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[Os Doze Trabalhos] O Oitavo Trabalho: As Éguas Devoradoras
#1
[Os Doze Trabalhos] O Oitavo Trabalho: As Éguas Devoradoras
por DiomedesRJ


Para ler os primeiros trabalhos clique AQUI.

Em seu Oitavo Trabalho, mais uma vez a um barco, Hércules foi lançado.

Cruzando o Mar Negro, mais distante para onde o Filho de Júpiter jamais foi, estavam as terras da Trácia, onde Diomedes, filho de Ares, Deus da Guerra, e de Cirene, governava com um punho de ferro banhado em sangue.

(Nota: Cabe diferenciar Diomedes da Trácia, filho de Ares, sobre o qual esse Trabalho é contado, de Diomedes de Argos, filho de Tideu, de quem esse Autor tem seu nome.)

Pouco se sabia do que realmente ocorria lá, a não ser o fato mais infame, que o Filho de Ares criava éguas que se alimentavam unicamente de carne humana, e que os estrangeiros desavisados se transformavam no pasto delas. Euristeu encarregou seu servo e primo de capturar esses animais torpes e livrar a Trácia desse mal.

Após atravessar o corpo de água, mas antes de entrar nas terras de Diomedes, uma cena lhe chamou a atenção. Um jovem atlético mostrava grande agilidade e equilíbrio combinando golpes de espada e malabarismo, tanto a pé, quanto montado; sua exibição atraía atenção tanto de rapazes admirados, quanto de moças suspirantes.

Ao atracar seu barco, Hércules percebeu a aproximação do jovem, que não perdeu tempo em lhe falar:

– Ei! Você é Hércules, não é? Sei que é, ouvi falar dos seus Trabalhos.

– Sou Hércules, servo de Euristeu, se é o que quer saber. E quem é você, só sei que suas mãos e pés são bem rápidos, rapaz.

Se aprumando, o jovem respondeu:

– Sou Abdero, Filho de Hermes. Sou um semideus, como você! Está cumprindo algum Trabalho agora, não é? Posso lhe ajudar? Eu posso ajudar!

Hércules pensou “bem vejo que a língua dele é tão rápida quanto o resto do corpo”, e respondeu:

– Você fala a verdade, percebo a Centelha em você. Mas Meu Rei e Senhor me proíbe de aceitar ajuda de qualquer um em minhas tarefas. Agradeço pela sua oferta.

Se colocando novamente na frente de Hércules para que ele não continuasse a partir, Abdero insiste:

– Por favor, Senhor Hércules, deixe-me ajudar! Talvez eu não possa interferir com sua missão, mas tem alguma coisa em que eu posso lhe ser útil? Tem que haver alguma! Sou habilidoso, estou certo que não vou lhe atrapalhar!

O Filho de Júpiter suspira e diz:

– SE você ainda estiver aqui quando eu retornar, talvez eu terei algo para você. Mas não irei garantir, Abdero.

– Eu vou esperar, Senhor Hércules! Mas… para onde está indo, mesmo?

Já se distanciando do porto, ele responde:

– Trácia.

– T-T-T-Trácia?!? Mas nenhum estrangeiro entra na Trácia, e sai com vida!

Hércules se volta para Abdero, sorri, e afirma:

– Vim aqui exatamente para mudar isso. Fique aqui se quer ter sua chance… mas eu partiria se fosse você. Não acredito que você goste de esperar…

Sem se voltar, ele escuta Abdero responder:

– Só pelo que vale a pena! Vai ver, Senhor Hércules, estarei aqui quando voltar!

Com os montes que separavam a Trácia do Mar Negro, atrás de si há alguns dias, Hércules ponderava sobre seu Trabalho e sua dificuldades. Éguas antropófagas… um Senhor firme e violento… obediência…

Seus pensamentos foram cortados apenas por um tropel que se aproximava rapidamente. Ergueu os olhos e viu quatro equinos se aproximando, diretamente em sua direção, olhos brilhantes como carvões em brasa. O semideus tomou as cordas que tinha consigo nas mãos, deixou-as atrás de si, e continuou caminhando, olhos fixos nos animais.

As Éguas Trácias se detiveram a sua frente, ameaçando ora investir, ora cercá-lo. Longamente, Hércules as encarou. Elas relinchavam inquietas, o circulando, sem que ele as deixasse sair do alcance dos olhos. E como ele imaginava, não foi atacado.

Após alguns instantes, o semideus se virou lentamente, e andou até as cordas. As éguas o seguiam, tão perto que ele podia sentir seu hálito quente, e pútrido, de sua alimentação incomum, e até sua saliva respingar em sua pele.

