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[RELATO] Minha experiência com mendigos
#1
Fala confrades blz? Esse relato foi postado primeiramente no Fórum do Búfalo, e eis que trago ele aqui hoje.

Antes de tudo, esse tópico não tem nenhuma finalidade religiosa, nem quero com ele me exaltar como boa pessoa nem nada do tipo ok? O objetivo desse relato é apenas pra contar como tem sido a experiência, coisas que eu observei até agora, casos escabrosos e o que essa experiência tem mudado diretamente na minha vida interior. Esclarecido isso vamos ao relato em si.

Há quase 2 meses comecei a participar de um projeto social encabeçado por alguns jovens da minha igreja, atualmente somos cerca de 12 pessoas. Uma vez na semana, nos reunimos, preparamos marmitas de excelente qualidade (comida boa mesmo, nada de sopa), levamos roupas, calçados, lençóis que recebemos de doações, e saímos sempre a noite, retornando por volta da 00:30 1h da manhã. Fazemos um trajeto grande, e onde enxergamos um mendigo nós paramos, geralmente fazemos 45-50 marmitas, ou seja, temos contato com esse número de pessoas toda semana.

O intuito do nosso projeto é resgatar esses moradores de rua e reintegrá-los a sociedade e principalmente as respectivas famílias. Já conseguimos tirar um senhor na casa dos 40 anos da rua, ele está num centro de recuperação aqui do RJ, e em breve iremos tentar levá-lo a sua família.

Feito as considerações preliminares, algumas coisas que eu tenho observado.

Motivos gerais que os levaram pra rua

Na maioria dos casos que detectei até agora, o principal motivo são brigas familiares. Uns expulsos de casa por serem alcolátras, outros porque não se davam bem com irmãs, outros por causa de drogas e por aí vai. O que percebi é que 80% são homens, 20% mulheres. Os homens são maioria esmagadora nas ruas, pelo menos aqui onde fazemos o trabalho. Muitos até vindos de outros estados do país e que chegaram aqui das maneiras mais loucas possíveis.
Teve um caso curioso de um cara que estava sentado na rua, com mochila, bem vestido, com celular, e fomos perguntar o que ele estava fazendo ali. Ele não era morador de rua, mas tinha brigado com a mulher e a mesma mandou ele pra fora de casa, ele veio de outro bairro bem distante e parou ali, ficando o dia todo sem comer. Nem sei o que se sucedeu com o sujeito.

A ética e a camaradagem das ruas

Outra coisa que tem me chamado muito a atenção é a ética e a camaradagem que eles possuem. Se alguém eventualmente já comeu em algum lugar, eles não aceitam a marmita alegando que se aceitarem outra pessoa que ainda não comeu vai ficar sem. Cada um tem seu espaço e suas coisas e ninguém mexe no que não é seu. Sempre informam onde há outras pessoas pra gente encontrar. 
Há uma senhora que vou chamar de Maria, que fica numa praça, e por ser bem idosa e ter dificuldades de locomoção, fica sentada sempre na mesma cadeira. Alguns caras costumam ficar nessa mesma praça, e eles possuem um imenso respeito por essa senhora, tem um cara que não sai de lá porque diz que fica ali pra proteger a dona Maria (seja em qual situação o homem estiver, ele não perde o instinto protetor). Achei essa atitude muito foda [Image: fuckyeah.png]

Mulheres

Como eu disse elas são minoria até agora pelo que vi, e de 20, 5 ficam sozinhas, das 5, 4 são idosas. As outras 15 sempre estão abrigadas na sombra de algum homem. É isso mesmo que você leu, na rua não existe feminazinha fazendo textão contra macho opressor não. Elas sabem que na companhia de um homem terão muito menos chances de sofrer algum tipo de covardia, e menos chance de passar fome, pois a maioria dos caras catam latinhas ou papelão pra vender e comprar algo pra comer. (Pensei até numa cura pra feminazis: deixar 1 semana na rua pra ver se a misandria não some) [Image: trollface.png]

