25-07-2017, 03:32 AM
O presente texto que trouxe para fórum, relata sobre a Noite Negra da Alma, termo usado para descrever os momentos de dores e sofrimentos que todos nos passamos. Este texto me ajudou muito em um momento difícil que passei, e através do silencio, vencemos a Noite Negra da Alma. Meu primeiro contato com esse termo até então desconhecido pra mim, veio atraves do blog Bufalo da Real do Marcio de Andrade, que por sinal e minha opinião é um dos blogs mais relevantes atualmente.
Boa leitura!
ÁUREO ALVORECER
Antônio Roberto Soares, FRC
“Em verdade, em verdade vos digo, quem não nascer de novo, quem não renascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus. Necessário vos é renascer de novo. O vento sopra onde quer, ouve-lhes o ruído, mas não sabeis de onde veio nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nascer do Espírito”
Caminheiros da vida, cá estamos nós uma vez mais, insatisfeitos Buscadores à procura do Tesouro Perdido. Aqui estamos, poeira nos pés, esperança no coração, buscando o âmago do Mistério. Reunidos aqui, nenhum outro propósito terá significado a não ser um passo a mais na tarefa penosa de descobrir os véus. E nessa viagem onde o desconhecido é a norma, em que as referências materiais e intelectuais são de pouca valia, poucos chegarão de imediato e todos chegaremos um dia. E aqueles que avançam, só o farão se soltarem seus corações para que Deus nos fale através de nós mesmos, instrumentos terrenos da Sabedoria Onipotente do Cósmico…
…A história a ser contada hoje, para que cada um possa avançar na Senda, é a reflexão do caminho, das dificuldades da estrada, a história de cada coração que nos escuta. O Homem, peregrino de muitas vidas, vai seguindo inexoravelmente o Caminho. A aventura humana da qual todos nós fomos escolhidos para participar, representa em última análise, a história da Dualidade e nela, ora nos perdemos e ora nos achamos; e nela um grande convite e um grande risco, uma grande oportunidade e uma grande interrogação. E ao viajante desta aventura humana caberá compreender em profundidade o Caminho, nos seus baixos e nos seus altos, no descer os vales e no subir montanhas. E assim não sendo, sairá da trilha e se perderá na trajetória. Ainda hoje, nos seja dado compreender um dos pontos cruciais da Estrada – a Noite Negra da Alma, o Terror do Abismo, os momentos de desolação e desânimo da nossa Viagem. Ainda é noite e ainda cumpre refletirmos sobre a Escuridão.
Quando nos deparamos com a Noite Negra, quando o frio e a sombra cobrem a nossa Alma, quando o nosso Ser é envolvido com descidas aos infernos, quando a desilusão e a tristeza são nossas principais companheiras, é que é chegado o momento fundamental de compreendermos a vocação humana de transeunte, de passageiros em busca da Luz Maior. E a Noite Negra ocorre em nossa vida quando os caminhos tentados se esgotaram e o homem se vê diante de uma grande pergunta e da total impossibilidade de se preencher com os caminhos até ali vividos. É quando o homem, mercê de Deus, sai dos sonhos, abre os olhos e constata a escuridão dos falsos caminhos. E que caminhos são estes, que tanto prometiam e apenas conseguiram levar nossas Almas à mais completa solidão e descrença? Que apenas conseguiram nos conduzir à Aridez Mística e às sombras?
