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ANCESTRAIS DO MUNDO MODERNO
#1
Muito bem Senhores, volto aqui para dar uma descrição sobre um livro que eu li recentemente – bem recentemente – que aborda questões que eu julgo ser pertinente para os temas propostos no fórum. Além disso, e bem na verdade, resolvi escrever sobre essa obra porque tive uma conversa em um seleto grupo com nosso grande líder e moderador máster @Libertador, que indiretamente me motivou a terminar essa leitura que eu havia deixado de lado a alguns anos atrás. Além disso, isso seria apenas uma resposta no Tópico sobre quais livros estamos lendo, mas acabei me empolgando – pois é um assunto do meu interesse - e achei melhor postar como tópico já que acabou ficando um pouco extenso. Acredito que Jack Donovan dispensa apresentações dentro dos ambientes da “menosphere” tupiniquim... todos já devem conhecer pelo menos um dos livros ou textos dele, e eu mesmo já fiz um bocado de tópicos abordando seus ideais.


Spoiler Revelar
[Image: 71klIOXcYOL.jpg]


I
Primeiramente é importante dizer que Jack Donovan desenvolveu toda a sua concepção de mundo a partir da filosofia nietzschiana, e essa obra em si aprofunda mais especificamente os conceitos de moral nobre e moral escrava cunhados pelo filósofo. Então, para um entendimento completo – pois as afirmações podem parecer “polêmicas” em alguma medida -, seria interessante tentar assimilar melhor esses termos que são tratados mais precisamente nos livros Genealogia da Moral e Além do bem e do Mal.

NOTA: Eu, como já disse em diversas oportunidades, e também por isso não é surpresa que eu acompanhe os escritos do Donovan, fui e sou profundamente influenciado pela filosofia de Nietzsche. Eu tenho todos os livros que ele escreveu, e dois que foram compilados post morten ... especificamente os dois livros citados acima eu já li mais de 5 vezes cada um, e sempre tenho uma impressão/descoberta nova e mais fundamental a cada leitura (inclusive estou lendo neste momento Além do Bem e do Mal, meu preferido, pela 6x). Por isso, nada do que o Donovan escreve me é estranho, e faço questão de sublinhar para quem se interessar procurar estudar Nietzsche por conta própria e não pelo que ouviu ou leu em algum blog religioso ou ateu ou por algum intelectual do youtube, afinal de contas como vocês verão a seguir, é importante assumir o controle da própria vida e das próprias escolhas e isso inclui os estudos. Não pense você que se caso você já tenha dado uma folheada em algum livro dele você esteja apto ou seguro para dar opiniões e interpretar toda a profundidade desta filosofia que é fundamental para entender o espírito e as inclinações humanas. Por isso, cuidado!

II

A primeira característica clara da obra é que assim como Nietzsche ele escreve em aforismos e considera esse estilo fundamentalmente importante, por isso é apresentada uma breve explicação sobre essa forma literária na introdução. Obviamente, a habilidade literária do filósofo em comparação, quando se trata de escrever em aforismos não pode ser comparada. O primeiro capitulo desenrola a temática do conceito “besta”, e qual a ideia por de trás deste termo incomum BESTA MAIS COMPLETA que como eu disse, surgiu a partir de noção de moral nobre e moral escrava delineada por Nietzsche. Sabendo disso, o que interessa especificamente para a Real e para o fórum é que os primeiros apontamentos que ele sugere para uma mudança de perspectiva de vida seria justamente deixar de ser um dos escravos, ou dito mais precisamente, deixar de ser mais um dos ressentidos com a vida.
III
Como é sabido, e muito bem inclusive, todo dia parecem novos idiotas que chegam aqui se queixando da própria vida, de como ela é injusta, de como o fulano que reclama é coitadinho e não teve sorte na loteria genética, não veio de uma família privilegiada, de como o estado fode a vida dos homens, de como as mulheres são endeusadas e paparicadas e bla bla bla ... Essa é, essencialmente, a moral escrava, a moral dos fracos, dos mal logrados, que esperam mesmo sem se dar conta disso, que uma entidade superior imaginária – seja ela divina ou terrena - resolva os seus problemas; que acham que todo mundo que tem algum sucesso na vida é malvado e que em algum momento no futuro eles são castigados por um juiz universal bondoso; que esse sujeito que se vê em sofrimento, sofre justamente porque é uma pessoa boa e o mundo é mal, ele não mereceria todas essas aflições em um mundo verdadeiramente justo; ele acha que a sua família, a sociedade, seu círculo social ou mesmo os colegas de fórum devem alguma coisa para ele simplesmente porque ele é “bom”, “honesto”, etc e tal e todo aquele chororô que já estamos cansados de ouvir. Veja bem você aí que se diz realista mas fica se menosprezando e culpando o ‘sistema’ a genética e as mulheres pela e sua situação lamentável, que fica dia e noite se preocupando com coisas as quais não tem controle nenhum ... você é fundamentalmente igual qualquer outro soldado dos direitos iguais que apenas mudou de time. Seu modo de agir e pensar é perfeitamente semelhante ao dos militantes revolucionários independentemente do fato de você acreditar em Deus, família e propriedade. Os que estão nessa faze de desenvolvimento – se é que posso definir dessa forma – estão presos no que é chamado no livro de armadilha. Trocam uma percepção de opressão por outra, mas continuam em essência e estado de espírito e de valorações vivendo da mesma forma. São passivos, estão esperando, vivendo num mundo amargo.
IV
Diferentemente de Nietzsche, Donovan acha que é possível um ressentido ascender para uma moral nobre a partir do processo de se tornar uma criatura mais ativa e menos passiva/reclamona. O inicio seria não aceitar tão facilmente o moral que é imposta, que conforme qualquer pessoa que tenha o mínimo de pensamento próprio sabe que ela é volúvel e muda conforme os desejos de quem governa e dita as regras. Nessa descrição dos processos de se adquirir novas perspectivas, o autor assumiu um viés“auto-ajuda” e isso se deu provavelmente pelo fato de ele acreditar que é possível sim qualquer pessoa ascender, ou seja, ele escreve para muitos, e quando imputa-se essa postura democrática se faz necessário usar uma linguagem que os fracos entendam... por isso o uso de um maneirismo que lembra ou propriamente seja auto ajuda, pois é a única linguagem que os mal dotados entendem.