Ao chegar até suas cordas, ele pensou por um momento. Fez laços firmes, mas amplos, e sem hesitação, os colocou no pescoço de cada uma delas, dizendo “agora vocês irão onde EU disser que tem que ir. Não sou seu dono, mas sou agora o Guia dos seus passos”.

Juntando as pontas das cordas e as trazendo, viu que elas, mesmo inquietas o seguiam, mesmo ocasionalmente forçando o pescoço contra as cordas, sem contudo tirá-las.

Ele fez acampamento para o pernoite pouco depois, mas não dormiu, apenas descansando até o sol se levantar de novo. As éguas incansáveis ainda o encaravam e relinchavam. Mas não fugiram.

Ao retornar para o porto, Hércules viu apenas o cavalo de Abdero, inicialmente, até notar que o jovem estava nadando, e voltava rapidamente para as docas.

– Senhor Hércules! Senhor Hércules! Você… você foi até a Trácia roubar cavalos???

– Não são cavalos comuns, Abdero.

– Acho que não… os homens que estão ao longe vindo estão muito armados e muito apressados para serem os donos de cavalos comuns!

Hércules olhou para trás, e viu apenas um parco movimento ao longe. Confiando na visão aguçada de seu companheiro, perguntou:

– Alguém segue à frente do grupo?

– Sim, um homem nu, com uma flâmula vermelha na lança.

“Diomedes”, pensou Hércules enquanto dizia para Abdero:

– Não conseguiremos nos afastar à tempo. Você queria uma chance, e agora a tem. Fique aqui com as éguas. Não largue as cordas. Não as perca de vista. Não tenha medo. Aguarde até eu voltar com seu cavalo.

Enquanto montava no cavalo e partia, gritou completando:

– Não esqueça minhas palavras, Abdero! Sua vida depende disso!

Os cavalos dos dois lados se aproximaram devagar. Hércules desmontou primeiro e disse:

– Se tem alguma contenda contra mim, Rei da Trácia, solucionemos a questão em particular. Só você e eu.

E enquanto tirava sua Couraça indestrutível e suas armas, alertou:

– Mas pense bem. Em teu Reino, estou sujeito a teu domínio, e como um Servo, não posso feri-lo. Mas aqui em solo neutro, tu és homem como eu, e lutarei sem hesitação ou piedade!

Diomedes sinalizou aos seus guardas, que retornaram para seu reino. Ele desmontou largando sua lança, e respondeu:

– Nada me daria mais prazer do que sacrificar o filho de um Deus para meu Pai, e alimentar minhas éguas com carne tão nobre, tudo ao mesmo tempo!

Sem dizer mais nada, o Filho de Ares urrou seu grito de guerra e correu contra Hércules.

A luta iniciou equilibrada. Hércules era mais forte, mas Diomedes era mais habilidoso, tanto no pugilato, quanto na luta corpo-a-corpo. Após alguns minutos, mesmo com ambos contundidos, esfolados e cansados, nenhum dos dois tinha intenção de desistir.

Foi quando patas de cavalo foram ouvidas. As Éguas se aproximavam, ainda com a corda no pescoço, mas sem nenhum condutor. Elas pararam em certa distância, ameaçando avançar contra os lutadores, mas sem interferir na luta.

O olhar de Hércules se revestiu de energia nova, diante de um pensamento que teve, mas que não podia deixar que o invadisse agora. Diomedes investiu, buscando derrubar novamente Hércules, mas o Enteado de Hera abaixou-se no último instante, reuniu suas forças, e o lançou ao alto e para trás dele, dizendo:

– Você criou os monstros, agora, alimente-os!

Hércules não se virou quando ouviu o Filho de Ares cair e gritar de terror, até ser silenciado pelo som febril das patas e dos dentes das éguas.

Não levou mais do que o tempo dele tomar fôlego, para os sons pararem. Hércules se virou, e Diomedes da Trácia foi reduzido a uma carcaça sanguinolenta.

O Campeão de Micenas reuniu seus pertences, e tomou as éguas pelas cordas, cavalgando para o porto. Agora, elas seguiam com ele, calmas e silenciosas.

Ao fim da tarde ele chegou… e encontrou apenas os ossos limpos de Abdero, testemunhando que o jovem pagou um preço amargo pela sua impetuosidade e fraqueza.

– FRACASSO, FRACASSO, FRACASSO!!! Será que tudo o que eu lhe envolvo se transforma em FRACASSO, servo inútil???

Euristeu não ousava se erguer diante da ira de Hera, tão intensa que ele tinha ouvido a estátua de seu altar rachar, há pouco.

