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A História do Protestantismo - parte 2
#1
A História do Protestantismo - parte 2
Postado por Major Lobo Honrado em 29 de março de 2013.

[Image: 6XE3rxrb_t.jpg]


Leia a parte 1 aqui.

Após lutas, conflitos e debates nas primeiras décadas da Reforma, surgiram quatro formas distintas de protestantismo. São as expressões: luterana, reformada, radical e anglicana do protestantismo. Esses movimentos apareceram primeiro na Europa, depois na América e em outras partes do mundo.

O primeiro dos movimentos protestantes foi o luterano. Começou quando o padre católico Martinho Lutero, em 1517, pregou sua lista de 95 teses na porta de sua Igreja em Wittenberg, Alemanha. Lutero baseou-se em sua experiência para criar uma nova compreensão da fé. Insistia que humanos são incapazes de serem virtuosos sozinhos. E que a retidão vem unicamente de Deus com o perdão dos pecados.

No culto, Lutero manteve mais elementos da missa católica tradicional do que os outros grupos protestantes. Ele acreditava que alguns rituais continham uma tradição antiga e venerável. Mas a doutrina católica da transubstanciação, segundo a qual durante a comunhão, o vinho e o pão literalmente tornam-se o corpo e o sangue de Cristo foi substituída por Lutero pela doutrina da “presença real”. A doutrina revisada de Lutero diz que o vinho e o pão não são alterados metafisicamente, mas apenas que Jesus realmente se faz presente durante a comunhão. Ele baseou sua doutrina na declaração de Jesus na Última Ceia quando Ele quebrou o pão e disse: “Este é meu corpo”. Lutero manteve dois sacramentos, o do batismo e o da comunhão. Mas os outros cinco sacramentos católicos: crisma, penitência, unção dos enfermos, ordem e matrimônio, foram abandonados ou rebaixados a algo inferior a sacramentos. Lutero dizia que Cristo não os teria instituído e que a esses outros sacramentos faltava à promessa da Graça. Da mesma maneira Lutero abandonou dogmas católicos como o do purgatório, o das relíquias de santos e o do acúmulo de méritos. Ele acreditava que esses dogmas não possuíam respaldo bíblico claro.

Ulrich Zwingli estava mais para um pastor político. Como ardente patriota suíço, defendia os direitos de seu país contra as intromissões de autoridades políticas e eclesiásticas externas. Quando Zwingli assumiu a posição de pastor em Zurique em 1519, ele chamou a atenção ao declarar que pregaria continuamente a partir do Novo Testamento. Zwingli disse que basearia toda a devoção religiosa unicamente na autoridade da Escritura.

Isso levou a se opor a várias práticas católicas tradicionais tais como o jejum, a prece aos santos, a doutrina do purgatório e a obrigação de pagar dizimo. O Concílio de Zurique exigiu um debate público entre Zwingli e os representantes do bispo. Para esta ocasião, Zwingli produziu 67 artigos, vários deles centrados no tema emergente da liberdade com relação às regras eclesiásticas. As modificações de Zwingli acabaram por tornar-se um padrão para as igrejas reformadas. Em contraste com a abordagem luterana, Zwingli afirmava que a igreja devia fazer apenas o que consta nas Escrituras. Não pode apenas evitar o que é condenado. As diferentes igrejas reformadas aplicaram isso diversamente, mas todas eliminaram muito mais da liturgia católica tradicional que os luteranos.

“A arte era muito importante nas igrejas, antes da Reforma. Muitas pessoas não sabiam ler. O latim da missa o povo não sabia. Os fiéis iam e se sentavam no santuário. Sem saber exatamente o que ocorria, não participavam ativamente da missa. E a arte que eles podiam observar, lendo as figuras que estavam nos vitrais, nas pinturas e nas estátuas, tornou-se muito importante. Mas para alguns aconteceu de a arte se tornar mais importante do que aquilo que era representado. E isso foi parte da crítica da Reforma. Queriam fugir disto: dos que louvavam mais a obra de arte que o seu tema. Lamentavelmente, foram destruídas muitas peças incríveis na Reforma. Algumas pessoas assumiram a posição de que o único meio de cura estava na destruição de toda a arte. E isso foi muito triste.” (Katheryn Kimball, Curadora – O Cenáculo Capela e Museu).

