30-11-2023, 09:08 PM
(29-11-2023, 10:39 AM)Héracles Escreveu: Muito bem, retornemos aqui mais uma vez para trazer um livro que - penso eu - seja de um assunto convergente as discussões que temos no fórum.
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Resumindo, a história trata de um senhor de meia idade que desenvolveu uma paixão avassaladora por uma "lolita", ou seja, Dolores Haze, uma menina jovem, muito jovem... mais precisamente de 12 anos. A narrativa discorre sobre de todos os percalços enfrentados pelo senhor sobre como conseguiu obter e manteve seu prêmio de boca fechada.
Humbert Humbert se descreve, antes de mais nada, como uma pessoa doente. Mas não o tipo de doente que foi acometido por uma fatalidade qualquer e já não possui mais poder sobre suas ações. Ele tem total percepção da sua perversão e as implicações que isso causa em uma sociedade, inclusive gosta dela, gosta de ser do jeito que é. Sabendo disso, temos vários conjecturas com ares filosóficos e com dados históricos que ele faz uso para primeiramente justificar as suas ações, e em segundo lugar, justificar porque as lolitas são tão atraentes para todos os homens, por mais que a grande maioria nunca jamais admita ou se de conta disso. Mesmo sabendo que há muita perversidade aí, ele se sente de certa forma, justificado.
Confesso aos senhores que a leitura é bastante difícil, talvez intragável para almas mais sensíveis em muitos momentos. Me foi impossível não fazer um paralelo entre as justificativas do Sr. Humbert com as justificativas que lemos aqui da ala "casar com virgens santas". Me parece que essa perversão é muito mais comum do que talvez nós imaginamos, especialmente se tratando de senhores que prezam pela "honra e os bons costumes". Como não é de surpreender, o Sr Humbert é socialmente visto como um homem bom, bem educado, refinado até, calmo, incapaz de fazer mal a ninguém, ou seja, acima de qualquer suspeita mesmo já tendo passado algumas vezes por manicômios e tento inclusive enganado os "especialistas" da mente. Mas toda essa casca esconde um ser perverso, seus atos no decorrer da trama deixam isso bem evidente.
Mas voltando a questão da "virgem santa" temos algumas reflexões importantes que são levantadas na narrativa sobre a natureza humana. Dolores era uma lolita, uma jovem virgenzinha, sonho de muitos honradões da real, porém ela também tinha uma natureza perversa, por mais que fosse jovem e aparentemente "inocente", sua natureza também era desregrada desde berço. Tanto é verdade que o primeiro ato sexual do nosso querido casal foi ela quem teve a inciativa (essa parte foi difícil), e depois de alguns altos e baixos ficamos sabendo que mesmo com 12 anos, a moça já tinha alguma experiência na coisa toda, para grande surpresa do Sr. Humbert que se considerava um especialista em lolitas. Pois é, até ele foi enganado. Aliás, a definição de lolita não se refere especificamente a meninas jovens, mas sim, meninas jovens que tem um "trejeito", um olhar, intenções diferentes das meninas normais. Isso nos leva aquela velha discussão sobre o olhar diferente das mulheres com longa quilometragem, das famosas crentes do cu quente e etc. A questão é que a natureza da pessoa sempre vai se sobressair, não importando posição social, ou melhor, teatro social que ela emule.
Muitos idiotas aqui acham que o segredo para ter uma vida digna do lado de uma mulher é só se ela for virgem e nova... porém as lolitas estão aí para fazerem vocês sofrerem miseravelmente uma vez mais.
Para os Senhores que tenham filhos, especialmente filhas, eu diria que essa leitura é ainda mais fundamental. Fundamental para saber identificar canalhas pervertidos, pois ao longo da história Humbert descreve como um pervertido nato age, inclusive é meio chocante saber que coisas ordinárias são fruto de imenso prazer de um doente, como por exemplo encostar ou sentir o cheiro da pele de uma menina nova... (mais uma vez não se surpreendam com as semelhanças que vemos em alguns usuários do fórum) e também para saber se a sua querida filhinha pode ser uma criatura que possivelmente te dará muitos problemas no futuro. Todas as considerações sobre ciração e a rebeldia juvenil também são abordadas, dando algumas perspectivas interessantes quanto a criação de filhos que não sejam alvos de pervertidos.
Por fim, o narrador da história tem uma ar sarcástico que eu particularmente gosto muito, e por esse motivo e mais todos os outros que eu brevemente discorri aqui considero esse "romance" um dos melhores que eu já li, valeu cada minuto.
Irmao, confira O Deus Oculto no Canto do Corner, é do estilo que vc gosta.
"Mas o homem é a tal ponto afeiçoado ao seu sistema e à dedução abstrata que está pronto a deturpar intencionalmente a verdade, a descrer de seus próprios olhos e ouvidos apenas para justificar sua lógica."