19-08-2019, 03:01 AM
(Esta publicação foi modificada pela última vez: 20-08-2019, 04:03 PM por Gangster.)
PALAVRAS CÍNICAS
de Albino Forjaz de Sampaio
Escritor português nascido no fim do século XIX, pouco conhecido por aqui, Segue uns trechos do capítulo que trata das mulheres, pra vocês verem o grosso calibre do cara. O livre é facilmente encontrado pra baixar.
Onde encontraste tu uma mulher que amasse alguém? Inútil. Procurarias em vão. Uma mulher é um objeto que se usa e se põe de parte ao fim de uma hora, de um dia, de uma semana, de uma quinzena, de um ano quando muito. A fidelidade aborrece. Mas há acaso alguma mulher fiel? Em que pensam elas? No interesse. Todas se vendem. Umas compram-se por amor, como outras se compram por dinheiro. Varia muito o preço por que uma mulher se entrega: uma moeda de prata ou um colar de pérolas, uma nota de banco ou um adereço, uma ceia, um reino, um capricho, um cigarro. Eu já tenho comprado mulheres por um cigarro.
...Toda a vida me acorrentaram à cadeia de beijos dos seus braços. Assassinaram me a energia. Tornaram-me à força de desgostos e de irritações, eu que era uma criatura de pequeninas carícias, de mil afetos pequeninos, de pequenas coisas amorosas, embotado e seco como as plantas que morrem à míngua de água. Amei rude e loucamente, com fé, com ardor.
Fui desamado sempre, escarnecido, pisado.
Quando eu amava, rouco de dizer o meu amor, não encontrava um único coração que se me abrisse. E então, conheci más todas as mulheres. Mas como hão de elas amar-me se eu lhes não posso dar ouro? Que tenho eu para lhes dar? O coração? E para que serve o coração? Acaso isso já serviu a alguém? Não encontrei nunca uma mulher que não roçasse a espinha pela minha bolsa, como os gatos quando ronronam aos pés do dono.
E todo aquele meu passado amor, toda essa afeição foi como um charuto caro que alguém esqueceu aceso. Hoje não amo nem creio, como Schopenhauer. Não é porém despeito tudo isto. Eu continuo a cair nos braços das minhas amantes, mas julgando-as o pior possível.
Quanta mentira não há num beijo? Quanto veneno? Quanta traição? Um beijo envenena sempre. Alguns há que envenenam a vida inteira. A mulher leva ao degredo, ao crime, à morte, à desonra. Há homens que se matam por elas, que se arruínam, que enlouquecem. Dalila atraiçoou Sansão, Margarida perdeu o velho Fausto. Escuta! Se queres ser amado por tua mulher dá-lhe com um chicote. As mulheres precisam de ser colocadas em seus devidos lugares para amarem alguém...