O caminho Tentador da periferia social, quando nos convidaram a uma luta incessante pelo prestígio, pelo poder, pela riqueza e pelo status social. É o Norte do tempo da vida. É onde o barulho, a confusão e a pressa fincaram raízes. O homem puramente social é aquele que se apegou aos seus papéis, atribuindo-lhes a tarefa de fazê-lo feliz. E ele se reconhece aí e se valoriza pelo que ele, em essência, não é – rico, pobre, preto, branco, inteligente, chefe, esposo, pai, filho, evoluído, atrasado, mestre, discípulo. É o homem exterior, é o velho homem. É a casca da árvore. É o homem ainda na dolorosa roda do sucesso e do fracasso. Caminho das aparências, da prisão aos elogios e às críticas. As margens deste caminho são povoadas pela angústia e pela insegurança. É o Inverno gelado das estações. E é o caminho do amanhã, do futuro, da subida pela escalada social. Nele, o homem tem como meta ser maior que os outros irmãos. É o mundo cronificado da competição, em maior ou menor escala. E a dor permeia… Nesse caminho, até o sono é tumultuado pelas preocupações profissionais, financeiras e sociais. É um caminho que, regido pela mente, promete muito e oferece muito pouco. E é a trajetória primeira ensinada a todos!… Muitos se perdem aí. Embevecidos com o brilho social, esquecem ser a sua missão terrena de encontro, de busca e de retorno à Luz, de volta à Paz. Nesta estrada, somos valorizados pelo Ter e não pelo Ser. E nela somos afastados, sistematicamente, do nosso Centro e as coisas amargam na sua transitoriedade. Até os sucessos obtidos dão-nos gosto de bolhas de sabão e os fracassos nos enterram na mais profunda tristeza. Somos identificados com as nossas categorias, com nossos postos, com nossas máscaras e se alguém ou algum fato ameaça tais categorias, entramos em dor. É como se, além disso, nada mais existisse. Nesse nível, os propósitos são salutares, mas a frustração é constante. É como se estivéssemos enganando a nós mesmos, tentando preencher a solidão e o vazio com aquilo que jamais o preencherá – o dinheiro, as posses, o reconhecimento, os cargos, os aplausos sociais. É quando caímos na tentação de querer comprar aquilo que só nos poderá ser dado completamente de graça – a Graça Interior.
Outro caminho também tentado e que também deságua na escuridão, é o caminho do apego ao nosso nome, ao nosso Eu exterior, à nossa individualidade. O nome é o nosso passado, a nossa história individual. E, por isso, é um peso de tudo o que já fomos. É o Outono das estações. É o caminho de apego ao substantivo que somos. Nesse caminho, as principais dores são os medos de perdermos a identidade, ou de não darmos conta da tarefa árdua de preservar e zelar pelo próprio nome. O medo de sermos confundidos e de não nos destacarmos na multidão, consome grande parte dos nossos esforços. Através do nome, a Fraternidade Universal se distancia e nos fechamos no nosso pequeno mundo familiar, esquecendo-nos da nossa vocação universal e do amor que nos faz romper todas as barreiras, levando-nos além das pátrias, além das famílias, das regiões, das religiões, do passado, das siglas e da História. Através do apego ao próprio nome, podemos nos magoar com um passado familiar eventualmente pobre ou humilde. Podemos sofrer com uma origem porventura desconhecida e as casas do sonho se povoam com fantasias de sermos alguém muito importante, admirado por todos os nossos Irmãos. A notoriedade, deixar o nome perpetuado na memória de outros é o grande desejo e, como desejo, nos trás a dor, a saudade, a mágoa, a tristeza.
Entendemos aqui porque algumas escolas sugerem aos seus membros que não usem o vocábulo “eu” e porque algumas irmandades religiosas exigem de seus postulantes a mudança no nome. É o rompimento com o passado e com toda sua carga; é o exercício do desapego da própria identidade social; é o impulso para que o homem vá além desta segunda casca à procura do Centro. É onde se dá o novo salto e se escolhe o Novo Caminho. É quando a vontade do encontro nos impele a ir além do nosso nome; além da nossa identidade exterior; além do nosso passado; além das nossas vinculações, mesmo próximas. Ir além do nome é a coragem de nos embrenharmos em novos Mistérios, de rompermos o segundo anel periférico, de perdermos mais uma tábua de segurança e de ilusão e lançarmo-nos a novo desconhecido. É mais um passo à procura de novos rumos, de novas Graças, de novas mudanças, de novas aproximações e de uma nova Estação.
