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[DEBATE] Um pouco sobre psique e psicologia analítica
#1
Estou fazendo pós em psicanálise e psicologia analítica. Quero compartilhar um pouco de conhecimento.

A psicologia analítica tem um papel importante quando falamos em desenvolvimento pessoal e autoconhecimento. Jung foi um cara
inteligente pra kacet$. Ele veio da psicanálise de seu mentor Freud e desenvolveu seu próprio esquema, conseguiu correlacionar a psique humana
com mitologia, alquimismo e hermetismo. Se quiserem posso comentar sobre esse correlação posteriormente, mas hoje quero falar um pouco sobre
o esquema psiquico junguiano e, se tiver alguém que leu Nessahan sem ceticismo, mostrar como ele e sua base gnóstica não estavam completamente baseadas.

[Image: modelo-da-psique-jung.png?w=584]

Foco nas palavras: persona; ego; self e shadow.

Persona é as "máscaras", facetas, personagems que usamos no mundo, na realidade, para lidar com as situações e as pessoas. Em cada situação,
ou para cada pessoa, usamos facetas diferentes. Observe seus comportamentos. Você é a mesma pessoa com todo mundo, em todos os ambientes?
óbvio que não. 

Mas quem escolhe como vamos agir, ou como vamos nos comportar? o Ego. Ego traduzido do latim é "eu". Ou seja, sua percepção de si mesmo. Quem 
escolhe a faceta que iremos usar é o ego, que fica na região consciente da psique. Ou seja, estamos conscientes de quem somos e como devemos
nos comportar. Porém, o Ego pode ser "dominado/manipulado" pela sombra ou "direcionado/iluminado" pelo self

Self é o nosso ego evoluído. A percepção de um "eu desenvolvido". Um "eu em potencial". Tudo aquilo que eu posso ser (melhorado). Todos temos
um self. Toda vez que você pensa em como você será melhor no futuro, esse pensamento vem do self, que fica na parte consciente e pré-consciente. 
Na psicanálise freudiana o Self é o superego

Sombra fica na parte inconsciente e também do coletivo. Coletivo porque é inerente a todos humanos. Temos uma carga inconsciente que busca
atender todos os instintos (aqui entra o ID da psicanálise). Mas também na sombra há tudo o que foi nos reprimido, ou seja, nossos traumas, medos, inseguranças, crenças enraizadas, desejos obscuros. etc

Ok, mas o que isso tudo pode nos dizer? várias coisas se você for um cara esperto. 


"entendemos o mundo a partir das experiências, ego e sombra. Criamos narrativas sobre os outros de acordo com persona que é observada, pois o ego revela indiretamente o self ou as sombras"

"A sombra é um mecanismo de defesa: projeção nos outros o que nós mesmos temos por dentro"

"Enquanto tenhamos as sombras vivas e sensíveis, seremos manipuláveis/imaturos"


Nesse esquema psíquico é preciso entender algumas coisas. Quem enfrente o mundo, ou a realidade, é o ego, nós mesmos. Para tanto, apresentamos
uma persona (existem os 12 arquétipos principais). Porém, dependendo da situação, nosso inconsciente/sombra pode dominar nosso ego para escolher
como agir no mundo, e é aí que entra o equívoco dos gnósticos.

Os gnósticos viajaram total na maionese quando concluiram que ego são nossos defeitos capitais, instintos, etc. Eles consideram ego tudo aquilo que é a nossa própria psique consciente/inconsciente e percepção, eles não consideram os detalhes como a psicologia junguiana.  Pra eles o ego é algo muito simples, ego é personagem, consciente, inconsciente, tudo ao mesmo tempo.  Na psicologia analítica tá bem estruturado em persona, ego, self, sombra.

Por isso, quando Nessahan diz pra nós dissolvermos nossos egos/complexos, ele quis na verdade dizer o que os junguianos chamam de 
"integrar a sombra". Se fomos levar ao pé da letra, dissolver ego seria disolver a si mesmo, a sua percepção de mundo, todo a sua construção
consciente/inconsciente desde que nasceu. Isso seria equivalente a despersonalização. 


Não podemos dissolver o ego, mas podemos dissolver a sombra. Nossos instintos animais, e aqui entra a luxúria dita por Nessahan, não são simplesmente
destruídos, e sim integrados. Aqui o self domina a sombra para que sombra não cause cegueira pro ego. Também não tem como dissolver traumas, medos, desejos obscuros, etc, mas tem como tirar aprendizado, ressignificá-los, aceita-los, controla-los e por fim os integrar.

