06-11-2023, 05:26 PM
(Esta publicação foi modificada pela última vez: 06-11-2023, 05:28 PM por Vital.)
Se o absolutismo monárquico fez triunfar a heresia na Inglaterra, enquanto na França o Galicanismo foi menos pujante, isso foi porque desde o século XII, o Rei Henrique II tentou instaurar o absolutismo impondo seus caprichos à Igreja, o que levou ao martírio de São Thomas Becket.
Os soberanos absolutos instituíram as Cortes, reduzindo a Nobreza a um conjunto de “bibelots” corrompidos, ou a lacaios servis. Fazendo uma Corte em que os nobres viviam como numa gaiola dourada sem nada fazer, os soberanos absolutos destruíram a aristocracia. Depois do que, sem o apoio de suas raízes nobres, ficou fácil para a Burguesia derrubar um rei sem príncipes.
Além disso, os Reis absolutos, para colocar a Nobreza de lado, fizeram exércitos permanentes constituídos por mercenários. O que lhes causava enormes despesas. Para pagar tais despesas, e às do funcionalismo necessário a uma monarquia que pretendia cuidar de tudo, os reis absolutos tiveram que se socorrer de empréstimos dos grandes banqueiros burgueses...
E quem paga, manda.
O Rei absoluto se enforcou num cifrão, antes de ter a cabeça decepada na guilhotina.
2 - A Democracia liberal foi o regime instituído pela Revolução Francesa.
Segundo a doutrina Católica, há três formas de governo possíveis e legítimas, que buscam o bem comum: a Monarquia, a Aristocracia e a Democracia.
Não se julgue, porém, que a Democracia que a Igreja aceita seja a Democracia liberal, regime movido a dinheiro, para controlar a propaganda, a mídia, e as eleições.
A Democracia liberal afirma a igualdade de direitos políticos, o sufrágio universal, coloca a origem do poder no povo, não em Deus, o direito de revolução, o ateísmo ou o indiferentismo do Estado face à Deus, idéias essas todas condenadas pela Igreja.
Uma democracia católica tem de afirmar que nem todos têm o direito de voto, que o poder vem de Deus, que não há direito de revolução. A Democracia liberal quer a liberdade de religião, e a separação entre a Igreja e o Estado.
Uma Democracia de acordo com a doutrina católica não pode admitir a liberdade de religião, pois o erro não tem direito nem à liberdade, nem à propaganda. E uma democracia católica exige a união entre Igreja e Estado, isto é, que o Estado deve reconhecer a Igreja Católica como a única verdadeira, e favorecer sua ação e seu trabalho apostólico.
O que não significa que o Estado tenha direito de forçar alguém a ser católico. Obrigar alguém a praticar a religião à força é pecado muito grave. A união entre Igreja e Estado só não permite que as seitas heréticas propaguem organizada e publicamente seus erros, pois o erro não tem direito de ser publicamente ensinado.
3 - O regime de governo estabelecido pela Revolução Russa é pura e simplesmente a Tirania Comunista.
Na tirania bolchevista, não se respeita a lei natural. Não há direito de propriedade particular. Visa-se a destruição da família. Nega-se o direto dos pais a educar os filhos. Admite-se o amor livre. O ateísmo é propagado pelo Estado e se nega qualquer direito à religião.
VI - AS TRÊS REVOLUÇÕES NA FILOSOFIA
Assim como houve três revoluções na Cristandade, houve necessariamente também três revoluções na Filosofia, porque evidentemente cada Revolução se fundamentava em uma cosmo-visão própria.
Nessas revoluções filosóficas, constatamos a existência de duas correntes, que, como duas serpentes, uma vermelha outra branca, se enrolam uma na outra. Uma é a serpente do Panteísmo racionalista. Outra a da Gnose irracionalista.
O Panteísmo racionalista diviniza o mundo material.
A Gnose irracionalista vê o mundo material como o calabouço do espírito divino nele aprisionado. E o que dificulta a compreensão desse problema é o fato que tanto o Panteísmo como a Gnose, admitindo um pensamento dialético, isto é, a identidade dos contrários, fazem do espírito matéria sublimada, e da matéria espírito cristalizado. Os contrários seriam idênticos. Portanto, para o pensamento dialético, o racionalismo é a irracionalidade, e o irracionalismo seria a racionalidade.
A Reforma e o Renascimento resultaram da fusão dialética da Gnose irracionalista de Mestre Eckhart com a filosofia racionalista do Nominalismo de Frei Guilherme de Ockham. Daí, ser possível constatar dois veios dialeticamente opostos na Reforma e no Renascimento.
Na Reforma, um é o Protestantismo racionalista com pretensões cientificista, no exame da Bíblia, com clara tendência panteísta. Outro, o Protestantismo alumbrado, pentecostal, que se crê movido irracionalmente pelo Espírito Santo, e que se revela como claramente gnóstico.
Por sua vez, um é o Renascimento racionalista, epicurista e materialista. Outro é o Renascimento gnóstico, mágico, irracionalista do hermetismo de Marsílio Ficino e de seus discípulos, como Botticelli, Verrochio, Leonardo e Michelangelo.
Por isso, a Filosofia correspondente à primeira Revolução foi o Cartesianismo, que continha em si, tanto um veio racionalista, como um veio irracionalista, subjetivista.
No princípio da Filosofia Moderna de Descartes está a afirmação: "Cogito, ergo sum" ("Eu penso,logo eu sou").
No cartesianismo, pela primeira vez a Filosofia deixa de partir do ser, para partir do eu. O homem moderno não olha mais para a realidade exterior a si mesmo, mas se volta para dentro de si. O primeiro conhecimento seria interior.
Seria o pensamento que daria existência ao real.
É dessa revolução antropocêntrica que nascerá, séculos depois, todo o subjetivismo e relativismo da Modernidade. O conhecimento é do eu. O homem deixa de buscar o conhecimento de Deus através das coisas criadas, mas a fonte do conhecimento seria o eu e dele derivaria a realidade existente. A fonte do conhecimento e do real estaria no mistério interior do homem, numa experiência mística interior com algo imanente no homem.
Tanto que o próprio Descartes partiu de uma famosa experiência mística interior, de uma visão que o “iluminou”.
Deus estaria no homem, e de modo substancial, como dizia a velha Gnose.
Com Descartes o imanentismo irrompia, de novo, na História. A filosofia cartesiana, pondo em duvida o real, iniciava uma corrente negadora do conhecimento humano e, portanto, defensora do irracionalismo. Descartes separou o intelecto humano da realidade.
Por outro lado — e dialeticamente — o método cartesiano afirmava que a razão humana seria capaz de conhecer toda verdade. Era o otimismo racionalista panteísta e experimentalista, oriundo do nominalismo que o cartesianismo aprofundava.
Na Filosofia escolástica, a verdade foi definida como sendo a correspondência entre a idéia do sujeito conhecedor com o objeto conhecido:
CONHECEDOR <------------------------------- VERDADE
IDÉIA DO SUJEITO <------------------------------- OBJETO CONHECIDO
A inteligência capta o objeto como, analogamente, uma máquina fotográfica capta a imagem de uma coisa. Todas as inteligências captam a mesma realidade.
Por isso, a verdade é Una, Imutável, Universal (em qualquer lugar e em qualquer tempo, a verdade é sempre a mesma. 1 +1 = 2, sempre e em toda parte) e Objetiva (é o objeto que produz a idéia dele em nosso intelecto)
Para a filosofia idealista, a verdade seria o que o sujeito acha. A mera opinião se identificaria com a verdade. Conseqüentemente, o Bem e a Beleza também seriam meramente opinativos.
Para o Idealismo é a Idéia que produz o objeto. O pensar produziria o ser.
Ora, isso só é verdadeiro em um caso: no caso da criação de Deus. Isso só ocorreu com a Sabedoria divina ao criar o mundo a partir do nada.
Quando Deus cogitou cada coisa, ela passou a ser tal qual Deus a concebera em seu Intelecto divino. Por isso, está escrito que foi “na Sabedoria que Deus fez todas as coisas”, e que no Verbo de Deus é que “todas as coisas foram feitas, e sem o Verbo nada foi feito”.
O Idealismo, ao afirmar que, aquilo que cada sujeito pensa, passa a ser o real, faz de cada inteligência individual, o próprio Verbo de Deus. O Idealismo divinizou o homem.
Foi do Idealismo subjetivista que nasceu o relativismo, característico dos séculos posteriores à Revolução Francesa e que hoje, no dizer de João Paulo II e de Bento XVI, estabeleceu sua tirania sobre o mundo.
Não é só nos hospícios que cada louco tem a sua verdade. Na Democracia liberal ocorre o mesmo. E se cada um tem a sua verdade própria, fica impossível qualquer diálogo. O Mundo contemporâneo se tornou uma nova torre de Babel, onde cada um fala uma língua particular, que ninguém mais entende. Todo mundo fala. Ninguém se entende. É a era do Diálogo. É a era do ecumenismo.
3a Revolução na Filosofia: o Marxismo ou Materialismo Histórico
Da afirmação de que a verdade é subjetiva, isto é de que cada um tem a sua verdade pessoal, logo se concluiu que então não há verdade.
Para o marxismo, havendo uma evolução contínua de tudo, não é possível ao intelecto captar a idéia do que uma coisa é. Seria como se uma máquina fotográfica estivesse sempre mudando, e como se o objeto que se quer fotografar mudasse também continuamente. A fotografia seria impossível.
A verdade não existiria.
Porém, essa frase: “a verdade não existe” é auto-destrutiva.
Pois, ou essa afirmação é certa, ou ela é errada.
Se ela é certa, nela estaria a única coisa da qual teríamos certeza, e nela estaria a única verdade. Mas, então, a verdade existiria nela.
Se a frase acima afirma uma falsidade, então, o contrario dela estaria certo, e a verdade existiria.
Nas duas pontas do dilema, a conclusão é uma só: A VERDADE EXISTE.