V

Também é importante ressaltar sobre a tendência desse autor - assim como todos os outros desse “viés masculinista” - de romantizar períodos arcaicos da civilização humana - especialmente a Idade de Ferro - e isso de fato é algo que me incomodou e provavelmente incomodará muitos a ponto de desacreditarem tudo o que foi descrito. Basicamente, a fórmula para os homens modernos mudarem o modo de valoração seria readquirir as virtudes dos caçadores, a vida tribalista e predadora. A partir dessa afirmação, a autor dá algumas voltas no passado glorificando em demasia os seres humanos dessas épocas como se fossem divindades. Alguns anos atrás, essa tendência era uma coisa que não me incomodava – inclusive por isso eu comprei esse livro - e eu mesmo já fui um forte propagador dessa romantização exagerada. Mas com o tempo, e entendendo melhor as dinâmicas sociais e a complexidade do mundo moderno, eu entendi que é forçoso pensar dessa maneira tão apaixonada, simplesmente porque é uma coisa absolutamente impraticável. Evidentemente essas virtudes sempre serão úteis, até desejáveis eu diria, mas um exagero nessa afirmação acaba desvalorizando a ideia principal pelo absurdo entre o contraste do mundo moderno e o antigo, algo que é impossível de não levar em consideração por mais boa fé e “instinto de descrença” que você tenha.