Os junguianos foram mais sensatos que os gnósticos. Por isso há como "integrar a sombra", mas nunca destruí-la. Nossas sombras/instintos são inerentes a nós. A psicologia analítica é um negócio lindo. Tem correlação com tudo: mitologia, alquimismo, hermeticismo, simbologias, dualidades... tá até na bíblia, no tarot, em todas as religiões. A busca principal é o desenvolvimento pleno do self (ou seja, até o dia da nosso morte buscarmos sermos melhores) para que esse direcione o ego para agir no mundo em busca dessa versão. Sem ser manipulado pelo inconsciente/traumas ou instintos animalescos. Na alquimia isso é chamado de lapidação. A busca pela pedra filosofal para que torne o chumbo em ouro.
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#2
(26-07-2024, 10:25 AM)kidesgraca Escreveu: Não podemos dissolver o ego, mas podemos dissolver a sombra. Nossos instintos animais, e aqui entra a luxúria dita por Nessahan, não são simplesmente destruídos, e sim integrados. Aqui o self domina a sombra para que sombra não cause cegueira pro ego. Também não tem como dissolver traumas, medos, desejos obscuros, etc, mas tem como tirar aprendizado, ressignificá-los, aceita-los, controla-los e por fim os integrar.

Texto sinóptico, mas espetacular, confrade.

Nossos traumas nos assombram todos os dias, sem que a gente perceba.

No tópico que fiz sobre estética, revelei minhas inseguranças, ao perpassarem os comentários, da época que eu era mais novo, de ser mais baixo e desprovido de beleza, em relação aos meus colegas da escola e do bairro.

Esse trauma eu carrego, sem sombra de dúvidas, até hoje. Até costumo brincar que quando está difícil na academia, ou quando está complicado empurrar aquele prato de 1000kcal pra dentro, me lembro dos tempos de escola e fica mais fácil.

Acredito que seja impossível uma pessoa conseguir chegar a uma morte do ego. Até monges, ermitões e afins ainda têm algo ali que pode ser ativado a qualquer momento, é intrínseco à natureza humana.

Aguardo mais tópicos assim, manda bala!
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#3
Magnifico o seu texto. Pretendo cursar psicologia na faculdade, já que sou muito interessado em filosofia e a área mais próxima da filosofia que eu vejo é a psicologia. Atualmente eu estou lendo bastante o Nietzsche. Ele cita no Crepúsculo dos Ídolos essa tal sombra, e eu não sabia que era o nosso lado mais animalesco, nossos traumas e medos. O Nietzsche também fala muito de instintos, diz que devemos nós guiar por eles, porém ele fala de instintos vitais. Os instintos vitais pelo que eu li até agora, seriam nossas ambições e aspirações superiores. Você provavelmente deve ter lido o Nietzsche, então poderia me explicar melhor o que seria esses instintos vitais?
A sorte favorece os audazes
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#4
(26-07-2024, 04:13 PM)Wesley de Mileto Escreveu: Magnifico o seu texto. Pretendo cursar psicologia na faculdade, já que sou muito interessado em filosofia e a área mais próxima da filosofia que eu vejo é a psicologia. Atualmente eu estou lendo bastante o Nietzsche. Ele cita no Crepúsculo dos Ídolos essa tal sombra, e eu não sabia que era o nosso lado mais animalesco, nossos traumas e medos. O Nietzsche também fala muito de instintos, diz que devemos nós guiar por eles, porém ele fala de instintos vitais. Os instintos vitais pelo que eu li até agora, seriam nossas ambições e aspirações superiores. Você provavelmente deve ter lido o Nietzsche, então poderia me explicar melhor o que seria esses instintos vitais?

psicologia é uma puta faculdade. Se você sente que é o teu chamado, mete a cara. Minha graduação não é na área, no entanto o pós em psicologia é totalmente viável a qualquer bacharelado pois é um "lactu senso". O problema da psicanálise e psicologia analítica e que elas "não tem base cientìfica", então os low iq que cursam psicologia consideram essas subáreas como psdeuciência, desconsiderando todo o conhecimento que as duas tem. Porém qualquer pessoa que deseja a nata da nata do autodesenvolvimento pessoal e autoconhecimento devem se aprofundar, sobretudo nos estudos de Carl Jung.

Respondendo sua pergunta sobre Nietzsche. Nunca li nenhum livro profundandamente, então não conseguiria te dar um argumento sobre os termos que mencionou. Pelo pouco que estudei, Nietzsche tem umas ideias legais como o Amor fati por exemplo, mas no geral o povo não leva o Nietzsche muito a sério por ele ser doido da cabeça ou visto como nilista, sendo que ele só é mal compreendido pela complexidade.

