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[REFLEXÃO] Mitos Africanos - Coletânea
#21
Parte Onze - Aperfeiçoe-se Sempre

Oxaguian, Deus da Constante Criação, filho de Oxalufan, Pai-de-Todos, nunca perdia uma oportunidade de estimular o Progresso.

Em uma de suas constantes viagens, ele se deparou com uma grande, embora simples, construção, numa aldeia. Questionando aos trabalhadores, do que se tratava, foi respondido que era um castelo erguido em homenagem a Ogum, Deus da Guerra. E perguntando o que iriam fazer, agora que tinham terminado, o povo respondeu que descansaria e comemoraria.

"Seu Rei demorará a voltar. Ergam uma morada melhor, para seu Senhor, e meu Amigo."

Dizendo isso, tocou com sua Espada (pois ele também é um Guerreiro) um dos muros, e o Castelo desmoronou por inteiro.

O povo olhou espantado para o gesto do Deus. Mas arregaçou as mangas, e começou a construção novamente, enquanto Oxaguian partia.

Tempos depois, o Deus retornou para a aldeia dos Construtores, e viu o novo Castelo. Era maior, e um pouco mais elaborado.

Oxaguian questionou ao povo, e como recebeu as mesmas respostas, destruiu a obra, dizendo a eles que fizessem uma ainda melhor.

O Guerreiro de Branco retornou muitas vezes, até que enfim, chegou até a aldeia, e ela estava totalmente transformada. As reconstruções fizeram com que o povo melhorasse suas técnicas, que passaram a ser usadas também nas residências comuns, e, mais importante ainda, não parassem mais de aprimorá-las.

Oxaguian estava satisfeito. Tinha ensinado para aquela aldeia, que a ociosidade é incompatível com a excelência.
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#22
Parte Final - O Mérito é que Valida o Poder

O Pai-de-Todos tinha uma perturbação em meio aos Deuses, que não podia permitir que continuasse.

Chegou ao conhecimento de Oxalufan, Deus Criador da Humanidade, e o mais velho do Panteão, que Bara, o Mensageiro, estava alegando que era o Mais Antigo. E diante do Pai-de-Todos, foi chamado a se explicar.

Bara manteve jocosamente a sua declaração, mesmo com o Pai-de-Todos lembrando aos presentes, que isso era um absurdo, posto que ele já existia, quando Bara foi criado.

A persistência de Bara, foi tanta, que os outros presentes, sugeriram uma solução simples para a questão. O Mais Antigo, sem sombra de dúvida, teria mais poderes que o mais jovem. Que se enfrentassem, então, e o mais poderoso, seria aclamado como mais velho. Ambos concordaram.

Os dois procuraram Ifá, e o Oráculo os instruiu a fazer oferendas. O Pai-de-Todos seguiu a tradição, mas Bara desdenhou do Destino, e não seguiu o aconselhado.

O dia chegara, e Oxalufan e Bara, estavam um diante do outro. O Pai-de-Todos começou a demonstrar seu poder.

Mesmo com seu corpo idoso e curvado, Oxalufan deu uma palmada em Bara e BUM, o Mensageiro caiu sentado e ferido, como se golpeado com grande força. Bara porém, se levantou como se nada tivesse acontecido.

O Pai-de-Todos, então, bateu na cabeça do Mensageiro, e ele encolheu até se tornar um Anão. Bara porém, se sacudiu, e voltou ao seu tamanho normal.

Oxalufan, então, segurou a cabeça de Bara, e a sacudiu. A cabeça do Mensageiro aumentou, aumentou, até se tornar maior que o próprio corpo! O Mensageiro porém, esfregou a cabeça com as mãos, e ela voltou ao normal.

Os outros Deuses então, disseram que era a vez de Bara.

O Mensageiro bateu na própria cabeça, e dela, surgiu uma pequena cabaça. Ao abri-la e virá-la na direção do Pai-de-Todos, uma nuvem de fumaça se dirigiu a ele, e Oxalufan perdeu totalmente sua cor.

O Pai-de-Todos esfregou seu corpo com as mãos, mas sua cor não retornava. Mas ele ainda não estava vencido.

O Ancião tirou seu turbante, o desfazendo, extraindo dele seu axé (poder), e tocou sua boca no pano.

Ele então, falou a Bara, para se aproximar, e entregar sua cabaça mágica. O Mensageiro, imediatamente e sem questionar, entregou sua cabaça para Oxalufan, e ao colocá-la em sua própria bolsa, retomou sua cor.

Sem ter mais nenhum poder para demonstrar, Bara foi derrotado.

Lentamente, o Pai-de-Todos retornou ao seu assento, enquanto era aclamado e louvado pelos outros Deuses. Ele poderia, desse o início, ter invocado sua Autoridade, e ter encerrado a questão. Mas ele demonstrou a todos, em sua sabedoria, que aquele que possui méritos, não teme provar porque tem, aquilo que conquistou.
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#23
Excelente Diomedes. Não conhecia esse lado da mitologia africana.

Fico no aguardo da conclusão dos 12 trabalhos de Hércules...
O clichê é imortal. É infinito. É onipresente. Conforta os medíocres e protege os cagões. (Marcello Serpa)

[Image: s2uY1YnJN_X8XF7H6uiNfL-o3T8qgFTKBWvilqd_AMI=w400-h60-no]
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#24
Bônus - Como Orumilá conquistou a amizade de Bara

Como vi que o Confrade Loki ficou curioso sobre a dinâmica entre Orumilá e o Deus da Trapaça Africano, decidi acrescentar uma Itan que explica como isso aconteceu.

