Avaliação do Tópico:
  • 0 Voto(s) - 0 em Média
  • 1
  • 2
  • 3
  • 4
  • 5
A Guerra da Arte - Steven Pressfield
#1
Neste tópico apresento o livro A Guerra da Arte, de Steven Pressfield. Não é meu objetivo fazer uma crítica ou dar minha opinião sobre o livro, apenas apresentar as ideias e conceitos apresentados, principalmente o de Resistência. Espero que os membros possam fazer suas críticas nos comentários. Grato desde já!

A Guera da Arte - Steven Pressfield

Este livro apresenta o conceito de "Resistência": um fenômeno natural que acomete o Homem e o impede de realizar seus objetivos. Explica quais os comportamentos que a provocam, como age, os seus sintomas e, mais importante, as formas de combatê-la.

Parte I - O que é Resistência.

Qualquer ação que rejeita gratificação imediata em detrimento de crescimento a longo prazo, saúde ou integridade irá induzir a Resistência. Exemplos:

 - A busca por arte criativa;
 - O empreendedorismo;
 - Dietas e exercícios físicos;
 - Qualquer programa de desenvolvimento espiritual;
 - Qualquer ato para erradicar um hábito indesejável ou vício;
 - Educação de qualquer tipo;
 - Qualquer ato de coragem política, ética ou moral;
 - Filantropia;
 - Qualquer ato que exija comprometimento de longo prazo;
 - Manutenção de firmes princípios em face de adversidades.

A Resistência possui certas características, sendo as principais: 

 - Invisível: Pode ser apenas sentida, sendo uma força repelente, negativa no sentido filosófico;
 - Interna: Cresce de dentro, apesar de nossos esforços para justificá-la como externa;
 - Insidiosa (traiçoeira): Fará de tudo para afastá-lo do seu trabalho, inclusive mentir;
 - Implacável: Não pode haver argumentação racional;
 - Impessoal: Sendo uma força da natureza, opera com indiferença;
 - Infalivel: Quanto mais importante for uma ação para a evolução da nossa alma, mais a Resistência a perseguirá;
 - Universal: Age em todos, em todas as eras;
 - Incansável: Precisa ser combatida a todo momento;
 - Joga para vencer: atira para matar;
 - É abastecida pelo medo: Seja mestre dos seus medos e subjugue a Resistência;
 - Opõe-se em apenas uma direção: Apenas obstrui movimentos ascendentes da alma;
 - É mais poderosa no final da jornada: Redobre seus cuidados ao fim de uma empreitada;
 - Recruta aliados: Seja cuidadoso com as críticas de amigos e familiares. O pior crime do caranguejo é saltar para fora do balde. Também é improdutivo dar conselhos. A melhor coisa é servir como exemplo e inspiração através de nossos atos e dos frutos que colhemos.

São sintomas da Resistência:

 - Procrastinação: A manifestação mais comum. Pode tomar diversas formas, a principal sendo a busca obsessiva por prazeres imediatos, como sexo, drogas, jogos, entre outros. Seu maior perigo é que pode se tornar um hábito.
 - Comportamento destrutivo: Uma forma barata de chamar atenção de outras pessoas;
 - Auto dramatização: Criar novelas e dramas em nossas vidas é uma forma de Resistência;
 - Auto medicação: Ao invés de autoconhecimento, autodisciplina, recompensa adiada e trabalho duro, é mais simples cosumir uma droga para lidar com nossos problemas de ordem psicológica;
 - Vitimismo: A antítese do trabalho. Não faça isso;
 - Infelicidade: Ao não fazer nada do que realmente queremos, nos sentimos como lixo. O que está acontecendo soa como vida, mas é a Resistência.

Como profissionais, é nossa obrigação iniciar nossa própria revolução interna, uma insurreição privada dentro de nossa mente. Nesse levante, nos libertamos da tirania da cultura de consumo, derrubamos a programação de anúncios, filmes, games, revistas, TV e MTV, pela qual viemos sendo hipnotizados desde o berço. Nos libertamos pelo reconhecimento de que nunca curaremos nossa inquietação por contribuir com a Indústria da Bobagem, mas apenas por fazer o nosso trabalho

Os indivíduos realmente livres o são apenas quando regem a si mesmo, sendo seus próprios mestres. Aqueles que não governam a si mesmos estão condenados a encotrar mestres que os governem.