Então juvena chorão, você que fica reclamando nos fóruns por não pegar mulher ou que fica o dia todo pensando em planos mirabolantes pra pegar mulher: até mendigo tem mulher, de tão simples que elas são. Eles não têm carro, casa, nem são bombados, são apenas homens, caras extremamente viris (quer mais virilidade do que sobreviver na rua?) que não ficam de mimimi e que as mulheres enxergam neles um protetor. Talvez você esteja pensando agora ”Ah, Mente, mas são mulheres feias e acabadas” de fato são, mas percebam que o nível da mulher é proporcional ao desenvolvimento do cara? Se queres uma top, seja top já dizia o SK. Estou dizendo que esses caras não correm atrás de mulher, mulher é a última prioridade do cara que tá na rua, ele tá atrás de comida, de não levar uma facada, de ter um lugar pra ficar, a mulher chega como consequência na vida deles, querendo a proteção que eles podem oferecer.

Mudanças que essa experiência estão provocando na minha vida

Eu resumi bastante coisa pra não ficar um tópico extenso, poderia citar diversas histórias que ouvi nesses quase 2 meses que são extremamente tocantes. Todos nós aqui sabemos (tirando alguns juvenis) que a real é do homem para o homem, que devemos buscar nosso desenvolvimento pessoal. Nessa busca tendemos a focar em nós e esquecermos dos outros, alguns acabam se tornando egoístas, outros perdem a afeição natural, etc.

Eu também era até antes da real, extremamente individualista, queria saber do meu e ponto, tinha pouquíssima paciência pra ouvir pessoas e era um pouco anti-social.
Acontece que nesses 2 meses eu tenho refletido muito sobre a vida, interiormente eu me sinto muito bem, na verdade bem pra CARALHO [Image: fuckyeah.png] nunca tinha imaginado que a sensação de ajudar pessoas que não podem te oferecer nada em troca, seria tão boa e forte. É uma parada que não dá pra descrever, só vivendo isso pra entender na prática. Tenho encarado a vida com muito mais vigor, com muito mais vontade de vencer, com muito mais gratidão pelo que tenho. As vezes estamos tão envolvidos querendo evoluir, crescer, ganhar dinheiro, fazer aquele curso, ter aquele carro que vivemos numa espiral de insatisfação (que até certo ponto é benéfico) mas que em demasia nos tira a capacidade de agradecer por tudo o que temos, por mais simples que seja. Ao ver o cara na rua agradecendo por um simples prato de comida como se fosse uma barra de ouro, eu percebi que tenho muitos motivos para ser grato a Deus pelo que tenho.

Tenho me tornando mais sociável, mais tolerante, tenho exercitado mais a arte de ouvir as pessoas, seus problemas, me interesso mais pela vida deles, e meu círculo de amizade tem crescido por causa disso. Pessoas que antes não se aproximavam pelo fato de eu nunca ter dado abertura, agora chegam até mim, até confessam uma adimiração e respeito que eu nem sabia que tinha dessas pessoas.
Enfim, esse relato não tem como intenção de meter a real em ninguém, não quero que você saia agora aí da cadeira e vá dar esmola pro primeiro mendigo que encontrar. É apenas pra compartilhar com vocês uma experiência, mostrar como ajudar pessoas pode fazer bem pra você, e se você se sentir estimulado, faça alguma experiência e comente ou poste se já faz algo que envolva caridade.

Força e Honra!
Esforça-te, pois, e sê homem. (1 Reis 2.2)

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#2
Incrível relato,
Endossou ainda mais a minha vontade de ajudar esses camaradas, no entanto aquele pé atrás de que eles estão nessa situação por serem comodistas sempre me puxa ao lado oposto. Espero encontrar o equilíbrio neste pensamento.

Enviado de meu E2363 usando Tapatalk
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#3
Muito nobre relato, é legal ver que há sentimentos por trás do abandono.

Mas infelizmente é difícil ter o coração mole no Rio de Janeiro, eu falo isso para alguns parentes meus, mas eles não levam a sério, eles falam que se a pessoa tiver roubando ou usando pra comprar droga "Deus vai cobrar"...

Caralho, o cara chega aqui no portão de casa fedendo a cachaça pedindo dinheiro porque "não pode trabalhar"... ¬¬'
É lógico que não, dinheiro não...

