11-05-2018, 10:59 AM
(11-05-2018, 08:24 AM)Héracles Escreveu: Infelizmente, o que muitos não aceitam é que para vencer a timidez será necessário altas doses de sofrimento e vergonha...ficar procurando atalhos ou aceitação por ser tímido é querer fugir da dor. A única solução é dar a cara a tapa e aprender com os erros.
Tenho que concordar com essa parte. Embora a maioria não saiba eu sempre fui absurdamente introvertido e tímido, muito mais do que a grande maioria de pessoas que ficam falando que são tímidos mas conseguem conversar normalmente com outras pessoas e em grupos de conhecidos, eu não sei como isso começou mas desde que me entendo por gente eu sou daqueles que tinham vergonha até de responder o nome na chamada da escola quando o professor falava o nome. Tímido ao ponto de quando ter que apresentar um trabalho na frente da turma eu ficar com as mãos tremendo, suando frio, gaguejava, as vistas escureciam, eu passava mal mesmo. Não conseguia dormir na noite anterior ao dia de ter que apresentar um trabalho na frente da sala de aula. Então era algo bem complicado. E não foi só durante o ensino fundamental, mas durante o ensino médio e a faculdade também.
E por mais que eu me convencesse de forma racional que aquilo era uma tremenda estupidez e que não tinha motivo algum para reagir assim, quando eu entrava em uma roda de colegas de sala ou na sala de aula o pavor tomava conta, apesar de eu racionalmente saber que não tinha fundamento aquela timidez, o emocional sempre tomava conta quando chegava a hora. Sei lá se era fobia social ou que nome dão pra isso hoje, mas era tanto para conversar com uma pessoa desconhecida, com dois ou mais colegas, ou para apresentar trabalhos. Era o tempo todo. Eu percebi que se eu não fizesse algo e continuasse empurrando pra frente eu nunca conseguiria resolver isso e passaria a minha vida inteira com dificuldades pra fazer as coisas mais básicas.
Mas aí eu só consegui mudar quando fiz exatamente o que o Héracles postou aí. Vou postar alguns pontos em que em vez de fugir da dor eu caminhei em direção a ela e que servem de sugestão para você resolver o problema na prática:
- Me mudei propositalmente para uma universidade no Brasil e depois outra no exterior que se morava em dormitórios e dividia o quarto com mais 3 estudantes do mesmo sexo, e comia o café da manhã, almoço e janta em um refeitório com todos os outros estudantes do campus, exatamente igual aquelas universidades americanas em que se vê nos filmes. Isso te forçava a conversar 24 horas por dia, e até os tímidos se juntavam em grupos. Não tinha como se isolar de contatos sociais. O que me levou a me acostumar a conversar com pessoas diferentes o tempo todo. E com o tempo isso foi se tornando mais natural para mim. E esse período me ajudou muito.
- Me forcei a trabalhar em um emprego de vendedor de porta em porta em que eu tinha que bater na porta de desconhecidos e oferecer produtos. O que foi extremamente difícil do inicio ao fim para mim e só consegui permanecer 1 mês no emprego.
- Fiz um curso de oratória pago juntamente com um amigo extremamente tímido em que tínhamos que ficar apresentando coisas e respondendo de improviso na frente da turma e lá que eu vi como até mesmo homens de 40 anos se tremiam por completo pra falar em público ali na sala eu percebi que se eu não resolvesse isso logo, eu passaria a vida toda carregando esse "trauma" de falar em público e com outras pessoas desconhecidas. E isso seria como uma prisão dentro de mim mesmo.
- Conheci o PUA, li os materiais, tinha alguns legais sobre timidez, mas todos levavam a um só ponto, sair e praticar, então eu sai com mais 1 amigo tímido que nem eu para "sargear" e abordar "HBs", foi bem difícil usar o script ensaiado nas primeiras vezes, e depois de poucos foras e tentativas fracassadas, nós desistimos. Cheguei a fazer alguns dias do desafio stylelife, o que também ajudou, era forçar a superar a timidez por etapas, começava com coisas idiotas como ficar na frente do mcdonalds e perguntar para alguém que passasse onde ficava o mcdonalds, ou perguntar as horas para algumas mulheres bonitas, a ideia era criar o hábito de falar com estranhos. O que já era difícil pra mim e meu amigo naquela época, mas fizemos vários dias do desafio de 30 dias.
- Precisavam de alguém para pregar em uma igreja pequena porque o pastor teve um problema e eu me ofereci apesar do medo extremo, me arrependi de ter me oferecido, mas não voltei atrás e fui lá e preguei, a pregação foi da forma mais errada possível porque o pavor tomou conta de mim na hora da pregação, falei rápido demais, gaguejei muito e quase ninguém entendeu o que eu disse durante o culto todo.
- Eu poderia permanecer traumatizado, mas depois de alguns meses em outra igreja precisavam de outra pessoa para pregar e apesar do medo eu aceitei de novo e fui, gaguejei, tremi as mãos, suei bastante, mas a pregação já foi melhor do que a anterior, apesar de também ter sido ruim.