 - Criticismo: Quando vemos outras pessoas começando a viver suas vidas autênticas, passamos a criticá-las por saber que não vivemos as nossas próprias;
 - Excessiva confiança: A dúvida pode ser uma aliada contra a Resistência. Morte ao EGO!;
 - Medo: Quanto mais medo sentimos a respeito de uma nova empreita, mais certos podemos estar da importância dela para a nossa alma. Se você está paralizado pelo medo, isso é um bom sinal. Mostra o caminho a seguir.
 - Amor: A Resistência é proporcional ao amor. O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença;
 - Grandiosidade: A fantasia da própria importância é um sintoma;
 - Busca por cura: O conceito de que precisamos descansar completamente antes de estarmos prontos para nosso trabalho é uma forma de Resistência. O que estamos tentando curar, afinal? Um atleta de ponta sabe que nunca chegará o dia em que ele estará completamente livre de dores. Ele precisa continuar mesmo ferido.
 - Busca por apoio: Quanto mais energia gastamos buscando apoio de nossos colegas, familiares e entes queridos, mais fracos nos tornamos e menos capazes de fazer nossos negócios;
 - Racionalização: Ao invés de nos apresentar nossos medos, o que poderia nos envergonhar e nos induzir ao trabalho, a Resistência nos presenteia com uma série de justificativas plausíveis e racionais para nossa falta de trabalho.

A Resistência pode ser combatida! A princípio, pode parecer impossível dado ao profundo nível em que nos encontramos, atolados no lamaçal de improdutividade, mediocridade e desculpas esfarrapadas. Mas derrotar a Resistência é como dar a luz a um bebê: parece absolutamente impossível até nos relembrarmos de que as mulheres têm feito isso com sucesso, apoiadas ou não, por milhões de anos.

Parte II - Combatendo a Resistência.

Uma coisa é estudar a arte da guerra, outra é viver a vida do soldado. A melhor maneira de combater a Resistência é nos tornando profissionais, comprometidos com nosso trabalho e nada mais. Os Marines americanos nos ensinam a arte de ser miseráveis, algo de valor inestimável para ser um profissional. Eis as atitudes que temos como profissionais:


 - Fazemos nossos trabalhos todos os dias;
 - Fazemos nossos trabalhos não importando as condições;
 - Nos mantemos em nossos trabalhos o tempo todo;
 - Estamos comprometidos a longo prazo;
 - Os nossos objetivos são reais, porém altos;
 - Esperamos remuneração por nossos trabalhos. Não apenas pelo dinheiro em si, mas por este levar à própria atitude profissional;
 - Damos valor real a importância de nossos trabalhos;
 - Levamos nossa técnica ao nível da excelência;
 - Temos um senso de humor a respeito de nossos trabalhos, sabemos que se não o fizermos, provavelmente outros o farão;
 - Somos julgados por nossos resultados pelo mundo real, não por nossas métricas fantasiosas.

O profissional, mesmo esperando remuneração por seu trabalho, o faz pelo amor à atividade. Ele precisa amar seu trabalho. De outra forma, não devotará sua vida a ele de forma livre. De outra forma, não atingirá a excelência, dado o imenso sacrifício que ela demanda.

Na Grécia antiga, berço das virtudes, surgiu a figura da Musa: um ente que inspira o Homem à ação prodigiosa. A Musa favorece o trabalho rígido, detesta os que pensam ser tão bons a ponto de não precisar de esforço contínuo. O pecado prímevo de Satan foi o orgulho. O profissional se vê como um mercenário, uma ferramenta a ser contratada, que necessita de constante aprimoramento. Isso lhe dá a correta humildade. O profissional trabalha por remuneração, mas no fim das contas, o faz por amor.



São características do profissional: 


 - Paciência: A Resistência usa nosso próprio entusiasmo contra nós;
 - Busca por ordem: O pro está numa missão, e não tolerará desordem. Ele eliminará o caos do seu mundo para bani-lo de sua mente;
 - Desmistificação: O pro vê o mundo como matéria prima, não arte. Se concentra na técnica. Se torna um mestre em como fazer e deixa os porquês para os deuses. A marca dos amadores é a glorificação dos atos e a preocupação com os mistérios, enquanto o pro se cala. O pro não fala sobre isso, ele faz o seu trabalho;
 - Ação em face do medo: Sabe que o medo jamais pode ser superado. Não existe algo como um guerreiro sem medo, ele luta apesar deste;
 - Erradicação de desculpas;
 - Condução dos negócios no mundo real; 
 - Preparação: Seu objetivo é confrontar a autosabotagem todos os dias. Governar a si mesmo, seu interior, com toda a firmeza necessária;
 - Humildade: Sua assinatura fala por ele;
 - Dedicação a excelência da técnica;
 - Busca por auxílio: Sabe que é sempre possível aprimorar sua técnica;
 - Impessoalidade: Se diferencia de sua performance, mesmo dedicando a ela sua alma. Busca apenas o seu trabalho, não os frutos deste. Não toma as críticas pessoalmente, seu núcleo é a prova de críticas. 
 - Autovalidação: Não permite que ações de outros definam sua realidade. Nada importa além de se manter em seu trabalho.
 - Reconhecimento dos próprios limites: Sabe que pode ser profissional em apenas um coisa. Busca outros profissionais em outras áreas.

