09-03-2018, 03:10 PM
(Esta publicação foi modificada pela última vez: 09-03-2018, 03:28 PM por Merdingo.)
Seguindo a linha do tópico "Primeiro carro - O que verificar antes da compra?", para quem não viu: https://legadorealista.com/forum/showthr...3#pid55013 vamos tratar de um assunto que tenho paixão incondicional: MOTOCICLETAS.
Se você pretende comprar sua primeira motocicleta ou trocar a que já possui e está buscando dicas para fazer uma boa compra, está no local certo. Pretendo fazer um passo a passo para leigos, baseado nas minhas experiências de vida, mantendo a mesma ideia do tópico dos carros, "de Pai para Filho".
Mãos à obra.
1 - Defina o tipo de motocicleta que você quer.
Não muito diferente de um automóvel, também existem inúmeras opções de marcas e modelo de motocicletas, cada uma com uma PROPOSTA DIFERENTE. Não adianta você optar por uma moto esportiva carenada para uso diário e, ainda, com trechos de estrada de chão, seria insanidade.
Então pelo amor de tudo que é mais sagrado, não seja mais um imbecil na internet comparando "top speed" (velocidade final) e cilindradas de motos com propostas diferentes, como se isso fosse o fator determinante para uma moto ser boa ou não. Poupem meus olhos e parem de passar vergonha.
De uma vez por todas, entendam que não é possível comparar uma moto Custom de 1600cc, com uma Naked de 250cc, e dizer que a Custom é pior porque tem mais cilindradas e atinge menores velocidades. Meus olhos sangram. SÃO PROPOSTAS DIFERENTES e o que deve ser avaliado é O CONJUNTO em si, dentro de sua categoria. Estamos combinados?
Por isso acredito que uma boa compra começa aqui, com estas perguntas:
a) Qual será o uso que farei com a motocicleta?
Vai utilizar a moto para ir trabalhar dia a dia?
Então você precisa de motos de baixa cilindrada, por economia, facilidade de manutenção e acesso às peças.
Apenas por hobbie e passeios de final de semana?
Então você pode escolher uma moto que mais lhe agrada de acordo com seu estilo e bolso.
Para viagens mais longas?
Então você deve priorizar motos mais confiáveis, com peças de fácil acesso no mercado e, claro, confortáveis.
Mas e se eu quiser uma moto para trabalhar dia a dia e passeios de final de semana?
Tudo bem, você precisa de uma moto que se encaixe nestas duas possibilidades, que fique no meio termo entre economia e a versatilidade para os passeios. Acredite, dá pra encaixar sem problemas, basta pesquisar.
Quanto à quilometragem, se em automóveis até 90 mil km ainda podiam ser compras interessantes, para motos recomendo entre 10 a 15 mil km para motos especiais e 30 a 35 mil km para motos em geral. É claro que isso é muito relativo, mas mesmo em excelente estado de conservação, eu não compraria uma moto com 60 mil km, por exemplo, acho muita rodagem para um motor pequeno. É por este mesmo motivo que se vê muitas motos com km adulterada para venda.
b) Qual o tipo de terreno predominante?
Uso 100% urbano?
Aqui você pode encaixar scooters e motos 125cc.
Uso urbano e trechos off?
Aqui você necessita de motos mais versáteis e altas, modelos como, por exemplo, a Yamaha XTZ.
Uso urbano e trechos de rodovias?
Bem, aqui uma moto 125cc pode deixar a desejar, causando insegurança na rodovia (só quem já andou sabe o que estou dizendo). É melhor olhar pelo menos uma 150cc, ou as 250cc/300cc.
Está entendendo a sistemática e o porquê não é possível comparar motos de categorias diferentes? Motos com proposta urbana terão mais torque, a proposta delas é força em baixa para o "arranca e pára" da cidade. Motos para rodovias são mais elásticas, não tem tanta força em baixa, mas tem velocidade final, o que é necessário na estrada. E claro, tem as motos especiais, mas estas ficam para outra conversa, hoje vai ser feijão com arroz.
c) Quais opcionais a moto deve ter?
Isso é um tanto pessoal, alguns gostam de algumas coisas, outros não. Vou dizer o que prefiro e você responda essa pergunta ao procurar uma moto, ok?
Para motos "normais" (leia-se baixa cilindrada, motos comuns, você entendeu), o mínimo que eu opto é freio à disco - pelo menos na dianteira - e partida elétrica. É o básico, esteticamente eu ainda gosto de rodas de liga leve. Vou explicar o motivo antes que venham os entendidos me tacar pedra. Eu não gosto de ficar "pedalando" pra ligar a moto, e o freio de lona me passa insegurança nos dias de chuva.