- Comecei a participar de um tipo de luta e comecei a me arriscar a participar de campeonatos, participei de campeonatos estaduais. O que foi também bem difícil mas me forcei a isso. Eu tinha mais medo de aparecer em público no ginásio com as câmeras e familiares assistindo do que do adversário em si.
- Por necessidade financeira extrema me tornei professor, pois era o único emprego que arrumei e precisava muito do dinheiro, e isso me forçou a dar aula para 4 turmas de 40 alunos que eram mais velhos do que eu e muitos já estavam formados em cursos superiores e concursados em concursos como senado, ministério público e etc, esse foi o período mais difícil que enfrentei de todos. E eu nunca teria aceito fazer algo tão extremo e difícil se eu não tivesse realmente precisando muito daquele dinheiro. Nas primeiras aulas eu não falei quase nada, só passava exercícios em grupo e colocava eles para falar, até ir ganhando confiança e ir falando mais com a turma e passando menos exercícios. Mas uma coisa interessante aconteceu nesse período que foi aqui que eu finalmente superei a timidez e medo de falar em público por completo. O fato de todo dia eu ir deliberadamente para a frente de um monte de pessoas adultas dar aula foi fazendo com que cada dia eu ficasse com menos medo de ficar em público e de dar aula. Os primeiros dias foram apavorantes, eu quase desisti, aliás, no segundo dia que eu cheguei na universidade eu desisti quando estava quase na porta da sala, e dei a volta e comecei a ir embora, mas lembrei que precisava MUITO do dinheiro, sentei em uma cadeira e depois com muita dificuldade voltei e entrei na sala para conhecer a nova turma. As primeiras semanas davam medo, mas já não eram tão apavorantes quanto os primeiros dias, e depois de alguns meses, vários meses, eu não só conseguia dar aula sem sentir medo nenhum, como comecei a me sentir a vontade e confiante em dar aula e comecei a fazer brincadeiras e com o tempo comecei a ser um professor durão do tipo que cobra bastante deles e eles ficam implorando para pegar leve no conteúdo e me chamando de carrasco, mas ao mesmo tempo as minhas turmas eram as que tinham as menores desistências das escolas.
- Continuei dando aula por um bom tempo, dei aula para muitas turmas diferentes em vários lugares diferentes. Na universidade, em cursos técnicos, cursos profissionalizantes, para todas as faixas etárias, dos 16 aos 60. Até me acostumar por completo com isso. Foi aí que de fato eu superei por completo o meu trauma de falar com pessoas e de falar em público.
- Mas eu ainda tinha dificuldades de falar com desconhecidos e também de tentar vender para eles. Fui vendedor nos EUA em kiosks de venda agressiva em que eu tinha que ficar abordando desconhecidos que estavam passando para empurrar produtos que eles inicialmente não queriam. O que também foi difícil no inicio, porque era um trabalho bem invasivo e as pessoas não gostam de ser abordadas por vendedores tentando empurrar produtos, a maioria dos vendedores desistia na primeira semana, mas eu já tinha passado por muita coisa e continuei e depois de algumas semanas eu me acostumei com isso e com a rejeição constante ao ponto de não me incomodar mais com a opinião alheia e sim com os meus interesses e objetivos.
E não foi fácil, não sei até que ponto isso é verdade, mas existem estudos que dizem que as pessoas tem mais medo de falar em público do que de morrer.
Todo mundo conhece a síndrome do Estresse Pós-Traumático. A mídia adora falar sobre isso, que é quando você passa por um nível de estresse tão forte que aquilo de certa forma te destrói e te torna aleijado. Mas o que poucos conhecem, e que a mídia rejeita propositalmente, é um fenômeno chamado Crescimento Pós-Traumático. Que faz justamente o contrário, você se torna melhor e mais forte ao ser exposto a traumas (problemas sérios mas não fatais). Os traumas em vez de te destruírem vão te tornando mais forte e mais resistente. E existem estudos sobre isso.
O que eu fiz voluntariamente, e algumas vezes, involuntariamente, como por necessidade financeira, foi me expor a traumas em que eu tivesse que enfrentar as minhas limitações ao extremo, e com o tempo eu fui aumentando a dosagem de dificuldades até superar todas elas. Chegando até o ponto atual em que eu tenho mais facilidade de falar em público e com estranhos do que a maioria dos meus colegas que eram extrovertidos e populares na época de faculdade e de ensino médio. Tanto que quando surgiu uma vaga para dar aula na universidade eu convidei um deles que era extrovertido e estava precisando de emprego mas ele não teve coragem de ser professor. E olha que quando eu era estudante, se eu fosse desinibido que nem ele já estava mais do que feliz.
Eu não só superei a minha limitação, que era bem maior do que a maioria dessas pessoas que se dizem tímidos, como também desenvolvi a minha habilidade de lidar com outras pessoas, em público, e com desconhecidos bem acima do que a maior parte da população. Para vocês verem que a pessoa pode ir longe, se em vez de ficar dando desculpas procurar meios de se superar.
“A maior necessidade do mundo é a de homens — homens que se não comprem nem se vendam; homens que, no íntimo de seu coração, sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus.” Educação, Pág 57.
