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Vazio Reflexivo e Surto de lucidez
#1
O vazio reflexivo é quando o indivíduo questiona a essência de tudo que o rodeia, fazendo-o perceber que nada tem realmente uma razão para ser como é, tanto na sociedade quanto em nossas vidas, que a existência é fundamentalmente repleta de incerteza, isso conduz à angústia e à ansiedade.

Muitos passam tanto tempo refletindo sobre isso que acabam achando que estão com depressão, quando na verdade é apenas um surto de lucidez que pode lhe garantir uma existência mais autentica sem as ilusões da mentalidade humana e que ao mesmo tempo lhe permite se maravilhar com a complexidade do mundo real e agir nele.

As citações abaixo eu retirei de um comentário de um vídeo no youtube, que discorre sobre o assunto e que pode nos ajudar a entender esse período e encontrar a solução começando pelo contraponto da lucidez, a "embriaguez":

Citação:Acredito que o primeiro passo é ficar alerta para uma advertência que Sartre nos faz em "Náusea".

Sartre descreve um garçom, em uma cafeteria de Paris, que lhe chama a atenção por seus movimentos "um pouco solícitos demais", afirma que ele "sorri um pouco demais", "responde aos fregueses com demasiada atenção", seu comportamento é uma forma exagerada de tudo aquilo que se espera de um bom garçom.

Sartre o diagnostica, esse garçom, inadvertidamente, compreende a si mesmo como, fundamental e primariamente um garçom, e não como um ser humano livre. Ele aceita o papel atribuído a ele pela sociedade, e a sua realidade social/humana/cultura como a essência de seu ser, porque é incapaz de lidar com o fato  de que "a existência precede a essência", dirá Sartre: antes de ser qualquer coisa, somos nada, totalmente livres para deliberar sobre a própria existência".

Essa "embriaguez" (em oposição a lucidez) mostra como algumas pessoas se definem pela profissão ou pelo meio onde vivem de maneira subjetiva, nos remetendo a frase do clube da luta: Você não é seu emprego, você não é seu carro e você não é seu dinheiro... E o motivo de conseguirmos questionar a nossa existência é a prova de que não somos nada e ao mesmo tempo conscientes para discorrer sobre o assunto o que nos leva a segunda parte:

Citação:Esse é o grande surto de lucidez, que nos faz questionar o porquê de as coisas serem como são, afinal, tudo poderia ser tão diferente: o resultado é angústia, como denominou Kierkegaard em "O Conceito de Angústia": somos seres livres e inexperientes, tateando no escuro, despidos do conhecimento necessário para tomar qualquer tipo de decisão de forma inteligente:

"A vida só pode ser entendida de trás para frente, mas deve ser vivida no sentido contrário."

O trabalho da filosofia é justamente fornecer as ferramentas para que façamos esse recuo, e possamos refletir como quem olha de cima, porquê fazemos o que fazemos.

Questionamos o por que de trabalharmos em tal emprego, fazermos esta faculdade ou termos estes amigos etc...

Citação:As percepções sobre o mundo que o pensamento contemporâneo traz sempre nos conduzem nessa direção, esse é o lugar comum de qualquer um que se dê ao trabalho de pensar com alguma seriedade.

Schopenhauer, Sartre, Kierkegaard, Camus, Heidegger e tatos outros filósofos entendem com absurda perspicácia os sentimentos que temos, e é sempre destes pensadores que se retira o maravilhoso conteúdo de vídeos como esse. Ler suas obras, ou ao menos ler sobre elas, engrandece enormemente a existência, sendo a melhor forma de canalizar a angústia que deriva desse despertar.

O maior problema desse despertar, pelo menos no meu caso, foi remoer o passado frequentemente o que gerou muita angustia mas que também levou ao entendimento das situações. 

Alguns nesse caso se desconectam totalmente de tudo que há no mundo, o que pra mim é ignorância já que não temos tanto conhecimento e percebemos o mundo a partir de nossos sentidos que não nos mostram a verdadeira realidade. Lembrando que o fato de não sermos nada permite que questionemos nosso mundo e alcancemos nossa essência.

Citação:Até lá, lembre-se que além dessa consciência lhe garantir uma existência mais autêntica e verdadeira, despida das ilusões que a sociedade impõe ao rebanho, ela lhe permite se maravilhar com a complexidade do mundo real. A partir do momento que reconhecemos nossa ignorância, e o quão pouco sabemos a respeito do mundo e nosso lugar nele, nossa mera existência se torna um fato estonteante. Em "Como Vejo o Mundo", Einstein diz:

"Não consigo, nem quero conceber um indivíduo que sobreviva sua morte física. [...] Eu me satisfaço com o mistério da eternidade da vida, e com o vislumbre da maravilhosa estrutura do mundo real, junto com o esforço diligente de compreender uma parte, por menor que seja, da razão que se manifesta na natureza."

Passado esse período de angustia vem o questionamento do que fazer perante esta consciência, isso é pessoal de cada um. Uma coisa que eu acho extremamente importante é fixar um objetivo, uma grande meta na vida e focar nela, pessoas que estão atrás de seu sonho são mais corajosas, independentes, não se abalam com as coisas ruins da vida como arrependimentos e ultrapassam limites, agindo em meio a complexidade do mundo real.
"O mundo continuará, pois, a mergulhar nesse vazio, nessa barbárie, e esses sonhadores maravilhosos, jamais vão acordar dos seus sonhos." 
- Esther Vilar, em O Homem Domado
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#2
Tópico bom, interessante quando citas a parte do "relembrar o passado", realmente é algo que incomoda, aconteceu semelhante causo comigo, uma angústia remota em se voltar ao passado, ansiar e desejar por tê-lo novamente, passei bom tempo apegado a lembranças de fatos consumados, alguns não plenamente, ao mesmo tempo em que me renegava ao presente e ao futuro, é realmente o pior revés que possa surgir nessa caminhada,  o estopim para o desvendar de novos horizontes. Essa ilusão é necessária, citei isto em algum outro tópico, o exemplo que usei foi para o homem que possui total habilidade em reconhecer uma mentirosa, uma ludibriadora, porém resolve se afundar no desejo insano e sagaz de um conto de fadas, no caso o relacionamento, no ínfimo dos sentimentos ele sabe que esse não é o caminho, mas entrega-se ao mesmo por puro medo da realidade.