Diferente de Loki, Bara não tinha apenas uma natureza maledicente. O Mensageiro dos Deuses, podia chegar em qualquer lugar, e trazer objetos de qualquer distância, para qualquer lugar que desejasse. Tinha permissão para ir do Ayê (a Terra) até as partes mais elevadas do Orun (o "Céu"). Ele, no Panteão, é o Senhor dos Caminhos, e sem agradar a ele, nenhuma viagem chegava ao seu destino, nenhuma iniciativa podia começar. Sempre foi um Deus animado e descontraído, dado a festas e boas conversas, algumas vezes até desaforado e irônico.

No entanto, Bara tinha a necessidade de ensinar, de forma direta e prática, através de testes. Se via um casal que parecia ser muito unido, ele semeava a discórdia, para ver se conseguiam superá-la. Se via um homem rico e orgulhoso, se gabando de ser trabalhador, lhe imputava uma perda, para ver se ele conseguia se reerguer trabalhando. Aos que apenas fingiam ter o que diziam ter, Bara não tinha piedade. Mas aqueles que eram sinceros, Bara respeitava, admirava, e protegia.

O mito abaixo, mostra como Bara passou a admirar Orumilá. 

Nota: Este mito precede os eventos de "A Verdadeira Amizade".

:::

Bara, o Mensageiro dos Deuses, ria satisfeito consigo mesmo, enquanto caminhava. Não houve nem um único Deus que estivesse imune a sua astúcia. Nem mesmo o Pai-de-Todos, conseguiu escapar de uma peça que ele lhe pregou. Não havia nenhum ser, mais esperto que ele.

Ele no entanto, parou na estrada, por conta de uma lembrança. Havia ainda, um Deus que ele não tinha testado. Orumilá, o Deus da Adivinhação, que tinha o poder de consultar o Destino, para orientar aqueles que o procuravam. Decidiu ele, então, descobrir se realmente, Orumilá tinha o Destino ao seu lado...

Bara então, foi ao mercado perto de onde ele morava, e comprou cordas, e um macaco bem vistoso e bonito. Feita a compra, foi até a casa de Orumilá, dizendo que tinha comprado aquele macaco, mas tinha esquecido que precisava viajar por alguns dias - precisava que Orumilá tomasse conta do animal, até que ele voltasse.

Orumilá conhecia a fama de Bara, mas concordou em tomar conta do macaco, desde que fosse o próprio Bara, que o amarrasse numa árvore de seu quintal - se o nó afrouxasse e o bicho fugisse, a culpa seria do Mensageiro, pensou ele.

Bara o amarrou bem preso, com sua corda, agradeceu ao colega, e partiu.

Sabendo que poderia ser desastroso perder o macaco, Orumilá consultou o Oráculo, para saber como evitar que o macaco fugisse. O Destino respondeu que ele deveria fazer uma oferenda, na floresta, perto de sua casa. Saiu então, imediatamente para fazer a oferta.

No dia seguinte, foi até seu quintal, e, catástrofe! O macaco havia arrebentado a corda e fugiu! (Bara comprou uma corda bem fina, sabendo que o macaco poderia partir o fio e escapar...)

Bara apareceu nesse momento, dizendo que tinha retornado antes do previsto, e cobrando o macaco de volta. Orumilá disse que ele escapou, mas garantiu ao Mensageiro que teria seu macaco de volta. Bara, entristecido por perder seu macaco, chorou ali, dizendo que gostava muito do macaco, e que o queria de volta de qualquer forma.

Era o que Orumilá temia. Bara chorar sobre algum lugar, equivalia a uma praga poderosa, que poderia arruinar toda a sua vida. A tristeza de Bara poderia fazer que nenhum consulente achasse sua casa, e até que eles saíssem de casa, e nunca mais achassem o caminho de volta. O único jeito de impedir a praga, era achar o macaco.

Tranquilizando o Mensageiro, e pedindo que esperasse, Orumilá foi até Ifá, perguntar o que podia ser feito, e o Oráculo respondeu, dizendo que ele voltasse até onde a oferenda foi feita.

Lá, ele riu com seu próprio esquecimento. A oferenda foi feita com bananas, e o macaco ao fugir, desejando comer, estava lá, comendo as bananas da oferta.

Quando Bara viu Orumilá retornar com o macaco, sorriu, cancelando a maldição. Não exatamente pelo macaco, mas por ver que aquele ser, realmente podia consultar o Destino, e não permitir que nenhum mal acontecesse, para aquele que tem Fé.

O Mensageiro deixou a casa do Grande Babalaô (Pai-do-Segredo, Adivinho) se dispondo a lhe ajudar, sempre que precisasse, e se despedindo dele, o tratando por "amigo". Orumilá não levou Bara a sério. Mas ele havia conquistado um amigo, naquele dia, ao mostrar que aquele que é, diz e faz sempre o mesmo.
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#25
Excelente material!!
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#26
Cara que riqueza que temos aqui nestes textos!!!! Muito bom. Temos grandes ensinamentos ai, sem duvidas.
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