VI

Esse é o principal motivo de eu ter afirmado anteriormente que o livro parece uma auto-ajuda em alguns apontamentos, porque essa martelação  incessante em adquirir um comportamento viril, predatório, guerreiro... se assemelha em muito aos papos de coach´s da virilidade que nós já enjoamos a muito tempo: “seja um predador no seu trabalho, na sua vida”. Nisso Nietzsche é muito superior, pois ele possui SIM uma romantização do período clássico grego e da renascença, mas é uma aproximação mais ampla, com perspectivas menos estéticas ou poderíamos dizer, menos comerciais. Ele enxerga a condição dos nossos ancestrais sempre de cima para baixo, definindo certos tipos de naturezas que vão ter atitudes sempre condizentes com a época ao qual se encontram. Já em Donovan temos a impressão que fica aquela necessidade de emular um comportamento baseado em personagens de ficções como os do seriado Vikings. Em Nietzsche nós vislumbramos a forma de pensar; o porquê que o guerreiro montado se preocupa com a honra e com a palavra dita e principalmente a não dita; com a aparência sempre majestosa; com suas atitudes sempre alinhadas aos seus valores; o porquê dele se preocupar em sempre estar com a armadura polida, e de fazer tudo ordenadamente bem feito; a preocupação em seguir as ordens sem reclamar e da mesma forma saber comandar sem hesitação... nós entendemos o que faz ele ser viril, qual a vontade que o move para agir dessa maneira, a representação que esse tipo de pensamento acabará tendo se torna quase que irrelevante, pois não é a essência mesma e de fato, pode ser - e será - copiada por qualquer um.
VII
A noção de plasticidade mental dos seres humanos dessas Eras – que é realmente o que garante a grande superioridade em relação a nós, modernos – meio que se perde do escopo da discussão quando se romantiza em demasia o seus modos de vida, ou seja, os símbolos dessa plasticidade. Romantizar o estereótipo “guerreiro” e seus rituais seria romantizar os símbolos e não a plasticidade mental em si. Precisamos antes incorporar a forma que eles pensavam e só então os rituais farão algum sentido. E tendo isso claro, se torna evidente que os rituais feitos hoje com o mesmo espírito guerreiro não têm como e nem podem ser iguais ao que eram no passado. Vejam a classe guerreira atual. Não atoa aquele sentimento de “vergonha alheia” nos vem imediatamente à boca quando vemos os representantes do neo paganismo e seus trajes e rituais característicos.  
VIII
Diferentemente da maioria eu não acho que a Real deva ser divulgada ou incentivada internet a fora ou ser transformada em partido ou ativismo político. Muitos escravos acham bom existir canais pau-no-seu-cu-pills e afins, pois pelo menos podem ser um start nos desavisados que talvez e com alguma sorte cheguem até os fóruns. Na minha concepção, os fracos tem que sucumbir no próprio fracasso – exemplos de tópicos relatando e descrevendo um comportamento autodestrutivo e autodepreciativo desses seres, que continuam nessa espiral de derrota mesmo depois de obter os conselhos mais sensatos possíveis é o que não nos falta - . Escravos são completamente balizados pela moral da compaixão, e todo e qualquer conhecimento de cunho realístico deve ser adquirido por quem tem coragem de procurar respostas, ou melhor, só pode ser compreendido por quem viveu pelo menos em algum período no sofrimento, no erro, mas mantendo a clarividência suficiente de não se perceber como vítima... a Real não deveria ser dada de bandeja simplesmente porque é, em primeiro lugar, uma perca de tempo. Esse fato pode ser facilmente verificável ao se observar que muitos caras acreditarem, com total convicção, que é possível apreender, obter sabedoria apenas LENDO SOBRE os erros alheios. Em suma, os fracos sempre acham subterfúgios mentias para TENTAR escapar do sofrimento, seja ele qual for. Mal sabem eles que a covardia inerente é o seu maior flagelo. Mas essa é SIM uma verdade dura de engolir. Além do mais, a partir do momento que uma coisa se torna popular perde-se o valor... quando o populacho põe as mãos sujas em alguma coisa não sobra nada de bom, tudo é violado ... e como é obvio, outra característica da nobreza é ser exclusiva e para poucos e a real é em essência um conhecimento nobre, pois abre as portas da soberania individual mesmo para o fulaninho suburbano que tem tinder e tiktok no celular. Mais uma vez falando o óbvio para os idiotas, LER E SER SÃO COISAS DIFERENTES!
IX
Outro ponto bastante pertinente que ele chama atenção e que é bastante comum neste processo de “mudança” é a tendência de o vassalo achar que pelo simples fato de conhecer esse mecanismo, de ter um vislumbre do pensamento elevado, ele automaticamente passará a ser um nobre de espírito. Inclusive é citado o exemplo dos seguidores de Juluis Evola e toda aquela galera da Europa Soberana - que tem a representação aqui no Brasil com o blog Legio Victrix - que se acham os seres arianos puros e de descendência nobilíssima pelo simples fato de entender a engenharia social socialista/mercantilista do planeta e ter algum tetravô de olho azul. Parafraseando uma passagem do livro, “são os nobres que passam o dia inteiro sentados numa cadeira discutindo em fóruns”. E, diga-se de passagem, tendência essa bem comum por aqui também, onde meia dúzia de blackpills que moram com os pais e não saem da frente do computador e que dizem fazer “jejum de dopamina”, se acham moralmente “superiores” e quase “divinamente virtuosos” comparados ao famoso mangina ou mesmo aos outros colegas de fórum que não acreditam, ou melhor, não aceitam as mesmas perspectivas tacanhas e limitantes. Desculpe dizer, mas se você é um desses fulanos, há uma enorme probabilidade de você ser farinha do mesmo saco de qualquer bluepill da internet e da vida real.
X
Tenha isso em mente sempre: o pano de fundo do livro é essencialmente a ideia de que o nobre FAZ, ele procura criar alternativas se não tiver nenhuma disponível. Ele não se preocupa em achar responsáveis ou caçar justificativas para o próprio erro ou para a própria miséria e principalmente, não dá justificativas para as suas ações. Ele não discute em fóruns sobre como isso ou aquilo deveria ser ou ter sido. Ele primeiro faz, DEPOIS DESCREVE – como todo homem sensato já aprendeu – e é uma personificação em vida e atitudes do conceito latim de virtus, que é igual virilidade. Toda discussão e racionalização sobre teorias, ideias, conceitos, termos... precisam ter como premissa a experiência própria, ou usando um termo nietzschiano, “devem ser digeridos  lentamente”, e FELIZMENTE  esse é mais um conceito que os ressentidos têm muita dificuldade em entender, por isso quem está do outro lado os distingue muito facilmente...
XI
No livro também é sublinhado, conforme a real sempre EXPLICITOU, a importância da discrição e de se manter fora dos radares do politicamente correto, justamente para não ser esmagado pela opinião pública de uma imensa maioria de retardados. Como é evidente, todo esse conhecimento e essa visão de mundo pode e SERÁ ofensiva para a maioria das pessoas que são demasiado frágeis e ignorantes para distinguirem conceitos filosóficos mais complexos. No geral, as pessoas são obtusas e levam conceitos e ideias ao pé da letra e de forma ofensivamente pessoal e sempre conforme a moda do momento. São super excitáveis e impressionáveis, seus instintos estão em desarmonia, por isso se detém na superfície das coisas, pois não há segurança em si próprios para se aprofundar fora da sua caixinha de conceitos ou mais precisamente, caixinha de verdades finais... diferentemente do outro tipo que é profundo, tem os instintos alinhados que proporcionam uma sensação de segurança e por isso mesmo precisam ter experiências desafiadoras e uma digestão lenta e preparada para alimentos pesados.  
XII
A principal característica da moral nobre que o autor define é que estes amam a ação e odeiam tudo que sequer lembre ressentimento. Eles fazem. Eles criam. Eles cultivam. ELES AMAM O PERIGO, E GOSTAM DA VITÓRIA TANTO QUANTO DA DERROTA. Só o fraco, o escravo possui medo do erro, do fracasso; só o fraco faz as cosias sempre procurando o benefício próprio; Para entender melhor toda essas afirmações lembremos de Nietzsche onde ele diz que o forte possui um transbordamento de forças e não teme desperdiça-la, na verdade ele precisa extravasar essa força, essa vontade, por isso ama o perigo pois quer subjugar tudo e todos - inclusive e si próprio... ele fará as coisas não com vistas ao próprio benefício mas com vistas ao aumento do próprio sentimento de força que em muitos casos não está relacionado com a  conservação própria e muito menos com o prestígio ou reconhecimento social... e essa prerrogativa provavelmente é a característica mais difícil de entender para os fracos, pois para estes não há sentido algum em fazer algo que possa ser considerado prejudicial a própria conservação. O fraco não possui esse transbordamento, seu lema último é a conservação do seu tipo, por isso se esquiva, trama, dissimula, se esconde... só procura coisas que lhe darão algum beneficio palpável. A aprovação alheia lhe é fundamental afinal ele não é capaz de criar valor pra si e por si mesmo, diferentemente do forte. Por este motivo mesmo, ele é ressentido, porque seu valor só pode ser dado a partir de fora e uma vez que ele se vê desvalorizado ou não valorizado o suficiente se torna frustrado, ressentido, amargo, rancoroso, medroso e cada vez mais desprezível. Cada vez ele precisa de mais métodos e novas fórmulas que expliquem a encaixotem a realidade, pois acreditar nessas verdades imaginárias é uma - a ÚNICA - segurança das suas vidas. Aqui a circulo se fecha.
XIII
Mais uma distinção importante a se fazer entre o pensamento de Donovan e o de Nietzsche é a fato que Nietzsche tem um viés bastante individualista, talvez dado o momento em que ele viveu. Já Donovan acha importante você desenvolver essas características dentro de um grupo, de uma comunidade ou mais especificamente de uma tribo que pensa da mesma forma e valora da mesma forma. De fato, criar uma comunidade de novos homens, o nós, que não vivem mais moralmente balizados por eles – o sistema todo que nós conhecemos -. E isso é bastante diferente de ativismo político, porque um ativismo político nesse assunto seria assumir os mesmos valores dos nossos opositores. Seria querer vencer pelas regras deles o que é obviamente impossível e idiota de se pensar. O que o livro propõe é viver à parte, não procurar aprovação dos fracos, que dito mais uma vez, são a esmagadora maioria. Não é preciso dizer como viver dessa forma pode ser perigoso e difícil, mas como já sabemos, os nobres amam o perigo e o desafio, pois a sua meta é ser sempre livre evitando ao máximo a vida escrava que conforme o sábio nos alerta, se não possuirmos pelo menos 2/3 do dia para nos cultivarmos, seremos escravos, não importa o quanto ganhemos.
XIV
Prosseguindo, quando entendemos todos esses mecanismos e entendemos que ser nobre é antes de qualquer coisa agir pelas próprias escolhas e assumir todos os riscos das mesmas sem choramingar feito uma puta, desenvolve-se o que o autor chama de terceiro olho ou olho do conquistador, do predador, que nasce na testa e só olha para frente, não para o lado, muito menos para trás (ver foto da capa). Eu não vou entrar em detalhes, mas quem for perspicaz já é capaz de entender. Na sequencia tem mais alguns apontamentos fundamentais que eu vou me abster de descrever. Pois como foi dito anteriormente, quem se preocupa em evoluir deve trilhar o próprio caminho... deve ir atrás do conhecimento e da experiência e como todo bom tutor, ou veterano de guerra, nós, os mais antigos do fórum damos as dicas, indicamos o caminho mas não levamos vocês no colo para enfrentar o mundo, para obter cicatrizes. Já trilhamos o caminho... quem tiver colhões que nos siga... mas siga por conta própria e sem esperar nada em troca, especialmente respeito de quem quer que seja. Quem sabe um dia você, jovem paspalho que assiste vídeos de pills no yutube, se junte a nós – o que eu sinceramente acho impossível –. E como hoje é sempre necessário dizer o óbvio de forma compreensível aos tapados, não pense você que eu estou me referindo LITERALMENTE a uma patente num fórum de desconhecidos, até porque uma legião incalculável de verdes nunca sequer chegará e saber o que é Real ou o Fórum. Da mesma forma que muitos verdes não passam de cretinos semi-adolescentes. O que eu refiro quando digo se juntar a nossa comunidade é algo mais sutil, mais pessoal, mais espiritual ... me refiro a estar no grupo dos homens plenos de vida e satisfeitos com a própria constituição, os que amam ser, de fato, HOMENS! e não buscam fórmulas para tudo; que assumem de coração aberto todos os riscos implícitos nessa postura; me refiro a nós, tão satisfeitos conosco mesmos que essa abundancia e segurança interna transparece em todo tipo de gestos e posturas, e justamente por isso se torna atraente para o sexo oposto sem nem mesmo elas se darem conta disso; de uma postura que é um porto seguro para quem se vê perdido e com medo, mas também é ameaçadora para todo tipo de ser mesquinho e traiçoeiro. Mas essas implicações já são coisas inapreensíveis para grande maioria dos leitores do fórum, principalmente os mais jovens, e para não cometer a deselegância e a desonra de falar de mais num ambiente onde falar pouco a acertadamente é uma virtude, encerro por aqui esse assunto.
  
