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Na cidadezinha - Parte 2 - anexo - Pirenópolis e a crise católica.
#5
A cidade vive uma bolha imobiliária considerável. Ao andar por um bairro mais afastado e conversando com uns locais, descubro um lote custando em torno de R$ 150.000. Os locais dizem que a cidade tinha lotes e casas com preços normais, mas depois de 2000 para cá, houve interesse em transformar a cidade em local turístico. Muitos estavam vendendo suas terras e se mudando. A cidade estava ficando demais movimentada.

Conversei com uma professora municipal e  ela me disse que comprou uma chácara e se mudou da cidade. Conversei também  com outra funcionária municipal e ela me disse que mora também fora da cidade em sítio e só vai na cidade quando para trabalhar e fazer compras, quando é o jeito mesmo. 

Minha visita ocorreu no período festivo. A cidade tem várias festas durante o ano. Tudo bancado por dinheiro federal e estadual. A prefeitura não tem muita verba, mas lida com todos aqueles montantes que transformara uma cidade pacata em um negócio bem lucrativo.. 

Com um bom rascunho de bibliografia sobre aquela cidade, eu vou para a próxima fase da pesquisa: presencialmente verificar as construções históricas.

Durante a semana, a cidade é mais tranquila. A loucura ocorre mais no final de semana quando os visitantes vêm principalmente de Brasília e Goiânia. A sensação era de que eu estava em alguma cidade cinematográfica:  pedras e casinhas com fachadas muito bonitas. 

As casas mantêm o padrão colonial. A estrada é formada por pedras pontiagudas que fazem o  percurso a pé ser mais rápido que o percurso por carro. Não são pedras como as que ainda existem em cidades antigas, são mais rudimentares que isso, da época em  que carros nem existiam, apenas cavalos. Mas percebo que, por dentro, as casas tentam se modernizar. Há uma luta política para tentar desenfrear isso, mas os donos daquelas casas, para atenderem interesses  econômicos, tiveram que mudar toda a estrutura interna das mesmas com o passar do tempo. 

Eis o primeiro segredo desvendado. O estilo arquitetônico era uma maquinação  por fora, para parecer uma cidade colonial, tal qual uma cidade falsa, cinematográfica. Ninguém ali queria viver em uma casa padrão colonial, pois nos dias atuais não é mais algo prático. Entretanto, a cidade tinha que parecer colonial, afinal, ganha-se muito dinheiro como uma suposta cidade histórica. Então mantem-se  a fachada, mas por dentro aplica-se a arquitetura moderna, que por mais feia que fosse, é funcional. 

Estava me sentindo bem até aquele momento da viagem, como se estivesse morando em alguma cidade mágica da europa ou uma daquelas cidades turísticas de colonização europeia  do sul. 

Foi um dos pontos bons da viagem, andar durante a noite em algumas daquelas ruas, que pareciam ter algum tipo de encantamento. 

Achei que talvez eu pudesse arrumar um emprego no lugar, talvez de garçom e ficar por ali.  Apesar da loucura no final de semana, ainda parecia uma boa cidade. Talvez eu não precisasse ir para outro país. Ali havia história, arquitetura, cultura, tradição. Talvez o lugar ideal não estivesse tão longe de onde eu morava.

Cheguei até a achar que o fruto de todos aqueles anos  em subempregos, lutando no tempo livre para adquirir cultura, acharia ali naquele lugar um terreno para florescer. 

Eu era um tolo e descobriria logo a estapafúrdia daquela ideia.

Sobre a arquitetura ainda vou citar  o que diz B, morador da cidade e dono de uma dessas casas tombadas. B diz que o tombamento é,  acima de tudo, gerador de polêmicas. Um fiscal  foi na sua casa atestar se a mesma estava  no padrão de preservação. Sua casa é reprovada e o fiscal diz que há irregularidades na forma como a fachada foi preservada. No ano seguinte, outro fiscal vai fazer o mesmo trabalho e diz que a fachada da casa está no padrão. Só que ele não mudou nada na casa no período entre as visitas.

Depois de visitar as casas tombadas, vou visitar as igrejas católicas da cidade. Ali, há uma das igrejas mais antigas do país. Fica no centro. Foi onde comecei a me sentir estranho.

Eis a igreja matriz, um dos patrimônios culturais do Brasil, tão velha quanto o próprio império:
[Image: MATRIZ3(520w351).webp]

[Image: matriz6(520w273).webp]


[Image: agitapirenopolis_igrejas_pirenopolis_.jpg]
A minha visita ocorre no domingo, um pouco depois da feira.  A cidade está quente, bastante abafada. Do nada,  começo a sentir um incômodo. Começou devagar, quase imperceptível.

A mulher que fica na igreja fazendo trabalho voluntário recolhe 2 reais de cada visitante.  No dia, ela estava com uma nota de 100 e deu de bobeira como troco para outra visitante. A visitante não tinha voltado para devolver e ela estava comentando com outras pessoas quando eu entrei na igreja. 

A igreja por dentro é  assim:
[Image: matriz11.jpg]

Achei o altar bonito, mas tinha alguma coisa estranha no ar. Eu não sabia nem dizer ao certo o que. Não havia muitas pessoas na igreja e decidi subir uma escada. Talvez eu nem tivesse permissão para subir, mas a igreja estava vazia. Ao chegar no andar de cima me encontro num lugar que mais parece um cemitério de bonecos bizarros. Eram as esculturas do período colonial que ficavam guardadas ali.

O barroco italiano é bonito,  conforme a referência abaixo:
[Image: bernini2.jpg]



Mas o que eu vi ali estava mais para.

[Image: images?q=tbn:ANd9GcRQOsNWZrS0aAyZHN13lAZ...qCRP-xDg&s]


Desci da escada me sentindo mal, estranho, ainda não consciente de que aquela sensação seria uma constante ali naquele lugar .
A igreja tinha algo estranho no ar. Parecia que eu estava em algum lugar ruim, com uma energia pesada. Parecia até que estava em um grande caixão, e que havia coisas ali naquela construção além concreto, madeira, ferro e pessoas.

Saí com um pouco de vertigem da igreja e olhei à volta. Foi aí que percebi algo que tinha me escapado antes de entrar na igreja: além dos turistas, havia muitos moradores de rua e pedintes ali. Parecia tudo estranho, uma cidade abandonada no tempo, não um lugar turístico. Parecia um lugar onde o sofrimento humano fosse expressado em um sentimento ruim generalizado.

Podia ser o calor também, então decidi voltar para onde estava, tomar uma cerveja gelada e ir dormir.


Essa parte já ficou bem grande. Depois continuo.
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RE: Na cidadezinha - Parte 2 - anexo - Pirenópolis e a crise católica. - de eremita_urbano - 15-08-2025, 10:49 AM

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