21-04-2018, 08:07 PM
Sei que deveria enterrar este tópico, mas chegou um momento do livro que ela começou a falar sobre maridos, e foi mais forte do que eu.
Entretanto há também homens de carne e osso no ambiente da mulher;
sexualmente satisfeita, frígida ou frustrada — salvo no caso muito raro de um
amor completo, absoluto, exclusivo — ela concede grande valor à aprovação
deles. O olhar demasiado cotidiano do marido não consegue mais animar sua
imagem; ela tem necessidade de que olhos ainda cheios de mistérios a descubram
ela própria como um mistério; é preciso uma consciência soberana em face dela
para recolher-lhe as confidências, despertar as fotografias apagadas, fazer com
que exista a covinha do canto da boca, esse bater de cílios que só a ela pertencem;
ela só é desejável, amável se a desejam, se a amam. Acomoda-se mais ou menos a
seu casamento, mas é principalmente a satisfação de sua vaidade que busca junto
dos outros homens: convida-os a participarem do culto que rende a si mesma;
seduz, agrada, contente em sonhar com amores proibidos, em pensar: “Se eu
quisesse...”; gosta mais de encantar numerosos admiradores do que se apegar
profundamente a um deles; mais ardente, menos arisca do que uma moça, seu
coquetismo pede aos homens que a confirmem na consciência de seu valor e de seu
poder; é muitas vezes ainda mais ousada porque ancorada em seu lar, e tendo
conseguido conquistar um homem, joga sem grandes esperanças nem grandes
riscos.
Acontece que, após um período de fidelidade mais ou menos longo, a mulher não
se detém mais nesses namoros e nessas faceirices. Frequentemente é por rancor
que se decide a enganar o marido. Adler pretende que a infidelidade da mulher é
sempre uma vingança; é ir longe demais; mas o fato é que muitas vezes ela cede
menos à sedução do amante do que a um desejo de desafiar o marido: “Não é o
único homem no mundo — há outros a quem posso agradar — não sou sua escrava,
acredita-se muito esperto e deixa-se enganar”. É possível que o marido ultrajado
conserve aos olhos da mulher uma importância primordial; assim como a moça, por
vezes, arranja um amante como revolta contra a mãe, como queixa contra os pais,
para desobedecer-lhes, afirmar-se, uma mulher que seus próprios rancores se
prendem ao marido procura no amante um confidente, uma testemunha que
contemple seu personagem de vítima, um cúmplice que a ajude a diminuir o marido;
fala-lhe deste sem cessar, a pretexto de entregá-lo a seu desprezo; se o amante não
desempenha bem seu papel, ela se afasta dele aborrecida, seja para voltar ao
marido, seja para procurar outro consolador. Mas é muitas vezes menos o rancor do
que a decepção que a joga nos braços de um amante; não encontra o amor no
casamento e resigna-se dificilmente a não conhecer jamais as volúpias e as alegrias
cuja espera encantou sua juventude. O casamento, frustrando a mulher de toda
satisfação erótica, denegando-lhe a liberdade e a singularidade de seus
sentimentos, a conduz, através de uma dialética necessária e irônica, ao adultério. (Pagina 544 Segundo e Terceiro Paragrafo após citação)
Esse trecho se assemelha muito a parte que Nessahan fala sobre como mulheres vem o marido como um mostro e o amante como o principe encantado, porem quando este vira marido o ciclo se repete, mas desta vez, o antigo amante é que é o mostro. Li o relato do conde ontem, e me as coisas se mostraram assim também, li o trecho a cima hoje, e pelo menos para mim, tudo se encaixou.
Nem todas as ligações acabam assim em conto de fadas. Tal como a moça, que
sonha com um libertador que a arranque do lar paterno, a mulher espera que o
amante a livre do jugo conjugal: é um tema frequentemente explorado o do
amante ardoroso que esfria e foge quando a amante começa a falar de casamento;
muitas vezes ela se sente magoada pelas reticências dele e essas relações são por
sua vez pervertidas pelo rancor e pela hostilidade. Ao se estabilizar,
frequentemente uma ligação acaba assumindo um caráter familiar e conjugal; nela
se reencontram o tédio, o ciúme, a prudência, o ardil, todos os vícios da
casamento. E a mulher sonha com outro homem que a tire dessa rotina.(Pagina 547 Primeiro paragrafo após citação)
Mesma coisa, mas de forma mais direta, é impressionante como dois opostos no fim acabam concordando tanto.