A negação da verdade pela doutrina marxista faz com que, o comunista que realmente acreditasse nessa tese, teria cometido o pecado contra o Espírito Santo consistente em negar a verdade conhecida como tal, pecado para o qual não há perdão.
VII - AS TRÊS REVOLUÇÕES NA ARTE
Já publicamos, no site Montfort, um trabalho sobre as Três Revoluções na Arte. Agora, queremos fazer apenas uma pequena exposição sobre esse problema.
A Arte, segundo São Tomás, é a reta razão no fazer.
Ela é a transposição de uma Filosofia para um sistema de símbolos. O próprio Beethoven afirmava que havia mais Filosofia em uma de suas sinfonias do que em um Tratado de Metafísica.
Conforme Pio XII, a Arte abre uma janela para o infinito.
Com efeito, a Arte visa fazer o homem conhecer a Deus através do conhecimento do bem, da verdade e da beleza existentes nas coisas criadas. Daí, São Tomás definir: “Belo é o bem claramente conhecido”. Ora, o que é se conhece claramente é a verdade.
Portanto, Belo = Bem + Verdade.
1a Revolução na Arte: o Renascimento
A Arte satisfaz a alma humana em seu desejo de Deus através do desejo de bem, verdade e de beleza, dando um impulso à vontade para amar o bem; uma idéia clara de verdade para a inteligência, e prazer estético, agradando a sensibilidade.
Ora, o Renascimento, repudiou a idéia de que a Arte deveria ser moral. A aceitação da falsa moral pagã fez o Renascimento querer representar prazerosamente o mal e o pecado nas obras de arte. O Renascimento afirmou a liceidade de representar o pecado com agrado e como bem. Prova disto são as obras imorais nas artes plásticas e na literatura. Basta ler o Príncipe de Machiavel para compreender a imoralidade do Renascimento. Basta conhecer a doutrina gnóstica do hermetismo ensinada por Marsílio Ficino, para estar convencido da imoralidade das obras renascentistas.
Eliminado o bem da obra de arte, o Renascimento colocou em primeiro lugar a satisfação do intelecto.
O Renascimento admitia apenas que a arte devia ser clara, compreensiva, ainda quando fosse esotérica, como nas obras de Botticelli, Leonardo e Michelangelo. Nessas obras, a Gnose é clara para quem conhece o que significam aqueles quadros e afrescos. (em trabalho futuro, exporemos o significado do verdadeiro Código usado por esses pintores em suas principais obras).
No Renascimento é possível distinguir um veio racionalista, defensor do Panteísmo, e outro veio irracionalista, mágico, e gnóstico seguidor da Gnose de Hermes Trismegisto.
Leonardo reuniu esses dois erros dialeticamente opostos numa síntese muito original.
O racionalismo queria que as obras de Arte clássicas fossem muito claras, obedecendo rigorosamente as leis da arte – (Unidade, variedade, ordem, proporção, simetria, contraste, gradação, etc) — como também que exprimissem muito clara, ou bem conseqüentemente, o que queriam. Claramente, quando fossem obras exotéricas. Conseqüentemente, quando fossem feitas em código, exprimindo doutrinas esotéricas.
Além disso, a obra de arte clássica deveria ser esteticamente agradável à sensibilidade.
Portanto, a obra de arte renascentista tinha como falha maior a ausência do bem que deixava a vontade humana frustra e mutilava a obra de arte de um elemento essencial á beleza que é o bem.
Inicialmente, os grandes gênios da Renascença conseguiram sintetizar o racionalismo panteísta com o irracionalismo gnóstico. Porém, logo, esses opostos se repeliram, dando origem à separação do Barroco otimista e alegre, do maneirismo tenebroso, ilógico, inimigo da razão, pessimisticamente gnóstico.
Visto que esse tema é bem pouco conhecido, no Brasil, colocaremos aqui, alguma citações retiradas de um nosso trabalho, mais extenso e específico sobre as Três Revoluções na Artert.org. br).
As características do Maneirismo, filho do classicismo hermético, em certo sentido, uma Contra Renascença, são, entre outras, as seguintes:
1o - Rejeição da Realidade Objetiva: "O maneirismo assinalou uma revolução na história da arte (...) pela primeira vez a arte divergia deliberadamente da natureza" (A. Hauser, Maneirismo, Ed. Perspectiva, São Paulo, 1993, p. 16).
2o - Dualismo metafísico e conseqüente pensamento dialético: Para o pensamento maneirista "nada neste mundo existe de maneira absoluta, e o oposto de toda realidade é também real e verdadeiro. Tudo se expressa em extremos opostos a outros extremos, e é através desse pareamento paradoxal de opostos que a afirmação significativa é possível. (...) a verdade tem inerentemente dois lados, a realidade é bifronte e (...) aderir à verdade e à realidade implica evitar toda super simplificação e abranger coisas em sua complexidade" (A. Hauser, op. cit.,pp. 21-22). Daí, “a impossibilidade de alcançar a certeza a respeito de qualquer coisa". (A. Hauser, op. cit. p. 21).
3o - Negação do conhecimento racional e de certezas é, portanto, a terceira característica do pensamento maneirista.
4o - Negação do ser; só existe o devir.
5o - Negação da identidade do ser: "Não somente a natureza da realidade externa e objetiva se modifica de acordo com o ponto de vista subjetivo, não somente tudo o que percebemos é 'alterado e falsificado por nossos sentidos', mas o ‘eu’ também muda tão acentuadamente de caso para caso que não há possibilidade de captar sua verdadeira natureza (...) motivo pelo qual a dúvida é lançada sobre a própria natureza e permanência do eu. Este foi o golpe demolidor contra a fé na identidade do ser humano, do qual a cultura da Renascença nunca se recuperou; sem isso não pode haver explicação para o maneirismo, seja como visão de vida, seja como estilo artístico. A distorção nas artes visuais, o uso exagerado e impaciente da metáfora na literatura, a freqüência com que os caracteres no drama como outrem e questionam sua própria identidade, são apenas meios de expressar o fato de que, enquanto o mundo objetivo se tornou ininteligível, a identidade do ser humano foi abalada e se tornou vaga e fluida. Nada era o que parecia ser, e tudo era diferente do que denotava ser. A vida era disfarce e dissimulação e a própria arte ajudava não só a mascarar a vida como a discernir sua máscara" (A. Hauser, op. cit., p. 49). Expressão maior desse irracionalismo na arte foi, posteriormente, o Romantismo. Foi do Maneirismo que vieram quer o Romantismo lírico, sonhador, simbolista e gnóstico, assim como as correntes gnósticas da Arte Moderna, como o Expressionismo, o Abstracionismo, e o Surrealismo, por exemplo.
2a Revolução na Arte: o Romantismo
Vimos que a Arte deve visar o Bem, a Verdade e a Beleza.
Assim como o Renascimento recusou buscar o bem através da obra de arte, o Romantismo recusou buscar o bem e a verdade. Na arte, o Romantismo quis buscar apenas o agradável.
O Renascimento separou a arte da moral, mas respeitou muito as leis da estética, pois super exaltou a relação entre beleza e a razão.
Ora, o Romantismo argumentou que se o decálogo não devia ser respeitado na obra de arte, por que se deveriam respeitar as leis estéticas, muito menos importantes do que os dez mandamentos?
Deste modo, o Romantismo não fez mais do que tirar as conseqüências lógicas dos princípios estéticos do Renascimento. Ele é uma conseqüência do Renascimento e, além dessa relação lógica com ele, ele tem também as mesmas fontes e princípios doutrinários: tanto quanto a Renascença, o Romantismo é gnóstico e panteísta. Nele também se podem encontrar as duas serpentes enroscadas do caduceu de Hermes. No romantismo lírico e simbolista, se oculta a serpente gnóstica irracional e mágica. No Romantismo racionalista do Naturalismo e do Realismo, se encontra a serpente do Panteísmo.
O Romantismo vai levar mais adiante o processo revolucionário na estética, declarando que a beleza nada tem a ver com a verdade. A beleza não deveria ser nem moral nem lógica, mas apenas agradável, satisfazendo então apenas à sensibilidade e não à inteligência (pela verdade) e à vontade (pelo bem). E era lógico que o romantismo recusasse a união da beleza com a verdade, dado que para a filosofia que o gerou - o idealismo - a verdade objetiva não existe.
Assim como o Romantismo esteticamente derivou do Renascimento, teologicamente ele proveio do livre exame luterano. Lutero asseverou que cada um podia interpretar a Bíblia a seu talante. O Idealismo e o Romantismo afirmavam que cada um podia interpretar a realidade a seu modo pessoal. O Romantismo, tanto como o idealismo, seu gerador, foi então o livre exame da realidade.
Para os idealistas assim como para os românticos, na correspondência da idéia do sujeito ao objeto conhecido, o elemento determinante era a idéia do sujeito. Era a idéia que criava o objeto. Portanto, a verdade era subjetiva. Cada um tinha a sua verdade particular, não existindo verdade objetiva. A realidade era subjetivizada, no sonho do lirismo, ou renegada, no realismo e no naturalismo, por seus defeitos e falhas, por ser o vale de lágrimas.
Ora, essa rejeição da realidade e da verdade conhecidas como tais coloca o Romantismo e o Idealismo como pecados contra o Espírito Santo, pecado que não tem perdão. Daí, a impossibilidade quase total de converter alguém que adira realmente ao Romantismo. Fala-se-lhe à razão, ele responde com o sentimento. Argumenta-se-lhe com fatos, ele contesta com mitos ou lendas. Coloca-se-lhes ante os olhos o real, ele contesta com o sonho e a imaginação.
Por isso é muito difícil converter um romântico, porque nele há uma negação da verdade e da realidade conhecidas como tais.
Para o Romantismo, a beleza nada tinha que ver com a verdade. Belo era o que agradava, ainda que fosse objetivamente feio. O artista deveria, pois, se deixar levar por seu agrado pessoal e não pela razão. A arte não teria que obedecer a nenhuma lei racional e objetiva. A estética caía no subjetivismo e no relativismo.