Outra coisa que andam fazendo ultimamente no Rio de Janeiro, principalmente em ônibus de vias expressas é usar deficientes físicos ou falsos deficientes para arrecadar dinheiro. A falcatrua é tão grande que o mesmo papel com os mesmos dizeres, inclusive com os mesmos erros de português são ultizados no golpe por diferentes pessoas.

Então, até pra fazer caridade hoje em dia tem que ficar esperto.

Mas mais uma vez parabéns pelo relato, confrade.

Aqui em casa nós temos um recuperado de rua que não apenas nós, mas muitos ajudaram o cara a sair da rua. O cara era conhecido da família, e um belo dia uma parente minha encontrou o cara revirando o lixo no centro do Rio. Ajudamos o cara, colocamos contatos pra ajudar ele, e apesar dele ter alguns problemas mentais e ser meio ignorante, ele é muito bem ajudado, faz uns bicos, ganha comida, tem um cantinho dele cedido pela igreja, enfim, o essencial pra sobreviver.
The absence of virtue is claimed by despair






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#4
Excelente relato, e parabéns pelas atitudes.

Sobre serem comodistas, é complicado generalizar, alguns até podem ser, mas a maioria esmagadora deve ser devido à estar com o psicológico fodido...
Basta que o almejado ideal aconteça todos os dias para que a sonhada perfeição desapareça. 
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#5
Muito bom seu relato. E parabéns por estar ajudando estas pessoas.

Se eu puder dar uma sugestão, tente entregar algum livro para alguns deles que estão em grupo.

Recomendo:
Geraldo Rufino - O catador de sonhos
Napoleon Hill - A lei do triunfo
Bode velho gosta de Capim Novo.
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#6
Parabéns pelo relato. Não quero criar polêmica, mas tenho que expressar meu ponto de vista.

Muitos (pelo que sei) dos moradores de rua simplesmente não querem voltar para suas famílias devido a brigas e etc, muitos parecem que se acomodaram. Alguns são folgados mesmo, chegam e pedem 5 reais, puta que pariu se fosse 10 centavos...

Outros batem na nossa porta pedindo dinheiro, outros algo para comer. Experimente dizer : Dá uma varrida na calçada p mim que eu te dou o almoço. A maioria vai achar que vc está explorando o mendigo, afinal ele não pode trabalhar p conseguir as coisas, tem q pedir.

Também acho outra coisa errada, conheço um pastor pinguço que vive dizendo q ajuda mendigos e o caralho, o cara não faz porra nenhuma, quem faz são os fiéis da igreja... Por isso eu acho que se a gente quer ajudar devemos reunir os amigos e fazer, não precisamos usar de ONGs ou igrejas para ajudar, senão a gente vai ajudar e eles ficarão com o mérito.
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#7
Magnifico relato Legionário.

Recebe ai minhas 5 estrelas fera!
Fumei 25 cigarros esta noite e você sabe da cerveja.

Buwkoski.

Buceta não machuca e não se faz sexo com a bunda.

Leg. Bean, fórum mundo realista.
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#8
Foda esse relato!

Já tem um tempo que tenho vontade de ajudar algumas dessas pessoas humildes e necessitadas. Seja dando alguma marmita, dinheiro, conversando ou até levando pra jantar comigo. O problema é que eu por enquanto não estou ganhando nada, estou só estudando.... Mas quando eu estiver ganhando meu dinheirinho, vou separar um pedaço pra ajudar essas pessoas. Seu relato me deu mais vontade.

E tome mais cinco estrelas!
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#9
Até agora não apareceu nenhum hostil, no máximo quando a gente diz que é da igreja pra não assusta-los (geralmente a gente encontra eles já dormindo) alguns recusam a marmita, isso mesmo, recusam.

Nosso intuito é tirar o máximo de gente da rua e tentar reintegração seja na família ou na sociedade, mas a maioria não quer sair da rua de jeito nenhum. A gente conversa, explica mas a maioria é irredutível. Mas os que dão abertura a gente faz amizade, tem um cara que eu não sei porque criei uma simpatia por ele muito grande.
Na conversa com o cara descobri que ele tinha o ensino médio incompleto, não aceitou ir pro centro de recuperação pq queria sair dessa pelas próprias pernas, queria até fazer concurso de gari.

