12-05-2024, 02:52 PM
Salve. Pós almoço de dia das mães, estava ansioso para vir postar minha percepção do livro Flores Para Algernon. Terminei de lê-lo ontem.
Título: FLORES PARA ALGERNON
Autor: DANIEL KEYS
Terminei de ler Flores Para Algernon. A última vez que me senti tão envolvido emocionalmente com uma história foi em A Metamorfose, do Kafka. Acontece que aqui essa conexão é triplicada, quadruplicada, quintuplicada, pois você está literalmente acompanhando e lendo a vida de Charles Gordon através do seu diário, intitulado de Relatórios de Progresso. Ou Relatorios de Progreso? Tanto faz.
Bom, quando pensei em escrever o que achei do livro, fiquei pensando na linha tênue entre dar minha opinião de forma geral ou pormenorizar algumas situações e acabar dando spoiler aos camaradas.
Acontece que não há como ser superficial ao falar desse livro, mas também é quase criminoso dar spoiler dessa obra de arte em forma de livro. Por isso, peço perdão se der algum spoiler, mas já adianto que a sensação de ler esse livro é única, não percam essa chance.
Se eu pudesse fazer apenas uma recomendação nesse fórum, seria: leiam Flores para Algernon.
Muitas das situações vividas por Charlie Gordon também são vividas por nós.
A pesquisa, a ciência, a cirurgia, o Q.I. de 1 milhão de Charlie Gordon... nada disso supriu seu maior desejo desde o início: se sentir amado.
Quando eu tinha uns 18/19 anos, assisti a um vídeo do professor Olavo em que ele dizia que o conhecimento e a solidão andam de mãos dadas.
“O preço da consciência é a angústia”, e Charlie Gordon descobre isso da pior maneira possível: praticamente desde a infância, em sua relação quase que kafkiana com sua família, em especial sua mãe. Aliás, falam dele como se fosse um terceiro, um estranho. Lembrei-me de Gregor Samsa, metamorfoseado num inseto, vegetando em sua cama. Antes provedor da casa, autoridade, respeitado pelos familiares. Agora, desprezado cruelmente pela sua família, até literalmente morrer no seu quarto claustrofóbico e solitário.
Puta merda, que história triste do caralho.
Quantas foram as vezes em que me peguei pensando “Caralho, cara, as pessoas que conheço não fazem a mínima ideia do que é uma ditatura, um governo totalitário, o plano comunista e gramsciano, não sabem quem é Nessahan Alita, real, inflação, não sabem porra nenhuma. E vivem de boa, ocupando bons cargos e bons salários. Puta merda, olha só essas pessoas conversando essas futilidades, como conseguem? Que imbecis”.
A realidade é que muitas coisas que debatemos aqui por horas e horas a fio são completamente inúteis e irrelevantes no nosso dia a dia, mas nos achamos gênios por isso.
Mas será mesmo? É melhor ser inocente e “ter amigos” que riem de você (mas você não consegue ter discernimento disso), como Charlie Gordon, ou ser tão mais esperto e inteligente que todos e se sentir solitário, como Charlie Gordon? Duas faces distintas de um mesmo rosto.
Flores para Algernon não me derrubou apenas pela história do autor. Derrubou-me por escancarar minha própria hipocrisia.
Eu ficava extremamente irritado quando via os “amigos” de Gordon se aproveitando dele. Mas espera, não sou eu que me acho melhor do que todo mundo por saber o que é a porra da inflação e o que é Alita?
Eu já tive momentos de Charlie Gordon com Q.I. 68. Desgraçados filhos da puta.
Eu já tive momentos de Charlie Gordon com Q.I. 200. Caramba, agora eu sou o desgraçado filho da puta.
Eu terminei de ler, recentemente, o evangelho de Mateus. Quando Pedro nega a Deus três vezes (Jesus já havia o avisado), eu pensei “caramba, o cara tinha a oportunidade de conviver pessoalmente com Jesus e o negou, que otário”. Depois de alguns segundos eu refleti de novo “Porra, eu devo negar a Deus mais de três vezes todo santo dia, através dos meus pensamentos, ações, falta de oração, etc”.
É de partir o coração ler que ele conseguiu concluir sua pesquisa acerca do resultado da cirurgia em Algernon, pois acontecerá o mesmo com ele.
Sua racionalidade (quando ainda a tinha) de mandar Alice embora, mesmo a amando.
Seu desespero em tentar ler tudo o que consegue para tentar se lembrar de algo depois, mas em vão.
É um choque quando você começa a perceber que ele abandonara a vírgula. Não por querer, mas já não sabe mais usar.
É um nocaute quando os primeiros erros de ortografia aparecem. Reaparecem, na verdade.
Você assiste de camarote a ascensão e a degeneração intelectual e mental dele e não pode fazer absolutamente nada. Não há nada a ser feito.
Gordon do fim é o Gordon do início. Na realidade, nunca deixou de ser Charlie Gordon, sempre esteve ali, observando a si mesmo, sem saber se vivia melhor sendo um retardado ou um gênio. No apagar das luzes, é o que é.
Seu último pedido vai muito além de Flores para Algernon. São também flores para si mesmo. Flores para Charlie Gordon. O de Q.I. 68 e o de Q.I. 200. Flores para o imbecil e flores para o gênio. Cada um na sua angústia, mas também na sua vontade de querer ser mais.
Eu sempre gostei de livros desse tipo, mas esse foi diferente.
Livro irretocável, dificilmente perderá o posto de top 1.
Livraço!
