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Sobre o Secularismo - Parte 1
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Sobre o Secularismo - Parte 1
(Postado por The Truth na Quarta-feira, 12 de março de 2011)

[Image: csUUnz9H_t.jpg]


O secularismo parece ser um assunto muito difícil para a maioria das pessoas, mas não é! Primeiro, eu vou explicar o que eu chamo de secularismo. Segundo, eu vou explicar as conseqüências disso nos relacionamentos. Terceiro, eu vou explicar o porquê do secularismo ser irreversível. Este post é apenas uma introdução ao assunto, visto que será impossível abordar todos os efeitos do secularismo. 

O que é secularismo? Secularismo significa a fragmentação de tradições religiosas e a banalização dessas tradições. Secularismo consiste na “mundanização da religião”, ou a perda de seus valores espirituais e metafísicos. O secularismo transforma as religiões num mercado, num negócio, num estilo prático de vida. Perde-se o sentido ético originário da religião e a espiritualidade. A religião se transforma apenas numa mera ética de objetivos práticos e fora disso, ela perde o sentido. 

O secularismo também é a invasão dos valores seculares dentro da religião e da cultura tradicional. Isto significa a intrusão desses valores em prol de valores mais pragmáticos! E isso tem profundas conseqüências nos relacionamentos. Por exemplo, o secularismo significa o fim da idéia da valorização do casamento em prol da valorização do sexo. 

Os religiosos também podem ser “seculares”. Isso significa que numa sociedade secular não existem diferenças consideráveis entre uma pessoa religiosa e uma pessoa não religiosa. Ambos fazem as mesmas coisas, só que a pessoa religiosa freqüenta o culto da religião dela e a pessoa não religiosa não faz isso! 

Uma conseqüência das conseqüências do secularismo é o liberalismo, pois a ética não é mais norteada pelos valores espirituais da religião, mas sim pelos interesses práticos imediatos do ser humano. Outra conseqüência é o aumento do egoísmo, pois a ética secular suporta o egoísmo como uma forma de realização humana. Outra conseqüência do secularismo é o relativismo moral, pois se Deus não existe, logo tudo é permitido. Ainda que o homem secular acredite em Deus, ele vive como se Ele não existisse. Portanto, o homem secular é indiferente às conseqüências éticas da idéia de Deus.

O secularismo também representa a perda de todas as referências metafísicas da ética. Os filósofos tentam resolver esse problema com recorrências a idéias substitutas como lei moral universal, por exemplo. A própria religião foi relativizada na sociedade secular de tal forma, que ela perdeu totalmente o efeito de eficácia que já teve. As pessoas agem como se não acreditassem em Deus, embora sustentem ainda o rótulo de religiosas. O fenômeno da religiosidade nominal é muito comum nos EUA. No Brasil, esse fenômeno também já era comum no catolicismo. Pessoas que nunca freqüentaram uma missa se autodenominavam católicas. 

No secularismo, o social e o coletivo perdem importância e as pretensões individuais ganham importância máxima! Assim, o poder e o prazer se tornam os objetivos básicos e fundamentais da sociedade secular, pois se busca poder e prazer em prol do próprio bem e não em prol do bem coletivo, social, ou universal! 

É inevitável que o secularismo conduza ao utilitarismo individualista. As leis jurídicas não educam a sociedade nesse sentido! Elas criam deveres e proibições que são insuficientes para produzir efeitos de solidariedade social. O estado jamais fará a função da religião, por isso as éticas religiosas cumpriam bem a função de preencher as lacunas deixadas pelas leis jurídicas. 

A ênfase aqui não é na religião, mas na função social da religião enquanto ética! Numa sociedade secular, a justiça se reduz ao cumprimento daquilo que a lei permite ou determina. O Estado jamais fará a função ética da religião. A liberdade ganha uma dimensão de responsabilidade que depende muito do bom senso das pessoas! E esse é o grande problema da sociedade secular. O bom senso é relativo, pois não há referências sólidas nessa sociedade além das referências jurídicas! 

Quem fará a função da religião na sociedade secular? Quem criará na população, o senso de solidariedade? No mundo secular, o individual sempre prevalecerá sobre o coletivo e o privado sempre prevalecerá sobre o público. No mundo secular, o bom senso será sempre relativizado em prol da busca primária pelo prazer e pelo poder. 

O secularismo acabou com as referências éticas da religião e da tradição e deixou as sociedades ocidentais órfãs de boas referências! As leis jurídicas não preencheram as lacunas criadas pelo secularismo e isso significa que a educação se tornou um grande problema nas sociedades seculares! 

Os valores da nossa tradição ocidental estão fundamentados numa concepção pessimista da natureza humana. Para a religião, se a natureza humana não for limitada de alguma forma, ela se destruirá. A religião não acredita no bom senso humano. É justamente por isso, que a religião parece tão controladora, pois a liberdade secular supõe que os seres humanos sabem fazer um bom uso da liberdade! Por outro lado, a ética individualista está longe de privilegiar a justiça social. Deste modo, a sociedade secular favorece a competição entre “egoísmos”, já que o egoísmo de uns interfere negativamente na felicidade de outros. 

Para os acadêmicos, toda a tradição ocidental é vista como opressora e malévola. Então o secularismo seria aquilo que nos libertaria da opressão da tradição religiosa. Mas notem que em nenhum momento se discute a função da religião. Somente os sociólogos e os antropólogos reconhecem alguma função positiva na religião de forma geral. A maioria dos teóricos das ciências humanas possuem um profundo desprezo pela religião, ainda no seu sentido ético! 

A idéia de uma sociedade autônoma, sendo limitada apenas pelo “poder do Estado” fracassou! Essa idéia fracassou, porque o Estado moderno provou que é incapaz de afirmar valores fundamentais para a manutenção de uma sociedade sadia e justa. O estado provou que ele é incapaz de acabar com a injustiça social, pois o elitismo se apresenta agora sob a forma subjetiva. O elitismo subjetivo consiste nas hierarquias de valor criadas pela sociedade secular. 

A ética social está além das leis jurídicas. Nenhuma lei jurídica pode ensinar o homem a ser fiel a sua esposa. Nenhuma lei jurídica ensina os filhos a obedecerem aos pais! O alcance ético das leis jurídicas em si é muito precário. Por isso, a religião tinha a função de fornecer referências fundamentais para a ética do dia a dia. Na sociedade secular, a ética da solidariedade entrou em colapso, pois o Estado demonstrou ser impotente para produzir efeitos de solidariedade na sociedade!


Este texto faz parte do projeto: Segunda das Relíquias Perdidas.
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