Obviamente tem os drogados, tem os que bebem, os que tem problemas psicológicos, os que querem abusar a gente enquadra logo e eles ficam quietos pq estamos em maior grupo. É um trabalho que é tipo o olho no peixe e o outro no gato. Mas no geral, a experiência tem sido muito boa, nenhum problema mais sério, eles são bem amistosos, tem uns que querem conversar se deixar fica a noite toda falando.

Mas enfim, não precisamos todos nós irmos pra rua ajudar um mendigo, cada um pode fazer o bem da maneira que for melhor pra cada um, ajudar um orfanato, visitar um hospital etc eu não sabia do poder que ajudar pessoas tinha na minha vida, mas está me fazendo muito bem. É melhor do que ajudar aqueles sanguessugas que nos rodeiam diariamente.
Esforça-te, pois, e sê homem. (1 Reis 2.2)

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#10
Fica difícil pensar em ajudar morando no RJ. Faço o mesmo trajeto todo dia e encontro sempre os mesmos pedintes há anos. Aqui tem muito mendigo profissional e fica difícil ajudar quem realmente precisa.
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#11
Excelente, durante um tempo fiz algo parecido, aprendi bastante, também foi lá que observei uma falha no meu caráter, vi que enquanto estava lá colocava uma mascara era altamente benevolente, altruísta, compreensivo mas no meu cotidiano fora dali me faltava as mesmas atitudes com as pessoa próximas a mim. Porra como posso ajudar alguém se eu não sou as atitudes que transmito, desde então resolvi me afastar e trabalhar nisso, pretendo voltar e fazer a parada com total entrega. Acredito que para fazer determinada ação deve se ter um nível de maturidade e vivencia para que com isso possa extrair o máximo dali e o caso do confrade que pelo seu relato demonstra isso, por isso o total retorno.
- A verdadeira liberdade está no domínio absoluto de si mesmo (Montaigne).





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#12
Esse relato do Mentefantastica me fez lembrar de um colega que tive na adolescência e depois tive notícia de que ele virou mendigo. Acredito que os mendigos tem um problema que vai além das dificuldades, uma doença da alma mesmo. No caso desse meu colega a família o quer, mas ele sempre acaba saindo de casa e voltando para as ruas. Uma lembrança negativa que tenho dele foi que ele enveredou muito cedo pelo caminho do alcoolismo, ficando bêbado de desmaiar pelos lugares, isso quando tinha uns 16 anos, hoje deve ter uns 33/34 anos.

Aqui em BH tem um mendigo que acho intrigante, sempre o vejo na região do Barro Preto até perto da estação do metro da Gameleira, que é próxima a um parque de exposições famoso aqui que tem o mesmo nome. Esse mendigo não tem as pernas, anda sobre um skate transitando em avenidas de trânsito rápido, nunca o vi constrangendo ninguém, sempre na dele, se empurrando de um lado para outro no skate. Por estar nas ruas penso que é alvo fácil, mas o anos passam e ele está sempre por aí nas ruas.

Gostaria de entender o que realmente se passa no íntimo dessas pessoas.
Membro Associado da Marmito Man Corporation

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#13
Antes de mais nada, parabéns pelas experiências e por ter compartilhado conosco!

Sobre os mendigos.
Já atuei em um sopão e fazia doações para algumas ONGs com essa proposta de ajudá-los, porém desisti e saí disso. Não notava progresso algum naquelas atividades, e irregularidades como falta de prestações de contas, além da sensação de que nada era feito para resolver o problema na fonte (inserí-lo na sociedade), mesmo quando o mendigo já estava nessa proposta há meses. Ou a ajuda era ineficiente, ou a pessoa não queria ser ajudada e sair daquela condição de vulnerabilidade.
Eu levo muito a sério aquela famosa expressão: "ensinar a pescar, e não dar o peixe".