São conhecidas as raízes esotéricas, cabalísticas e pietistas do Romantismo. As três raízes do Romantismo - o esoterismo, o pietismo, o idealismo filosófico - eram irracionalistas.
Os esotéricos do século XVIII tinham uma doutrina tipicamente gnóstica. Eles condenavam a razão e defendiam o sonho como meio de apreensão do real. O mundo concreto seria falso. Ele era o produto do pensamento - sonho da razão. O universo real só podia ser atingido pela anulação da razão através do sonho, da hipnose magnética, do sonambulismo, do "êxtase" ou das drogas. Ou por meio de uma intuição mística. A anulação e a destruição da razão acabariam com a dualidade sujeito-objeto, permitindo a unificação do eu com o mundo. E, nesta união, através do sonho, seria reconstituída a inocência primeira do Éden e a união com a própria divindade. Alcançar-se-ia a restauração do homem na inocência original.
Os românticos esperavam para breve um Reino de Deus na terra - que Jacob Boehme denominava o "tempo dos lírios", Lilienzeit - reino do Amor, no qual a Lei seria abolida. Esse messianismo cabalista repercutiu no sonho romântico de um futuro Reino do Amor, no qual ressoavam ecos das teorias milenaristas do abade Joaquim de Fiore. Esperava-se para logo mais o estabelecimento de um período de felicidade perfeita na terra, como uma volta ao paraíso terrestre. Exemplo desse milenarismo romântico se tem na expectativa certa seita a respeito de um “Reino de Maria”, em que haveria cidades com ruas de cristal e catedrais de porcelana, com vitrais de pedras preciosas...
Todos os filósofos idealistas alemães foram seguidores dos ideais gnósticos de Boehme, dos esotéricos e dos pietistas. Quando eles descobriram as obras de Mestre Eckhart, eles viram nelas a expressão de seu pensamento mais profundo. A visão dialética do ser da Gnose, de Eckhart e Boehme, será adotada por Schelling, por Hegel e, depois, pelo próprio Marx.
De todo modo, esotéricos, pietistas, idealistas repudiavam a razão e levantavam contra ela a intuição - espécie de capacidade mágica e não discursiva de que o homem seria dotado, e que lhe permitiria alcançar o mundo invisível, passando por cima dos dados dos sentidos e dos raciocínios lógicos.
Essa mesma atitude face à realidade, à razão e ao estudo, com super favorecimento à imaginação e ao sonho se encontra, por exemplo, nos escritos de Plínio Corrêa de Oliveira, o “profeta” da TFP. E isso revela uma aceitação, pelo menos em certo grau, da mentalidade revolucionária e gnóstica do romantismo. Porque o romantismo era gnóstico. E por isso era também revolucionário
G. Gusdorf, em sua importante obra a respeito do Romantismo afirma explicitamente que:
"O Romantismo é uma renascença gnóstica (...) Schelling é um gnóstico, cujas convicções se desenvolvem à medida que ele avança em idade, da mesma forma Baader; a Naturphilosophie impõe à pesquisa científica códigos gnósticos. (G. Gusdorf, Le Romantisme, Payot, Paris,1993, I vol. p. 512).
Também Simone de Pétrement acusou a Gnose escondida sob os véus sonhadores e as brumas misteriosas do Romantismo. Disse ela:
"Pode-se dizer que reina, desde o romantismo, uma espécie de dualismo pessimista e sentimental, análogo ao dos gnósticos. Ele consiste sobretudo no sentimento que o homem está mal adaptado em sua própria condição, que ele se acha angustiado, que ele precisa de outra coisa (como se ele fosse estranho a si mesmo e ao mundo em que ele se acha, como s sua verdadeira natureza não estivesse nesse mundo). Nós dissemos que os gnósticos são românticos; nós poderíamos dizer igualmente que o Romantismo é gnóstico" (Simone de Pétrement, Le Dualisme chez Platon, les Gnostiques et Manichéens", PUF , Paris, 1947, p. 344).
Com efeito, o que a Revolução Francesa foi para a política, o Romantismo foi para a arte, porque ambos, o Romantismo e a Revolução, são filhos do liberalismo.
Ora, para o liberalismo não existe verdade objetiva. Em criteriologia o liberalismo é subjetivista: verdade é o que o sujeito considera como tal. A idéia que o homem tem de um objeto variaria de sujeito para sujeito.
Não havendo verdade objetiva, o certo e o errado, o bem e o mal, o belo e o feio passam a ser conceitos subjetivos. Belo é o que a pessoa considera tal. Belo é o que agrada a um sujeito. Não haveria, portanto, nem beleza objetiva e nem regras de beleza.
O subjetivismo do romântico é uma revolta contra o racionalismo clássico e, ao mesmo tempo, uma conseqüência dele. Lutero pregou o livre-exame da Bíblia. O Renascimento "endeusou" a razão humana. Desses dois erros nasceu o subjetivismo, pois que, sobre uma determinada questão, todas as opiniões seriam certas e verdadeiras, ainda que contraditórias.
O Romantismo foi o triunfo da imaginação sobre a razão, do subjetivo sobre o objetivo, do sensível sobre o abstrato. O Romantismo é o sonho. É a imaginação tentando negar a realidade e os sacrifícios que a vida traz consigo.
O romântico sonha que na natureza não há nem espinhos nem lama. Seus heróis - filhos de Rousseau - não têm pecado original, nem defeitos, nem tentações.
O Romantismo é uma tentativa de negar que o homem foi expulso do Paraíso terrestre, ou a tentativa frustra de tentar voltar a ele, clandestinamente, pela porta do sonho.
O romântico é sentimental. Ele busca sentir de modo exacerbado.
Edouard Schurré escreveu:
"O sono, o sonho e o êxtase são as três portas abertas para o Além, de onde nos vem a ciência da alma e a arte da adivinhação". (Edouard Schurré, Les Grands Initiés, in Alain Mercier, op cit. p. 207).
E Plínio Corrêa de Oliveira, apesar de se dizer Contra Revolucionário, e de se apresentar até como a Contra Revolução, romanticamente declarou:
“A História é, na alma do homem, um movimento pendular entre o sono e o sonho”. (A Cavalaria não Morre -- Excertos do pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira, recolhidos por Leo Daniele, Edições Brasil de Amanhã, São Paulo, 1998, p. 18).
E ainda:
“Os sonhos e as aspirações são a força motriz da História”. (A Cavalaria não Morre -- Excertos do pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira, recolhidos por Leo Daniele, Edições Brasil de Amanhã, São Paulo, 1998, p. 18)
O Renascimento separara a beleza do bem. O Romantismo foi além, separando a beleza da verdade.
A arte moderna fará a última negação, ao repudiar a própria Beleza. Chegava-se ao fim do processo anti-metafísico. A recusa de aceitar o bonum levou ao repúdio do verum e do pulchrum. Mas, de fato, o que se fez foi repudiar o próprio ens, o próprio ser. A arte moderna é a suprema manifestação de uma revolta metafísica. Ora, a essência da revolta anti-metafísica é a Gnose. A arte moderna é uma arte que, repudiando o ser, renega a Deus e o próprio homem, que é a sua imagem.
Aniela Jaffé mostra que a arte moderna se constitui como uma recusa ou fuga da Realidade. Paradoxalmente, a arte moderna que recusa os dados racionais, pretende se apoiar nas descobertas da ciência moderna.
Diz A. Jaffé que freudismo, física nuclear e biologia celular revelaram que o mundo que vemos não é real. Assim como nosso verdadeiro eu estaria submerso nas profundidades misteriosas do inconsciente, assim também o mundo material, analisado atomicamente, se desfaz em partículas que são nada ou quase nada.
Levada por esse mesmo espírito desintegrador - negador - da realidade, a Arte Moderna, nega a realidade objetiva, buscando uma "outra" Realidade superior e oposta àquela em vivemos.
Busca uma super realidade, desprovida de matéria, exatamente como a que é proposta pela Gnose. Por isso, os artistas modernos, em geral, consideram o universo criado como a obra de um Deus malvado, e que seu inimigo, que a Bíblia chama de Serpente e Lúcifer, esse, sim, seria o deus bom.
São abundantes os textos de artistas modernos que confirmam o que dizemos. Em estudo que editaremos em breve, trataremos disso. Por enquanto, basta-nos mostrar que a Arte Moderna visa o falso, o mal e o feio, que são como que "imagens" do inimigo do Criador, isto é, do demônio.
A Arte Moderna é diabólica.
Hans Sedlmayr afirmou que a Arte Moderna revela “um pensamento que renunciou totalmente à lógica, uma arte que renunciou à estrutura, uma ética que renunciou ao pudor, um homem que renunciou a Deus" (Hans Sedlmayr, La Rivoluzone dell’ Arte Moderna", Garzanti, Milano, 1971, p. 111).
Joaquim Inojosa no seu trabalho intitulado "O movimento Modernista em Pernambuco" declarou:
"Guerra à estética absoluta, à arte oficial, à pintura de cópia. Guerra ao belo como o fim da arte" (Apud Gilberto Mendonça Teles, Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro", Vozes, Petrópolis, 1977, p. 274).
“Façamos corajosamente o "feio" em literatura, e matemos de qualquer maneira a solenidade (...) É preciso cuspir cada dia no Altar da Arte ! (...) Eu vos ensinei a odiar as bibliotecas e os museus, preparando-vos para odiar a inteligência, despertando em vós a divina intuição (...)" (F.T. Marinetti, Manifesto do Futurismo, Milano, 1912, apud G. M. Teles , op cit. p. 93).
A mesma insuspeita Aniela Jaffé, tem textos impressionantes, confirmando o que dizemos.