Acredito que ninguém consiga viver integramente no mundo real - livre de fantasias ou ilusões -, não em sã consciência, os que tentaram, enlouqueceram, desenvolveram problemas psicológicos ou suicidaram-se, as ilusões nos movem. Novamente cito algo que me acometeu tempos atrás, o véu da ilusão veio a despencar sobre os meus olhos, e então me senti insignificante perante a tudo, um pedaço de nada, essa sensação se assemelha a ser jogado em uma ilha bem deserta e isolada de tudo, você não morrerá de fome, muito menos de sede, porém morrerá louco, morrerá de desgosto por não se sentir útil a algo, não sentir-se parte de algo.

Uma parte interessante do livro, Amor para corajosos, do Pondé, me fez refletir, relacionava-se ao narciso, um ser totalmente egoísta e mimado, uma criatura que se alimenta de "mimos" e bajulações, ou seja, pare de lhe dar este alimento e ele morrerá automaticamente, não de forma súbita mas sim de forma gradual, da pior maneira possível, seus sentimentos sobre a vida, suas crenças serão todas corroídas, jogadas brutalmente de um penhasco imenso, o exemplo que citei cabe perfeitamente ao narciso, ele morreria se fosse submetido ao isolamento.

Porém, admito com toda sinceridade mundana possível, todos os meus impulsos, minhas ações mais acometedoras, ações estas que me ofertaram passos largos na minha evolução, só foram plenamente possíveis por esses momentos de reflexão, momentos de isolamento. O meu conselho para os "embriagados" é: Aprendam a suportar a própria companhia, quando conseguirem isso, as reflexões e os questionamentos surgirão como num passe de mágica, e claro, leiam-nos com os olhos voltados para dentro. Quando estiver sentindo-se perdido em meio a multidão, espera a noite, procure um lugar calmo e isolado - seu quintal ou mesmo varanda - sente-se e absorva suas reflexões, em seguida ponha-as em prática, no começo irá ser difícil, é somente sua mente querendo lhe dominar, resista e o refaça novamente, depois de um tempo você conseguirá ler suas reflexões e posteriormente pô-las em prática.
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#3
A vida humana sem Deus é governada por instintos, a lógica do absurdo, um faminto por proveitos, a lei da selva, em que o mais forte quer destruir e desmembrar o mais fraco, a dominação, o poder, o EU e apenas o EU... Se não houver Deus para ti, quem poderá dar sentido a tua vida? e dizer o que é bom e o que é mal, tudo se torna relativo. "Tudo é diferente para pessoas diferentes, para ti isto é mal, para mim é bom!". O mundo se torna um eterno relativismo onde o lado animal governa.

Sem Deus não existe critério comum, chão comum, não há ideal com um objetivo concreto diante de nós o qual queremos alcançar, não existe pessoa que queiramos personificar, não existe transformação real, apenas buscas por poderes. O que é esta pessoa, este ideal que a época contemporânea deseja criar? O ideal do homem contemporâneo é o seguinte: um extrovertido, super ativo, mas ao mesmo tempo uma pessoa profundamente depressiva, que não vê um sentido nem um objetivo, não tem futuro, não sabe nem para onde vai, nem de onde vem e como vai viver.
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#4
Sem Deus a sociedade cai no imenso e profundo mar do magnetismo ou teia de aranha das relações sociais, onde as paixões triunfam, dominam, e prendem os homens, fazendo ja parte da estrutura do ser, ou seja, as paixões se torna amigas intimas dos homens. E é ai que começa as perdições.

Este espaço anonimo que apresenta formas de como estar e se defender do governo animal do homem moderno que chamamos de real é importantissimo. Um espaço de homens que sabem que existe algo de errado com toda essa fantasia que pintam por ai.

"Pois onde estiver o vosso tesouro ali estara tambem o vosso coração".

O tópico é muito bom...
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#5
Interessante tópico, e muito desafiador, pois o Existencialismo é um tema denso apesar de recente na história da filosofia, tópico com bastante potencial.

E muito feliz a citação de Einstein, que apesar de todo seu saber [científico, de conhecimento] não desprezou o "crer" da religião.
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#6
O que levo pra mim no meio de tudo isso é que: Não preciso de um motivo, não preciso de uma razão. Me investiguei e me eduquei a não sentir a curiosidade que contagia a todos os humanos. Eu simplesmente não ligo porque estamos aqui, para onde vamos ou qualquer outra coisa. Apenas acredito que há um Deus, uma força, um caminho que nos une e sempre elevo meu pensamento a ele, peço por sabedoria, e acima disso, peço sabedoria para aguentar a sabedoria sem ser ignorante ou exagerado. Salomão foi um homem sábio, mas sua sabedoria dividiu israel. E seu exemplo me faz querer ser melhor, não que ele tenha sido ruim.
A questão é, para se viver não é preciso um motivo ou um porque, a vida já satisfaz esses dois quesitos. Estar vivo é a razão e o motivo de se viver.
Spoiler Revelar
Veja o mundo por outras perspectivas, tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo saber. Mude,
porque a direção é mais
importante que a
velocidade.

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