Outro fato "curioso":
Trabalhei em um local que ficava em frente a uma casa de amparo aos moradores de rua, mantida pela prefeitura. Era um puta espaço. E da minha janela, dava para ver o interior. Lá os caras recebiam alimentos, havia um espaço para dormir e tomar banho, e acho que ministravam alguns cursos para ver se conseguiam tirar o cara das ruas. Acontece que no final das contas, essa casa foi fechada porque os progressos eram mínimos e os custos eram altos, além de supostas irregularidades.
Houve um forte debate sobre a natureza desse tipo de ajuda, porque não estava resolvendo a situação. Eles continuavam marginalizados e nas ruas, os exemplos de sucesso eram pouquíssimos. Fora ainda aquele profundo debate de que se essa ajuda realmente serve ao propósito de retirá-los dessa condição (e resolver esse tipo de problema), ou se querem apenas dar um pouco de conforto e mantê-los nessa situação. Um detalhe que não posso deixar de mencionar, é que ao lado dessa casa de amparo, em uma rua paralela (uma distância de uns 50 passos), ficam aquelas putas thrash, daquelas que cobram 20 lava-jatos, fodem sem preservativo e o cara tem que comer ela na rua ou em um terreno baldio. Não apenas isso foi mencionado ao fechar a casa, mas como eu presenciei também, os mendigos receberem algumas doações e iam lá trocá-las por sexo com as GPs.
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#14
Cara, vou ser sincero. Não curto ajudar pessoas na rua, mas não faço isso porque já vi uns vagabundos desses assaltarem minha casa e levarem tudo, fiquei no veneno. Chegaram, botaram uma arma na minha cabeça e eu perdi tudo que eu batalhei por tanto tempo. Antes eu dava dinheiro pra esses caras, agora quero que eles se ferrem, não consigo destinguir quem é honesto ou não é, deve ter gente honesta, mas não estou disposto a arriscar minha segurança em prol de bondades... 
Eu gosto de ajudar pessoas que eu conheço e precisam de necessidades, eu até gostaria de ajudar pessoas mais carentes, mas a violência ta tão alta que eu tenho receio.
O pior fracasso do homem é não conseguir se levantar após uma porrada. Fight.
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#15
(21-04-2016, 02:19 PM)MenteFantastica Escreveu: Há quase 2 meses comecei a participar de um projeto social encabeçado por alguns jovens da minha igreja, atualmente somos cerca de 12 pessoas. Uma vez na semana, nos reunimos, preparamos marmitas de excelente qualidade (comida boa mesmo, nada de sopa), levamos roupas, calçados, lençóis que recebemos de doações, e saímos sempre a noite, retornando por volta da 00:30 1h da manhã. Fazemos um trajeto grande, e onde enxergamos um mendigo nós paramos, geralmente fazemos 45-50 marmitas, ou seja, temos contato com esse número de pessoas toda semana.

O intuito do nosso projeto é resgatar esses moradores de rua e reintegrá-los a sociedade e principalmente as respectivas famílias. Já conseguimos tirar um senhor na casa dos 40 anos da rua, ele está num centro de recuperação aqui do RJ, e em breve iremos tentar levá-lo a sua família.

Tópico foda! Adicionei +1 na sua reputação. Tem muitas lições que podemos tirar da sua experiência. Na minha igreja tem um projeto bem parecido, já me chamaram algumas vezes, mas eu sempre recusei.

(21-04-2016, 02:19 PM)MenteFantastica Escreveu: O que percebi é que 80% são homens, 20% mulheres. Os homens são maioria esmagadora nas ruas, pelo menos aqui onde fazemos o trabalho. Muitos até vindos de outros estados do país e que chegaram aqui das maneiras mais loucas possíveis.

Já reparei isso aqui no DF também. Porque será que isso acontece?


(21-04-2016, 02:19 PM)MenteFantastica Escreveu: Então juvena chorão, você que fica reclamando nos fóruns por não pegar mulher ou que fica o dia todo pensando em planos mirabolantes pra pegar mulher: até mendigo tem mulher, de tão simples que elas são. Eles não têm carro, casa, nem são bombados, são apenas homens, caras extremamente viris (quer mais virilidade do que sobreviver na rua?) que não ficam de mimimi e que as mulheres enxergam neles um protetor. Talvez você esteja pensando agora ”Ah, Mente, mas são mulheres feias e acabadas” de fato são, mas percebam que o nível da mulher é proporcional ao desenvolvimento do cara? Se queres uma top, seja top já dizia o SK. Estou dizendo que esses caras não correm atrás de mulher, mulher é a última prioridade do cara que tá na rua, ele tá atrás de comida, de não levar uma facada, de ter um lugar pra ficar, a mulher chega como consequência na vida deles, querendo a proteção que eles podem oferecer.