Esse foi o meu apanhado geral sobre esse livro que é pequeno e dá pra ler em um ou poucos dias se você manjar de inglês. Os conceitos nietzschianos discutidos no livro podem servir como um primeiro esboço para quem não conhece a obra do filósofo, que é infinitamente mais profunda e minuciosa na navegação dos confins da alma humana do começo ao fim e do fim ao começo. Para finalizar, e eu deixo aqui o meu conselho final por hoje: todas as nossas descobertas e entendimentos mais profundos devem ser ditas ou escritas como se fossem tolices aos ouvidos de quem não é capaz de entender.

Força ...
"Compreendi o tormento cruciante do sobrevivente da guerra, a sensação de traição e covardia experimentada por aqueles que ainda se agarram à vida quando seus camaradas já dela se soltaram."  (Xeones para o rei Xerxes)

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#2
Perfeito! Nem precisa dizer que a crítica direcionada ao Jack Donovan é a mais patética possível e consiste nos chavões e jargões da moda além das designações: Influenciador da alt-right americana, Amigo do Steve Bannon, Guru dos machos em crise, etc.

A tônica da crítica ao masculinismo ou machosfera ou movimento redpill (não quero entrar no méritos de suas proposições) consiste na simples constatação de que homens livres são séria ameaça ao status quo e não vão aceitar passivamente todas as baboseiras impostas por um pequeno grupo de bilionários entediados sedentos de poder e controle.

I
Sobre o ponto I, tenho que ler as obras o Niestzche, já está na minha wishlist confesso que tive certa reserva em ler suas obras, motivado certa medida por uma 'propaganda negativa' da leva de sabichões que entendem todos os filósofos e pensadores a partir da wikipedia ou pelos cortes de podcast, pelo que eu vi em linhas bem introdutórias trata-se de um pensador que conseguiu mapear as nuances do comportamento humano de forma robusta e bem embasada.

II
Muito interessante este conceito de moral nobre e moral escrava (lembre-se que o conceito de moral tem o sua definição notadamente individual, diferente do ethos, que originou a expressão ética, esta relacionada a uma dimensão coletiva.

Colocando dentro do que pensa a Real, ela é de uma dimensão mais individual que coletiva, contribuindo um pouco para uma mudança de mentalidade, algo mais aplicável a promoção de uma mudança de postura e de mentalidade através da leitura de materiais e a interação entre os membros.

III
"Trocam uma percepção de opressão por outra, mas continuam em essência e estado de espírito e de valorações vivendo da mesma forma."

Interessante essa colocação: Um traço muito presente não só no Brasil mas de certa no Ocidental em geral é da crença freestyle na qual o mundo é medido a partir da sua própria régua, e de seus próprios conjuntos de crenças, talvez isso se dê pela:

- Concepção de paraíso na terra, oi da ideal de que processos revolucionários constantes levarão a uma sociedade perfeita
- Da ideia de que todo homem é ruim e com alguns chavões da moda bastam para transformá-lo em um ser virtuoso: A famosa sinalização de virtude.
- A crença de que cada um é um participante da mudança como um todo faça com que pensem ser transformadores de um planeta caído com uma humanidade essencialmente má, mas que se for criado um arranjo de leis e condutas, dá para todo mundo dançar tiktok juntos sem ressentimentos.

Acredito que esse mecanismo de terceirização é o principal sintoma de uma falta de amparo ou da confiança do homem modernos em crenças mais profundas.

IV
"Diferentemente de Nietzsche, Donovan acha que é possível um ressentido ascender para uma moral nobre a partir do processo de se tornar uma criatura mais ativa e menos passiva/reclamona. O inicio seria não aceitar tão facilmente o moral que é imposta, que conforme qualquer pessoa que tenha o mínimo de pensamento próprio sabe que ela é volúvel e muda conforme os desejos de quem governa e dita as regras."

Eu também penso isso aí, as modernas doutrinas pedagógica, as comodidades do mundo moderno, os esquemas de 'cultura familiar' são de certa forma agentes decisivos para formação do Ser, e eu acredito que as experiências de vida, as próprios processos de aprendizagem, o contato com a alta-cultura, ou a própria experimentação da dor e a frustração podem de alguma forma nos conduzir a um conjunto percepções mais profundas.