Entretanto há também homens de carne e osso no ambiente da mulher;
sexualmente satisfeita, frígida ou frustrada — salvo no caso muito raro de um
amor completo, absoluto, exclusivo — ela concede grande valor à aprovação
deles. O olhar demasiado cotidiano do marido não consegue mais animar sua
imagem; ela tem necessidade de que olhos ainda cheios de mistérios a descubram
ela própria como um mistério; é preciso uma consciência soberana em face dela
para recolher-lhe as confidências, despertar as fotografias apagadas, fazer com
que exista a covinha do canto da boca, esse bater de cílios que só a ela pertencem;
ela só é desejável, amável se a desejam, se a amam. Acomoda-se mais ou menos a
seu casamento, mas é principalmente a satisfação de sua vaidade que busca junto
dos outros homens: convida-os a participarem do culto que rende a si mesma;
seduz, agrada, contente em sonhar com amores proibidos, em pensar: “Se eu
quisesse...”; gosta mais de encantar numerosos admiradores do que se apegar
profundamente a um deles; mais ardente, menos arisca do que uma moça, seu
coquetismo pede aos homens que a confirmem na consciência de seu valor e de seu
poder; é muitas vezes ainda mais ousada porque ancorada em seu lar, e tendo
conseguido conquistar um homem, joga sem grandes esperanças nem grandes
riscos.
Acontece que, após um período de fidelidade mais ou menos longo, a mulher não
se detém mais nesses namoros e nessas faceirices. Frequentemente é por rancor
que se decide a enganar o marido. Adler pretende que a infidelidade da mulher é
sempre uma vingança; é ir longe demais; mas o fato é que muitas vezes ela cede
menos à sedução do amante do que a um desejo de desafiar o marido: “Não é o
único homem no mundo — há outros a quem posso agradar — não sou sua escrava,
acredita-se muito esperto e deixa-se enganar”. É possível que o marido ultrajado
conserve aos olhos da mulher uma importância primordial; assim como a moça, por
vezes, arranja um amante como revolta contra a mãe, como queixa contra os pais,
para desobedecer-lhes, afirmar-se, uma mulher que seus próprios rancores se
prendem ao marido procura no amante um confidente, uma testemunha que
contemple seu personagem de vítima, um cúmplice que a ajude a diminuir o marido;
fala-lhe deste sem cessar, a pretexto de entregá-lo a seu desprezo; se o amante não
desempenha bem seu papel, ela se afasta dele aborrecida, seja para voltar ao
marido, seja para procurar outro consolador. Mas é muitas vezes menos o rancor do
que a decepção que a joga nos braços de um amante; não encontra o amor no
casamento e resigna-se dificilmente a não conhecer jamais as volúpias e as alegrias
cuja espera encantou sua juventude. O casamento, frustrando a mulher de toda
satisfação erótica, denegando-lhe a liberdade e a singularidade de seus
sentimentos, a conduz, através de uma dialética necessária e irônica, ao adultério. (Pagina 544 Segundo e Terceiro Paragrafo após citação)
Esse trecho se assemelha muito a parte que Nessahan fala sobre como mulheres vem o marido como um mostro e o amante como o principe encantado, porem quando este vira marido o ciclo se repete, mas desta vez, o antigo amante é que é o mostro. Li o relato do conde ontem, e me as coisas se mostraram assim também, li o trecho a cima hoje, e pelo menos para mim, tudo se encaixou.
Nem todas as ligações acabam assim em conto de fadas. Tal como a moça, que
sonha com um libertador que a arranque do lar paterno, a mulher espera que o
amante a livre do jugo conjugal: é um tema frequentemente explorado o do
amante ardoroso que esfria e foge quando a amante começa a falar de casamento;
muitas vezes ela se sente magoada pelas reticências dele e essas relações são por
sua vez pervertidas pelo rancor e pela hostilidade. Ao se estabilizar,
frequentemente uma ligação acaba assumindo um caráter familiar e conjugal; nela
se reencontram o tédio, o ciúme, a prudência, o ardil, todos os vícios da
casamento. E a mulher sonha com outro homem que a tire dessa rotina.(Pagina 547 Primeiro paragrafo após citação)
Mesma coisa, mas de forma mais direta, é impressionante como dois opostos no fim acabam concordando tanto.