Quanto ao ABS endeusado pela mídia, por mim que se lasque. Quem anda de moto de verdade sabe que não faz tanta diferença assim. E eu ainda prefiro SEM ABS, porque sinto que a moto fica "mais na mão" e eu consigo dosar o freio a meu gosto.
d) Quanto posso gastar na motocicleta?
Quando você estiver neste item, acredito que esteja com um ou dois modelos em vista. Talvez modelos parecidos, mas de marcas diferentes.
Moto sempre foi algo muito caro no Bostil e atualmente está quase inviável. O bostileiro sempre comprou merda por chocolate e ainda acha gostoso, aliado à política de preços "se colar, colou" das concessionárias, é o que vemos aí, motos de 300cc custando 28 mil reais.
Mesmo eu passando o passo a passo a seguir para compra de uma usada, ainda recomendo que compre nova, o problema é o uso que o bostileiro faz e a negligência com manutenções básicas, o que faz de motos usadas sem procedência, geralmente, ser uma bomba que vai estourar na sua mão. "CORTA GIRU TIU". Malditos! Para quem vem de uma época onde isso não existia, é de doer.
Mas se optar por uma usada, pode se guiar da mesma maneira que para automóveis, pela Tabela Fipe http://veiculos.fipe.org.br/
Basta saber o ano, marca e modelo da moto.
Geralmente motos estão abaixo do valor de Tabela, porém, muitas vezes aquela moto bem abaixo da tabela está deteriorada internamente e o custo para você reparar esta cagada, no final vai sair mais caro do que se tivesse optado por aquela um pouco acima da tabela, mas zerada. O famoso barato que sai caro.
Se for optar por motos novas, priorize as que possuem revenda autorizada na sua cidade, pela facilidade de acesso.
Após saber a moto que você quer, no período de "namoro", que é quando você estará buscando anúncios de sua moto, aproveite para pesquisar a durabilidade e preço de peças de desgaste natural. Ou seja, coisas que cedo ou tarde você VAI TER QUE substituir. Vou quebrar este galho para você:
- Relação: coroa, correia e pinhão;
- Pastilhas de freio;
- Fluídos e filtros;
- Filtro ar;
- Pneus;
- Lâmpadas;
Isso é o básico, assim você poderá calcular o custo aproximado que sua moto te trará em determinado tempo, de acordo com seu uso.
Neste momento você já terá definido a moto que quer.
e) Equipamentos de proteção.
Enquanto no carro você apenas coloca o cinto de segurança, na motocicleta o parachoques é sua cabeça. Então recomendo que você compre um capacete de boa qualidade, a menos que queria seus miolos voando no asfalto quando ocorrer algum sinistro.
O mínimo que eu considero para uso urbano, em modo sovina, é um capacete bom e um par de luvas, pois em qualquer queda em baixa velocidade você tende primeiro a tocar o chão com as mãos para se proteger e vai ralar, vai ralar muito. Esqueça a punhetinha noturna.
É possível encontrar bons capacetes e luvas a preços razoáveis, não exite em comprar coisa boa.
Se for para rodovia, então providencie pelo menos uma jaqueta e botas/sapatos de pilotagem.
Se a sua pegada for esportivas, aí é macacão e acessórios racing.
Seu couro não é frescura.
Bueno, isso é o mínimo do mínimo que você precisa saber para mover sua bunda atrás de uma moto. Faça todos os cálculos que julgar necessário, defina a moto e vamos à compra.
2 - Documentação.
Antes de colocar o pé fora de casa, você precisa saber:
a) IPVA do ano está pago?
Proprietários zelosos levam a documentação paga e em dia, vai por mim. Sem contar que o DPVAT da moto é mais caro que o de automóveis.
b) Motocicleta tem multas?
Se a moto tiver multas, todas devem estar quitadas ou o valor deve ser abatido do preço de venda. Você pode consultar isso no site do Detran do seu Estado, de posse dos números de RENAVAM e PLACA. Nem todo mundo passa estes números para estranhos por motivos óbvios. Se o vendedor não quiser fornecer, tudo bem, você pode consultar quando for olhar a moto com seu celular e uma conexão 3g.
c) DUT está em branco?
Para quem não sabe, o DUT é um papel que vem anexo ao primeiro documento da moto, você só consegue transferir o documento mediante assinatura de comprador e vendedor neste documento, reconhecido em cartório. Se o DUT estiver preenchido para outra pessoa, rasurado ou qualquer outra coisa, o proprietário que estiver no documento pode pedir segunda via, mas para mim é problema.
Só pode assinar o DUT para venda o proprietário que consta no documento atual, ou quem tiver uma procuração assinada em cartório, que geralmente é o caso de lojistas.
d) Manual e chave reserva.
