Nada resiste ao custo do Estado Bostil

[Del Rey]

Vou fazer uma pequena confissão aqui.
Estou para abrir uma empresa de venda de um tipo de consumível para os meus clientes da empresa que trabalho.
Os caras já compram esse consumível de um outro cara que eu fico indicando. Eles compram uma coisa nossa que precisa da dele pra funcionar.
Então é assim: eu desenvolvo os clientes, vendo nosso produto e indico esse cara pra vender esse outro produto que complementa o nosso. É como se eu vendesse uma panela e esse cara a tampa da panela.
Nos últimos anos eu tenho indicado muitos clientes para esse cara, que não precisa procurar nada, só vender pra quem eu indico...
Meu patrão recentemente falou assim: POR QUE nós dois não fabricamos essa porra dessa tampa? Vamos abrir uma empresa a parte nós dois e pegar todos os clientes para nós, eles já são nossos mesmo...
Olha que moleza: simplesmente abrir uma empresa que já tem clientela CERTA. Já sondei os clientes principais que me disseram que passariam os pedidos para mim IMEDIATAMENTE.
Nunca vi coisa mais mole de abrir uma empresa que isso. Investimento de cerca de 300k de cada sócio pra compra do maquinário (eu tenho essa grana).
Só que... estou CAGANDO DE MEDO de investir numa empresa.
Mula, custo BR, impostos em cima de impostos novos que vem por aí, possíveis ações trabalhistas...
Sério, tô pensando 1000 vezes se não é melhor ficar no meu canto super confortável.
Fosse em outro país DECENTE, já tava come essa empresa aberta faz tempo, empregando de 5 a 10 pessoas.

Bostil é o único lugar do mundo inteiro que é mais inteligente abrir mão do lucro do que arriscar empreendendo. Para cada Caito Maia ou Alexandre da Costa, pelo menos 1 milhão morreram no grande filtro comunista do Batcuzil. 

Mas isso não parece ser seu caso... 

Só tenha atenção numa coisa: confiar na palavra de clientes! Nunca caía nessa armadilha. Você vai ter que oferecer vantagens para seus clientes em relação ao seu concorrente, porque quando o seu concorrente souber que você está fazendo o produto, além de ganhar um inimigo, ele vai tentar sobreviver no negócio e vai oferecer alguma coisa que consiga manter o clientela, vai ser a luta dele. E quando você ganha um concorrente que vem junto com ressentimentos e raivas, se for uma pessoa de má índole vai jogar sujo com você. E cliente, no final das contas, só quer uma coisa: custo-benefício. Todo esse papinho de "conta comigo" é só bullshit.

Bote na ponta do lápis enquanto tempo você pelo menos recupera os 300k investidos calculando o risco. Põe a dor de cabeça que vai ter, se o lucro realmente vai valer a pena, se vai ajudar escalar e lucrar mais ainda no negócio que você já tem, se você consegue se impor sobre seu sócio caso precise. Em muitas sociedades, vale a pena você investir mais um pouco pelo menos pra ter 51% do negócio pra ter o poder de decisão final.

Eu já desisti de vários empreendimentos simplesmente pela dor de cabeça tributária, burocrática e trabalhista. Muitas vezes é sacrificar o pouco dinheiro que juntou, arrebentar seu nome com empréstimos e sacrificar sua saúde, para ter um retorno pífio. Tenho um amigo que ele sempre faz a comparação: se você quer empreender no UmBralzil, meça o tamanho do negócio e sua escabilidade, e compare com o salário de um servidor público de médio-alto porte ou o salário+benefícios de um político. Se o seu negócio e toda luta que vem junto pra mantê-lo de pé, não pagar um salário de lucro pra você na mesma igualdade dos funças e dos políticos, não vale a pena. Para compensar o estresse, a perda de saúde, o risco de ruína financeira, tem que pagar pelo menos 60% do que um deputado do seu estado ganha. 

Existem negócios que o empresário se mata de trabalhar e não consegue tirar por mês um salário de vereador da cidade dele.

Digitando isso lembrei de um causo da loucura bostileira.

Eu gerenciei um supermercado certa vez, e nós tinhamos uma prática que já era feita há anos de empresa, de deixar todos os funcionários levarem para casa as quitandas que sobrassem ao fim do expediente, pois tudo seria jogado fora caso fosse um dia ruim de vendas e se não come no mesmo dia que são feitas, elas perdem, não dá pra vender no outro dia. Era muito normal todos levarem pães, salgados, brigadeiros, enfim. Sempre sobrava.

Até que um mágico dia recebemos um processo trabalhista de uma ex-funcionária que acusou o supermercado de fornecer pães velhos para os funcionários comerem, moral da história? Foi um dos maiores prejuízos da empresa, porque a juíza deu ganho de causa sem a funcionária provar absolutamente nada. E para não correr mais o risco, o supermercado decidiu não fornecer mais nada e jogar fora todos as quitandas que sobrassem.

Bostil é o único lugar do mundo que é mais seguro para o restaurante jogar a comida fora todos os dias, do que dar o que sobra para quem está na rua. Porque se quem estiver na rua comer e passar mal, a culpa é do restaurante. kkk