"O espírito em cujo mistério a arte estava submersa era um espírito terrestre, aquele a que os alquimistas medievais chamavam de Mercúrio. Mercúrio é o símbolo do espírito que estes artistas pressentiam ou buscavam por trás da natureza e das coisas, "por trás da aparência da natureza"
"O seu misticismo não era cristão, pois o espírito de Mercúrio é estranho ao espírito "celeste". Na verdade, era o velho e tenebroso adversário do Cristianismo que maquinava seu caminho arte adentro. Começamos a ver aqui a verdadeira significação histórica e simbólica da "Arte Moderna". tal como a os movimentos herméticos da Idade Média, ela deve ser compreendida como um misticismo do espírito da terra, e, portanto, uma expressão de nossa época de compensação ao cristianismo". (Aniela Jaffé, "O Simbolismo nas Artes Plásticas" , -- in Carl G. Jung, "O Homem e seus Símbolos" , Nova Fronteira, Rio de Janeiro, -- pág.263).
É claro que esse espírito da terra, identificado com o velho e tenebroso adversário do cristianismo" tem um nome bem conhecido, que a própria Aniela Jaffé vai acabar por exprimir:
"No seu aspecto positivo, aparece como um "espírito da natureza", cuja força criadora anima o homem, as coisas e o mundo. É o "espírito ctônico" ou terrestre, que tantas vezes mencionamos neste capítulo. No aspecto negativo, o inconsciente (aquele mesmo espírito) manifesta-se como o espírito do mal, como uma propulsão destruidora."
"Como já observamos", - prossegue Jaffé - "os alquimistas personificaram neste espírito como o "espírito de Mercúrio", e chamaram-no muito adequadamente de "Mercurius Duplex" (O Mercúrio de duas caras, dual). Na linguagem religiosa do cristianismo, chamam-lhe diabo." (A. Jaffé, op cit . pg. 267).
Não há dúvida, pois, a Arte Moderna é diabólica. Nela o Antropocentrismo se rebela contra o Criador, e, pretendendo fazer o homem assumir o lugar de Deus, acaba por adorar o diabo.
VIII - AS TRÊS REVOLUÇÕES NA ECONOMIA
1a Revolução na Economia: o Mercantilismo
O antropocentrismo da Modernidade não podia senão desviar os olhos do homem para a terra. Em vez de ter por finalidade alcançar o céu, o homem, considerando-se centro de tudo, só podia colocar sua finalidade na terra e na matéria. Isto significou viver para este mundo, para seus prazeres e para suas riquezas. O ouro passou a ser o fim do homem, e não Deus.
2a Revolução na Economia: o Capitalismo
Do Mercantilismo se passou ao Capitalismo, que foi o liberalismo na economia.
Se o homem deve viver só para a riqueza, se a vida é dinheiro, a vida existe apenas para produzir. Daí, Engels ter definido o homem como um animal que trabalha.
Com o Socialismo e o Comunismo, o homem passou a ser visto como uma mera peça na engrenagem da produção, visão para a qual o Capitalismo, o modo de produção capitalista, o taylorismo, a produção em série, haviam muito contribuído.
No Socialismo tolera-se a propriedade particular apenas de bens de uso, sendo todo bem de produção pertencente ao Estado.Na fase socialista, a família ainda é tolerada, mas mal vista. Por essa razão, no socialismo, se admite o divórcio e se dá direito a fazer aborto.
No Comunismo, toda propriedade, quer de bens de uso, quer de bens de produção, passa a ser do Estado. A família desaparece, instaurando-se o amor livre, e os filhos passam a ser do Estado, que os “educa” no coletivismo.
Depois da queda do muro de Berlim, parecia que não seria preciso mais provar como o socialismo é mentiroso, e como ele só produz miséria, escravidão e terror. Mas, a sede de mentira e de absurdo é inexaurível, no homem.
Bem razão teve a Igreja ,quando, com Pio XI, condenou o Socialismo como a antítese do Catolicismo, afirmando, na encíclica Quadragésimo Ano, que Catolicismo e Socialismo são termos antagônicos, e que ninguém pode ser católico e socialista, ao mesmo tempo. Como teve razão quando Pio XI, na encíclica Divini Redemptoris, condenou o Comunismo como “intrinsecamente mau”.
Claro que este quadro geral apresenta apenas uma síntese, e que muito mais poderia ser dito destas três revoluções, particularmente quanto às suas raízes gnósticas e panteístas, causas maiores das crises revolucionárias, e não simplesmente as paixões, como dizia e como escreveu Plínio Corrêa de Oliveira, simplificando, e, por isso, torcendo e falseando o problema. Mas, esse aprofundamento, nós o faremos num trabalho muito mais extenso em breve, Deo juvante.
O Capitalismo tem como lema a frase “Time is Money”, que na verdade, dever-se-ia traduzir não como “tempo é dinheiro”, mas como “A Vida é dinheiro”, visto que a vida do homem se passa no tempo. Par o Capitalismo, “Life is Money”.
O Capitalismo respeitou ainda o direito de propriedade particular e a livre iniciativa.
O direito de propriedade é um direito natural e sagrado por dois mandamentos: não roubar, e não cobiçar as coisas alheias.
A livre iniciativa se fundamenta no próprio livre arbítrio humano. Negar a livre iniciativa e o direito de propriedade particular acarretam necessariamente a escravidão do homem pelo Estado.
Mas, o capitalismo, sendo o liberalismo na economia, como o liberalismo, separou a economia da Moral, e esse é o seu veneno maior.
Para o liberalismo, o lucro passou a ser o fim fundamental, não se considerando os meios de obtê-lo, se eram meios morais ou não.
O capitalismo tem nisso o seu erro maior. Por isso, o capitalismo também é revolucionário. E quantos defendem o Capitalismo, como se nele houvesse apenas o bem do direito de propriedade particular. Desse modo, a defesa do Capitalismo, sem distinção, sem crítica de seus princípios imorais se torna uma defesa da Revolução.
Outro ponto negativo do Capitalismo é a livre concorrência absoluta, que vê como um mal qualquer intervenção do Estado na economia. É claro que um excesso de intervenção do Estado na economia a atrofia, e a leva para o Socialismo, e, conseqüentemente, produz a miséria.
Mas, uma absoluta não-intervenção do Estado permite que os grandes capitalistas eliminem os pequenos comerciantes, e isso acaba por concentrar a riqueza nas mãos de poucos, facilitando a introdução do Socialismo.
Por isso, do Capitalismo nascem logicamente o Socialismo e o Comunismo.
O homem, como disse Cortés, ficou com uma doença em seu coração, que ele só queria “curar” com ouro. Na verdade, o ouro era um falso remédio. Era, como a droga, um vício, que quanto mais se toma, mais escraviza. O homem moderno se tornou escravo do ouro, o antropocentrismo foi um modo de o homem adorar-se, por orgulho, de viver na avareza e na cobiça, pelo amor da riqueza, e de viver nos prazeres, escravizado pela impureza.
A Modernidade é a falsa cultura em que o homem adora a si mesmo como a um Baal, ajoelhando-se diante dos três ídolos de seus vícios principais: o ouro, o prazer e a soberba.
Desse desejo de viver para a riqueza, nasceram os sistemas econômicos revolucionários: o Mercantilismo, o Capitalismo e o Socialismo.
Do mesmo modo, que nos outros campos da atividade humana, houve também três revoluções na Economia: o Mercantilismo, o Capitalismo, o Comunismo, um causando o outro.
O Mercantilismo -- um capitalismo incipiente – foi o sistema econômico do tempo do Renascimento e da Reforma. Ele foi o resultado do abandono da concepção feudal, e vigorou praticamente em todo o período do Absolutismo.
O Estado absolutista, que adotou o sistema mercantilista, julgava que a finalidade humana seria buscar a riqueza, e que esta consistia no simples acúmulo de ouro.
Tudo era organizado em função do ouro.
As exportações de um país deveriam ser pagas somente a ouro. Por sua vez, esse mesmo país somente importaria através de pagamento com mercadorias, nunca pagando em ouro o que comprava. Desse modo, o ouro deveria apenas entrar no país, jamais sair.
Dever-se-ia proteger a produção, impedindo o quanto possível as importações através de taxas elevadas, e favorecer a produção interna por meio de incentivos. É o que se chamou de economia protecionista.
O Mercantilismo, no fundo, coibiu o comércio. A ambição, por medo de perder a riqueza, deixou de ganhar dinheiro.
O Mundo moderno, procurando as riquezas e não o Reino de Deus e sua justiça, aumentou a insatisfação, concentrou a riqueza, e certamente aumentou o número de miseráveis.
Os soberanos absolutos instituíram as Cortes, reduzindo a Nobreza a um conjunto de “bibelots” corrompidos, ou a lacaios servis. Fazendo uma Corte em que os nobres viviam como numa gaiola dourada sem nada fazer, os soberanos absolutos destruíram a aristocracia. Depois do que, sem o apoio de suas raízes nobres, ficou fácil para a Burguesia derrubar um rei sem príncipes.
Além disso, os Reis absolutos, para colocar a Nobreza de lado, fizeram exércitos permanentes constituídos por mercenários. O que lhes causava enormes despesas. Para pagar tais despesas, e às do funcionalismo necessário a uma monarquia que pretendia cuidar de tudo, os reis absolutos tiveram que se socorrer de empréstimos dos grandes banqueiros burgueses...
E quem paga, manda.
O Rei absoluto se enforcou num cifrão, antes de ter a cabeça decepada na guilhotina.
2 - A Democracia liberal foi o regime instituído pela Revolução Francesa.
Segundo a doutrina Católica, há três formas de governo possíveis e legítimas, que buscam o bem comum: a Monarquia, a Aristocracia e a Democracia.
Não se julgue, porém, que a Democracia que a Igreja aceita seja a Democracia liberal, regime movido a dinheiro, para controlar a propaganda, a mídia, e as eleições.
A Democracia liberal afirma a igualdade de direitos políticos, o sufrágio universal, coloca a origem do poder no povo, não em Deus, o direito de revolução, o ateísmo ou o indiferentismo do Estado face à Deus, idéias essas todas condenadas pela Igreja.
Uma democracia católica tem de afirmar que nem todos têm o direito de voto, que o poder vem de Deus, que não há direito de revolução. A Democracia liberal quer a liberdade de religião, e a separação entre a Igreja e o Estado.