– Hércules não só conseguiu lhe trazer as éguas, agora tão mansas quanto se criadas num estábulo real, mas também está mais famoso que nunca! Saiba por mim, Euristeu, ó Todo-Poderoso Rei de Micenas, que Hércules demorou por retornar, porque reuniu atletas para Jogos em honra à Abdero, e foi tão eloquente em seus discursos que eles decidiram fundar UMA CIDADE INTEIRA em homenagem ao falecido! Hermes, pai dele e Mensageiro do meu Esposo e Rei, nem sequer guardou agravo contra Hércules!

O pavão de pedra de olhos de rubi silenciou por uns momentos, até continuar:

– Dê a ele uns poucos dias de luto pelo jovem que partiu para o Reino de Hades. Eu retornarei depois para lhe ditar o novo Trabalho. Mas esteja certo de uma coisa, escravo… desta vez, eu, PESSOALMENTE, me encarregarei que ele não terá sucesso!

Esse tópico é um oferecimento do Guardião e as Relíquias Perdidas.
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#2
[Os Doze Trabalhos] Compreendendo o Oitavo Trabalho
por DiomedesRJ

Esse é um dos Trabalhos mais diretamente ligados com o Realismo conforme os mais jovens o encaram, então merece uma análise cuidadosa.

As mulheres estão naturalmente inclinadas a seguir e serem guiadas por homens dotados de dominância genuína, ignorando e se rebelando contra os fracos e pusilânimes. Ao conhecerem aqueles que conhecem o Realismo, mas o utilizam apenas para seus fins egoístas, os herdeiros do Rei da Trácia mostram a elas uma dominância tão forte, embora distorcida e malévola, que o convívio delas com eles igualmente lhes deforma o íntimo.

Ao invés de simplesmente se afastarem da fraqueza masculina, elas passam a se alimentar dela, voltando contra os homens fracos de corpo e alma, a indignação que no fundo, nutrem contra os próprios abusadores que amam.

Ao conhecer os herdeiros de Hércules, mulheres assim se tornam confusas. Reconhecem neles a mesma força que viram em seus doces exploradores, buscam intimidá-los, dado que não o reconhecem como iguais aos homens que lhes marcaram a alma, e ao não conseguir, reforçam seu estado de rebeldia e entrega simultânea. Ainda sim, os seguem, encantadas pela sua energia firme, e ainda sim, protetora.

Hércules, contudo, não as sacrifica nem as abandona. Primeiro, pelo Destino as ter deixado sob sua confiança; segundo, por saber que dado que ainda aceitam segui-lo, que sua natureza essencial ainda não foi perdida.

Fatalmente, tais mulheres, ao conviver com os Realistas, serão confrontadas com homens que lhes proporcionam as mesmas emoções ardentes e tóxicas. Nesse momento, as imagens de ambos os tipos de masculinidade confrontarão em seu íntimo. O Realista, sabendo que se confrontar diretamente com esses homens poderá lhes levar, no máximo, a uma Vitória de Pirro, faz a única coisa que lhe cabe: lhes demonstra com seus atos, que a força que eles alegam possuir é uma farsa, proporcionada unicamente pela sua falsa sensação de segurança, pois quando os herdeiros do Rei da Trácia estão no chão, sua pose desaparece junto com sua força e coragem.

Assim sendo, as mulheres que os Heráclidas julgaram com acerto não estarem de todo corrompidas, voltam sua indignação contra o alvo certo, e curam a si mesmas de seus vícios de comportamento, saindo de sua histeria e retornando para sua natureza essencial.



Há uma outra lição contida nesse Trabalho, uma que se ignorada, conduz com certeza para a tragédia.

Nós sabemos do quanto nossos Aspirantes, felizes, quase embriagados pelas capacidades que seu esclarecimento só começou a dar a eles, se acham capazes de realizar qualquer feito. Conhecemos também o quanto de confiança eles transpiram.

Mas saber não é conhecer, nem mesmo exercitar. Estar ciente do Realismo, não é o que concede a Masculinidade Verdadeira ao praticante; é sua prática, e em muitos casos, a sabedoria adquirida nos fracassos diante dos pequenos testes da vida cotidiana.

Aqueles que orientam aos mais jovens, devem se precaver de dar aos Aspirantes, responsabilidades para os quais eles não estão preparados; mais desastroso ainda é quando aquele que ensina, dá ao aluno, responsabilidades que são pessoais.

Da mesma forma, os Aspirantes devem estar cientes de evitarem a afobação em seu progresso, e por mais que admirem os mais antigos, precisam tomar consciência que, por mais que a experiência do Realismo seja única, que sua vivência é pessoal. Desejar calçar as sandálias daqueles que os auxiliam, só os levará para dores desnecessárias para suas vidas.



Saibamos tanto assumir nossos fardos, mensurar corretamente as capacidades dos que nos cercam, e também, praticar corretamente e no tempo certo, a lida com as mulheres de nosso tempo – mesmo algumas que os inexperientes consideram intratáveis.

Força e Honra.
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