19-03-2024, 11:38 PM
A Suposta Culpa dos Homens
Tem um argumento em alguns meios tradicionalistas de que o feminismo surgiu por "culpa" dos homens, uma vez que eles estavam largando as responsabilidades e papéis masculinos, e a partir daí, as mulheres passaram a querer a emancipação e independência. Sinceramente, eu não boto fé nisso não, mas mesmo assim vou fazer uma análise dessas afirmações.
Em alguns capítulos do livro "Revolta Contra o Mundo Moderno" (1934), Julius Evola faz uma análise do papel existencial e místico do homem e da mulher em várias tradições, e uma das afirmações é de que o homem é completo em si mesmo e tem personalidade própria, enquanto a mulher não tem uma personalidade própria e só é fêmea por causa do macho. Com o passar do tempo, os homens foram se degenerando e perdendo características masculinas, e por causa disso, as mulheres passaram a reivindicar emancipação e uma "personalidade para si mesmas", e assim o feminismo foi crescendo. Como ele escreve no capítulo "O Declínio das Raças Superiores":
"Depois de acusarmos a decadência da mulher moderna, não podemos esquecer que o homem é o primeiro responsável por essa decadência. Tal como a plebe nunca teria podido irromper em todos os domínios da vida social e da civilização se tivessem existido verdadeiros reis e verdadeiros aristocratas, igualmente numa sociedade dirigida por homens verdadeiros nunca a mulher teria querido e podido tomar o caminho por que hoje está a avançar. Os períodos em que a mulher alcançou autonomia e predominância têm quase sempre coincidido com épocas de evidente decadência de civilizações mais antigas. Assim, a verdadeira reação contra O feminismo e contra todos os outros desvios femininos não é contra a mulher, mas sim contra o homem que se deveria orientar. Não se pode exigir que a mulher volte a ser mulher a ponto de se restabelecerem as condições interiores e exteriores necessárias à reintegração de uma raça superior, quando o homem já não conhece mais que um simulacro da virilidade."
Mas será que foi isso mesmo?
Uma das provas de que não foi bem isso que aconteceu é que mesmo depois do sufrágio feminino, os homens continuaram indo em guerras. Na segunda guerra mundial, cerca de 400.000 soldados americanos do sexo masculino morreram na Segunda Guerra Mundial, enquanto 541 militares do sexo feminino morreram na mesma guerra. Imagino que as estatísticas de todos os outros países sejam parecidas nesse contexto. Além disso, os homens continuaram fazendo trabalhos mais arriscados e pesados, e também, houve uma aceitação geral de que num caso de divórcio, ele saia de casa e continue pagando pensão, em vez de simplesmente ir comprar cigarro e nunca mais voltar, o que é algo visto com maus olhos. Mesmo homens que tiveram alguma filha e depois abandonam o lar sem satisfações, não gostaria de um genro que tivesse a mesma atitude.
E a decadência da aristocracia às vezes não reflete diretamente no povão. Às vezes muita gente do povão é meio "decadente", mas logo se concerta, pois tem coisa que o dinheiro de assalariado não banca muito, e tem estilo de vida que a maioria das pessoas não aguenta por muito tempo (droga, sexo toda hora, desconstrução de tabus etc), principalmente se for pobretão.
Talvez Julius Evola estivesse falando do papel masculino numa escala mais "espiritual", "mística", "idealista", "homem solar" etc. Mas no cotidiano os homens continuaram cumprindo com suas obrigações sociais. E não apenas obrigações sociais de "trabalhador de indústria moderno", mas também obrigações sociais de "defensor da pátria". E nos períodos entre-guerras foi crescendo o movimento feminista e sufragista, já que a vida estava ficando mais automatizada e salubre, as indústrias queriam mais mão de obra e os homens que foram pra guerra ou morreram ou muitos voltaram com graves sequelas físicas e mentais.
O homem da época dele (1930, por aí) talvez já não era mais o "homem solar primordial guerreiro templário", mas também estava longe de ser um woke desconstruidão. Isso foi surgindo de tempos pra cá.
Se o Evola fosse só um zé mané, eu nem ia fazer texto analisando o que ele falou. Mas mesmo com essa análise incompleta, ainda recomendo a leitura do "Revolta Contra o Mundo Moderno", pra quem se interessa por filosofia, sociologia etc.