A tradição reformada também começou a procurar o modelo bíblico apropriado para organizar o governo da igreja.

João Calvino, pastor francês em Genebra, achou seu modelo em uma ordem de ministério de 4 frentes que ele dizia ter sido instituída por Jesus. As 4 ordens eram: pastor, doutor (que chamaríamos de professor), ancião e diácono.

Muitas diferenças teológicas impediram que os luteranos e a comunidade reformada cooperassem numa frente protestante comum: a questão que causava mais divisão era a comunhão. Zwingli achava o conceito de Lutero de “Presença Real” lembrava demais a transubstanciação católica. Ele argumentava que pão e vinho, significam ou representam o corpo e o sangue de Cristo. E a comunhão, por conseguinte, só era um memorial do que Cristo fez. Zwingli acreditava que a comunhão era claramente secundária ao serviço da Palavra. Ele sugeria que a ceia fosse celebrada trimestralmente, opondo-se assim o desejo de Lutero de manter a Palavra e o sacramento, juntos no culto cotidiano.

Os reformados também recebiam os elementos sentados, em vez de irem até a mesa. Os “Radicais religiosos” surgiram logo no início da Reforma. Todo esse grupo de radicais representa um terceiro ramo do movimento protestante.

Havia quatro grupos distintos de radicais: os teocratas revolucionários, os espiritualistas, os antitrinitários e os anabatistas. Os teocratas surgiram no início da Reforma alemã. Tomas Müntzer alegava ter recebido uma revelação que supostamente ia além da Escritura. E acreditava que essa revelação seria cumprida na história. Müntzer pregava que os eleitos se separassem dos ímpios e declarava que os príncipes deviam tomar a espada para estabelecer os preceitos de Deus. Durante mais de um século, Müntzer seria um símbolo para protestantes e católicos. Mas os radicais chegaram a limites perigosos em seus esforços para derrubar a sociedade existente.

O terceiro grupo de radicais foram os antitrinitários. O mais famoso deles, no século 17 foi Miguel Serveto médico e filósofo espanhol, também conhecido como Michael Servitus. Preso em Genebra em 1553 pelas autoridades civis, Servitus foi julgado por heresia e condenado à morte. Sua execução foi importante para a autocompreensão protestante. Ela gerou um debate sobre a essência da fé protestante. Sua execução também gerou uma defesa da liberdade religiosa que se tornaria crucial para os protestantes que viriam. Calvino participou na condenação de Servitus a ser queimado na estaca. E para ele a execução foi um triunfo de verdade sobre a heresia.

O termo “anabatista” ainda é usado para identificar vários desses grupos radicais. Mas o termo aplica-se de modo mais apropriado a um grupo menor, cujos membros buscavam restaurar o estilo de vida apostólico que existia entre as primeiras comunidades cristãs. A alcunha “anabatista”, na verdade, foi um termo inventado pelos oponentes desses grupos. “Anabatista” quer dizer “rebatizador” e é usado para grupos que crêem que o batismo não é para crianças. Eles crêem que o batismo é só para os que podem confessar a sua fé. Os grupos anabatistas mais significativos foram os irmãos suíços, os menonitas e os huteritas. Os menonitas levam o nome de seu teólogo líder e antigo padre Menno Simon, e ficavam na Holanda e no norte da Alemanha após 1540. Na América do Norte, descendentes da tradição menonita incluem várias comunidades amish em áreas rurais de Estados e no oeste do Canadá. Os anabatistas foram presos, banidos ou executados em graus variados ao longo do século XVI e XVII. As razões legais para isso eram a violação da lei, rebelião e heresia. A perseguição foi ampla o bastante para criar entre os anabatistas um sentimento de “igreja dos mártires”.

“É impossível para os batistas documentarem sua história do modo como outros o fizeram. A documentação é difícil para um grupo perseguido. Para não tolerarmos manipulação em questões religiosas, fomos severamente perseguidos, até o ponto de sermos mortos em nossos primórdios. Em especial, onde soberanos decretaram que todos naquele país deviam aderir à mesma igreja.