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#3
Marcando para ler depois.
Basta que o almejado ideal aconteça todos os dias para que a sonhada perfeição desapareça. 
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#4
I
Confesso que as obras de Nietzsche são um desafio para se ler. São densas e muitas vezes fragmentadas e não lineares. Além disso o bigodudo infeliz ainda usa a aforística e a ironia em sua escrita, o que torna a compreensão de suas ideias mais difícil ainda. Não é atoa que você está lendo pela sexta vez e continua aprendendo algo novo que não tinha reparado antes.

II
Em relação a Jack Donovan, ele tende a enfatizar a importância da masculinidade e do tribalismo em contraste com a cultura moderna que enfatiza a igualdade e a fragilidade. A moral nobre é associada com a virtude do guerreiro, que valoriza a força, a coragem, a honra e a lealdade. A moral escrava, por outro lado, é vista como aquela que é associada com a fraqueza, a submissão e a dependência.

Já Nietzsche discute a dicotomia entre o que ele chama de moralidade do senhor e moralidade do escravo. A moralidade do senhor é baseada na força e na autoafirmação, enquanto que a moralidade do escravo é baseada na submissão e no ressentimento em relação aos poderosos. Ou seja, a moralidade do senhor é aquela que é imposta pelos fortes e bem-sucedidos, enquanto a moralidade do escravo é aquela criada pelos fracos e oprimidos.

III e IV
Eu também vejo como o Donovan, de que é possível uma mudança de uma mentalidade para a outra. Obviamente é por isso que existe o fórum e os veteranos continuam postando aqui, se não acreditássemos que alguém pudesse mudar sua mentalidade de moral escrava para a moral nobre e buscar a excelência pessoal e desenvolvimento próprio esse fórum nem sequer existiria. Não haveria razão para isso. E quero só complementar o que você postou nesse item para os novatos do fórum:

Se você está aqui se queixando da sua vida, dizendo que é injusta e que foi vítima da loteria genética ou da sociedade, saiba que você está preso na armadilha da moral escrava. Essa é a mentalidade dos fracos, que esperam que alguém ou algo resolva seus problemas e culpam o mundo por suas aflições. Mas a verdade é que você é responsável por sua vida e precisa agir para mudar sua situação.

Não adianta ficar se lamentando, se menosprezando ou culpando o sistema, a genética ou as mulheres. Essas desculpas não vão resolver seus problemas. Em vez disso, você precisa assumir o controle da sua vida e desenvolver uma mentalidade de responsabilidade e disciplina. Isso significa identificar seus objetivos, traçar um plano de ação e trabalhar duro para alcançá-los.

Não estou dizendo que será fácil, mas é possível. Você pode superar seus obstáculos e alcançar seus sonhos se tiver a mentalidade certa. Isso significa cultivar virtudes como coragem, perseverança e autocontrole. Significa também reconhecer que a vida não é justa, mas que você pode escolher como reagir a isso. Em vez de se sentir oprimido, você pode se tornar mais forte e resiliente.

Não caia na armadilha da moral escrava. Não espere que a vida seja fácil ou que alguém venha salvá-lo. Assuma a responsabilidade por sua vida e comece a agir hoje. Seja um guerreiro e vença suas batalhas. Acredite em si mesmo e não pare de lutar. Essa é a mentalidade da moral nobre, a mentalidade dos vencedores.

Vou comentar só até o item IV (igual o @Fernando_R1) porque estou com o tempo corrido e não quero comentar às pressas, então depois com mais tempo vou comentar sobre os outros pontos.

(24-03-2023, 03:24 PM)Fernando_R1 Escreveu: - Da ideia de que todo homem é ruim e com alguns chavões da moda bastam para transformá-lo em um ser virtuoso: A famosa sinalização de virtude.

Só um complemento aqui, porque talvez alguns dos novatos não entendam bem o que é a sinalização da virtude, no meu entendimento ela é uma forma de hipocrisia, em que as pessoas fingem ser mais virtuosas do que realmente são para obter benefícios sociais.

A ideia de que basta adotar alguns chavões da moda para se tornar virtuoso é uma ilusão que as pessoas usam para se apresentarem como melhores do que realmente são. Além disso, a sinalização de virtude não passa de uma forma de ruído, que não contribui para a resolução de problemas reais, apenas vitimização.

A ideia de que alguns chavões da moda podem transformar um homem em um ser virtuoso é uma ideia vazia e sem substância que sempre vai os impedir de se libertar da moral escrava. E é exatamente isso que a esquerda quer dos seus seguidores.
“A maior necessidade do mundo é a de homens — homens que se não comprem nem se vendam; homens que, no íntimo de seu coração, sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus.” Ellen White, Educação, Pág 57.
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#5
Boas reflexões, como sempre. Não vou adentrar na discussão do assunto, pois não li nenhum dos dois autores e qualquer tentativa de explanar o tema ficaria forçado. Mas méritos para o texto por injetar doses de testosterona neste recinto.
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#6
Vou te falar uma coisa sobre este tópico

Irei fazer uma leitura mais aprofundada, com tempo e calma, para poder absorver melhor o que está escrito, e depois tecer algum comentário ou não.
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#7
... Continuando

V
Essa associação de uma valorização de períodos arcaicos faz sentido dentro da real situação de que a modernidade trouxe uma facilitação exagerada, criando uma espiral de comodismo que de certa atrofia a experiência humana, até nas suas relações mais banais, pois até cerveja você compra pelo App, nem mais para o bar você precisa ir mais ...

O que eu não gosto é dessa romantização, fica aquele negócio meio pasteurizado, dá para viver no nosso tempo, se adaptar a modernidade sem ela sequestrar nossa essência e sem precisar ser um embusteiro, como o camarada gravando vídeo no meio do mato para parecer sobrevivencialista; O conservador de suspensório e cachimbo para dar aquele ar de estilo, de sofisticação e autoridade intelectual; Andar de outfit de lenhador ... entre essa bobiças do caraças

VI
"Ele enxerga a condição dos nossos ancestrais sempre de cima para baixo, definindo certos tipos de naturezas que vão ter atitudes sempre condizentes com a época ao qual se encontram. Já em Donovan temos a impressão que fica aquela necessidade de emular um comportamento baseado em personagens de ficções como os do seriado Vikings. Em Nietzsche nós vislumbramos a forma de pensar"
.... isso é perfeito, honra, virtude e princípios não são embustes de aparências ou de uma emulação estética, mas sim são valores perenes e que continuam plenamente em vigor  

VII
"A noção de plasticidade mental dos seres humanos dessas Eras – que é realmente o que garante a grande superioridade em relação a nós, modernos ..."
Faz sentido, creio que o homem moderno erra no se arrogar de superior bem naquela noção de que hoje o mundo ou a sociedade são tese, antítese e síntese e que hoje temos coisas mais evoluidas, somos 'livres', independentes, temos democracia e outras pataquadas. De certa forma a grande massa é atrofiada por uma superficialidade e de uma dramática relação com sua própria existência.

