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Seu cérebro e o pornô – parte 1
#1
Seu cérebro e o pornô – parte 1
por Gary Wilson, do blog “Your Brain On Porn“
(Traduzido por The Priest, do Fórum do Búfalo)

[Image: 5X5LZpk.png]
 
O que acontece quando se tranca um rato em uma gaiola junto com uma ratinha receptiva? Primeiro, se vê uma cópula atrás da outra; daí, progressivamente, o rato se cansa daquela ratinha em particular. Mesmo que ela queira mais, ele já enjoou. Contudo, troque a ratinha por uma outra e o rato imediatamente se reanima e se empenha em fertilizá-la.

Você pode repetir este processo com várias ratinhas diferentes, até o rato quase morrer exausto.

Isto é chamado de esfriamento (1) – uma resposta automática a parceiros sexuais. E isto é o que f az você se tornar um viciado em pornografia na Internet.

Como o rato do laboratório existe um mecanismo dentro de você que te impulsiona a fertilizar mulheres, homens e qualquer coisa que você vir em uma tela de computador (Nota: o esfriamento também se manifesta nas mulheres. Estudos mostram que, quando dada a oportunidade, mulheres são tão promíscuas quanto os homens).

Circuitos primitivos em seu cérebro governam emoções, desejos, impulsos e tomadas de decisões no subconsciente. Seu trabalho é tão eficiente que a evolução não sentiu necessidade de modificá-los muito desde que os seres humanos são seres humanos.

 
Mais dopamina, por favor
Nos ratos, em você e em todos os outros mamíferos, o desejo sexual é despertado através de uma substância chamada dopamina. A dopamina regula o núcleo da parte mais primitiva do cérebro – o circuito de recompensa (2). É graças a ele que podemos experimentar prazer, mas também podemos desenvolver vícios.

Seu circuito de recompensa te ordena a fazer tudo aquilo que garanta sua sobrevivência e a transmissão dos seus genes adiante. No topo da lista de recompensas dos humanos estão comida, sexo, amor (3), amizade e fantasias diversas (4). Estas recompensas são chamadas de reforços naturais (5), que são o oposto das drogas viciantes.

O propósito evolucionário da dopamina é te motivar a fazer o que seus genes querem que você faça. Quanto maior a descarga de dopamina, mais você desejará algo; sem ela, você simplesmente o ignora. Para bolo de chocolate e sorvetes, um estouro de dopamina; para palmito (6), nem tanto. O sexo e o orgasmo é o que naturalmente libera maiores descargas de dopamina para seu circuito de recompensa. Um dos apelidos da dopamina é a “molécula do vício”.

Ainda que se possa definir a dopamina como a substância do prazer, tecnicamente essa definição não muito precisa. A dopamina está mais para a busca do prazer, a medida do seu potencial. Apesar de haver controvérsias, acredita-se que a recompensa final e as boas sensações estão relacionadas com os opióides. Dopamina é o querer e os opióides são o gostar. Acredita-se também que o vício é um querer fora de controle (7).

 
Fantasias, fantasias, mais fantasias
A dopamina surge para os estímulos: um carro novo, um lançamento no cinema, um novo eletrônico – todos nós nos tornamos apegados a algo sob dopamina. Assim como em qualquer novidade, a excitação se vai à medida que a dopamina vai se exaurindo.

Aqui está como o esfriamento funciona: o circuito de recompensa do rato vai descarregando cada vez menos dopamina para uma mesma fêmea, mas quando uma nova fêmea surge, uma grande descarga de dopamina é liberada. Isso não lhe soa familiar?

Pornografia na Internet é um atiçador em especial do seu circuito de recompensa, pois os estímulos estão todos a apenas um clique. Pode ser uma “nova parceira”, uma cena incomum, um ato sexual esquisito, ou – pense você mesmo em algo -. Qualquer um pode ficar clicando por horas, experimentar muito mais estímulos em dez minutos do que qualquer um de nossos ancestrais puderam experimentar durante toda a vida.

E o que o cérebro faz quando se vê em um número ilimitado de estímulos, cuja quantidade é incapaz de suportar? O cérebro se adapta, o que pode levar ao vício.
 

Drogas não são os únicos viciantes
É sabido que substâncias que estimulam a liberação de dopamina, como álcool e cocaína, podem levar ao vício. Mas apenas uma minoria (entre 10-15%) de seres humanos ou ratos que já consumiram essas substâncias se tornaram viciados. Quer dizer então que nós estamos livres do perigo dos vícios? Em se tratando de abuso de entorpecentes, talvez sim. Mas em se tratando de excesso de estímulos de recompensas naturais como sexo, comidas gordurosas, videogames ou jogos de azar, a resposta pode ser não, ainda que certamente nem todos se tornarão viciados.

A razão do por que podemos nos tornar viciados com comida e sexo superestimulantes, mesmo que não sejamos propensos a vícios, está no f ato de que nosso circuito de recompensa nos estimula a procurar sexo e comida, não drogas. Atualmente, os alimentos calóricos (70% dos adultos norte-americanos estão acima do peso, 35% estão obesos) e pornografia na Internet (sobre o que você está lendo agora) têm muito mais potencial para viciar pessoas do que as drogas. Ambos sobrecarregam os mecanismos de saciamento – o sentimento de estar satisfeito – porque as calorias e as oportunidades de se reproduzir são a prioridade número 1 dos genes.