O conceito de "Você Ltda": lidar com você mesmo como se fosse uma corporação reforça a ideia de profissionalismo porque separa o trabalhador-fazendo-o-seu-trabalho da pessoa-consciente-e-volitiva. Isso lhe dará a distância saudável de si mesmo, o tornará menos subjetivo, o levará a não tomar as críticas pessoalmente, a ser mais sangue frio. Não será apenas você mesmo, mas uma empresa. Um profissional.

A essência do profissionalismo é o foco sobre o trabalho e sua demanda, enquanto executado, e a exclusão de todo o resto. O pro vence a Resistência em seu próprio campo, sendo ainda mais resoluto e implacável que ela. Não existe mistério para se tornar um profissional, é uma decisão tomada por um ato de vontade.

Em breve a Parte III - Além da Resistência, a esfera superior.
Responda-o
#2
otimo post

para quem gosta do tema:


Responda-o
#3
Se me permite, aproveito para fazer uma colocação, recentemente estava revendo minhas anotações a respeito do tema. O Pressfield foi Fuzileiro Naval, e ele explicita que o segredo do treinamento deles é que os instrutores ensinam aos soldados a se sentirem pobres coitados, infelizes e desgraçados, exatamente nas palavras do autor. Poucas pessoas conseguem continuar algo quando se sentem burras, inúteis, infelizes e pobres coitadas, é muito difícil, foi uma dificuldade enfrentada por milhares de homens em toda a existência humana. 

 Eu destaquei uma citação que me marcou muito, veio como um acesso que me fez refletir por dias, ela diz mais ou menos assim "..., os fuzileiros adoram se sentir infelizes e desgraçados. Eles extraem uma satisfação perversa em comer uma bóia mais fria, usar um equipamento em pior estado e ter índices de baixas superiores ao de qualquer outra equipe de praças do exército, marinha ou aeronáutica, todos os quais eles desprezam". Essa é a definição de se sentir um verdadeiro desgraçado. Poucas pessoas conseguem prosseguir quando estão em situações de semelhante natureza. 

[Image: Surf+Passage+Head+Carry.jpg]


 Quantos artistas não são vencidos por uma simples tela em branco? O livro cita o caso do Hitler, que sempre intentou ser um grande artista. Ele ingressou na Academia de Belas Artes, em Viena, mas a abandonou. Hoje ele é conhecido negativamente pela direção que tomou na vida, o Steven brilhantemente traçou uma analogia para essa situação. Pro Hitler, foi mais fácil engendrar uma gigantesca guerra mundial do que enfrentar uma tela em branco. Ele tinha talento, mas precisava percorrer a árdua trajetória da evolução, obviamente ele desistiu. Qual seria seu destino se tivesse seguido pelo caminho artístico?

 Vencer a resistência é uma batalha individual em que poucos sairão vitoriosos. O treinamento dos fuzileiros é efetivo pois a maior arma do homem se chama cérebro, o autocontrole á a maior de todas as virtudes, é a coisa mais importante que você pode adquirir nessa vida. É a espada dos grandes guerreiros, a arma mais letal e facínora de todas, porque além de aniquilar o inimigo interior, ofusca os inimigos alheios. Após superar essa resistência, você provocará nos outros um sentimento desalentador, uma coisa que corrói por dentro, algo visceral. Os medíocres se sentem verdadeiros lixos quando observam o sucesso alheio pois é nesse momento que todo o fracasso é jogado em sua caras, sem nenhum pudor. 

 Quando um medíocre vê uma pessoa se desenvolvendo, surge um abismo que escancara o desafio que ele tem dentro de si, desafio este que pra ele, é impossível. É a certeza de que a batalha está perdida. Pessoas assim estão definitivamente derrotadas antes mesmo de lutar. Essa é a resistência, a responsável por destruir, matar todos os seus maiores sonhos. Que vida desgraçada essa de ver todos os sonhos sendo derrotados por esse inimigo silencioso, invisível e cruel.