Para motocicletas eu, particularmente, não compro sem manual e chave reserva. Dane-se quem não concorda. Em uma futura venda, você vai se ralar se não tiver isso. Alguns dizem que isso é apenas para motos especiais, para motos comuns não. Para mim é zelo, não importa quantos donos teve, o mínimo é que tenha isso guardado.
Alguns modelos de motocicletas vem, ainda, com uma chave vermelha codificada. Sem essa chave não é possível fazer outras cópias se for necessário. Aliás, é possível, pagando um rim na concessionária.
Então pesquise essas peculiaridades do modelo que você pretende comprar.
Alguns modelos de motocicletas vem, ainda, com uma chave vermelha codificada. Sem essa chave não é possível fazer outras cópias se for necessário. Aliás, é possível, pagando um rim na concessionária.
Então pesquise essas peculiaridades do modelo que você pretende comprar.
3 - Verificação geral.
Bueno guri, você gostou da magrela, documentação está em dia, DUT em branco, vamos olhar.
a) Geral.
Moto boa para compra é moto ORIGINAL. Quanto mais fuçada, pior.
Se tiver alguns acessórios como escapamento, manetes, espelhos, não há problemas desde que você receba junto TODOS OS ORIGINAIS.
Existe uma exceção para motos custom, onde os acessórios acrescentam valor a ela, mas mesmo assim os originais devem vir junto.
Se a moto possui cavalete central, coloque nele. Bata o olho nela de maneira geral e conclua se ela realmente aparenta a quilometragem que diz ter.
Se a moto possui pedaleiras com acabamento em borracha, veja se estão muito desgastados. Motos com baixa km e pedaleiras muito desgastadas podem ter sido adulteradas. Aproveite e olhe nas pontas e embaixo das pedaleiras, em algumas motos elas raspam bastante se o proprietário curvava bastante, isso indica um uso mais agressivo.
Esse desgaste pode ser observado também nas manoplas e manetes, caso ainda sejam originais.
Deixe a moto reta e tente observar o alinhamento do chassis, motos que já levaram queda não ficam perfeitamente alinhadas.
Na dianteira, observe o alinhamento das bengalas. Procure por vazamento de óleo. Dê uma olhada na suspensão traseira também.
Sente na moto e esterce o guidão para ambos lados, procure sentir se há algum calo na caixa de direção ou folga. Isso é problema.
Observe o estado dos pneus. Dependendo o modelo da moto, os pneus não são baratos. Procure por amassados ou trincas nas rodas. Se estiver no cavalete, gire-as e veja se estão tortas.
Aproveite que está abaixado e aproveite para conferir a pastilha de freio.
Peça os manuais e verifique se as revisões estão carimbadas.
Ralados nas tampas do motor, tanque, pontas/pesos de guidão, ponta das bengalas ou no final da balança indicam que a moto JÁ CAIU.
b) Elétrica.
Gire meia chave na moto e escute a bomba injetora funcionar, para as que têm.
Teste toda a elétrica. Setas, alta, baixa, freio no pé e mão e, principalmente, se tudo o que tem no painel funciona. Painel de moto é um item MUITO caro. Qualquer coisa nele que não funcione e demande substituição, vai sair caro.
c) Motor.
Peça para não ligarem a moto quando você for olhar, se possível. O ideal para buscar ruídos é com a moto fria.
Dê partida e chegue perto do motor buscando o mesmo barulho de máquina de costura "tec tec tec" que indica problemas com válvulas. Fique atento para barulhos ferro com ferro, que também é problema.
Se a moto ainda estiver "fria", tape o escapamento com a mão para ouvir se possui vazamentos de pressão. Senão tampe com o tênis, não vai se queimar e fazer papel de trouxa.
Dê algumas aceleradas e observe o escapamento. Fumaça branca/azul/preta é problema. Fumaça de vapor até o motor aquecer é normal.
d) Embreagem e câmbio.
Teste isso isso quando for dar uma volta, o princípio é o mesmo do carro, nem muito "leve", nem muito "pesada". Não pode "patinar" sem tracionar e não deve "escapar" nenhuma marcha.
e) Relação.
Observe o desgaste da coroa e do pinhão. É visível quando estão em mau estado. Dentes tortos ou finos pedem substituição.
Se estiver no cavalete, gire a roda traseira e vá testando o aperto da correia. Se ela fica folgada e justa em momentos diferentes, significa que a relação está ovalizada ou é de má qualidade, tem que trocar. Se essa merda estourar ou travar com você a 120km/h preciso dizer o que vai acontecer?
Partem enferrujadas e oxidadas nestes locais nem preciso dizer que o cara não lubrificava nem limpava direito né?
f) Uma voltinha.
Nem todos os proprietários liberam para uma volta sem a certeza do negócio fechado. Eu sou um. Enfim.