E, assim, chegamos ao núcleo da dor, diante de perguntas que a mente jamais responderá. E nos sentimos perdidos, maus sem destino pelo oceano da vida e cercados de todas as tentações. Tentação sobretudo de retroceder, de duvidar da vocação Cósmica do homem. Tentação de esquecer que os caminhos trilhados não nos conduziram à felicidade procurada. E nesse momento, quando o caos se apossou de nossas vidas, quando a Noite se faz mais escura, quando a Aridez se manifestou em toda a sua indiferença, compete ao Peregrino entender um ponto fundamental: só atravessaremos a Noite Negra da Alma, o Grande Abismo, em amorosa comunhão com o Silêncio. Gravemos este ensinamento no mais profundo do nosso Coração: “quando a dor chegar, façamos do Silêncio o nosso Guia; quando a dor chegar, façamos do Silêncio o nosso Mestre”. É que nesse ponto o palmilhar dessa estrada só poderá ser feito em total silêncio. As vozes, as letras, os discursos, as palestras terão de ser reduzidos e traduzidos a um Silêncio íntimo, ao Silêncio Interior, única linguagem conhecida por Deus e pelo Coração. O apego à forma pode nos fazer perder o conteúdo. Toda forma, todo ritual são importantes conquanto nos encaminhem para o Silêncio do Coração, conquanto preparem o cenário para que Deus se apresente. E Deus só entra em cena quando houver Silêncio, repita comigo, SILENCIO.
O Silêncio é a linguagem do Ser. Nele e por ele permeia o Caminho e nele as Iniciações; nele, a Consciência e a União. E isto nos é difícil, já que acostumados estamos ao barulho da nossa época: barulho de pensamentos, de sentimentos, de ações. E quando o Viajante começa o encontro com o Silêncio, aparecem nele as dores escondidas e o medo da solidão. E aí ele é tentado a voltar aos barulhos sociais, à fala que afasta, à fuga pelas ações. O sofrimento, então, deverá ser entendido como um sinal de aproximação de nós mesmos, de purificação, de aprendizado, quando estamos em silencio com nos mesmos, é onde as feridas doem, e muitos voltam ao barulho para tentar de certa forma aliviar a dor, pois tem medo de si mesmo. Inicialmente, o Silêncio nos encaminha, na Sabedoria Cósmica da evolução, as situações inacabadas do passado e, se perseverarmos nele, atravessaremos o Umbral e alguma Iniciação ocorrerá. Mas, diante da dor, fugimos e atrasamos a caminhada ou desistimos dela. O Silêncio é muito mais do que ficar calado: é um jeito de entrega, é um modo de confiar. A semente repousa em completo silêncio até a germinação e, nesse silêncio, há conexão e há energia para prosseguirmos viagem. É o oásis do que pretende atravessar o deserto. O Santuário, os experimentos místicos e a meditação não são mais do que instrumentos para a quietude silenciosa da Alma e do corpo, para fortalecer o Estudante e dar-lhe vigor para avançar na Grande Trajetória.
E o medo? Medo de estar só, medo da Solidão. E como, Irmãos, poderemos estar sozinhos se nunca fomos separados?! E tudo se constitui numa infinda Unidade, apenas perdida por incompreensão da mente e pelos barulhos exteriores. No Silêncio, no só, alcançamos a música celestial. A voz do Eu Supremo é a mais íntima das uniões: a união com o universo, com todos os seres e com toda a Humanidade. O Silêncio é o que está além das aparências e somente em silêncio compreenderemos o Silêncio das coisas, o Silêncio da vida, o Silêncio do Caminho, o Silêncio de Deus. Não fora o ouvido do homem e perceberíamos que o mundo acontece em total silêncio, pois é da natureza dele e da natureza de Deus a realidade tal qual ela é. E é a isto que chamamos Silêncio.