Uma Democracia de acordo com a doutrina católica não pode admitir a liberdade de religião, pois o erro não tem direito nem à liberdade, nem à propaganda. E uma democracia católica exige a união entre Igreja e Estado, isto é, que o Estado deve reconhecer a Igreja Católica como a única verdadeira, e favorecer sua ação e seu trabalho apostólico.
O que não significa que o Estado tenha direito de forçar alguém a ser católico. Obrigar alguém a praticar a religião à força é pecado muito grave. A união entre Igreja e Estado só não permite que as seitas heréticas propaguem organizada e publicamente seus erros, pois o erro não tem direito de ser publicamente ensinado.
3 - O regime de governo estabelecido pela Revolução Russa é pura e simplesmente a Tirania Comunista.
Na tirania bolchevista, não se respeita a lei natural. Não há direito de propriedade particular. Visa-se a destruição da família. Nega-se o direto dos pais a educar os filhos. Admite-se o amor livre. O ateísmo é propagado pelo Estado e se nega qualquer direito à religião.
VI - AS TRÊS REVOLUÇÕES NA FILOSOFIA
Nessas revoluções filosóficas, constatamos a existência de duas correntes, que, como duas serpentes, uma vermelha outra branca, se enrolam uma na outra. Uma é a serpente do Panteísmo racionalista. Outra a da Gnose irracionalista.
O Panteísmo racionalista diviniza o mundo material.
A Gnose irracionalista vê o mundo material como o calabouço do espírito divino nele aprisionado. E o que dificulta a compreensão desse problema é o fato que tanto o Panteísmo como a Gnose, admitindo um pensamento dialético, isto é, a identidade dos contrários, fazem do espírito matéria sublimada, e da matéria espírito cristalizado. Os contrários seriam idênticos. Portanto, para o pensamento dialético, o racionalismo é a irracionalidade, e o irracionalismo seria a racionalidade.
1a Revolução na Filosofia: o Cartesianismo
A Reforma e o Renascimento resultaram da fusão dialética da Gnose irracionalista de Mestre Eckhart com a filosofia racionalista do Nominalismo de Frei Guilherme de Ockham. Daí, ser possível constatar dois veios dialeticamente opostos na Reforma e no Renascimento.
Na Reforma, um é o Protestantismo racionalista com pretensões cientificista, no exame da Bíblia, com clara tendência panteísta. Outro, o Protestantismo alumbrado, pentecostal, que se crê movido irracionalmente pelo Espírito Santo, e que se revela como claramente gnóstico.
Por sua vez, um é o Renascimento racionalista, epicurista e materialista. Outro é o Renascimento gnóstico, mágico, irracionalista do hermetismo de Marsílio Ficino e de seus discípulos, como Botticelli, Verrochio, Leonardo e Michelangelo.
Por isso, a Filosofia correspondente à primeira Revolução foi o Cartesianismo, que continha em si, tanto um veio racionalista, como um veio irracionalista, subjetivista.
No princípio da Filosofia Moderna de Descartes está a afirmação: "Cogito, ergo sum" ("Eu penso,logo eu sou").
No cartesianismo, pela primeira vez a Filosofia deixa de partir do ser, para partir do eu. O homem moderno não olha mais para a realidade exterior a si mesmo, mas se volta para dentro de si. O primeiro conhecimento seria interior.
Seria o pensamento que daria existência ao real.
É dessa revolução antropocêntrica que nascerá, séculos depois, todo o subjetivismo e relativismo da Modernidade. O conhecimento é do eu. O homem deixa de buscar o conhecimento de Deus através das coisas criadas, mas a fonte do conhecimento seria o eu e dele derivaria a realidade existente. A fonte do conhecimento e do real estaria no mistério interior do homem, numa experiência mística interior com algo imanente no homem.
Tanto que o próprio Descartes partiu de uma famosa experiência mística interior, de uma visão que o “iluminou”.
Deus estaria no homem, e de modo substancial, como dizia a velha Gnose.
Com Descartes o imanentismo irrompia, de novo, na História. A filosofia cartesiana, pondo em duvida o real, iniciava uma corrente negadora do conhecimento humano e, portanto, defensora do irracionalismo. Descartes separou o intelecto humano da realidade.
Por outro lado — e dialeticamente — o método cartesiano afirmava que a razão humana seria capaz de conhecer toda verdade. Era o otimismo racionalista panteísta e experimentalista, oriundo do nominalismo que o cartesianismo aprofundava.
Do cartesianismo, então, vão nascer duas tendências opostas e dialeticamente iguais:
a) uma corrente racionalista, materialista, tendente ao panteísmo, e que se manifestará mais explicitamente no empirismo inglês, e, depois, nos filósofos da Enciclopédia, com Voltaire, Diderot e D’ Alembert;
b) outra corrente de caráter irracionalista, mística e gnóstica, que se manifestará mais claramente no Pietismo protestante alemão, e no Quietismo francês, e cujo principal divulgador foi Rousseau. Essa corrente irracionalista é que dará nascimento à Filosofia idealista alemã.
Como a dialética faz coincidir os contrários como iguais, o racionalismo e o irracionalismo se identificariam.
Com efeito, mesmo um pensador moderno que não pode ser elogiado, Karl Popper, mostrou o caráter dialético do racionalismo ao mostrar que “O racionalismo é uma fé irracional na razão” (Karl Popper, "A Sociedade Aberta e seu Inimigos", ed. Edusp- Itatiaia, São Paulo- Belo Horizonte, 1974 , dois volumes, Vol. II, p. 238). Pois se cada razão individual se sabe limitada, como poderia a razão humana pretender entender tudo?
2a Revolução na Filosofia: o Idealismo alemão
O fundamento mais profundo da Revolução Francesa e do liberalismo que dela surgiu, sem excluir Rousseau, vem do Idealismo alemão de Kant, e que foi posteriormente desenvolvido pelos gnósticos Fichte, Schelling, Hegel e Schleiermacher.
O Idealismo alemão vai aplicar o livre exame de Lutero ao próprio ser. Kant foi para o Protestantismo, -- secundum quid, claro – o que São Tomás foi para a Escolástica. O Idealismo vai desenvolver as tendências subjetivistas subjacentes no “Cogito, ergo sum” de Descartes.
Para o Idealismo alemão, a verdade seria subjetiva. A idéia do sujeito conhecedor é que projetaria, na existência, o ser real. Da idéia é que surgiria o mundo real. O ideal geraria o real.
A verdade então não seria objetiva, mas sim subjetiva, pessoal. Cada um teria a sua verdade.a) uma corrente racionalista, materialista, tendente ao panteísmo, e que se manifestará mais explicitamente no empirismo inglês, e, depois, nos filósofos da Enciclopédia, com Voltaire, Diderot e D’ Alembert;
b) outra corrente de caráter irracionalista, mística e gnóstica, que se manifestará mais claramente no Pietismo protestante alemão, e no Quietismo francês, e cujo principal divulgador foi Rousseau. Essa corrente irracionalista é que dará nascimento à Filosofia idealista alemã.
Como a dialética faz coincidir os contrários como iguais, o racionalismo e o irracionalismo se identificariam.
Com efeito, mesmo um pensador moderno que não pode ser elogiado, Karl Popper, mostrou o caráter dialético do racionalismo ao mostrar que “O racionalismo é uma fé irracional na razão” (Karl Popper, "A Sociedade Aberta e seu Inimigos", ed. Edusp- Itatiaia, São Paulo- Belo Horizonte, 1974 , dois volumes, Vol. II, p. 238). Pois se cada razão individual se sabe limitada, como poderia a razão humana pretender entender tudo?
2a Revolução na Filosofia: o Idealismo alemão
O fundamento mais profundo da Revolução Francesa e do liberalismo que dela surgiu, sem excluir Rousseau, vem do Idealismo alemão de Kant, e que foi posteriormente desenvolvido pelos gnósticos Fichte, Schelling, Hegel e Schleiermacher.
O Idealismo alemão vai aplicar o livre exame de Lutero ao próprio ser. Kant foi para o Protestantismo, -- secundum quid, claro – o que São Tomás foi para a Escolástica. O Idealismo vai desenvolver as tendências subjetivistas subjacentes no “Cogito, ergo sum” de Descartes.
Para o Idealismo alemão, a verdade seria subjetiva. A idéia do sujeito conhecedor é que projetaria, na existência, o ser real. Da idéia é que surgiria o mundo real. O ideal geraria o real.
Na Filosofia escolástica, a verdade foi definida como sendo a correspondência entre a idéia do sujeito conhecedor com o objeto conhecido:
CONHECEDOR <------------------------------- VERDADE
IDÉIA DO SUJEITO <------------------------------- OBJETO CONHECIDO
A inteligência capta o objeto como, analogamente, uma máquina fotográfica capta a imagem de uma coisa. Todas as inteligências captam a mesma realidade.
Por isso, a verdade é Una, Imutável, Universal (em qualquer lugar e em qualquer tempo, a verdade é sempre a mesma. 1 +1 = 2, sempre e em toda parte) e Objetiva (é o objeto que produz a idéia dele em nosso intelecto)
Para a filosofia idealista, a verdade seria o que o sujeito acha. A mera opinião se identificaria com a verdade. Conseqüentemente, o Bem e a Beleza também seriam meramente opinativos.
Para o Idealismo é a Idéia que produz o objeto. O pensar produziria o ser.
Ora, isso só é verdadeiro em um caso: no caso da criação de Deus. Isso só ocorreu com a Sabedoria divina ao criar o mundo a partir do nada.
Quando Deus cogitou cada coisa, ela passou a ser tal qual Deus a concebera em seu Intelecto divino. Por isso, está escrito que foi “na Sabedoria que Deus fez todas as coisas”, e que no Verbo de Deus é que “todas as coisas foram feitas, e sem o Verbo nada foi feito”.
O Idealismo, ao afirmar que, aquilo que cada sujeito pensa, passa a ser o real, faz de cada inteligência individual, o próprio Verbo de Deus. O Idealismo divinizou o homem.