 
Todos os vícios afetam o cérebro de forma similar
Pesquisas recentes revelam que os vícios comportamentais (comidas saborosas, jogos de azar ou videogames) e vícios por entorpecentes possuem algo em comum: redução da dopamina e uma queda nos receptores de dopamina do circuito de recompensa. Isto é a base de todos os vícios. Com menos dopamina e menos receptores dessa substância, fica muito mais difícil estimular o circuito de recompensa. Isto leva ao que todos os viciados experimentam: uma resposta indiferente ao prazer (9).

O cérebro dos viciados em pornografia na Internet, ao contrário do de outros tipos de viciados, não tem sido estudado até então. Contudo, é ilógico concluir que a pornografia na Internet não produz mudanças no cérebro, quando já f oi provado que comidas gordurosas, videogames e jogos de azar são capazes de fazê-lo. (Adendo: Em agosto de 2011, os maiores especialistas da Sociedade Norteamericana de Medicina do Vício -ASAM[8]- publicaram sua nova e avassaladora definição de vício. Esta nova definição corrobora os pontos principais debatidos em “Your Brain On Porn”. Além do mais, os vícios comportamentais afetam o cérebro da mesma forma que as substâncias entorpecentes, em todos os aspectos. Tal definição, na prática, encerra o debate se o vício em sexo e pornografia é um vício verdadeiro ou não).

 
Quanto mais prazer, menos prazer
Apesar de você talvez não perceber, você está aqui porque você tem uma resposta indiferente ao Apesar de você talvez não perceber, você está aqui porque você tem uma resposta indiferente ao prazer (9). O declínio nos receptores de dopamina e outras mudanças no cérebro te transformaram em um viciado em pornografia. Trata-se de fisiologia, não moralidade.

O ciclo do vício em pornografia é semelhante à de outros vícios:

satisfação sob estímulo->anestesia ao prazer->busca por mais estímulo->satisfação retorna sob maior estímulo->posterior declínio nos receptores de dopamina->mais anestesia ao prazer->busca por mais estímulo->satisfação retorna sob um estímulo ainda maior.

E em pouco tempo você já está viciado em pornografia, pois para o seu cérebro, nada mais é tão interessante quanto o pornô.

Na visão dos seu genes, este é o cenário perfeito – te manter copulando freneticamente – antes que esta “oportunidade valiosa” desapareça.

 
O sequestro de seu mecanismo de satisfação(10)
O consumo excessivo (sexo ou comida) é o sinal do seu cérebro primitivo que você conseguiu alcançar o “prêmio” evolucionário. Sob estímulos suficientes, os receptores e dopamina começam a declinar. Isso te deixa insatisfeito, querendo buscar mais. Esta anestesia ao prazer é o meio que seus genes têm para fazer você continuar buscando comida e oportunidades para se acasalar.

O mecanismo de satisfação é uma vantagem evolucionária em situações onde a luta por sobrevivência se sobressai ao mero saciamento das vontades. Pense nos lobos, que precisam conseguir até 10 quilos em cada caça de uma vez só; ou em nossos ancestrais, que precisavam armazenar calorias de alta qualidade através de alguns quilos extras para fácil transporte, para sobreviver em tempos difíceis, ou mesmo diante de um harém para ser fertilizado em tempos de acasalamento.

No passado, essas oportunidades eram raras e passavam rápido.

O ambiente humano mudou drasticamente. A Internet oferece infinitas oportunidades de “acasalamento” que seu cérebro primitivo pensa que é real. Assim como qualquer outro mamífero que se preze, você vai se esforçar para espalhar seus genes para os quatro cantos, mas aqui a sua temporada de acasalamento não vai ter fim.

Você clica, clica, clica, se masturba, clica, clica, clica, se masturba, clica, clica, clica. Seu mecanismo de satisfação se sobrecarrega. A evolução não preparou seu cérebro primitivo para estes estímulos sem fim.

Notas:
[1] Termo original: Coolidge effect – não foi consultado termo equivalente na literatura médica brasileira.
[2] Termo original: Reward circuitry. Idem.
[3] Há controvérsias entre muitos guerreiros da real se esse sentimento realmente existe, mas está presente no texto original.
[4] Termo original: novelty. No artigo, todas as ocorrências da palavra “novel” e “noveltry” foram traduzidas para fantasia.
[5] Termo original: Natural reinforcers – não foi consultado termo equivalente na literatura médica brasileira.
[6] Termo original: Celery.
[7] Sentença original: “Addiction may be thought of as wanting run amok”. Essa f oi difícil, mas devo ter chegado perto do sentido.
[8] Sigla de “American Society of Addiction Medicine”.
[9] Termo original: “Numbed pleasure response”. Esta expressão f oi traduzida também para “anestesia ao prazer”, sem contudo ter consultado a literatura médica nacional.
[9b] Vale lembrar que o parágrafo, assim como o artigo todo, é dirigido principalmente a qualquer viciado em pornografia que esteja visitando o site pela primeira vez.
[10] Termo original: “Binge mechanism”. Não f oi consultado termo equivalente na literatura médica nacional.


Este texto faz parte do projeto: Segunda das Relíquias Perdidas.
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