O primeiro movimento de compromisso com a Busca é o exercício do Silêncio, da capacidade de receber, na intimidade, a Voz Silenciosa que anuncia e detém o Mistério, a certeza de tudo e do Todo que procuramos. No Silêncio, há busca do que não foi dito, do que não foi mostrado, daquilo que cada um de nós, e somente cada um de nós, pode e deve descobrir no fundo da própria Alma. E aí nascerá no coração cansado de cada Viajante, verdadeira Filha do Silêncio, A Palavra, aquela Palavra!, manifestação singular da Grande Palavra, origem eterna de todo o sempre: “No princípio, era a Palavra, e a Palavra se fez carne e habitou entre nós”… E no caminhar da paciência, no aceitar o Silêncio, na espera da Palavra que cria, que afasta as limitações, que alarga o horizonte espiritual do ser humano, caminha o Viajante para o seu desabrochar. Assim como a noite caminha inexoravelmente para o dia, assim como o rio corre inexoravelmente para o mar, assim como a semente caminha inexoravelmente para a flor, aproxima-se Deus na sua eterna reciprocidade e em cada Ser, tornado útero, na humildade da entrega e da Confiança, Deus nascerá.
E como já se sabe que a noite só escurece até a meia-noite, pode agora o Caminhante antever no horizonte os primeiros sinais da Alvorada que se aproxima. A Alegria começa a despontar também a Aurora de Vida no seu Coração. E no antever seu encontro com o Guia, os primeiros sinais do Amanhecer na renovação corporal. O corpo material, fruto-síntese da maravilhosa Criação de Deus, passa a ocupar o seu verdadeiro papel na Ascensão da Consciência humana. E então somos o Espaço e o Tempo de nosso corpo. A vida humana, em Consciência Profunda, vinculada com o Todo, com o Universo, gratifica-se pela batida harmoniosa do coração e o sangue em circulação estimula o Amor à Vida Maior, concedida a nós pelo Criador, em comunhão com o Mistério da existência. “Este é o meu corpo, este é o meu sangue.” Nasce, assim, o afeto às demais criaturas e o corpo transmite e repõe a natureza de Deus, manifestada nos sentimentos de Paz, Harmonia, Saúde, Beleza. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. A estimulação sensorial dos Rituais místicos homenageiam o corpo humano, estabelecida a maior consciência possível dos sentidos.
E agora começa a acontecer a transformação do corpo num Templo do Espírito Santo…
(Ordem Rosacruz, AMORC)
https://hugolapa.wordpress.com/2009/06/0...alvorecer/
Boa leitura!
ÁUREO ALVORECER
Antônio Roberto Soares, FRC
“Em verdade, em verdade vos digo, quem não nascer de novo, quem não renascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus. Necessário vos é renascer de novo. O vento sopra onde quer, ouve-lhes o ruído, mas não sabeis de onde veio nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nascer do Espírito”
Caminheiros da vida, cá estamos nós uma vez mais, insatisfeitos Buscadores à procura do Tesouro Perdido. Aqui estamos, poeira nos pés, esperança no coração, buscando o âmago do Mistério. Reunidos aqui, nenhum outro propósito terá significado a não ser um passo a mais na tarefa penosa de descobrir os véus. E nessa viagem onde o desconhecido é a norma, em que as referências materiais e intelectuais são de pouca valia, poucos chegarão de imediato e todos chegaremos um dia. E aqueles que avançam, só o farão se soltarem seus corações para que Deus nos fale através de nós mesmos, instrumentos terrenos da Sabedoria Onipotente do Cósmico…
…A história a ser contada hoje, para que cada um possa avançar na Senda, é a reflexão do caminho, das dificuldades da estrada, a história de cada coração que nos escuta. O Homem, peregrino de muitas vidas, vai seguindo inexoravelmente o Caminho. A aventura humana da qual todos nós fomos escolhidos para participar, representa em última análise, a história da Dualidade e nela, ora nos perdemos e ora nos achamos; e nela um grande convite e um grande risco, uma grande oportunidade e uma grande interrogação. E ao viajante desta aventura humana caberá compreender em profundidade o Caminho, nos seus baixos e nos seus altos, no descer os vales e no subir montanhas. E assim não sendo, sairá da trilha e se perderá na trajetória. Ainda hoje, nos seja dado compreender um dos pontos cruciais da Estrada – a Noite Negra da Alma, o Terror do Abismo, os momentos de desolação e desânimo da nossa Viagem. Ainda é noite e ainda cumpre refletirmos sobre a Escuridão.
