14-08-2024, 07:10 AM
(Esta publicação foi modificada pela última vez: 14-08-2024, 07:13 AM por Wissen.)
Interessantes os pontos levantados pelo @Libertador na tentativa de organizar o debate, me atentarei a eles também.
- Lei Mosaica vs Era da Graça: A lei de Deus, a antiga aliança, foi abolida na cruz e vivemos sob uma nova aliança, a da graça?
Cristo faz um distinção entre a lei antiga, muito baseada na lei do talião, e a doutrina que Ele vinha apresentar, conhecida como o Novo Concerto. Depois São Paulo irá escrever numa de suas cartas que aquelas eram sombras das coisas que viriram. A Lei dada a Moisés no Sinai foi redigida pensando num povo de "dura cerviz" e tinha um caráter pedagógico. A nova aliança feita na cruz por Cristo com a humanidade dá cumprimento à Lei de Moisés ("Não vim para abolir, e sim para cumprir") e inaugura a era em que o ser humano pode ser salvo pela graça de Deus. Não gosto de usar o termo "abolir" pois pode da a ideia de encerramento, como se a Lei de Moisés não tivesse mais valor algum. Prefiro o termo "atualizar" pois dá o sentido de continuidade. Então a Lei foi atualizada na Cruz. No sermão da montanha Cristo dá varios exemplos dessa renovação da lei, nos famosos "ouvistes que foi dito". Agora, só de pensar numa mulher a desejando no coração já se comete adultério, ou ao só injuriar o pŕoximo já se comete assassinato. O sábado posteriormente também entra nessa renovação, dizendo que Ele era Senhor também do Sábado, mostrando que mesmo a lei mais importante para os judeus estava dentro de um esquema maior: o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. - Distinção entre Judaísmo e Cristianismo: A lei mosaica, incluindo o sábado, era somente para o povo de Israel?
Sim, a lei de Moisés dada no Sinai era parte da aliança feita com o povo de Israel. No novo concerto a aliança de Cristo é com toda a humanidade (pregai o evangelho a todos os povos, linguas e nações). - Princípio do descanso em qualquer dia: O princípio do descanso é mais importante do que o dia específico? O sábado foi criado apenas para o benefício do ser humano, dependendo das circunstâncias culturais e individuais, não como um mandamento absoluto?
Toda lei escrita leva em consideração a sua época e o contexto social. O Sábado foi dado para os judeus como memorial da criação, justificado no Gênesis. Por trás do dia específico, há uma lei natural mais abrangente: o homem deve separar parte do seu tempo para a adoração a Deus. Os cristaos passaram a celebrar a eucaristia (fração do pão) no primeiro dia da semana em memória da ressureição de Cristo, o evento mais importante para o cristianismo. Tanto que esse primeiro dia começou a ser chamado de Dominus Dei (dia do Senhor), ou Domingo. Com base na lei natural, a Igreja passou a celebrar o primeiro dia como um dia separado para a adoração a Deus.
- Cristo e o sábado: Cristo fez o bem e curou no sábado; isso quer dizer que o sábado não é obrigatório no cristianismo?
- Não por isso. Nesse episódio Cristo estava mostrando para os fariseus o quanto as suas práticas eram hipócritas e prejudiciais ao povo, não querendo quebrar a guarda do Sábado.
- Transição do Sábado para o Domingo: Cristo ressuscitou no domingo, por isso o dia foi alterado? Houve uma evolução natural da prática cristã em que a tradição apostólica indica que os apóstolos e os primeiros cristãos guardavam o domingo?
Exato. Já nos primeiros anos após o pentecostes os cristãos passaram a separar o primeiro dia da semana para adoração já que a eucaristia era celebrada nesse dia. Vale ressaltar que os judeus convertidos na Judéia continuaram guardando o sábado como era o costume deles, e em algumas igrejas estrangeiras os judeus da diáspora convertidos ao cristianismo também guardavam o sábado como memorial da criação, costume que para eles foi se convertendo na adoração do Cristo no dia do Senhor, o Domingo da ressurreição, pois não havia mais a obrigação. Mas os estrangeiros convertidos que não tinham esse costume sempre guardaram apenas o domingo. Isso é bem documentado nas cartas dos primeiros Padres, nas cartas Paulinas e na Didaqué.
- Criticismo ao adventismo: Os adventistas guardam o sábado por conta da Ellen White? São uma seita que colocam os escritos dela acima da bíblia?
Aqui está um ponto complicado. O que seria levar os escritos dela acima da bíblia? A verdade é que todo cristao guarda alguma tradição, mesmo negando isso. Ninguém acorda, escreve uma bíblia própria e vira cristão do nada. Todos interpretam as Escrituras com base em alguma tradição, mesmo os que defendem a sola Scriptura. As próprias Escrituras chegaram até nós resguardada por uma tradição. Os católicos seguem essa tradição apostólica que remonta aos primeiros séculos, e os adventistas seguem uma tradição inaugurada no século XIX nos EUA de um movimento que procurou juntar os cacos do que restou após a grande decepçao de 1844, em que William Mueller havia previsto frustradamente a volta de Cristo. Desse movimento surgiram várias pequenas congregações, das quais restou a igreja Adventista, que teve como líderes Ellen White e Joseph Bates. Sobre Ellen White, seus escritos são muito condizentes com os de alguém sem instrução formal do final do século XIX nos EUA, inclusive o mais famoso "Grande Conflito" não tem valor histórico e literário algum. Cai por terra a alegação de que, por serem muito acima do nível que ela seria capaz de produzir, so poderiam ser frutos de revelação divina particular. Não quer dizer que ela não possa ter sido muito piedosa dentro de seus esquemas religiosos, e disso não duvido. Mas me parece que esse ponto tem se tornado cada vez mais evidente, tanto que os próprios adventistas já não estudam muito os escritos dela, voltando para a abordagem de sola scriptura mais tradicional dentro dos meios protestantes. - Relatividade do calendário: Houve mudanças nos calendários ao longo dos séculos. O sábado de hoje não é o mesmo sábado do Velho Testamento?
Não há motivos pra acreditar que o dia tenha sido mudado.
"Mas o homem é a tal ponto afeiçoado ao seu sistema e à dedução abstrata que está pronto a deturpar intencionalmente a verdade, a descrer de seus próprios olhos e ouvidos apenas para justificar sua lógica."