 O ser humano é mestre em inventar desculpas e teorias mirabolantes para não fazer o óbvio, tudo seria simples se fizéssemos o óbvio, sem desculpas, apenas o inventável e único óbvio. A mesma regra de Pareto serviria pra explicar que 20% das pessoas do mundo, produzem os maiores resultados. As outras estão fazendo o quê? Provavelmente se entupindo de estímulos artificiais ou depositando a culpa do próprio fracasso em teorias para não fazer o óbvio.

 A sua mediocridade reflete e influencia a vida de outras pessoas. Toda vez que você desempenha uma função de uma forma lixosa, muitas pessoas estão sofrendo as consequências, e sendo influenciadas negativamente por essa nefasta situação. Um professor despreparado e infeliz com a profissão, fará com que inúmeros alunos passem a odiar aquela matéria, e odiando a matéria, o comprometimento deles com suas respectivas notas será vexaminoso. 

 Consequentemente eles se rebelarão, e enveredarão por outros caminhos colocando a culpa de tudo na chatice e na irrelevância do conhecimento para suas vidas. Esses alunos vão influenciar outras pessoas e uma espécie de ciclo infinito se conceberá, gerando uma horda de novos medíocres no mundo. 

 Toda vez que você deposita sua mediocridade em algo que está fazendo, alguma pessoa sofrerá as consequências de seus atos. Um servidor público medíocre, danificará toda a estrutura do sistema público, assim como um empregador da iniciativa privada, que poderá influenciar negativamente as opiniões e impressões públicas sobre a empresa. Um médico ruim poderá até matar seu paciente, ou fazê-lo gastar com remédios desnecessários e exames inúteis. O paciente poderá então cair na lábia de charlatães que se 'alimentam' de pessoas desacreditadas e desenganadas da medicina convencional, e aí novamente esse ciclo vicioso se repete. 

 Sempre que você deixar essa resistência lhe vencer, uma oportunidade se fecha na sua vida e talvez você jamais poderá encontrar outra pelo caminho, a pior coisa para um homem, hoje, é morrer sem ter desenvolvido seu autocontrole. Não existem bens materiais, intelectualidade, quantidade de mulheres disponíveis e qualquer tenra ideia de sucesso que sequer cheguem aos pés da virtude do autocontrole.
 

Responda-o
#4
Essas orientações que você postou no tópico são fantásticas. Sem filosofias vazias e sem ficar dando rodeios. Práticas e diretas ao ponto. No aguardo da terceira parte.

Eu tenho enfrentado essa Resistência a minha vida toda. Já perdi muitas batalhas pra ela, mas também já ganhei algumas e as que eu ganhei forneceram um gosto por vitória indescritível. Aquele desejo de reformular a vida toda para conseguir viver sob o domínio da razão subjugando as emoções e desculpas que essa Resistência tenta causar.

Aliás, eu nem sabia que existia um nome para isso. Primeira vez que ouço esse conceito por esse nome. Já anotei o livro para comprar. As vezes nós temos a ilusão que é só conosco que ocorre essa resistência que parece monumental quando tentamos fazer algo que realmente precisa ser feito e pode literalmente mudar o rumo das nossas vidas. Mas, lendo o tópico, fica claro que é algo que todos enfrentam em sua vida, de acordo com as suas próprias características e talentos pessoais.

É muito difícil enfrentar uma dor temporária e imediata para alcançar uma recompensa no longo prazo que não consegue se ver. Nós temos a tendência natural de querer resultados imediatos, fugir da dor e buscar a recompensa agora, não depois. E o pior é que nós sabemos que o prazer imediato provocará a dor no longo prazo, e isso nos atormenta.

O nosso dever é lutar contra essa tendência e vencer. Nós contra os nossos impulsos e fraquezas. Nós contra nosso corpo preguiçoso. Nós contra nossos defeitos de caráter. Nós contra nós mesmos. Uma batalha interna que, enfrentando um dia por vez, durará a vida inteira. Então, é bom aprender logo a lutar essa batalha.
“A maior necessidade do mundo é a de homens — homens que se não comprem nem se vendam; homens que, no íntimo de seu coração, sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus.” Ellen White, Educação, Pág 57.
Responda-o
#5
Preciso encontrar nas minhas anotações a terceira parte, pretendo postar. Também quero dar uma polida nesse texto, algumas partes da tradução ficaram confusas.

Esse livro é excelente, mas ano passado li prático um que é ainda melhor: "A Educação da Vontade" de Jules Payot. Um daqueles que deveriam ser lidos por todos nos primeiros anos da escola. A ausência de livros assim da grade curricular em detrimento de coisas como Cortiço e Iracema me faz saber que o sistema educacional é falido mesmo.

Gostaria de resenhar esse do Payot em breve.
Responda-o


Pular fórum:


Usuários visualizando este tópico: 1 Visitante(s)