Quando nos deparamos com a Noite Negra, quando o frio e a sombra cobrem a nossa Alma, quando o nosso Ser é envolvido com descidas aos infernos, quando a desilusão e a tristeza são nossas principais companheiras, é que é chegado o momento fundamental de compreendermos a vocação humana de transeunte, de passageiros em busca da Luz Maior. E a Noite Negra ocorre em nossa vida quando os caminhos tentados se esgotaram e o homem se vê diante de uma grande pergunta e da total impossibilidade de se preencher com os caminhos até ali vividos. É quando o homem, mercê de Deus, sai dos sonhos, abre os olhos e constata a escuridão dos falsos caminhos. E que caminhos são estes, que tanto prometiam e apenas conseguiram levar nossas Almas à mais completa solidão e descrença? Que apenas conseguiram nos conduzir à Aridez Mística e às sombras?
O caminho Tentador da periferia social, quando nos convidaram a uma luta incessante pelo prestígio, pelo poder, pela riqueza e pelo status social. É o Norte do tempo da vida. É onde o barulho, a confusão e a pressa fincaram raízes. O homem puramente social é aquele que se apegou aos seus papéis, atribuindo-lhes a tarefa de fazê-lo feliz. E ele se reconhece aí e se valoriza pelo que ele, em essência, não é – rico, pobre, preto, branco, inteligente, chefe, esposo, pai, filho, evoluído, atrasado, mestre, discípulo. É o homem exterior, é o velho homem. É a casca da árvore. É o homem ainda na dolorosa roda do sucesso e do fracasso. Caminho das aparências, da prisão aos elogios e às críticas. As margens deste caminho são povoadas pela angústia e pela insegurança. É o Inverno gelado das estações. E é o caminho do amanhã, do futuro, da subida pela escalada social. Nele, o homem tem como meta ser maior que os outros irmãos. É o mundo cronificado da competição, em maior ou menor escala. E a dor permeia… Nesse caminho, até o sono é tumultuado pelas preocupações profissionais, financeiras e sociais. É um caminho que, regido pela mente, promete muito e oferece muito pouco. E é a trajetória primeira ensinada a todos!… Muitos se perdem aí. Embevecidos com o brilho social, esquecem ser a sua missão terrena de encontro, de busca e de retorno à Luz, de volta à Paz. Nesta estrada, somos valorizados pelo Ter e não pelo Ser. E nela somos afastados, sistematicamente, do nosso Centro e as coisas amargam na sua transitoriedade. Até os sucessos obtidos dão-nos gosto de bolhas de sabão e os fracassos nos enterram na mais profunda tristeza. Somos identificados com as nossas categorias, com nossos postos, com nossas máscaras e se alguém ou algum fato ameaça tais categorias, entramos em dor. É como se, além disso, nada mais existisse. Nesse nível, os propósitos são salutares, mas a frustração é constante. É como se estivéssemos enganando a nós mesmos, tentando preencher a solidão e o vazio com aquilo que jamais o preencherá – o dinheiro, as posses, o reconhecimento, os cargos, os aplausos sociais. É quando caímos na tentação de querer comprar aquilo que só nos poderá ser dado completamente de graça – a Graça Interior.