[Image: ?u=http%3A%2F%2F3.bp.blogspot.com%2F_QyF...da.jpg&f=1]

(21-04-2016, 02:19 PM)MenteFantastica Escreveu: Acontece que nesses 2 meses eu tenho refletido muito sobre a vida, interiormente eu me sinto muito bem, na verdade bem pra CARALHO [Image: fuckyeah.png] nunca tinha imaginado que a sensação de ajudar pessoas que não podem te oferecer nada em troca, seria tão boa e forte. É uma parada que não dá pra descrever, só vivendo isso pra entender na prática. Tenho encarado a vida com muito mais vigor, com muito mais vontade de vencer, com muito mais gratidão pelo que tenho. [..] Eu percebi que tenho muitos motivos para ser grato a Deus pelo que tenho.

Força e Honra!

Depois que ouvi a sua experiência, fiquei interessado e vou aceitar o convite do pessoal da igreja e ir algumas vezes só para ver como é que é.
“A maior necessidade do mundo é a de homens — homens que se não comprem nem se vendam; homens que, no íntimo de seu coração, sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus.” Ellen White, Educação, Pág 57.
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#16
Todo dia eu encho com água uma garrafinha plástica e deixo no congelador, assim a noite quando vou treinar levo ela totalmente congelada e durante o treino fico enchendo a parte vazia no bebedouro e tenho água bem gelada o tempo inteiro.


Outro dia sai da academia e estava indo a pé pra casa, na minha garrafinha ainda tinha bastante água e uma pedra de gelo grande dentro. Um cara jovem e bem magro, mal vestido e sem banho há muitos dias me abordou e implorou: "me dê um pouco de água gelada, por favorrr!!", ele pegou uma garrafa plástica vazia e falou: "ponha um pouquinho aqui pra mim! Por favor, ponha um pouco de água gelada!".

Eu olhei pra minha garrafa, pensei um pouco e dei ela pra ele. Falei: "pode ficar pra você". Ele ficou tão feliz e tão agradecido que queria me dar a garrafa plástica vazia dele em troca, como agradecimento e pra não me deixar sem garrafa.

Coisa simples, mas eu fiquei tão feliz em poder fazer isso e ver a felicidade do cara. Juntando todas as coisas que já paguei pra vadias, não valem um décimo da alegria que esse cara sentiu em ganhar minha garrafinha com água bem gelada. Fui pra cama feliz essa noite.
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#17
Citação:Depois que ouvi a sua experiência, fiquei interessado e vou aceitar o convite do pessoal da igreja e ir algumas vezes só para ver como é que é.


Fui com o pessoal da igreja hoje. Eu achei muito interessante de ver como é! E me fez refletir bastante sobre a vida. Talvez tenha sido pelo fato de eu quase ter virado morador de rua nos Estados Unidos quando o meu dinheiro acabou! Big Grin Big Grin Big Grin 

Entregamos umas 38 marmitas, foram 37 homens e 1 mulher. Essa única mulher estava acompanhada de outro morador de rua, era a mulher dele. De fato, até morador de rua tem mulher. Big Grin

Quando eles já jantaram, eles não aceitam a marmita, para que possamos ir embora e procurar outro morador que esteja passando fome. Eles tem esse senso de companheirismo com outros moradores de rua que nem conhecem.

Os que tem documentos conseguem receber um auxilio vulnerabilidade pago uma única vez pelo estado de quatrocentos e poucos reais. E o bolsa família de cento e poucos reais mensalmente.

Alguns moradores de rua são muito lúcidos e até inteligentes, dá para se conversar com eles tranquilamente, outros já não tem como conversar nada e outros percebe-se que estão drogados ou bêbados. Alguns estão lá porque passaram pelo inferno da paixão, pela matrix, sofreram uma porrada tão grande que nunca mais conseguiram se recuperar, usaram as drogas como uma fuga da desilusão amorosa que passaram e aí entraram em um ciclo destrutivo que os levaram a situação atual.

