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Coronavírus - Fatores de Risco e Pesquisas
#1
Boa noite, confrades.

Quis criar este tópico para divulgar e discutir os resultados de alguns estudos e pesquisas relacionados ao Coronavírus.

Mas antes, uma introdução sobre os tipos de estudos/pesquisas:

A epidemiologia pode ser definida como o estudo da distribuição e dos determinantes das doenças ou das condições relacionadas à saúde em populações especificadas. Os estudos epidemiológicos incluem a vigilância, análise e experimentação dos fatores físicos, biológicos, sociais, culturais e comportamentais que influenciam a saúde. Atribui-se também a epidemiologia o desenvolvimento de estudos para o controle dos problemas de saúde.

Os estudos OBSERVACIONAIS / EPIDEMIOLÓGICOS podem levantar hipóteses, mas não estabelecem causa e efeito, eles estabelecem apenas uma correlação entre fatores.

Dizer que Correlação não implica em Causalidade, quer dizer que duas coisas correlacionadas não implicam, necessariamente, no fato de uma ser causa da outra. Um exemplo palpável que cabe bem à situação seria a seguinte afirmativa: em países do hemisfério norte nota-se que as pessoas tendem a gastar mais em compras no frio. Apesar do gasto em compras estar correlacionado negativamente com a temperatura (- temperatura, + compras), não quer dizer que o frio cause um aumento nas vendas. Uma explicação mais plausível para esse constatado é que datas festivas — como o Natal, por exemplo — coincidem com épocas de frio nos países situados no hemisfério norte.

Logo, utilizando o método científico clássico, temos uma hipótese que deverá ser testada e uma possível associação poderá ser demonstrada. Para se demonstrar causalidade, uma série de critérios necessitam ser preenchidos.

Para isso existem os estudos prospectivos randomizados ou ensaios clínicos , que são o Santo Graal da pesquisa médica. Aqui, um grupo grande de pessoas é sorteado para um de dois ou mais grupos. Um grupo será o grupo controle, e o outro grupo receberá o tratamento/remédio/dieta. O sorteio assegura que, estatisticamente, quaisquer variáveis de confusão (conhecidas ou desconhecidas) estejam igualmente distribuídas entre os grupos (mesmo número de fumantes, de sedentários, etc, etc.). Os estudos prospectivos randomizados são a base da medicina baseada em evidências. Eles permitem avaliar se uma intervenção causa ou previne um desfecho.

A importância de saber diferenciar estes dois tipos de estudo é gigantesca. Afinal, os estudos epidemiológicos (observacionais) apenas podem levantar hipóteses. Eles não podem estabelecer causa e efeito.

Sobre o risco de desenvolver a forma grave da doença COVID-19, muito se fala em "loteria genética". Cada indivíduo vai responder de uma forma à infecção do novo coronavírus, devido à fatores como a sua genética e condições do sistema imunológico, esse que certamente é influenciado em parte pela própria genética, e em parte por hábitos como exercícios físicos e alimentação. Somos todos parecidos, mas não somos iguais.

Os geneticistas tem divulgado que o vírus tem sofrido mutações. Como acontece com outros microorganismos e insetos, é de se esperar que as formas mais fracas sejam destruídas e as formas mais fortes sobrevivam e sejam passadas pra frente. Seguindo nessa linha de pensamento, pode-se dizer que se o vírus permanecer por aí, provavelmente acabará tornando-se cada vez mais resistente e letal.

Não acredito que uma única cópia de vírus seja suficiente para iniciar uma infecção, a menos que seja num indivíduo 100% imunodeprimido. Em gotículas de saliva podem existir dezenas de milhares de cópias. Com pessoas assintomáticas passando e pegando o vírus novamente, a situação pode chegar ao ponto que seja impossível não termos absolutamente nenhum contato com ele.

Antes que apareça uma vacina ou antiviral eficaz, temos que investir em prevenção. Seja com hábitos (limpeza, distanciamento, máscaras), exercícios físicos, alimentação e suplementação. Lembrando que até hoje não temos uma vacina 100% eficaz contra uma simples gripe, e nenhuma contra outros vírus como herpes e HIV.

Portanto a intenção é divulgar o que tem sido descoberto como possível fator de risco associado (hipótese) - e discutir o que pode ser feito, e como pode ser feito para diminuir esse fator de risco.

Não sou da área biomédica, portanto posso interpretar resultados de maneira errada, e gostaria que os representantes dessa área colaborassem com as discussões. Peço evitar viés político e teorias da conspiração.
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#2
Primeiramente, algo relacionado genericamente a infecções do trato respiratório superior.