Psicologia analítica pra mim é a nata da nata da psicologia. É possível perceber uma puta duma correlação entre essa psicologia e todas as religiões e mitos que existem. Vou deixar um podcast caso se interesse

https://www.youtube.com/watch?v=U-QYCB4P_cI
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#5
Já ouvi falar do Jung, me parece um grande psicólogo. Mais para frente irei adquirir algum livro dele e do Freud também
A sorte favorece os audazes
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#6
Cuidado, confrade. Do mesmo modo que a Psicanálise que é uma falsa ciência, nunca nos dá certezas, mas apenas dúvidas. E é por causa do pensamento liberal e relativista que esta teoria é tão difundida nas universidades, dando pouco ou nenhum espaço para os católicos.


Há diversas vertentes da Psicologia, é preciso sempre estar atento ao estudar. Sempre há referências à teoria da Evolução, por exemplo. Com este cuidado, a Psiconeurologia e a Genética aplicada à Psicologia, disciplinas do primeiro ano, podem ser largamente estudadas.

Recomendo particularmente que você estude a História da Psicologia, principalmente nos livros:

[Image: 91sNdNjXVAL._SY425_.jpg]
Em particular o capítulo 13, sobre a psicanálise e sobre a vida de Freud)

[Image: 519kjJlWCVL._SY425_.jpg]
Especialmente o capítulo sobre C. G. Jung, muito revelador).

Quanto às outras disciplinas, dedique-se bastante aos estudos da chamada "Psicologia geral", principalmente no que concerne aos cinco sentidos, à percepção, memória, imaginação, linguagem, etc. Estude os demais livros Cognitivo-Comportamentais. Recomendo:

Atkinson, "Introdução à Psicologia"

Muito interessantes (e úteis, se você pretende casar-se e ter filhos...) são os livros sobre Desenvolvimento Infantil:

Bee, H. "A criança em desenvolvimento"

Os demais livros tratam da parte filosófica da Psicologia e vão lhe dar uma visão mais geral de seu objeto de estudo. Serão encontrados ou na biblioteca de Psicologia ou na de Filosofia ou mesmo em boas livrarias:

Jolivet, R. "Tratado de filosofia" Tomo II - Psicologia

Franca, Leonel "Psicologia da fé", Martins Fontes

E qualquer obra de psicologia do Pe. Brenan.

Para maior aprofundamento no seu estudo, você pode ler também a Suma Teológica de São Tomás de Aquino.
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#7
Leia:

A psicologia analítica de Jung é mais perigosa que a psicanálise de Freud?


Citação:Simbolismo e relativismo religioso de Jung

É um fato objetivamente constatável que Jung, embora dizendo-se cristão/protestante, relativiza todos os conceitos e domas cristãos em um conceito muito abrangente do “religioso”, no qual todas as religiões se equivalem.

Ademais, ele estuda as religiões na sua relação com a psique humana, que para ele é a consciência humana mais o inconsciente, não as estuda como uma doutrina dogmático-moral objetiva porque, no tocante ao problema da sua objetividade e realidade, ele se declara agnóstico.
Ele justifica o seu agnosticismo relativista servindo-se da filosofia kantiana, segundo a qual o homem não pode conhecer a coisa em si, mas apenas como ela lhe aparece depois de lhe ter aplicado as suas categorias subjetivas — o a priori de Kant ou, para Jung, a nossa estrutura psíquica. Assim, supondo-se que Deus exista, sem poder prová-lo, não podemos conhecer a sua existência objetiva, mas apenas como o representamos graças aos símbolos que a psique humana forma dele.
Ora, o símbolo desempenha um papel fundamental na doutrina modernista. Os símbolos são sinais que representam uma verdade (por exemplo, a bandeira vermelha significa o perigo). Os modernistas aplicaram o simbolismo ao dogma, que para eles já não possui um valor objetivo e real, mas simbólico e prático. Por exemplo, Deus é um símbolo, não um Ente real e objetivo que exprime uma interpretação subjetiva e relativa do sentimento humano de um ato religioso, ou ainda uma entidade imaginada pelo sentimento religioso humano para ajudar o homem a se comportar melhor. Assim, o simbolismo modernista e junguiano esvazia toda a doutrina e dogmas da Igreja romana (esse simbolismo foi condenado pelo Decreto Lamentabile de São Pio X). Logo, a fé, segundo Jung, não possui nenhum fundamento objetivo e real, mas apenas psicológico, sentimental e simbólico4. Não é só isso: Jung abraça o niilismo teológico da teologia apofática de Moses Maimônides, mas desliza no relativismo metafísico e teológico. absoluto.
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