Sentíamos que ser de uma igreja deveria ser uma conclusão da experiência religiosa. Cada um precisa ter uma experiência pessoal com o Senhor. Alguns crêem que você precisa ser batizado para ser salvo. Os batistas nunca defenderam isso. Eles acreditam que você é salvo pela Graça através da fé. Se batizamos por imersão, é porque isso é uma representação do que aconteceu com Cristo. Ele foi morto, foi enterrado e ressuscitou. O batismo vem depois da conversão e não como parte dela. Assim é retratado o que acontece ao indivíduo em sua confiança em Cristo. Ele é enterrado para sua antiga vida de pecados e ressuscita a uma nova vida em Cristo Jesus.” (Doutor James L. Sullivan, Ex-Presidente da Convenção Batista do Sul / Câmara da Escola Bíblica).

Por mais de mil anos a Inglaterra foi católica. No ano de 1509, Henrique VIII subiu ao trono. Ele desposou Catarina de Aragão. Mas ela e Henrique não conseguiram gerar um herdeiro homem. Em 1527, Henrique decidiu que o casamento deveria ser desfeito. Mas o papa se recusou a conceder uma anulação. O parlamento inglês aprovou o Ato de Supremacia em 1534, que declarava o rei Henrique VIII como autoridade suprema da Igreja da Inglaterra. Alguns viram tal lei como o início do protestantismo na Inglaterra. Outros viram a Igreja Anglicana como continuação da Igreja Católica. Mas desde então como igreja inglesa com uma autoridade local, o rei.

“O intuito da Igreja da Inglaterra no século 16 era ser uma igreja verdadeiramente nacional. Era parte ser a Igreja na Inglaterra, não uma denominação à parte. Necessariamente, a Igreja de todas as pessoas. De certo modo, foi o desenvolvimento lógico do que ocorria na Europa nessa época. Estados-nação estavam em formação. Estavam descontentes com um poder internacional como o papado. Do século 14 em diante, na França, Itália, Alemanha, Espanha, todos os países diziam: ‘Queremos continuar católicos na teologia, mas queremos o controle de nossa própria igreja.’ De certo modo, isso era tudo o que Henrique VIII queria.” (Grande Reverendo Guy F. Lytle, III – Reitor da Faculdade de Teologia do Sul).

Para aqueles que a viam como continuação da Igreja Católica, a Igreja da Inglaterra se tornara um meio-termo entre o protestantismo e o catolicismo romano.

O protestante Thomas Cranmer ajudou a resolver o problema marital de Henrique, ao propor que a questão fosse colocada não ao papa mas sim aos teólogos das universidades.

O primeiro “Livro de Liturgia Comum”, escrito em 1549 e revisado em 1552 fora, em grande parte, obra do protestante Thomas Cranmer. “Este é o livro de 1549. O primeiro ‘Livro de Liturgia Comum’, de Cranmer. Sua importância foi que ele se inspirou muito na beleza da liturgia católica da Idade Média, mas traduzindo-a para o vernáculo para ser acessível a todo povo. O anglicanismo sempre considerou que, apesar da importância do clero e da importância dos bispos, o verdadeiro povo de Deus são os leigos. São todos os batizados que agora participavam totalmente do culto, graças a Cranmer.” (Grande Reverendo Guy F. Lytle, III – Reitor da Faculdade de Teologia do Sul).

Em 1533, Cranmer tornou-se arcebispo de Canterbury.

Em 1553, o catolicismo foi restaurado na Inglaterra, quando Maria, a filha católica de Catarina, tornou-se rainha. Cranmer foi queimado na estaca junto com algumas centenas de outros hereges protestantes. Outros protestantes fugiram para a Europa continental, para cidades protestantes, como Estrasburgo, Frankfurt e Genebra. Quando Maria morreu, em 1558, Isabel subiu ao trono. Ela era filha de Ana Bolena, segunda esposa de Henrique VIII e, como rainha, foi virtualmente impelida por tal descendência a ficar do lado dos protestantes. A Inglaterra voltava ao protestantismo, e aos exilados podiam voltar para ajudar a protestantizar a Igreja inglesa.

Entre aqueles que divergiam do padrão anglicano, estava um grupo chamado de “puritanos”. Eles surgiram em parte de uma disputa sobre o governo da Igreja. Uma das primeiras envolvia a continuação do uso de vestes ou itens usados pelos pastores nas cerimônias do culto. “Um dos símbolos inconfundíveis do bispo é o báculo. O bispo é o pastor líder, e pastor significa quem comanda o rebanho. A idéia do báculo como símbolo de autoridade e de ser o pastor líder era, é claro, a de que o bispo pudesse alcançar e resgatar aqueles que precisavam ser salvos. Alguns bispos, com o passar do tempo, também salientaram que o báculo tem outra extremidade, com uma ponta afiada que, quando necessário, o bispo pode usar para espetar alguém, se necessário.” (Grande Reverendo Guy F. Lytle, III – Reitor da Faculdade de Teologia do Sul).