Ainda que a pessoa não tenha anticorpos específicos, a primeira resposta imunológica do organismo certamente é a chave para evitar que a infecção se estabeleça. Para o caso de contaminação por nariz e boca, acredito que os adenóides e as amídalas tenham um importante papel na ação dos linfócitos T e NK. Não vi até agora pesquisas relacionando as taxas de positividade, complicação e óbito para COVID-19 como por exemplo, o fator da presença ou não das amídalas, que muita gente retira devido à complicações na fase inicial da vida. Não sei como está sendo a prática médica hoje.

Segue esta pesquisa, que associa a retirada das amídalas com o maior risco de doenças do trato respiratório superior:

Association of Long-Term Risk of Respiratory, Allergic, and Infectious Diseases With Removal of Adenoids and Tonsils in Childhood
https://jamanetwork.com/journals/jamaoto...le/2683621

Resultado (tradução):

Até 1189061 crianças foram analisadas neste estudo (48% do sexo feminino); 17460 foram submetidos a adenoidectomia, 11830 amigdalectomia e 31377 adenotonsilectomia; 1157684 estavam no grupo controle (eTable 1 no suplemento). A amigdalectomia foi associada a um risco relativo quase triplicado de doenças do trato respiratório superior (RR = 2,72; IC 95%, 1,54-4,80) (Figura 2) (eTables 4 e 5 no suplemento) com um aumento substancial do risco absoluto (absoluto diferença de risco [ARD], 18,61%) (eTable 4 no suplemento) e um pequeno número necessário para tratar (dano NNT, 5) (eTable 4 no suplemento), sugerindo que apenas 5 tonsilectomias precisariam ser realizadas para uma doença adicional do trato respiratório superior a ser associada a um desses pacientes. O grau em que a amigdalectomia está associada a esta doença na população geral mais tarde na vida pode, portanto, ser considerável.

Esse já foi um estudo randomizado, que contou com grupo controle. A pesquisa informa que os sujeitos foram acompanhados até a idade de 30 anos.


Eu chamo a atenção daqueles que retiraram as amídalas, para tomarem mais cuidados com os riscos de contaminação, e procurarem fazer todo o possível para melhorar a resposta imunológica.
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#3
Outra pesquisa, esta observacional, que chamou a minha atenção foi esta aqui:

Korean researchers found substance inhibiting COVID-19
http://www.koreabiomed.com/news/articleV...idxno=7744

Dessa pesquisa, entendi que substancias chamadas Purinas são utilizadas pelo vírus pra construir os "espinhos":

De acordo com a equipe de pesquisa chinesa, o novo coronavírus cria "proteína spike" para sobreviver dentro do corpo humano. A "proteína spike" entra em contato com a membrana celular e ataca a purina para adquirir energia para sua replicação.

Aqui um comentário, no final tem o link para a página do instituto de pesquisa:

Purine Repressing Probiotic Might Halt COVID-19, says Korean Researchers
https://geneonline.news/en/2020/03/21/purine-repressing-probiotic-might-halt-covid-19-says-korean-researchers/?doing_wp_cron=1585886621.9750459194183349609375

Eles recomendam a ingestão do probiótico L.Gasseri  para baixar as Purinas no organismo e dessa forma limitar o processo de replicação do vírus.

Essa questão havia levado o Japão anteriormente a desenvolver um iogurte chamado PA-3, para contribuir com a redução do consumo de purinas.
Tendência de redução no consumo de purina no Japão inspira desenvolvimento de iogurte
https://www.milkpoint.com.br/colunas/nov...5862n.aspx

A maior conscientização sobre a relação entre dietas com baixo teor de purina e o desenvolvimento de gota no Japão inspirou a maior produtora de lácteos do país, Meiji, a lançar o iogurte PA-3, contendo um probiótico que mostrou metabolizar as purinas.

As purinas, ácidos nucleicos encontrados em alta concentração na carne, nos alimentos gordurosos e na cerveja, é precursora do ácido úrico. O acúmulo de ácido úrico no corpo pode causar gota – um tipo de artrite onde ocorre inchaço e dor severa nas juntas.

A gota é mais prevalente entre os idosos – pessoas com 65 anos ou mais – que atualmente representam cerca de um quarto da população do Japão. Com os idosos devendo representar cerca de 40% da população do Japão até 2055, não surpreende que a tendência de alimentos sem purina tenha surgido no país. Nos últimos anos, as maiores cervejarias do Japão, incluindo Asahi, Suntory, Kirin e Sapporo, começaram a produzir cerveja sem purina.