VIII
Penso o mesmo, a Real deve ter a dimensão exclusivamente individualista, cada homem livre é uma estrutura invisível, impossível de rastrear e com maior poder de mudança que qualquer arranjo de mundo multipolar, talvez a dimensão daquele que queira ou acha que ser ignorante é uma bênção, tem um pouco a ver com a apreensão de uma moral de nível mais raso (moral escrava).

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#8
(24-03-2023, 03:24 PM)Fernando_R1 Escreveu: que homens livres são séria ameaça ao status quo

A crítica a Donovan que eu me referia e que eu mais verifiquei seria sobre essa espécie de "ritualização exagerada", que acaba cirando uma atmosfera cinematográfica em torno de si mesmo. E sem dúvida, homens livre serão sempre um problema na visão democrática do mundo... porém há uma outra crítica dentro dessa: a de que esses homens "livres" são livres, talvez, apenas na internet...pois continuam trabalhando em empregos normais, comprando no mercado, usando medicamentos, tendo contas bancárias, esperando a aposentadoria governamental, etc... ou seja, o seu ativismo é um ativismo apenas na internet, o que não prejudica em absolutamente nada o status quo.

Essa é uma critica feita dentro desses ambientes masculinistas, e por isso de no livro ter um capitulo especifico sobre a importância de se criar a sua (nossa) tribo... uma comunidade que começaria a viver sem depender de nada advindo do mundo "capitalista". Mas para muitos, isso é uma utopia.


(24-03-2023, 03:24 PM)Fernando_R1 Escreveu: Acredito que esse mecanismo de terceirização é o principal sintoma de uma falta de amparo ou da confiança do homem modernos em crenças mais profundas.

Em Nietzsche, falando em linhas gerais, essa "terceirização" advém de uma incapacidade - ou falando mais claramente, MEDO - do homem em aceitar a realidade. Seu conjunto de crenças foram herdadas, crenças essas que tem a base filosófica no Platonismo e o conceito de mundo ideal ... ou seja, uma falsificação admitida que modifica os aspectos perceptíveis da realidade em alguma coisa que seja "suportável". Parafraseando o filósofo, "um grande homem é medido pela quantidade de verdade que é capaz de suportar" ...  

Esse fenômeno é facilmente observado nas pills... na necessidade que os caras tem em construir padrões comportamentais que facilitarão a vida de uma maneira geral. Essa urgência em mitigar de alguma forma a aleatoriedade do mundo advém da inconciente percepção própria de incapacidade.


(26-03-2023, 11:11 PM)Fernando_R1 Escreveu: somos 'livres', independentes ...

Na minha opinião, uma das críticas mais fundamentais que Nietzsche desenvolve durante a sua vida é justamente a crítica sobre essa noção FALSA de livre arbítrio ... mas isso seria assunto para outro tópico... Gargalhada



(25-03-2023, 11:00 PM)Libertador Escreveu: São densas e muitas vezes fragmentadas e não lineares.

Sem dúvida. E ele fez isso de propósito. Suas primeiras obras seguem melhor um certo padrão, mas com o passar dos anos vão adquirindo cada vez mais um caráter poético e não linear. Por isso de muitos caírem em armadilhas interpretativas.

(25-03-2023, 11:00 PM)Libertador Escreveu: Ou seja, a moralidade do senhor é aquela que é imposta pelos fortes e bem-sucedidos, enquanto a moralidade do escravo é aquela criada pelos fracos e oprimidos.

A moral nobre é um tipo de percepção de vida que certas naturezas tem, e a moral escrava é uma inversão da valoração dos primeiros. Essa inversão se dá pela incapacidade dos fracos - dada a sua natureza - de avançarem na moral nobre, então se percebendo inexoravelmente em dependência, estes inverteram a valoração para se tornarem mandantes pois evidentemente, são a maioria. Falando mais uma vez em linhas gerais, a valoração escrava é a valoração dominante nos nossos tempos pois é "democrática".  

(25-03-2023, 11:00 PM)Libertador Escreveu: Eu também vejo como o Donovan, de que é possível uma mudança de uma mentalidade

Sem dúvida o fulano que realmente quiser e fizer por onde irá conseguir uma evolução, porém a sua natureza dificilmente mudará, pq esse é um processo que leva gerações. Nietzsche é um grande crítico da religião, mas ele mesmo diz em diversas oportunidades que a religião é algo NECESSÁRIO para certas pessoas como meio de evolução pessoal. Tudo o que falamos aqui entra mais ou menos nessa mesma noção, de que a real é NECESSÁRIA para certas pessoas progredirem.

Por exemplo, a pessoa que é incapaz de dominar seus impulsos, que não possui um instinto forte o suficiente que e ordene para uma única direção, necessita de doutrinas de caráter ascético justamente para não destruir a si mesmo... ou mesmo o fraco que se vê subjugado constantemente, poderia começar a adquirir um sentimento de soberania pessoal - de força - ao se forçar de se deixar levar por certos impulsos corriqueiros. Bem na verdade, isso é basicamente a real... aprender a se controlar.

(25-03-2023, 11:00 PM)Libertador Escreveu: porque talvez alguns dos novatos não entendam bem o que é a sinalização da virtude

Em linhas gerais, sinalização de virtude é a assunção de certas características por parte do sujeito devido a identificação com algum grupo. Mas inconscientemente nenhuma dessas características estão alinhadas com a sua natureza. Ele as assume, simplesmente para poder ter um vislumbre do sentimento de força em si mesmo.
"Compreendi o tormento cruciante do sobrevivente da guerra, a sensação de traição e covardia experimentada por aqueles que ainda se agarram à vida quando seus camaradas já dela se soltaram."  (Xeones para o rei Xerxes)

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#9
Nietzsche(é difícil escrever esse nome, tive que dar copicola Big Grin) é um autor um tanto quanto irônico, pois a sua vida pessoal não parecia ter essa nobreza que ele tanto pregava, se a filosofia dele era ouvir quem colocava as coisas em prática a sua filosofia se torna meio paradoxal, pois ele mesmo não colocava suas ideias em prática, pelo que eu sei dele até aqui, ele não era um homem forte, não tinha sucesso no amor e não era bem dizer completamente saudável.


