24-06-2019, 12:11 AM
Nós estamos experienciando uma etapa única no curso de evolução da humanidade, nunca antes na história desse planeta pensava-se tão abertamente a respeito de inovações tecnológicas, avanços científicos e sobre a democratização do conhecimento. Isso, a princípio, pode não ter absolutamente nada a ver com o verdadeiro intuito do tópico mas põe em cheque as principais mudanças acarretadas no comportamento humano, principalmente nas últimas décadas. É impossível fazer previsões precisas sobre o futuro, mas analisando todo o espectro do que já passamos e todas as infinitesimais condições nos impostas no presente, o uso da criatividade é o que verdadeiramente impulsiona todas as maiores invenções e mudanças presenciadas no mundo, e pelo visto continuará impulsionando até o fim de vossa espécie. Indo além, quase todas as principais ideias revolucionárias que já foram perpetuadas por aí, tiveram origem no desuso de planejamento. Elas brotaram ironicamente do mais supérfluo e irrisório acesso mental, porém, tiveram que nascer do esforço contínuo, do trabalho árduo e cansativo em algo totalmente contrastante ao que estava sendo analisado no princípio.
Hoje existem dois tipos de pessoas, as que consomem e as que produzem. As que produzem, viciam-se cada vez mais no ato de produzir; as que consomem, viciam-se cada vez mais no ato de consumir. Os consumidores alimentam-se da necessidade imediatista dos estímulos mútuos. Quem produz, por mais que ainda seja viciado no trabalho, mantém uma aguçada sanidade cerebral visto que ainda está constantemente utilizando suas acuidades mentais para algo útil. Quem apenas consome, vive do vício escravista da mentalidade da pílula mágica, do torpor "dopaminístico", vivem no ócio. A grande questão nunca foi força de vontade, nem nunca motivação. Nada supera a disciplina. Todos somos viciados em algo, mas é bom escolher esses vícios com prudência. De repente, um hábito simples poderá transformar seu futuro em um desastre, ou melhor, poderá adiar teu futuro te acorrentando ainda mais no presente, algo em escala finita, uma reprodução interminável de ciclos e fracassos. A equação é simples e cirúrgica.
Todo os dias somos apresentados a novas oportunidades, mas como somos bombardeados com milhares de estímulos desde técnicas apuradíssimas de marketing virtual à supostos "sonhos" individuais fomentados por figuras que admiramos e que recheiam nossa imaginação fértil com promessas de ganhos imediatos, fechamos os olhos para elas, e cada uma é única, insubstituível. Pensar no futuro é quase igual a recalcitrar contra os agulhões, não tão biblicamente falando, tudo pode acontecer, assim como absolutamente nada. Hoje, assistindo o jogo de futebol feminino da seleção e comparando com os pífios resultados da seleção masculina, pensei bastante sobre o fato de que somos a maior potência futebolística no mundo (pelo menos isso), mas ao mesmo tempo, nas últimas décadas estamos completamente perdidos em uma das maiores qualidades culturais de nosso povo. Como pode, com tanto talento eminente que surge a cada trimestre em vosso país, ainda apresentamos resultados medíocres na esfera do futebol mundial, enquanto o futebol europeu apenas se desenvolve? Sem criatividade e sem disciplina, nada permanece, tudo desmorona. O futebol brasileiro de certa maneira é a representação de que talento tem prazo de validade. A máxima que levo como lema é: se você possui um talento, desconfie. Melhor ser criticado do que elogiado, o elogio esconde mentiras sobre uma faceta amigável e adocicada de ser ouvida, mas é lobo em pele de cordeiro, serpente em corpo feminino.
O futebol nacional parou no tempo por intermédio do torpor mental da ilusão do passado vitorioso. Parou no tempo por conformismo enquanto foi ultrapassado por estudos, aplicação de técnicas, disciplina e por último, por resultados de outras seleções prontamente empenhadas no processo. A certeza de talento gera conforto e por conseguinte, mesmice. Ficar em um ambiente pouco desafiador, partilhar espaço com medíocres ou sentir que possui uma capacidade de dotes maior do que a média do local, é a premonição de que não bastará muito para o complexo de mestre se instaurar na tua mente e te fazer acreditar que isso por si só já basta. Ser o melhor do ambiente e demonstrar que tem capacidades sobrenaturais aos incautos, é prato cheio para a armadilha do ego. A sensação de que já sabe de tudo, lhe impedirá de continuar aprendendo. É algo semelhante a biblioteca de Umberto Eco, 30 mil livros à disposição mas a certeza de que precisarás de três vidas inteiras para ler tudo, partindo do pressuposto de que você leia 100 livros por ano durante 300 anos. É a falsa e insensata grandeza de poder, querer mais do que pode abraçar ou pensar que já tem tudo, mesmo que no fundo tenha apenas uma fração milesimal do que acredite ter. Estar em um ambiente onde você é desafiado a aprender cada vez mais e diante de pessoas verdadeiramente esforçadas e disciplinadas, sempre será um estímulo certo para o desenvolvimento íntimo. Um homem sempre precisa de referências, mas para tal ele precisa transformar-se de imediato em uma. Lembro muito bem desse tópico e estou contente por poder revê-lo, espero que continue a postar seus valiosíssimos textos, mesmo um pouco distante daqui, este espaço sempre foi, para mim, referência de bons conteúdos e informações.
Congratulações.