O ácido úrico está entre as substâncias naturalmente produzidas pelo organismo. Ele surge como resultado da quebra das moléculas de purina – proteína contida em muitos alimentos

Imediatamente, relacionei essa informação com o óbito do jovem maratonista que morreu em SP:

https://veja.abril.com.br/saude/homem-de...sao-paulo/

formado em Direito pelo Instituto Mackenzie, estava internado no Hospital Santa Cruz desde o dia 23, quando deu entrada com um quadro de síndrome respiratória grave. O rapaz estava em tratamento para hiperuricemia, quando há presença de alto índice de ácido úrico no sangue.

Eu acho que essa associação faz sentido.

Não sabemos se a hipótese da pesquisa se confirmará. Mas fica um alerta para quem tem quadro de hiperuricemia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hiperuricemia

Por enquanto, suplementos de Lactobacillus Gasseri  são relativamente baratos e fáceis de achar.
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#4
Estes médicos estão construindo uma pesquisa, tabulando os dados que estão sendo divulgados, apontando que a taxa de internação/mortalidade de fumantes  em cada país é sempre menor do que a prevalência de tabagismo em cada um dos países:

Smoking, vaping and hospitalization for COVID-19
https://www.qeios.com/read/article/561
From a total of 7162 patients in the US, only 1.3% were current smokers. low smoking prevalence was also observed among hospitalized non-ICU (2.1%) and ICU cases (1.1%), while the population smoking prevalence in the US is 13.8%. These observations raise a possible hypothesis that nicotine might reduce the risk for severe COVID-19.

Muitas experiências feitas com ratos mostram que a nicotina diminui a expressão da enzima/proteína ACE2 que é a porta de entrada para o vírus nas células.

Losartan attenuates chronic cigarette smoke exposure-induced pulmonary arterial hypertension in rats: possible involvement of angiotensin-converting enzyme-2.
[/url]https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7103128/
Immunohistochemistry results showed a notable decrease of ACE2 positive staining in lung sections in the smoke-exposed rats as compared to the control rats ([url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7103128/figure/fig4/]Fig. 4A). Densitometric analysis of Western blotting bands indicates that smoke exposure induced a significant elevation in ACE but a decrease in ACE2 levels in lung tissue (Figs. 4B and C). Losartan administration in rats significantly increased the abundance of the band identified by ACE2 antibody, while no significant difference was found in ACE expression between the smoke-exposed group and the group treated with smoke plus losartan. The results imply that losartan could partially reverse the smoke-induced ACE2 reduction but had no effect on ACE protein expression.

Activation of renin-angiotensin-aldosterone system (RAAS) in the lung of smoking-induced pulmonary arterial hypertension (PAH) rats.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25795458
After six months of cigarette exposure, the RVSP of chronic cigarette induction group was significantly higher than that of the control group; expression levels of AngII and ACE increased in lung tissues, but ACE2 expression levels reduced. Compared with cigarette exposure group, after losartan treatment, RVSP, ACE and AngII obviously decreased (P<0.05), and ACE2 expression levels significantly increased.

Os ratos que receberam só fumaça de cigarro mostraram expressão muito menor de células com ACE2 no pulmão. Notar que os ratos não se entupiam de baconzitos com coca-cola sentados o dia todo na frente da TV, nem enchiam a cara de cerveja. Já os que receberam fumaça e Losartana preservaram as células com ACE2.

Um urologista da Turquia escreveu um comentário neste artigo:

https://www.bmj.com/content/368/bmj.m1087/rr-0

There is no treatment modality in the current literature to prevent blockage of ACE2 receptors. In a study on nicotine and RAS, Joshua et al.(8) reported that nicotine induced ACE upregulationwhile ACE2 was downregulated. It may be possible to break down the ACE2-Covid19 receptor interaction with nicotine. Nicotine replacement therapies used to quit smoking may be a glimmer of hope in the treatment of covid19. NRT forms are sold in the market as nicotine gum, transdermal patch, nicotine nasal spray, nicotine inhaler and nicotine sublingual tablets / lozenges (9). However, further randomized, prospective, controlled studies should be conducted to assess the outcome of the treatment.