Realmente, a Real salva vidas. Alguns deixaram a casa com a mulher e os filhos e ficaram sem onde morar e foram parar na rua e as vezes se reconciliam e voltam para a mulher, os filhos e a casa.

Outros simplesmente foram fazer um tratamento médico, vieram de outro estado e não conseguiram dinheiro pra passagem pra voltar e acabaram morando na rua. Existem várias histórias diferentes. É interessante como isso afeta a gente. Me fez me sentir muito mais grato pela minha vida, pelas coisas que eu tenho, por ter uma renda, uma casa e uma família para me ajudar em momentos de apuros. Coisas simples que as vezes a gente esquece de valorizar.

Também é uma sensação indescritível poder ajudar uma pessoa que não pode te retribuir, tem alguns que ficam muito gratos pela marmita que entregamos que dá pra perceber como isso afeta eles profundamente, se emocionam e começam a chorar, é muito interessante ajudar uma pessoa realmente quer ser ajudada.
“A maior necessidade do mundo é a de homens — homens que se não comprem nem se vendam; homens que, no íntimo de seu coração, sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus.” Ellen White, Educação, Pág 57.
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#18
Mendigos:

Uma simples coisa que você faça, que seja algo para eles comerem, um copo d'água gelada ou alguma assistência, eles ficam extremamente felizes. E eles se sentem "mal" por não poder retribuir isso. Eles ficam muito emotivos, o que é bonito de ver, e querem mostrar que fariam algo em troca pela sua bela ação, mas infelizmente eles não têm nada a oferecer.

Senso de gratidão: 100



Mulheres do séc XXI:

Você passa em casa, busca, leva a um bar legal ou restaurante, paga a conta, e ela não faz cara nenhuma, pra ela você não fez mais que a sua obrigação. E se o barzinho não era realmente badalado, o restaurante não era chique ou seu carro é popular/velho, há o risco dela ainda fazer cara de bunda, afinal ela merece mais que isso, né?!  (merece dentro do ego dela)

Senso de gratidão: ZERO
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#19
(10-05-2017, 09:42 AM)TheOak Escreveu: Mendigos:

Uma simples coisa que você faça, que seja algo para eles comerem, um copo d'água gelada ou alguma assistência, eles ficam extremamente felizes. E eles se sentem "mal" por não poder retribuir isso. Eles ficam muito emotivos, o que é bonito de ver, e querem mostrar que fariam algo em troca pela sua bela ação, mas infelizmente eles não têm nada a oferecer.

Senso de gratidão: 100



Mulheres do séc XXI:

Você passa em casa, busca, leva a um bar legal ou restaurante, paga a conta, e ela não faz cara nenhuma, pra ela você não fez mais que a sua obrigação. E se o barzinho não era realmente badalado, o restaurante não era chique ou seu carro é popular/velho, há o risco dela ainda fazer cara de bunda, afinal ela merece mais que isso, né?!  (merece dentro do ego dela)

Senso de gratidão: ZERO

 Os mendigos ficam felizes com um simples bom dia, eles nem esperam isso da sociedade, quando recebem ficam felizes à beça, um simples bom dia é bem recebido por eles como algo grandioso.

  Agora vá da bom dia pra uma mulher do século XXI...
 

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#20
Já que deram up no tópico... infelizmente o projeto aqui na minha igreja teve que parar por algumas circunstâncias que me deixaram muito puto, sinto falta disso mas vida que segue, ainda vou fazer isso em menor escala mas por conta própria.

Bom relato Libertador, essa experiência nos traz mudanças na perspectiva da nossa vida, só de ler esse relato de novo já me deu um up.

TheOak tocou num ponto importante, gente que vive na rua totalmente marginalizados pela sociedade são cheios de gratidão, ficam extremamente felizes com qualquer gesto de bondade e não é fingimento, agora mulheres hoje em dia não têm 10% dessa gratidão e vivem fingindo felicidade.
Esforça-te, pois, e sê homem. (1 Reis 2.2)

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