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Meditações sobre o Sermão da Montanha
#9
Não se deve entender a pobreza de espírito como baixa capacidade mental ou pouco discernimento, muito menos com ignorância científica. Fosse assim Cristo jamais teria dito "Buscais e achareis, bateis e abrir-se-vos-a", nem os cristãos teriam legado ao mundo o método científico, as universidades e toda a pedagogia jesuítica que era a base do ensino escolar até a tomada do estado moderno que transformou a educação universal em circo e controle. 

Para maior compreensão, principalmente de textos antigos, gosto de buscar a raíz etimológica dos termos. Nesse caso, pobreza de espírito traduz peuperes spiritu do latim e ptochoi pneumati do original grego. 

Em grego, pneumati, a palavra "espírito" evoca ar, vento, sopro, remetendo à imagem do Deus que soprou nas narinas do homem, e este passou a ser alma vivente. No magnificat a Virgem canta que seu espírito (pneuma) exulta em Deus seu salvador, enquanto sua alma (psyche) engrandece o seu Senhor. Já ptochoi é uma palavra usada aqui como adjetivo, como algo que se encurva numa posição de súplica ou mendicância. Nesse sentido, o espírito curvado é o daqueles homens que entendem sua posição em relação ao Senhor, não procurando contender com a ordem divina, mas antes adequando a vontade própia à vontade dAquele que rege o universo. Santo Agostinho entende como oposto ao espirito pobre um espírito que incha, que infla o homem a ponto deste não poder mais absorver as verdades divinas. Um paralelo com um copo cheio que não comporta mais agua limpa, um homem soberbo que não obtem mais bondades externas porque já saturado das elocubrações internas. Um homem a tal ponto afeiçoado ao seu sistema que descrê dos próprios olhos apenas para justificar sua lógica.

O latim traduz pneumati por spiritu, daí o nosso "espírito". A pobreza nesse sentido é o despendimento do homem não somente daquilo que é externo a ele (o espírito do mundo), mas também de si prório (o espírito em si). Não entender como um desprezo de si, em que se tornaria facilmente soberbo pela contrariedade. Mas esse desprendimento é um abandono, descanso, uma paciência, em que aquele que é pobre não deseja os bens materiais, e aquele que é rico não se prende às riquezas. É ávido em ajudar o seu semelhante, porém lento em julgá-lo. Busca incessantemento o aprendizado, consciente de sua condição de aprendiz. 

Em suma, a pobreza de espírito é a perfeita humildade em que o homem entende o seu papel no mundo, destino desejado por Deus que sabe até o número de seus fios de cabelo. Nesse entendimento, já não importa mais para si o seu ego, tornado em cinzas e deposto no altar divino como oferta da vontade própria e abandono incondicional, seus olhos postos na vida eterna.
"Mas o homem é a tal ponto afeiçoado ao seu sistema e à dedução abstrata que está pronto a deturpar intencionalmente a verdade, a descrer de seus próprios olhos e ouvidos apenas para justificar sua lógica."


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RE: Meditações sobre o Sermão da Montanha - de Wissen - 28-06-2024, 06:56 PM

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