Outro caminho também tentado e que também deságua na escuridão, é o caminho do apego ao nosso nome, ao nosso Eu exterior, à nossa individualidade. O nome é o nosso passado, a nossa história individual. E, por isso, é um peso de tudo o que já fomos. É o Outono das estações. É o caminho de apego ao substantivo que somos. Nesse caminho, as principais dores são os medos de perdermos a identidade, ou de não darmos conta da tarefa árdua de preservar e zelar pelo próprio nome. O medo de sermos confundidos e de não nos destacarmos na multidão, consome grande parte dos nossos esforços. Através do nome, a Fraternidade Universal se distancia e nos fechamos no nosso pequeno mundo familiar, esquecendo-nos da nossa vocação universal e do amor que nos faz romper todas as barreiras, levando-nos além das pátrias, além das famílias, das regiões, das religiões, do passado, das siglas e da História. Através do apego ao próprio nome, podemos nos magoar com um passado familiar eventualmente pobre ou humilde. Podemos sofrer com uma origem porventura desconhecida e as casas do sonho se povoam com fantasias de sermos alguém muito importante, admirado por todos os nossos Irmãos. A notoriedade, deixar o nome perpetuado na memória de outros é o grande desejo e, como desejo, nos trás a dor, a saudade, a mágoa, a tristeza.
Entendemos aqui porque algumas escolas sugerem aos seus membros que não usem o vocábulo “eu” e porque algumas irmandades religiosas exigem de seus postulantes a mudança no nome. É o rompimento com o passado e com toda sua carga; é o exercício do desapego da própria identidade social; é o impulso para que o homem vá além desta segunda casca à procura do Centro. É onde se dá o novo salto e se escolhe o Novo Caminho. É quando a vontade do encontro nos impele a ir além do nosso nome; além da nossa identidade exterior; além do nosso passado; além das nossas vinculações, mesmo próximas. Ir além do nome é a coragem de nos embrenharmos em novos Mistérios, de rompermos o segundo anel periférico, de perdermos mais uma tábua de segurança e de ilusão e lançarmo-nos a novo desconhecido. É mais um passo à procura de novos rumos, de novas Graças, de novas mudanças, de novas aproximações e de uma nova Estação.
E, assim, chegamos ao núcleo da dor, diante de perguntas que a mente jamais responderá. E nos sentimos perdidos, maus sem destino pelo oceano da vida e cercados de todas as tentações. Tentação sobretudo de retroceder, de duvidar da vocação Cósmica do homem. Tentação de esquecer que os caminhos trilhados não nos conduziram à felicidade procurada. E nesse momento, quando o caos se apossou de nossas vidas, quando a Noite se faz mais escura, quando a Aridez se manifestou em toda a sua indiferença, compete ao Peregrino entender um ponto fundamental: só atravessaremos a Noite Negra da Alma, o Grande Abismo, em amorosa comunhão com o Silêncio. Gravemos este ensinamento no mais profundo do nosso Coração: “quando a dor chegar, façamos do Silêncio o nosso Guia; quando a dor chegar, façamos do Silêncio o nosso Mestre”. É que nesse ponto o palmilhar dessa estrada só poderá ser feito em total silêncio. As vozes, as letras, os discursos, as palestras terão de ser reduzidos e traduzidos a um Silêncio íntimo, ao Silêncio Interior, única linguagem conhecida por Deus e pelo Coração. O apego à forma pode nos fazer perder o conteúdo. Toda forma, todo ritual são importantes conquanto nos encaminhem para o Silêncio do Coração, conquanto preparem o cenário para que Deus se apresente. E Deus só entra em cena quando houver Silêncio, repita comigo, SILENCIO.
O Silêncio é a linguagem do Ser. Nele e por ele permeia o Caminho e nele as Iniciações; nele, a Consciência e a União. E isto nos é difícil, já que acostumados estamos ao barulho da nossa época: barulho de pensamentos, de sentimentos, de ações. E quando o Viajante começa o encontro com o Silêncio, aparecem nele as dores escondidas e o medo da solidão. E aí ele é tentado a voltar aos barulhos sociais, à fala que afasta, à fuga pelas ações. O sofrimento, então, deverá ser entendido como um sinal de aproximação de nós mesmos, de purificação, de aprendizado, quando estamos em silencio com nos mesmos, é onde as feridas doem, e muitos voltam ao barulho para tentar de certa forma aliviar a dor, pois tem medo de si mesmo. Inicialmente, o Silêncio nos encaminha, na Sabedoria Cósmica da evolução, as situações inacabadas do passado e, se perseverarmos nele, atravessaremos o Umbral e alguma Iniciação ocorrerá. Mas, diante da dor, fugimos e atrasamos a caminhada ou desistimos dela. O Silêncio é muito mais do que ficar calado: é um jeito de entrega, é um modo de confiar. A semente repousa em completo silêncio até a germinação e, nesse silêncio, há conexão e há energia para prosseguirmos viagem. É o oásis do que pretende atravessar o deserto. O Santuário, os experimentos místicos e a meditação não são mais do que instrumentos para a quietude silenciosa da Alma e do corpo, para fortalecer o Estudante e dar-lhe vigor para avançar na Grande Trajetória.
