18-10-2016, 05:29 PM
PLANEJAMENTO
Antes de começar a planejar uma negociação você tem que responder à seguinte pergunta: "eu devo negociar?"
Veja que, a princípio, o que você tem que fazer é analisar os riscos e os benefícios em se fazer uma proposta, seja na compra de um carro ou em um pedido de aumento salarial. Considere aqui, também, as suas habilidades; avalie-se se está pronto para fazer ou recusar uma oferta sem gaguejar ou sem "ceder à pressão" da outra parte.
Depois, certifique-se se você está uma negociação baseada em posição ou em interesse. Negociações baseadas em posições geralmente focam "naquilo que queremos", enquanto que as que tem por base o interesse focam "no por que queremos aquilo". É evidente que, conforme a dinâmica do processo, haverá momentos em que estará negociando por posição, enquanto outros por interesse, dentro de uma mesma negociação.
Complicado? Sim? Pois bem, vamos analisar este conceito com a ajuda de uma pizza de anchovas.
![[Image: pizza-de-aliche-1341526755345_956x500.jpg]](http://imguol.com/2012/07/05/pizza-de-aliche-1341526755345_956x500.jpg)
Vamos supor que você é pai de dois filhos, e tenha comprado a pizza para eles comerem, uma vez que você já esta com o bucho cheio de petiscos e cachaça depois de uma longa tarde no bar. Obviamente, os teus dois filhos querem a pizza, e você tem que tomar a decisão de dividi-lá, se não quer assistir uma disputa sangrenta em que aquele que não morrer fica com a pizza.
Qual decisão você tomaria? Com certeza, você dividiria a pizza ao meio e os seus dois filhos sairiam ganhando.
É claro que não há nada de errado nisso, afinal todos saíram ganhando: os seus dois filhos tem pizza e você tem sossego. Parabéns, você acabou de concluir uma negociação baseada em posição ("o que eles querem").
Mas se, em algum momento, você perguntasse para cada um de seus filhos o porquê de eles quererem a pizza, poderia criar uma situação real em que ambas as partes saem ganhando: o seu filho mais novo gosta das anchovas (que ficam no centro da pizza), enquanto que o mais velho, gosta da borda. Então, daríamos ao mais novo o centro da pizza, e ao mais velho a parte mais perto da borda.
Neste caso, você teria solucionado o mesmo problema, de forma diferente. É fácil perceber que a satisfação das partes seria muito superior na situação 2 (negociação por interesse) do que na situação 1 (negociação por posição), e é isso que torna este conceito algo tão importante.
Recapitulando:
Negociação por posição: "O que você quer?".
-Tem mais chance de criar impasses.
-Mais difícil de se chegar a um acordo.
-Pode criar situações em que ambas as partes ganham.
Negociação por interesse: "Por que você quer isso?"
-Tem mais chance de se chegar a um acordo.
-Pode criar situações reais de ganha-ganha (eu consigo o que eu quero sem tirar o que você quer).
Que sigamos, então, para a próxima pergunta: "Estou em uma negociação que busca a formação de um acordo ou uma resolução de conflitos?"
Responder à essa pergunta não é uma tarefa muito difícil, mas, acredite, é importante.
Quando nos focamos na formação de um acordo temos a tendência de olhar para o futuro, procurando encontrar os benefícios e malefícios de cada decisão; de nos basearmos em interesse; de ver a outra parte como uma auxiliar na busca por uma alternativa que alegre a ambos. Quando nos focamos na resolução de um conflito, temos a tendência de olhar para o passado, procurando encontrar as razões para se inocentar e/ou culpar a outra parte; de nos basearmos em posição; de ver a outra parte como uma adversária.
Saiba para que "guerra" você está indo.
ANALISANDO O PLANEJAMENTO DA VENDA DE UM CARRO
Talvez você tenha chegado até aqui se perguntando: "Beleza, mas cade as técnicas de negociação?". Não quero te desanimar, mas isso vai ficar para uma segunda parte. Concentremo-nos, por enquanto, no planejamento.
Analise a situação abaixo, que servirá de alicerce para alguns conceitos (preço de reserva, preço provável e preço alvo):
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O VENDEDOR
Você tem um gol 2010 e quer vendê-lo por 16 mil reais, para comprar uma Honda Civic 2014 de 50 mil reais; você já tem 38 mil reais, resultado de suas economias do passado. Você só entregará o carro ao comprador depois de três semanas após a compra, porque você vai precisar deste tempo para que o Honda Civic chegue à sua casa. Se você não conseguir vender o gol por pelo menos 13 mil reais, você venderá o seu veículo para o seu irmão por 12 mil reais.
Para não causar confusão, vamos organizar as coisas através de alguns conceitos:
-Qual o seu preço de reserva?
Você não vende por menos de 13 mil reais.
-Qual o preço mais provável?
De acordo com suas pesquisas nos classificados, é 14,5 mil reais
-Qual o seu preço alvo?
Você gostaria de vender o carro por 16 mil reais.
Condições:
-Você precisa de 12 mil reais para poder comprar o Honda Civic. (Como vendedor, você deve se questionar sobre o porquê de estar negociando)
-Você precisa de um prazo de 3 semanas para entregar o Gol, após a compra. (Como vendedor, você deve se questionar sobre as questões mais importantes na venda; neste caso, é o prazo. A partir disso você pode traçar estratégias para caso a outra pessoa não queira contribuir com esta condição)
O COMPRADOR
O comprador é o Barãozin, doutor em sovinagem pelo Instituto Lula. Analisemos suas anotações:
-Qual o seu preço de reserva?
Ele não compra se custar mais de 15 mil.
-Qual o preço mais provável?
De acordo com pesquisas dele nos classificados, é 14,5 mil reais
-Qual o seu preço alvo?
Ele gostaria de comprar o carro por 12 mil reais.
Podemos concluir através destes dados que a zona de possível acordo é entre 13 mil reais (o mínimo que o vendedor aceita) e 15 mil reais (o máximo que o comprador aceita pagar).
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Tudo bem. Você e o comprador chegaram a um acordo: 14 mil reais. Agora, você tem que explicar a condição do prazo.
Neste momento, o comprador vai ter duas opções:
1. Dizer "não tem problema" - que é a pior opção possível para ele, e a melhor para você, que é o vendedor.
2. Usar isso como uma barganha para tentar baixar o preço, independente se o prazo é ou não importante para ele - opção mais inteligente para o comprador.
O comprador diz: "Não posso ceder à essa condição."
E você, o que faria?
[Continua na parte 2]
Em tudo dai graças.