Alguns desses puritanos podiam ser chamados de presbiterianos. Os puritanos meditavam muito sobre a gravidade do pecado, sua cura e a necessidade de Deus para suscitar a conversão de uma alma individual. Eles estavam convencidos de que a igreja verdadeira não possuía bispos e estavam comprometidos a um ministério culto para o anúncio da Palavra na pregação.

Os puritanos mais tarde vieram a ser chamados de independentes e depois de congregacionalistas. Alguns independentes praticavam batismo nos crentes adultos e ficaram conhecidos como batistas. A igreja estabelecida e o Estado da Inglaterra uniram-se para resistir a esses críticos, perseguindo muitos deles.

Após a era protestante da Reforma, um período de consolidação começou a delinear fronteiras teológicas e políticas na Europa. Em 1559, a Paz de Augsburgo acabou com as guerras entre os luteranos e os exércitos católicos do imperador do Sacro Império Romano Carlos V. Esse acordo permitiu que cada soberano territorial do Império determinasse se sua terra seria luterana ou católica. Nenhuma outra fé era permitida. Na França, guerras religiosas intermitentes chegaram ao fim com o Edito de Nantes, em 1598. Concedia certa liberdade religiosa aos protestantes franceses chamados huguenotes, mas foi rescindido quase um século depois. Os huguenotes foram forçados a fugir para as montanhas francesas ou emigrar. No início do século 17, Jaime VI, da Escócia tornou-se o rei Jaime I da Inglaterra e fez uma reunião para resolver disputas entre bispos anglicanos e os reformadores. Embora sem lograr resolver questões envolvendo os governos e o culto, chegou-se a uma tradução oficial em inglês da Bíblia para ser usada em todas as igrejas britânicas. A chamada “Versão Autorizada da Bíblia”; mais conhecida como versão do Rei Jaime (ou Conhecida como King’s James Version), surgiu em 1611.

No século 17, a Guerra dos 30 Anos invadiu terras do Sacro Império Romano e acabou com a paz de Westphaliam, em 1648. O império agora reconhecia as igrejas reformadas, além de católicos e luteranos. As guerras civis inglesas na década de 1640 deram liberdade por alguns anos para os presbiterianos dissidentes dos quakers. Fundados por George Fox na década de 1640 e conhecidos como Sociedade dos Amigos, eles mantinham várias convicções consideradas extremamente radicais pelo resto da sociedade. Os quakers afirmavam que práticas protestantes tradicionais, tais como o culto, o batismo e a comunhão eram exteriores e deviam ser rejeitadas. Não permitiam nenhuma ordem especial de pastores. Assim, as mulheres vieram a exercer maior liderança entre os quakers do que em outras expressões protestantes. Acreditavam em revelação imediata por obra do Espírito na vida dos crentes e consideravam a revelação bíblica como uma fonte claramente secundária. Essa revelação podia ser dicernida pela luz interior que Deus teria concedido a todas as pessoas. “Pessoas entram e ficam em silêncio, apenas entram uma de cada vez ou com suas famílias, e o silêncio continua por cerca de uma hora, dependendo do que acontece e de como são tocadas.” (Jonatham Snipes – Sociedade de Amigos, Encontro Anual na Filadélfia). “Isto vem dos quakers pioneiros: que Deus está dentro de todo mundo. E todo o resto deriva disso, incluindo a revelação contínua e a busca pela verdade.” (Conselho Educacional Quaker – Key Edstene). “Para eu levantar e romper o silêncio? Sinto que só farei isso quando meu coração dispara e eu souber que é algo que preciso dizer. Mas a sensação é de sempre haver um espírito se movendo no grupo.” (Jonatham Snipes – Sociedade de Amigos, Encontro Anual na Filadélfia).

Continua...

Um grande abraço em Cristo Jesus.

Este texto faz parte do projeto: Segunda das Relíquias Perdidas.
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