Eu prefiro muito mais Dostoiévski(esse eu consegui escrever sem copicola, hehe) e tenho a impressão que Nietzsche no fim das contas é praticamente um de seus personagens que acabou realmente existindo no mundo real.

Aliás, isso é até bem interessante, porque Raskolnikov teve uma grande crise existêncial após ver um homem sendo atropelado por um cavalo em crime e castigo, e Nietzsche passou pela mesma experiência antes perder a razão, aliás, dizem que ele realmente acreditou estar dentro de um livro, talvez do próprio Dosto, que ele lia a admirava em sua juventude, e esse tenha sido um dos empurrões que fez ele enlouquecer de vez.

Dostoiévski também falava do ressentimento em seus personagens, o livro Memórias do Subsolo é um dos que, na minha visão, ele melhor retrata como isso corrói um homem, mostrando a vida do homem do subsolo.

Porém ele também cria personagens grandiosos, mas ao mesmo tempo, cheios de culpa, como Nikolai Stavróguin. 

Meu ponto é que Dostoiévski passou anos na cadeia convivendo com presos e vivendo como um criminoso na prática.

Tudo que o Heracles falou faz sentido, mas o Nietzsche parecia ser um cara que não colocava as suas ideias em prática, ironicamente, Dostoiévski pareceu colocar as ideias de Nietzsche em prática melhor do que o próprio Nietzsche.
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#10
(28-03-2023, 12:14 PM)Novo Mundo Escreveu: pois a sua vida pessoal não parecia ter essa nobreza que ele tanto pregava...

Bem, essa crítica é uma das mais comuns em relação ao filósofo. Primeiramente vamos definir o que entende por "nobreza"?

O conceito de nobreza que ele estabelece está bem definido em praticamente todas as suas obras, tendo isso em mente é meio que ilógico não fazer dessa conceituação um paralelo com a própria vida que ele teve.

(28-03-2023, 12:14 PM)Novo Mundo Escreveu: se a filosofia dele era ouvir quem colocava as coisas em prática a sua filosofia se torna meio paradoxal...

Acho que essa parte eu não entendi muito bem o que você quis dizer... mas em linhas gerais, NÃO, a filosofia dele não era ouvir quem quer que seja...

(28-03-2023, 12:14 PM)Novo Mundo Escreveu: pois ele mesmo não colocava suas ideias em prática, pelo que eu sei dele até aqui, ele não era um homem forte, não tinha sucesso no amor e não era bem dizer completamente saudável.

As ideias que ele desenvolveu e a compreensão da vida e dos espirito humano que ele vislumbrou, SÓ FORAM POSSÍVEIS DE SEREM DESENVOLVIDAS justamente porque ele não teve sucesso em vida, possuía um corpo frágil e doente e não teve sorte no amor. Mais uma vez, ele mesmo discorre sobre isso em vários livros.

Dito isso, a sua afirmação que diz "ele mesmo não colocava suas ideias em prática" evidencia que muito provavelmente a sua opinião sobre ele foi formulada com base nas opiniões de outros autores/pessoas, que não possuem uma visão ampla da sua obra. Repetindo, as ideias dele só foram possíveis porque ele viveu da forma que viveu.

(28-03-2023, 12:14 PM)Novo Mundo Escreveu: Eu prefiro muito mais Dostoiévski ...

Esse autor que eu também gosto - já falei bastante sobre ele por aqui inclusive - foi uma das grandes influencias de Nietzsche, no que ele considerava-o o verdadeiro psicólogo. Como você mesmo descreveu rapidamente no seu comentário, Dosto só pode ter todo esse conhecimento sobre a alma humana porque viveu de fato no lado que ninguém quer viver - inclusive você deve saber que ele era bêbado e viciado em jogos -  assim como no caso de Nietzsche que você critica porque teve uma vida desgraçada.

Desculpe mas isso sim me parece "irônico".

Talvez você considere Dosto mais nobre e "melhor" pq ele obteve sucesso em vida... ou talvez pq ele escrevia histórias, que são mais facilmente assimiladas do que uma filosofia fragmentária, ou simplesmente pq na verdade você não entende nada do filósofo, possuindo apenas uma ideia alugada de algum "pensador" que você admira ...  seilá

Em todo caso, se você continuar no caminho dos estudos talvez daqui uns anos se veja surpreso e um pouco envergonhado de não ter notado que Nietzsche e Dostoiéviski falam, em muitos sentidos, a mesma língua justamente por terem sofrido! 

(28-03-2023, 12:14 PM)Novo Mundo Escreveu: Nietzsche passou pela mesma experiência antes perder a razão...

Como eu disse, eu já viajei por toda a obra de Nietzsche e a impressão que eu tenho é que a loucura dele foi uma loucura premeditada... e sim, Dosto teve grande influencia nas ideias dele, desde os seus primeiros escritos.

(28-03-2023, 12:14 PM)Novo Mundo Escreveu: Meu ponto é que Dostoiévski passou anos na cadeia convivendo com presos e vivendo como um criminoso na prática...

Que ponto??

Eu li "Memória da casa dos Mortos" por indiciação lida em uma obra do Nietzsche. Tendo esse livro por base, o filósofo extrai a afirmação de que não é difícil notar que alguns dos melhores exemplares do tipo humano são criminosos perante o entendimento, a jurisdição e a moral dominante. Essa consideração deve ter te escapado, ou não deve ter sido muito bem assimilada, mesmo você se dizendo um "leitor" do autor russo, pois o próprio Dosto deixa isso bem claro em TODAS as suas obras que o prestígio social, reconhecimento não passam de um teatro. Esse seu livro descrevendo a prisão siberiana demonstra como podem existir seres humanos sublimes nas camadas mais desprezadas pelo prestígio social comum...