Só peça para andar na moto se depois da inspeção acima você realmente pretende comprar, ninguém é trouxa também.
Aproveite para verificar a embreagem e câmbio, que falei acima.
Dê algumas freadas em busca de folgas e ruídos. Ruídos finos e estridentes já sabe né? Pastilhas no fim da vida ou vitrificadas. Tem que trocar. Depois de andar veja se não teve vazamento de fluído.
Preste atenção em folgas na suspensão, rodas ou caixa de direção. Se a moto estiver firme e justa, não terá problemas.
Se você conclui esta etapa satisfeito, hora de fechar negócio.
Primeiramente passe o dinheiro para o vendedor. Geralmente vamos juntos ao banco. Feito isso, vão ao cartório com o DUT (lembrou dele?) e assinem.
Por que o dinheiro antes? Simples, porque caso algo der errado na transferência ou ocorrer algum imprevisto você não "queima" o DUT do vendedor.
Fechado! Agora é só usar a moto? Errado.
Após a compra de qualquer moto eu recomendo que seja feita uma manutenção básica que consiste em:
- Troca óleo;
- Troca filtro de óleo;
- Limpeza filtro de ar ou substituição, se necessário;
- Troca filtro gasolina, se necessário;
- Limpeza e lubrificação da relação.
- Limpeza e lubrificação da relação.
Faça, não importa se o dono jurar que acabou de fazer. Eu não confio, troco tudo e coloco o recomendado para a moto. Isso vai te custar alguns poucos reais que podem te livrar de vários problemas. E você tem dinheiro para fazer isso, senão não teria comprado a moto, espero.
Agora sim, por fim, a transferência de propriedade.
Tem quem pague para despachante fazer. Eu sempre fiz por conta, o procedimento é simples.
- De posse dos documentos do veículo, acesse o site do Detran do seu Estado e pesquise pelos serviços online. Imprima e pague a guia de transferência de propriedade;
- Depois de compensado o pagamento, fica disponível a transferência. Dirija-se ao CRVA da sua cidade com uma cópia da sua identidade, comprovante de residência e o DUT assinado;
- Preencha o formulário e aguarde ser chamado para vistoria;
- Caso o veículo seja da mesma cidade, com placas refletivas, não necessitam ser substituídas. De outra cidade, substitui apenas a tarjeta. Placas antigas devem ser completamente substituídas durante a vistoria. O CRVA emite uma solicitação de placas e tarjetas, vc compra e leva juntamente com a nota fiscal para eles colocarem e aplicarem o lacre.
- Liberado veículo, basta aguardar o documento chegar na sua casa.
Se não houve alteração na placa, você pode rodar com o documento antigo até chegar o novo. Se houve alteração, você deve pagar uma taxa no próprio CRVA para eles emitirem uma licença provisória até chegar o documento oficial. Sai na hora, é uma folha impressa.
Resolvidos todos (ou quase) os seus problemas na compra de uma moto.
Agora sim, por fim, a transferência de propriedade.
Tem quem pague para despachante fazer. Eu sempre fiz por conta, o procedimento é simples.
- De posse dos documentos do veículo, acesse o site do Detran do seu Estado e pesquise pelos serviços online. Imprima e pague a guia de transferência de propriedade;
- Depois de compensado o pagamento, fica disponível a transferência. Dirija-se ao CRVA da sua cidade com uma cópia da sua identidade, comprovante de residência e o DUT assinado;
- Preencha o formulário e aguarde ser chamado para vistoria;
- Caso o veículo seja da mesma cidade, com placas refletivas, não necessitam ser substituídas. De outra cidade, substitui apenas a tarjeta. Placas antigas devem ser completamente substituídas durante a vistoria. O CRVA emite uma solicitação de placas e tarjetas, vc compra e leva juntamente com a nota fiscal para eles colocarem e aplicarem o lacre.
- Liberado veículo, basta aguardar o documento chegar na sua casa.
Se não houve alteração na placa, você pode rodar com o documento antigo até chegar o novo. Se houve alteração, você deve pagar uma taxa no próprio CRVA para eles emitirem uma licença provisória até chegar o documento oficial. Sai na hora, é uma folha impressa.
Resolvidos todos (ou quase) os seus problemas na compra de uma moto.
* Esqueci novamente de citar, que caso você não tenha nenhuma experiência, convém pagar uma avaliação profissional de algum mecânico.
** Motocicletas de locais litorâneos podem não ser uma boa compra.
*** Observe o perfil do proprietário. Perfil vida loka lifestyle, abobados, cortadores de giro podem não oferecer um bom negócio. Busque motociclistas sérios.
Basta que o almejado ideal aconteça todos os dias para que a sonhada perfeição desapareça.