E o medo? Medo de estar só, medo da Solidão. E como, Irmãos, poderemos estar sozinhos se nunca fomos separados?! E tudo se constitui numa infinda Unidade, apenas perdida por incompreensão da mente e pelos barulhos exteriores. No Silêncio, no só, alcançamos a música celestial. A voz do Eu Supremo é a mais íntima das uniões: a união com o universo, com todos os seres e com toda a Humanidade. O Silêncio é o que está além das aparências e somente em silêncio compreenderemos o Silêncio das coisas, o Silêncio da vida, o Silêncio do Caminho, o Silêncio de Deus. Não fora o ouvido do homem e perceberíamos que o mundo acontece em total silêncio, pois é da natureza dele e da natureza de Deus a realidade tal qual ela é. E é a isto que chamamos Silêncio.
O primeiro movimento de compromisso com a Busca é o exercício do Silêncio, da capacidade de receber, na intimidade, a Voz Silenciosa que anuncia e detém o Mistério, a certeza de tudo e do Todo que procuramos. No Silêncio, há busca do que não foi dito, do que não foi mostrado, daquilo que cada um de nós, e somente cada um de nós, pode e deve descobrir no fundo da própria Alma. E aí nascerá no coração cansado de cada Viajante, verdadeira Filha do Silêncio, A Palavra, aquela Palavra!, manifestação singular da Grande Palavra, origem eterna de todo o sempre: “No princípio, era a Palavra, e a Palavra se fez carne e habitou entre nós”… E no caminhar da paciência, no aceitar o Silêncio, na espera da Palavra que cria, que afasta as limitações, que alarga o horizonte espiritual do ser humano, caminha o Viajante para o seu desabrochar. Assim como a noite caminha inexoravelmente para o dia, assim como o rio corre inexoravelmente para o mar, assim como a semente caminha inexoravelmente para a flor, aproxima-se Deus na sua eterna reciprocidade e em cada Ser, tornado útero, na humildade da entrega e da Confiança, Deus nascerá.
E como já se sabe que a noite só escurece até a meia-noite, pode agora o Caminhante antever no horizonte os primeiros sinais da Alvorada que se aproxima. A Alegria começa a despontar também a Aurora de Vida no seu Coração. E no antever seu encontro com o Guia, os primeiros sinais do Amanhecer na renovação corporal. O corpo material, fruto-síntese da maravilhosa Criação de Deus, passa a ocupar o seu verdadeiro papel na Ascensão da Consciência humana. E então somos o Espaço e o Tempo de nosso corpo. A vida humana, em Consciência Profunda, vinculada com o Todo, com o Universo, gratifica-se pela batida harmoniosa do coração e o sangue em circulação estimula o Amor à Vida Maior, concedida a nós pelo Criador, em comunhão com o Mistério da existência. “Este é o meu corpo, este é o meu sangue.” Nasce, assim, o afeto às demais criaturas e o corpo transmite e repõe a natureza de Deus, manifestada nos sentimentos de Paz, Harmonia, Saúde, Beleza. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. A estimulação sensorial dos Rituais místicos homenageiam o corpo humano, estabelecida a maior consciência possível dos sentidos.
E agora começa a acontecer a transformação do corpo num Templo do Espírito Santo…
(Ordem Rosacruz, AMORC)
https://hugolapa.wordpress.com/2009/06/0...alvorecer/