Foi do Idealismo subjetivista que nasceu o relativismo, característico dos séculos posteriores à Revolução Francesa e que hoje, no dizer de João Paulo II e de Bento XVI, estabeleceu sua tirania sobre o mundo.
Não é só nos hospícios que cada louco tem a sua verdade. Na Democracia liberal ocorre o mesmo. E se cada um tem a sua verdade própria, fica impossível qualquer diálogo. O Mundo contemporâneo se tornou uma nova torre de Babel, onde cada um fala uma língua particular, que ninguém mais entende. Todo mundo fala. Ninguém se entende. É a era do Diálogo. É a era do ecumenismo.
3a Revolução na Filosofia: o Marxismo ou Materialismo Histórico
Da afirmação de que a verdade é subjetiva, isto é de que cada um tem a sua verdade pessoal, logo se concluiu que então não há verdade.
Para o marxismo, havendo uma evolução contínua de tudo, não é possível ao intelecto captar a idéia do que uma coisa é. Seria como se uma máquina fotográfica estivesse sempre mudando, e como se o objeto que se quer fotografar mudasse também continuamente. A fotografia seria impossível.
A verdade não existiria.
Porém, essa frase: “a verdade não existe” é auto-destrutiva.
Pois, ou essa afirmação é certa, ou ela é errada.
Se ela é certa, nela estaria a única coisa da qual teríamos certeza, e nela estaria a única verdade. Mas, então, a verdade existiria nela.
Se a frase acima afirma uma falsidade, então, o contrario dela estaria certo, e a verdade existiria.
Nas duas pontas do dilema, a conclusão é uma só: A VERDADE EXISTE.
A negação da verdade pela doutrina marxista faz com que, o comunista que realmente acreditasse nessa tese, teria cometido o pecado contra o Espírito Santo consistente em negar a verdade conhecida como tal, pecado para o qual não há perdão.
VII - AS TRÊS REVOLUÇÕES NA ARTE
Já publicamos, no site Montfort, um trabalho sobre as Três Revoluções na Arte. Agora, queremos fazer apenas uma pequena exposição sobre esse problema.
A Arte, segundo São Tomás, é a reta razão no fazer.
Ela é a transposição de uma Filosofia para um sistema de símbolos. O próprio Beethoven afirmava que havia mais Filosofia em uma de suas sinfonias do que em um Tratado de Metafísica.
Conforme Pio XII, a Arte abre uma janela para o infinito.
Com efeito, a Arte visa fazer o homem conhecer a Deus através do conhecimento do bem, da verdade e da beleza existentes nas coisas criadas. Daí, São Tomás definir: “Belo é o bem claramente conhecido”. Ora, o que é se conhece claramente é a verdade.
Portanto, Belo = Bem + Verdade.
1a Revolução na Arte: o Renascimento
A Arte satisfaz a alma humana em seu desejo de Deus através do desejo de bem, verdade e de beleza, dando um impulso à vontade para amar o bem; uma idéia clara de verdade para a inteligência, e prazer estético, agradando a sensibilidade.
Ora, o Renascimento, repudiou a idéia de que a Arte deveria ser moral. A aceitação da falsa moral pagã fez o Renascimento querer representar prazerosamente o mal e o pecado nas obras de arte. O Renascimento afirmou a liceidade de representar o pecado com agrado e como bem. Prova disto são as obras imorais nas artes plásticas e na literatura. Basta ler o Príncipe de Machiavel para compreender a imoralidade do Renascimento. Basta conhecer a doutrina gnóstica do hermetismo ensinada por Marsílio Ficino, para estar convencido da imoralidade das obras renascentistas.
Eliminado o bem da obra de arte, o Renascimento colocou em primeiro lugar a satisfação do intelecto.
O Renascimento admitia apenas que a arte devia ser clara, compreensiva, ainda quando fosse esotérica, como nas obras de Botticelli, Leonardo e Michelangelo. Nessas obras, a Gnose é clara para quem conhece o que significam aqueles quadros e afrescos. (em trabalho futuro, exporemos o significado do verdadeiro Código usado por esses pintores em suas principais obras).
No Renascimento é possível distinguir um veio racionalista, defensor do Panteísmo, e outro veio irracionalista, mágico, e gnóstico seguidor da Gnose de Hermes Trismegisto.
Leonardo reuniu esses dois erros dialeticamente opostos numa síntese muito original.
O racionalismo queria que as obras de Arte clássicas fossem muito claras, obedecendo rigorosamente as leis da arte – (Unidade, variedade, ordem, proporção, simetria, contraste, gradação, etc) — como também que exprimissem muito clara, ou bem conseqüentemente, o que queriam. Claramente, quando fossem obras exotéricas. Conseqüentemente, quando fossem feitas em código, exprimindo doutrinas esotéricas.
Além disso, a obra de arte clássica deveria ser esteticamente agradável à sensibilidade.
Portanto, a obra de arte renascentista tinha como falha maior a ausência do bem que deixava a vontade humana frustra e mutilava a obra de arte de um elemento essencial á beleza que é o bem.
Inicialmente, os grandes gênios da Renascença conseguiram sintetizar o racionalismo panteísta com o irracionalismo gnóstico. Porém, logo, esses opostos se repeliram, dando origem à separação do Barroco otimista e alegre, do maneirismo tenebroso, ilógico, inimigo da razão, pessimisticamente gnóstico.
Visto que esse tema é bem pouco conhecido, no Brasil, colocaremos aqui, alguma citações retiradas de um nosso trabalho, mais extenso e específico sobre as Três Revoluções na Artert.org. br).
As características do Maneirismo, filho do classicismo hermético, em certo sentido, uma Contra Renascença, são, entre outras, as seguintes:
1o - Rejeição da Realidade Objetiva: "O maneirismo assinalou uma revolução na história da arte (...) pela primeira vez a arte divergia deliberadamente da natureza" (A. Hauser, Maneirismo, Ed. Perspectiva, São Paulo, 1993, p. 16).
2o - Dualismo metafísico e conseqüente pensamento dialético: Para o pensamento maneirista "nada neste mundo existe de maneira absoluta, e o oposto de toda realidade é também real e verdadeiro. Tudo se expressa em extremos opostos a outros extremos, e é através desse pareamento paradoxal de opostos que a afirmação significativa é possível. (...) a verdade tem inerentemente dois lados, a realidade é bifronte e (...) aderir à verdade e à realidade implica evitar toda super simplificação e abranger coisas em sua complexidade" (A. Hauser, op. cit.,pp. 21-22). Daí, “a impossibilidade de alcançar a certeza a respeito de qualquer coisa". (A. Hauser, op. cit. p. 21).
3o - Negação do conhecimento racional e de certezas é, portanto, a terceira característica do pensamento maneirista.
4o - Negação do ser; só existe o devir.
5o - Negação da identidade do ser: "Não somente a natureza da realidade externa e objetiva se modifica de acordo com o ponto de vista subjetivo, não somente tudo o que percebemos é 'alterado e falsificado por nossos sentidos', mas o ‘eu’ também muda tão acentuadamente de caso para caso que não há possibilidade de captar sua verdadeira natureza (...) motivo pelo qual a dúvida é lançada sobre a própria natureza e permanência do eu. Este foi o golpe demolidor contra a fé na identidade do ser humano, do qual a cultura da Renascença nunca se recuperou; sem isso não pode haver explicação para o maneirismo, seja como visão de vida, seja como estilo artístico. A distorção nas artes visuais, o uso exagerado e impaciente da metáfora na literatura, a freqüência com que os caracteres no drama como outrem e questionam sua própria identidade, são apenas meios de expressar o fato de que, enquanto o mundo objetivo se tornou ininteligível, a identidade do ser humano foi abalada e se tornou vaga e fluida. Nada era o que parecia ser, e tudo era diferente do que denotava ser. A vida era disfarce e dissimulação e a própria arte ajudava não só a mascarar a vida como a discernir sua máscara" (A. Hauser, op. cit., p. 49). Expressão maior desse irracionalismo na arte foi, posteriormente, o Romantismo. Foi do Maneirismo que vieram quer o Romantismo lírico, sonhador, simbolista e gnóstico, assim como as correntes gnósticas da Arte Moderna, como o Expressionismo, o Abstracionismo, e o Surrealismo, por exemplo.
2a Revolução na Arte: o Romantismo
Vimos que a Arte deve visar o Bem, a Verdade e a Beleza.
Assim como o Renascimento recusou buscar o bem através da obra de arte, o Romantismo recusou buscar o bem e a verdade. Na arte, o Romantismo quis buscar apenas o agradável.
O Renascimento separou a arte da moral, mas respeitou muito as leis da estética, pois super exaltou a relação entre beleza e a razão.
Ora, o Romantismo argumentou que se o decálogo não devia ser respeitado na obra de arte, por que se deveriam respeitar as leis estéticas, muito menos importantes do que os dez mandamentos?
Deste modo, o Romantismo não fez mais do que tirar as conseqüências lógicas dos princípios estéticos do Renascimento. Ele é uma conseqüência do Renascimento e, além dessa relação lógica com ele, ele tem também as mesmas fontes e princípios doutrinários: tanto quanto a Renascença, o Romantismo é gnóstico e panteísta. Nele também se podem encontrar as duas serpentes enroscadas do caduceu de Hermes. No romantismo lírico e simbolista, se oculta a serpente gnóstica irracional e mágica. No Romantismo racionalista do Naturalismo e do Realismo, se encontra a serpente do Panteísmo.
O Romantismo vai levar mais adiante o processo revolucionário na estética, declarando que a beleza nada tem a ver com a verdade. A beleza não deveria ser nem moral nem lógica, mas apenas agradável, satisfazendo então apenas à sensibilidade e não à inteligência (pela verdade) e à vontade (pelo bem). E era lógico que o romantismo recusasse a união da beleza com a verdade, dado que para a filosofia que o gerou - o idealismo - a verdade objetiva não existe.
