitos inevitáveis no caminho de um Realista que almeja completar o início de sua Jornada. A força dessas atitudes não é tão poderosa quanto parece, mas requer iniciativa correta para ser vencido. Basta que o Guerreiro da Real esteja atento ao fato que a vitória definitiva contra uma oposição coletiva, só pode ser atingida não permitindo que seus oponentes escolham suas armas, e neutralizando a força iníqua do adversário na sua raiz.

Com essa vitória, o Realista conquista o direito a uma VIDA PÚBLICA capaz de tornar seu EXEMPLO DE VIDA visível e inspirador para todos os que o cercam. Não é uma conquista pequena. E ela lhe dará a sabedoria que irá precisar para outros conflitos que a vida lhe apresentará no futuro.

Força e Honra.

Esse tópico é um oferecimento do Guardião e as Relíquias Perdidas.
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