Conclusion: In patients infected with COVID 19, the use of ACE inhibitors and angiotensin II receptor blockers should be effective. ACE2 receptor downregulation can be achieved with nicotine and Covid19-cell interaction may be somewhat broken. Nicotine band therapy may be a treatment option for patients who are not infected.
Ercan Ogreden
Giresun University, Faculty of Medicine, Department of Urology, Giresun, Turkey.


Os dados sobre as complicações da COVID-19 até agora mostram apenas a disparidade entre fumante/não fumante. Não avaliam frequência de uso e dose do tabaco, não correlacionam com hábitos como dieta, exercícios e consumo de álcool, nem consideram se cada indivíduo fazia uso ou não de medicamentos que aumentam o ACE2, como a Losartana.

O hábito de fumar causa sim, lesões que engrossam os tecidos do pulmão, e gera inflamação que acaba por aumentar muito a presença de linfócitos nos pulmões, resultados vistos em outras pesquisas. Se a pessoa não desenvolver câncer nem Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, vai continuar vivendo e fumando.

Mas a nicotina parece  ter um efeito protetivo por diminuir a disponibilidade de ACE2 nas células dos pulmões.
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#5
Saiu uma pesquisa que mostra um risco maior de forma grave da doença para os pacientes que fizeram uso de Ibuprofeno.

https://www.researchsquare.com/article/r...iknyVqMlLY
Results: Among 1,872 patients, 46 (2.5%) were exposed to ibuprofen prior to COVID-19 infection. Patients with recent ibuprofen exposure tended to be older and more likely to have hypertension, diabetes, myocardial infarction, chronic obstructive pulmonary disease, and cancer, though all insignificant (P>0.05). When adjusting for these covariates, odds ratio was 1.57 [95% CI 0.72-3.38], with 12 ibuprofen-exposed patients meeting the endpoint (26.1% [95% CI 13.4-38.8%]) versus 272 unexposed patients (14.9% [95% CI 13.4-16.4%]), P=0.15.
Conclusion: The association between ibuprofen and severe COVID-19 was insignificant, although with a trend towards increased disease severity risk.

Outros dados mostraram que falta de vitamina K pode ser um fator de risco agravante:

Reduced Vitamin K Status as A Potentially Modifiable Prognostic Risk Factor in COVID-19
https://www.preprints.org/manuscript/202004.0457/v1
Coagulopathy and thromboembolism are prevalent in severe COVID-19 and relate to decreased survival. Coagulation is an intricate balance between clot promoting and dissolving processes in which vitamin K plays a well-known role. We hypothesized that vitamin K status is reduced in patients with severe COVID-19

E após algumas meta-análises sobre a baixa prevalência de fumantes internados, na França a nicotina está sendo testada como protetor contra contaminação nas equipes, e como inibidora da tempestade de citocinas nos pacientes. Os Ingleses estão para começar seus próprios testes.

Por que fumantes estão sendo menos hospitalizados por coronavírus?
https://www.vice.com/pt_br/article/epgyj...oronavirus

French researchers suggest nicotine could protect against coronavirus
http://www.rfi.fr/en/science-and-technol...t-covid-19

AN NHS hospital is set to trial nicotine patches as a treatment for coronavirus. 
Studies of hospitalised Covid-19 patients across the globe have shown a surprisingly low prevalence of smokers.
https://www.thesun.co.uk/news/11651302/n...treatment/

Por fora, a fabricante do Lucky Strike desenvolveu uma vacina, provavelmente baseada em nicotina:

British American Tobacco says potential coronavirus vaccine using tobacco leaves ready for human trialS
https://www.deccanherald.com/science-and...38659.html

Este estudo associou a glicose em jejum dos pacientes no momento da internação com o agravamento dos casos e morte. Acima de 126 mg/dL (valor convertido) foi praticamente uma sentença de morte, comprovando que os diabéticos correm maior risco:

Correlation between Fasting Blood Glucose Level at Admission and Mortality in COVID-19 Patients: A Retrospective Study
https://www.researchsquare.com/article/rs-18484/v1

Este estudo computacional avaliou que as catequinas (chá-verde) e curcuminas (açafrão) possuem alta energia de ligação com a proteína ACE2 e com as proteínas S1 do vírus, ou seja, sua presença no organismo poderia diminuir a disponibilidade de receptores ACE2, ao mesmo tempo que poderia inabilitar as proteínas da capa do vírus para a entrada nas células:

Catechin and Curcumin interact with corona (2019-nCoV/SARS-CoV2) viral S protein and ACE2 of human cell membrane
https://www.researchsquare.com/article/rs-22057/v1
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