Assim como o Romantismo esteticamente derivou do Renascimento, teologicamente ele proveio do livre exame luterano. Lutero asseverou que cada um podia interpretar a Bíblia a seu talante. O Idealismo e o Romantismo afirmavam que cada um podia interpretar a realidade a seu modo pessoal. O Romantismo, tanto como o idealismo, seu gerador, foi então o livre exame da realidade.
Para os idealistas assim como para os românticos, na correspondência da idéia do sujeito ao objeto conhecido, o elemento determinante era a idéia do sujeito. Era a idéia que criava o objeto. Portanto, a verdade era subjetiva. Cada um tinha a sua verdade particular, não existindo verdade objetiva. A realidade era subjetivizada, no sonho do lirismo, ou renegada, no realismo e no naturalismo, por seus defeitos e falhas, por ser o vale de lágrimas.
Ora, essa rejeição da realidade e da verdade conhecidas como tais coloca o Romantismo e o Idealismo como pecados contra o Espírito Santo, pecado que não tem perdão. Daí, a impossibilidade quase total de converter alguém que adira realmente ao Romantismo. Fala-se-lhe à razão, ele responde com o sentimento. Argumenta-se-lhe com fatos, ele contesta com mitos ou lendas. Coloca-se-lhes ante os olhos o real, ele contesta com o sonho e a imaginação.
Por isso é muito difícil converter um romântico, porque nele há uma negação da verdade e da realidade conhecidas como tais.
Para o Romantismo, a beleza nada tinha que ver com a verdade. Belo era o que agradava, ainda que fosse objetivamente feio. O artista deveria, pois, se deixar levar por seu agrado pessoal e não pela razão. A arte não teria que obedecer a nenhuma lei racional e objetiva. A estética caía no subjetivismo e no relativismo.
São conhecidas as raízes esotéricas, cabalísticas e pietistas do Romantismo. As três raízes do Romantismo - o esoterismo, o pietismo, o idealismo filosófico - eram irracionalistas.
Os esotéricos do século XVIII tinham uma doutrina tipicamente gnóstica. Eles condenavam a razão e defendiam o sonho como meio de apreensão do real. O mundo concreto seria falso. Ele era o produto do pensamento - sonho da razão. O universo real só podia ser atingido pela anulação da razão através do sonho, da hipnose magnética, do sonambulismo, do "êxtase" ou das drogas. Ou por meio de uma intuição mística. A anulação e a destruição da razão acabariam com a dualidade sujeito-objeto, permitindo a unificação do eu com o mundo. E, nesta união, através do sonho, seria reconstituída a inocência primeira do Éden e a união com a própria divindade. Alcançar-se-ia a restauração do homem na inocência original.
Os românticos esperavam para breve um Reino de Deus na terra - que Jacob Boehme denominava o "tempo dos lírios", Lilienzeit - reino do Amor, no qual a Lei seria abolida. Esse messianismo cabalista repercutiu no sonho romântico de um futuro Reino do Amor, no qual ressoavam ecos das teorias milenaristas do abade Joaquim de Fiore. Esperava-se para logo mais o estabelecimento de um período de felicidade perfeita na terra, como uma volta ao paraíso terrestre. Exemplo desse milenarismo romântico se tem na expectativa certa seita a respeito de um “Reino de Maria”, em que haveria cidades com ruas de cristal e catedrais de porcelana, com vitrais de pedras preciosas...
Todos os filósofos idealistas alemães foram seguidores dos ideais gnósticos de Boehme, dos esotéricos e dos pietistas. Quando eles descobriram as obras de Mestre Eckhart, eles viram nelas a expressão de seu pensamento mais profundo. A visão dialética do ser da Gnose, de Eckhart e Boehme, será adotada por Schelling, por Hegel e, depois, pelo próprio Marx.
De todo modo, esotéricos, pietistas, idealistas repudiavam a razão e levantavam contra ela a intuição - espécie de capacidade mágica e não discursiva de que o homem seria dotado, e que lhe permitiria alcançar o mundo invisível, passando por cima dos dados dos sentidos e dos raciocínios lógicos.
Essa mesma atitude face à realidade, à razão e ao estudo, com super favorecimento à imaginação e ao sonho se encontra, por exemplo, nos escritos de Plínio Corrêa de Oliveira, o “profeta” da TFP. E isso revela uma aceitação, pelo menos em certo grau, da mentalidade revolucionária e gnóstica do romantismo. Porque o romantismo era gnóstico. E por isso era também revolucionário
G. Gusdorf, em sua importante obra a respeito do Romantismo afirma explicitamente que:
"O Romantismo é uma renascença gnóstica (...) Schelling é um gnóstico, cujas convicções se desenvolvem à medida que ele avança em idade, da mesma forma Baader; a Naturphilosophie impõe à pesquisa científica códigos gnósticos. (G. Gusdorf, Le Romantisme, Payot, Paris,1993, I vol. p. 512).
Também Simone de Pétrement acusou a Gnose escondida sob os véus sonhadores e as brumas misteriosas do Romantismo. Disse ela:
"Pode-se dizer que reina, desde o romantismo, uma espécie de dualismo pessimista e sentimental, análogo ao dos gnósticos. Ele consiste sobretudo no sentimento que o homem está mal adaptado em sua própria condição, que ele se acha angustiado, que ele precisa de outra coisa (como se ele fosse estranho a si mesmo e ao mundo em que ele se acha, como s sua verdadeira natureza não estivesse nesse mundo). Nós dissemos que os gnósticos são românticos; nós poderíamos dizer igualmente que o Romantismo é gnóstico" (Simone de Pétrement, Le Dualisme chez Platon, les Gnostiques et Manichéens", PUF , Paris, 1947, p. 344).
Com efeito, o que a Revolução Francesa foi para a política, o Romantismo foi para a arte, porque ambos, o Romantismo e a Revolução, são filhos do liberalismo.
Ora, para o liberalismo não existe verdade objetiva. Em criteriologia o liberalismo é subjetivista: verdade é o que o sujeito considera como tal. A idéia que o homem tem de um objeto variaria de sujeito para sujeito.
Não havendo verdade objetiva, o certo e o errado, o bem e o mal, o belo e o feio passam a ser conceitos subjetivos. Belo é o que a pessoa considera tal. Belo é o que agrada a um sujeito. Não haveria, portanto, nem beleza objetiva e nem regras de beleza.
O subjetivismo do romântico é uma revolta contra o racionalismo clássico e, ao mesmo tempo, uma conseqüência dele. Lutero pregou o livre-exame da Bíblia. O Renascimento "endeusou" a razão humana. Desses dois erros nasceu o subjetivismo, pois que, sobre uma determinada questão, todas as opiniões seriam certas e verdadeiras, ainda que contraditórias.
O Romantismo foi o triunfo da imaginação sobre a razão, do subjetivo sobre o objetivo, do sensível sobre o abstrato. O Romantismo é o sonho. É a imaginação tentando negar a realidade e os sacrifícios que a vida traz consigo.
O romântico sonha que na natureza não há nem espinhos nem lama. Seus heróis - filhos de Rousseau - não têm pecado original, nem defeitos, nem tentações.
O Romantismo é uma tentativa de negar que o homem foi expulso do Paraíso terrestre, ou a tentativa frustra de tentar voltar a ele, clandestinamente, pela porta do sonho.
O romântico é sentimental. Ele busca sentir de modo exacerbado.
Edouard Schurré escreveu:
"O sono, o sonho e o êxtase são as três portas abertas para o Além, de onde nos vem a ciência da alma e a arte da adivinhação". (Edouard Schurré, Les Grands Initiés, in Alain Mercier, op cit. p. 207).
E Plínio Corrêa de Oliveira, apesar de se dizer Contra Revolucionário, e de se apresentar até como a Contra Revolução, romanticamente declarou:
“A História é, na alma do homem, um movimento pendular entre o sono e o sonho”. (A Cavalaria não Morre -- Excertos do pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira, recolhidos por Leo Daniele, Edições Brasil de Amanhã, São Paulo, 1998, p. 18).
E ainda:
“Os sonhos e as aspirações são a força motriz da História”. (A Cavalaria não Morre -- Excertos do pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira, recolhidos por Leo Daniele, Edições Brasil de Amanhã, São Paulo, 1998, p. 18)
3a Revolução na Arte: A Arte Moderna: negação da própria Beleza
O Renascimento separara a beleza do bem. O Romantismo foi além, separando a beleza da verdade.
A arte moderna fará a última negação, ao repudiar a própria Beleza. Chegava-se ao fim do processo anti-metafísico. A recusa de aceitar o bonum levou ao repúdio do verum e do pulchrum. Mas, de fato, o que se fez foi repudiar o próprio ens, o próprio ser. A arte moderna é a suprema manifestação de uma revolta metafísica. Ora, a essência da revolta anti-metafísica é a Gnose. A arte moderna é uma arte que, repudiando o ser, renega a Deus e o próprio homem, que é a sua imagem.
Aniela Jaffé mostra que a arte moderna se constitui como uma recusa ou fuga da Realidade. Paradoxalmente, a arte moderna que recusa os dados racionais, pretende se apoiar nas descobertas da ciência moderna.
Diz A. Jaffé que freudismo, física nuclear e biologia celular revelaram que o mundo que vemos não é real. Assim como nosso verdadeiro eu estaria submerso nas profundidades misteriosas do inconsciente, assim também o mundo material, analisado atomicamente, se desfaz em partículas que são nada ou quase nada.
Levada por esse mesmo espírito desintegrador - negador - da realidade, a Arte Moderna, nega a realidade objetiva, buscando uma "outra" Realidade superior e oposta àquela em vivemos.
Busca uma super realidade, desprovida de matéria, exatamente como a que é proposta pela Gnose. Por isso, os artistas modernos, em geral, consideram o universo criado como a obra de um Deus malvado, e que seu inimigo, que a Bíblia chama de Serpente e Lúcifer, esse, sim, seria o deus bom.
São abundantes os textos de artistas modernos que confirmam o que dizemos. Em estudo que editaremos em breve, trataremos disso. Por enquanto, basta-nos mostrar que a Arte Moderna visa o falso, o mal e o feio, que são como que "imagens" do inimigo do Criador, isto é, do demônio.