Considerando que você deve ter percebido esse detalhe nas obras de Dosto, você abstraiu que a filosofia de Nietzsche é "irônica"... ou seja, provavelmente não entendeu nada nem de um, muito menos do outro.

No mais, essa critica a obra do filósofo é muito "mainstrean" eu diria... conforme eu sujeri no inicio, LEIA OS LIVROS DO FILÓSOFO POR CONTA E TIRE UMA CONCLUSÃO PRÓPRIA, aí volte aqui para discutir... se você achar pertinente é claro.

EDITT: e já que você é um cara que aparentemente gosta de ler, vou deixar aqui a seguinte sugestão: leia a biografia do filósofo escrita por Rüdiger Safranski que é, sem dúvida uma das melhores biografias que eu já li devido a profundidade filosófica que o autor tem... talvez fique mais claro o porque de Neitzsche pensar e afirmar o que afirmava... também da uma boa noção da sua envergadura intelectual quando vislumbramos ideias que ele tinha aos 15 anos ... vale a lida mesmo pra quem não goste do filósofo.
"Compreendi o tormento cruciante do sobrevivente da guerra, a sensação de traição e covardia experimentada por aqueles que ainda se agarram à vida quando seus camaradas já dela se soltaram."  (Xeones para o rei Xerxes)

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#11
Você abriu meus olhos sobre o alemão bigodudo, confesso que esse ponto sobre ele justamente conseguir criar a filosofia dele por causa de suas fraquezas me passou um pouco batido, e admito que li os livros dele poucas vezes e não li todos.

Além disso, acredito que as traduções que eu peguei era ruins, pois era de uma época que eu caçava os PDFs pela internet, logo eu até te pergunto, quais traduções dele você julga as melhores? 

Em relação ao recordações da casa dos mortos, ai eu não sei se houve uma confusão, existem dois livros com títulos muito parecidos, o memórias do subsolo, e o memórias/recordações da casa dos mortos, são títulos parecidos, mas são livros diferentes.

Memórias do subsolo não é um relato sobre a prisão do russo, mas de um funcionário público ressentido com sua vida, que começa a contar a sua história.

Inclusive, foi após ler esse livro que Nietzsche falou que Dosto escrevia com o sangue.

Nem esse livro do Dostoiévski eu confesso que entendi plenamente, mesmo já tendo o lido duas vezes.

Algo que eu quero fazer daqui uns anos é reler várias obras do Dosto com a tradução de Oleg Almeida, que eu acho que são superiores as de Paulo Bezerra, porque Paulo Bezerra sabe russo, mas é brasileiro, então russo não é sua língua materna, e além disso, ele é comunista, o que me deixa ainda com um pé mais atrás com ele, mas era o único tradutor de Dosto direto do russo até o surgimento de Oleg.

De fato, eu li as obras de Nietzsche, mas não li todas e li faz uns 5 anos, quando mal tinha feito meus 20 anos.

Dostoiévski de fato é mais fácil de digerir, - não que seja completamente tranquilo de digerir, pois várias obras dele eu relendo após alguns anos percebi muita coisa que não tinha percebido na primeira leitura - por serem histórias, então eu admito que Nietzsche, tanto por ter uma filosofia mais aprofundada, tanto por não explica-la através de histórias, deve ter pegado apenas de raspão no meu intelecto.
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#12
(29-03-2023, 11:52 PM)Novo Mundo Escreveu: Além disso, acredito que as traduções que eu peguei era ruins, pois era de uma época que eu caçava os PDFs pela internet, logo eu até te pergunto, quais traduções dele você julga as melhores? 

Eu gosto das traduções do Renato Zewick ... os livros dele da coleção L&PM Pocket são boas e mais adequadas ao filósofo, pois ele sempre aconselha que seus livros devem ser lidos ao ar livre ...

O primeiro livro que eu li de Nietzsche foi "Assim falou Zaratustra" em PDF na internet, que era de fato uma porcaria. Procure os impressos mesmo, e os com o mínimo de "comentários" pois os "intelectuais" brasileiros tem uma irritante tendência de falar merda para sustentar as suas próprias ideologias.

(29-03-2023, 11:52 PM)Novo Mundo Escreveu: existem dois livros com títulos muito parecidos, o memórias do subsolo, e o memórias/recordações da casa dos mortos, são títulos parecidos, mas são livros diferentes.

Eu sei disso amigo, já li os dois... quando fiz a referência do livro "memória da casa dos mortos" eu não me confundi, fique tranquilo. Aliás o "memórias do subsolo" sem dúvida foi o livro que eu menos gostei do Dosto.  

(29-03-2023, 11:52 PM)Novo Mundo Escreveu: De fato, eu li as obras de Nietzsche, mas não li todas e li faz uns 5 anos, quando mal tinha feito meus 20 anos.

Então, eu tenho o costume de fazer anotações nos livros a medida que vou lendo, e volta e meia me surpreendo quando leio o que eu havia "entendido" tempos atrás que eram coisas que não tinha quase que absolutamente nada haver com o que ele tinha a intenção de dizer. Quanto a isso, um livro que ajuda muito no compreendimento "fundamental" por assim dizer de Nietzsche é o seu primeiro livro "O nascimento da tragédia"... posteriormente ele mesmo admitiu não gostar muito desse livro, e é bem perceptível a diferença do estilo literário, mas pelo menos para mim ajudou bastante na compreensão dos livros posteriores e mais importantes.

(29-03-2023, 11:52 PM)Novo Mundo Escreveu: Dostoiévski de fato é mais fácil de digerir

Falando da minha experiência, Dostoiévski também foi um divisor de águas na minha vida... existe um Heracles antes de "Crime e Castigo" e um depois. Dosto é um autor que tem uma capacidade ímpar de dissecar a alma e os sentimentos humanos... sem dúvida é leitura OBRIGATÓRIA para qualquer realista, para qualquer homem. Outra obra genial, para muitos o melhor romance já escrito é Os irmãos Karamozov... que de fato é tão essencial - até mais - que crime e castigo.

Se você se comprometer de corpo e alma em entender e "digerir" a bibliografia dele, tenha certeza que lá no final renascerá uma nova pessoa.
"Compreendi o tormento cruciante do sobrevivente da guerra, a sensação de traição e covardia experimentada por aqueles que ainda se agarram à vida quando seus camaradas já dela se soltaram."  (Xeones para o rei Xerxes)

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