Título: FLORES PARA ALGERNON
Autor: DANIEL KEYS
Spoiler Revelar
Terminei de ler Flores Para Algernon. A última vez que me senti tão envolvido emocionalmente com uma história foi em A Metamorfose, do Kafka. Acontece que aqui essa conexão é triplicada, quadruplicada, quintuplicada, pois você está literalmente acompanhando e lendo a vida de Charles Gordon através do seu diário, intitulado de Relatórios de Progresso. Ou Relatorios de Progreso? Tanto faz.
Bom, quando pensei em escrever o que achei do livro, fiquei pensando na linha tênue entre dar minha opinião de forma geral ou pormenorizar algumas situações e acabar dando spoiler aos camaradas.
Acontece que não há como ser superficial ao falar desse livro, mas também é quase criminoso dar spoiler dessa obra de arte em forma de livro. Por isso, peço perdão se der algum spoiler, mas já adianto que a sensação de ler esse livro é única, não percam essa chance.
Se eu pudesse fazer apenas uma recomendação nesse fórum, seria: leiam Flores para Algernon.
Muitas das situações vividas por Charlie Gordon também são vividas por nós.
A pesquisa, a ciência, a cirurgia, o Q.I. de 1 milhão de Charlie Gordon... nada disso supriu seu maior desejo desde o início: se sentir amado.
Citação:“Aprendi muito nos últimos meses – declarei. – Não apenas sobre Charlie Gordon, mas sobre a vida e as pessoas, e descobri que ninguém realmente se importa com Charlie Gordon, seja ele um imbecil ou um gênio. Então, que diferença faz?”
Quando eu tinha uns 18/19 anos, assisti a um vídeo do professor Olavo em que ele dizia que o conhecimento e a solidão andam de mãos dadas.
“O preço da consciência é a angústia”, e Charlie Gordon descobre isso da pior maneira possível: praticamente desde a infância, em sua relação quase que kafkiana com sua família, em especial sua mãe. Aliás, falam dele como se fosse um terceiro, um estranho. Lembrei-me de Gregor Samsa, metamorfoseado num inseto, vegetando em sua cama. Antes provedor da casa, autoridade, respeitado pelos familiares. Agora, desprezado cruelmente pela sua família, até literalmente morrer no seu quarto claustrofóbico e solitário.
Puta merda, que história triste do caralho.
Quantas foram as vezes em que me peguei pensando “Caralho, cara, as pessoas que conheço não fazem a mínima ideia do que é uma ditatura, um governo totalitário, o plano comunista e gramsciano, não sabem quem é Nessahan Alita, real, inflação, não sabem porra nenhuma. E vivem de boa, ocupando bons cargos e bons salários. Puta merda, olha só essas pessoas conversando essas futilidades, como conseguem? Que imbecis”.
A realidade é que muitas coisas que debatemos aqui por horas e horas a fio são completamente inúteis e irrelevantes no nosso dia a dia, mas nos achamos gênios por isso.
Mas será mesmo? É melhor ser inocente e “ter amigos” que riem de você (mas você não consegue ter discernimento disso), como Charlie Gordon, ou ser tão mais esperto e inteligente que todos e se sentir solitário, como Charlie Gordon? Duas faces distintas de um mesmo rosto.
Flores para Algernon não me derrubou apenas pela história do autor. Derrubou-me por escancarar minha própria hipocrisia.
Eu ficava extremamente irritado quando via os “amigos” de Gordon se aproveitando dele. Mas espera, não sou eu que me acho melhor do que todo mundo por saber o que é a porra da inflação e o que é Alita?
Eu já tive momentos de Charlie Gordon com Q.I. 68. Desgraçados filhos da puta.
Eu já tive momentos de Charlie Gordon com Q.I. 200. Caramba, agora eu sou o desgraçado filho da puta.
Eu terminei de ler, recentemente, o evangelho de Mateus. Quando Pedro nega a Deus três vezes (Jesus já havia o avisado), eu pensei “caramba, o cara tinha a oportunidade de conviver pessoalmente com Jesus e o negou, que otário”. Depois de alguns segundos eu refleti de novo “Porra, eu devo negar a Deus mais de três vezes todo santo dia, através dos meus pensamentos, ações, falta de oração, etc”.
É de partir o coração ler que ele conseguiu concluir sua pesquisa acerca do resultado da cirurgia em Algernon, pois acontecerá o mesmo com ele.
Sua racionalidade (quando ainda a tinha) de mandar Alice embora, mesmo a amando.
Seu desespero em tentar ler tudo o que consegue para tentar se lembrar de algo depois, mas em vão.
É um choque quando você começa a perceber que ele abandonara a vírgula. Não por querer, mas já não sabe mais usar.
É um nocaute quando os primeiros erros de ortografia aparecem. Reaparecem, na verdade.
Você assiste de camarote a ascensão e a degeneração intelectual e mental dele e não pode fazer absolutamente nada. Não há nada a ser feito.
Gordon do fim é o Gordon do início. Na realidade, nunca deixou de ser Charlie Gordon, sempre esteve ali, observando a si mesmo, sem saber se vivia melhor sendo um retardado ou um gênio. No apagar das luzes, é o que é.
Seu último pedido vai muito além de Flores para Algernon. São também flores para si mesmo. Flores para Charlie Gordon. O de Q.I. 68 e o de Q.I. 200. Flores para o imbecil e flores para o gênio. Cada um na sua angústia, mas também na sua vontade de querer ser mais.
Eu sempre gostei de livros desse tipo, mas esse foi diferente.
Livro irretocável, dificilmente perderá o posto de top 1.
Livraço!
Mateus 21:22