A Arte Moderna é diabólica.
Hans Sedlmayr afirmou que a Arte Moderna revela “um pensamento que renunciou totalmente à lógica, uma arte que renunciou à estrutura, uma ética que renunciou ao pudor, um homem que renunciou a Deus" (Hans Sedlmayr, La Rivoluzone dell’ Arte Moderna", Garzanti, Milano, 1971, p. 111).
Joaquim Inojosa no seu trabalho intitulado "O movimento Modernista em Pernambuco" declarou:
"Guerra à estética absoluta, à arte oficial, à pintura de cópia. Guerra ao belo como o fim da arte" (Apud Gilberto Mendonça Teles, Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro", Vozes, Petrópolis, 1977, p. 274).
“Façamos corajosamente o "feio" em literatura, e matemos de qualquer maneira a solenidade (...) É preciso cuspir cada dia no Altar da Arte ! (...) Eu vos ensinei a odiar as bibliotecas e os museus, preparando-vos para odiar a inteligência, despertando em vós a divina intuição (...)" (F.T. Marinetti, Manifesto do Futurismo, Milano, 1912, apud G. M. Teles , op cit. p. 93).
A mesma insuspeita Aniela Jaffé, tem textos impressionantes, confirmando o que dizemos.
"O espírito em cujo mistério a arte estava submersa era um espírito terrestre, aquele a que os alquimistas medievais chamavam de Mercúrio. Mercúrio é o símbolo do espírito que estes artistas pressentiam ou buscavam por trás da natureza e das coisas, "por trás da aparência da natureza"
"O seu misticismo não era cristão, pois o espírito de Mercúrio é estranho ao espírito "celeste". Na verdade, era o velho e tenebroso adversário do Cristianismo que maquinava seu caminho arte adentro. Começamos a ver aqui a verdadeira significação histórica e simbólica da "Arte Moderna". tal como a os movimentos herméticos da Idade Média, ela deve ser compreendida como um misticismo do espírito da terra, e, portanto, uma expressão de nossa época de compensação ao cristianismo". (Aniela Jaffé, "O Simbolismo nas Artes Plásticas" , -- in Carl G. Jung, "O Homem e seus Símbolos" , Nova Fronteira, Rio de Janeiro, -- pág.263).
É claro que esse espírito da terra, identificado com o velho e tenebroso adversário do cristianismo" tem um nome bem conhecido, que a própria Aniela Jaffé vai acabar por exprimir:
"No seu aspecto positivo, aparece como um "espírito da natureza", cuja força criadora anima o homem, as coisas e o mundo. É o "espírito ctônico" ou terrestre, que tantas vezes mencionamos neste capítulo. No aspecto negativo, o inconsciente (aquele mesmo espírito) manifesta-se como o espírito do mal, como uma propulsão destruidora."
"Como já observamos", - prossegue Jaffé - "os alquimistas personificaram neste espírito como o "espírito de Mercúrio", e chamaram-no muito adequadamente de "Mercurius Duplex" (O Mercúrio de duas caras, dual). Na linguagem religiosa do cristianismo, chamam-lhe diabo." (A. Jaffé, op cit . pg. 267).
Não há dúvida, pois, a Arte Moderna é diabólica. Nela o Antropocentrismo se rebela contra o Criador, e, pretendendo fazer o homem assumir o lugar de Deus, acaba por adorar o diabo.
VIII - AS TRÊS REVOLUÇÕES NA ECONOMIA
1a Revolução na Economia: o Mercantilismo
O antropocentrismo da Modernidade não podia senão desviar os olhos do homem para a terra. Em vez de ter por finalidade alcançar o céu, o homem, considerando-se centro de tudo, só podia colocar sua finalidade na terra e na matéria. Isto significou viver para este mundo, para seus prazeres e para suas riquezas. O ouro passou a ser o fim do homem, e não Deus.
2a Revolução na Economia: o Capitalismo
Do Mercantilismo se passou ao Capitalismo, que foi o liberalismo na economia.
3a Revolução na Economia: o Socialismo e o Comunismo
Se o homem deve viver só para a riqueza, se a vida é dinheiro, a vida existe apenas para produzir. Daí, Engels ter definido o homem como um animal que trabalha.
Com o Socialismo e o Comunismo, o homem passou a ser visto como uma mera peça na engrenagem da produção, visão para a qual o Capitalismo, o modo de produção capitalista, o taylorismo, a produção em série, haviam muito contribuído.
No Socialismo tolera-se a propriedade particular apenas de bens de uso, sendo todo bem de produção pertencente ao Estado.Na fase socialista, a família ainda é tolerada, mas mal vista. Por essa razão, no socialismo, se admite o divórcio e se dá direito a fazer aborto.
No Comunismo, toda propriedade, quer de bens de uso, quer de bens de produção, passa a ser do Estado. A família desaparece, instaurando-se o amor livre, e os filhos passam a ser do Estado, que os “educa” no coletivismo.
Depois da queda do muro de Berlim, parecia que não seria preciso mais provar como o socialismo é mentiroso, e como ele só produz miséria, escravidão e terror. Mas, a sede de mentira e de absurdo é inexaurível, no homem.
Bem razão teve a Igreja ,quando, com Pio XI, condenou o Socialismo como a antítese do Catolicismo, afirmando, na encíclica Quadragésimo Ano, que Catolicismo e Socialismo são termos antagônicos, e que ninguém pode ser católico e socialista, ao mesmo tempo. Como teve razão quando Pio XI, na encíclica Divini Redemptoris, condenou o Comunismo como “intrinsecamente mau”.
Claro que este quadro geral apresenta apenas uma síntese, e que muito mais poderia ser dito destas três revoluções, particularmente quanto às suas raízes gnósticas e panteístas, causas maiores das crises revolucionárias, e não simplesmente as paixões, como dizia e como escreveu Plínio Corrêa de Oliveira, simplificando, e, por isso, torcendo e falseando o problema. Mas, esse aprofundamento, nós o faremos num trabalho muito mais extenso em breve, Deo juvante.
O Capitalismo tem como lema a frase “Time is Money”, que na verdade, dever-se-ia traduzir não como “tempo é dinheiro”, mas como “A Vida é dinheiro”, visto que a vida do homem se passa no tempo. Par o Capitalismo, “Life is Money”.
O Capitalismo respeitou ainda o direito de propriedade particular e a livre iniciativa.
O direito de propriedade é um direito natural e sagrado por dois mandamentos: não roubar, e não cobiçar as coisas alheias.
A livre iniciativa se fundamenta no próprio livre arbítrio humano. Negar a livre iniciativa e o direito de propriedade particular acarretam necessariamente a escravidão do homem pelo Estado.
Mas, o capitalismo, sendo o liberalismo na economia, como o liberalismo, separou a economia da Moral, e esse é o seu veneno maior.
Para o liberalismo, o lucro passou a ser o fim fundamental, não se considerando os meios de obtê-lo, se eram meios morais ou não.
O capitalismo tem nisso o seu erro maior. Por isso, o capitalismo também é revolucionário. E quantos defendem o Capitalismo, como se nele houvesse apenas o bem do direito de propriedade particular. Desse modo, a defesa do Capitalismo, sem distinção, sem crítica de seus princípios imorais se torna uma defesa da Revolução.
Outro ponto negativo do Capitalismo é a livre concorrência absoluta, que vê como um mal qualquer intervenção do Estado na economia. É claro que um excesso de intervenção do Estado na economia a atrofia, e a leva para o Socialismo, e, conseqüentemente, produz a miséria.
Mas, uma absoluta não-intervenção do Estado permite que os grandes capitalistas eliminem os pequenos comerciantes, e isso acaba por concentrar a riqueza nas mãos de poucos, facilitando a introdução do Socialismo.
Por isso, do Capitalismo nascem logicamente o Socialismo e o Comunismo.
O homem, como disse Cortés, ficou com uma doença em seu coração, que ele só queria “curar” com ouro. Na verdade, o ouro era um falso remédio. Era, como a droga, um vício, que quanto mais se toma, mais escraviza. O homem moderno se tornou escravo do ouro, o antropocentrismo foi um modo de o homem adorar-se, por orgulho, de viver na avareza e na cobiça, pelo amor da riqueza, e de viver nos prazeres, escravizado pela impureza.
A Modernidade é a falsa cultura em que o homem adora a si mesmo como a um Baal, ajoelhando-se diante dos três ídolos de seus vícios principais: o ouro, o prazer e a soberba.
Desse desejo de viver para a riqueza, nasceram os sistemas econômicos revolucionários: o Mercantilismo, o Capitalismo e o Socialismo.
Do mesmo modo, que nos outros campos da atividade humana, houve também três revoluções na Economia: o Mercantilismo, o Capitalismo, o Comunismo, um causando o outro.
O Mercantilismo -- um capitalismo incipiente – foi o sistema econômico do tempo do Renascimento e da Reforma. Ele foi o resultado do abandono da concepção feudal, e vigorou praticamente em todo o período do Absolutismo.
O Estado absolutista, que adotou o sistema mercantilista, julgava que a finalidade humana seria buscar a riqueza, e que esta consistia no simples acúmulo de ouro.
Tudo era organizado em função do ouro.
As exportações de um país deveriam ser pagas somente a ouro. Por sua vez, esse mesmo país somente importaria através de pagamento com mercadorias, nunca pagando em ouro o que comprava. Desse modo, o ouro deveria apenas entrar no país, jamais sair.
Dever-se-ia proteger a produção, impedindo o quanto possível as importações através de taxas elevadas, e favorecer a produção interna por meio de incentivos. É o que se chamou de economia protecionista.
O Mercantilismo, no fundo, coibiu o comércio. A ambição, por medo de perder a riqueza, deixou de ganhar dinheiro.
O Mundo moderno, procurando as riquezas e não o Reino de Deus e sua justiça, aumentou a insatisfação, concentrou a riqueza, e certamente aumentou o número de miseráveis.