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Xadrez e Jiu Jitsu
#1
Saudações. Hoje trago mais um texto, dessa vez de minha autoria, que pode ter escapado àqueles que visitam meu blog, e que também pode ser interessante aos que não visitam. É uma pequena obra prima (modéstia a parte) e quem não a ler terá sua cidade visitada por hordas de cavaleiros com arcos, sua casa queimada e suas mulheres escravizadas. Original aqui.

[Image: xadrezsuave1.jpg?w=427&h=175]

“No tatame, mentiras e hipocrisia não duram muito tempo.”
Hélio Gracie

“Eu nunca derrotei outros mestres, eu sempre ajudo eles a se derrotarem.”
Emanuel Lasker, segundo campeão mundial de xadrez

Tendo aprendido a jogar xadrez quando criança, e praticando-o regularmente há cerca de 15 anos, a última coisa que eu esperava seria associar o rei dos jogos mentais a alguma atividade primordialmente física. Mas é exatamente isto que tem acontecido nos últimos 2 meses e meio desde que comecei a praticar também a arte suave. De fato, a minha ideia que o Jiu Jitsu era uma atividade primordialmente física se mostrou superficial, pois esta atividade requer um grau muito elevado de condicionamento mental. Em contra partida, o Xadrez também requer um bom condicionamento físico.

Mens sana in corpore sano

O nerd que vive lendo livros e não tem vida social.

O bombadão que não consegue completar uma frase sem erros linguísticos.

O que ambos tem em comum?

Eles são incompletos, desbalanceados, unidimensionais, falsos. Eles ignoram o provérbio latino “Mente sã em um corpo são” e acabam se prejudicando até mesmo em suas supostas áreas fortes.
No primeiro caso, a prática de qualquer uma das atividades, talvez ainda mais a prática do Jiu Jitsu, possa levar o nerd a desenvolver qualidades importantes como raciocínio (nerds geralmente possuem muitas informações armazenadas, mas pouca capacidade de pensar por si sós), confiança, sociabilidade e disciplina, entre outras.

No caso do bombado, ele pode aprender que apesar de a força ser importante, força sem auto-controle, sem inteligência e direção não levam a lugar nenhum, a não ser talvez a muitos problemas.

Qualquer que seja o caso, ambas atividades têm o incrível poder de balancear uma vida desbalanceada.

A posição é fundamental

Para o leigo, ou mesmo para grande parte dos iniciantes, a maioria dos jogos de xadrez de alto nível pode parecer extremamente entediante. Como se não bastasse o jogo se desenrolar às vezes por horas, é pouco comum que grandes mestres ataquem diretamente o rei do adversário, e não é raro que uma partida inteira se desenrole sem o ataque ao mesmo. Dado que o rei adversário é o próprio objetivo do jogo, isto sem duvida soa bizarro. Similarmente, no Jiu-Jitsu, vemos lutas do mais alto nível onde nenhum dos dois lutadores parece disposto a tentar finalizar o adversário, preferindo uma abordagem indireta de ganhos de posição, com o jogo baseado em passagens de guarda e raspagens.

Estas características refletem a beleza de ambas atividades, pois refletem o mundo real, onde não devemos dar passos maiores que a perna sob o risco de sofrermos graves danos. “Não ataque seu adversário se não possuir justificativa para isto” se aplica a ambos, e poderia ser traduzido para a vida real como “Não gaste mais dinheiro do que você possui”, “Não dê opiniões sobre assuntos que você não conhece” entre outros.

O melhor ataque pode ser a defesa

[Image: o-jiu-jitsu-que-criei-foi-para-dar-chanc...gracie.png]


Eu acho muito belo que um sujeito franzino como Hélio Gracie tenha se tornado uma das maiores lendas das artes marciais, criando o padrão ouro das lutas competitivas e um grande clã de lutadores. Talvez o clima ultra esportivo dos dias atuais tenha diminuído um pouco o impacto da ideia genial de Hélio, pois o Jiu Jitsu esportivo é dividido por categorias de peso, sexo e faixa. Em um ambiente não esportivo, de rua, mesmo uma pessoa relativamente frágil, mas que seja jiujitsuca detém uma chance relativamente maior de prevalecer do que quem não estudou a arte suave, apesar de forte.

Conquanto esta não seja exatamente uma semelhança tão próxima com o xadrez, o princípio de defesa como ataque também encontra respaldo neste. As ideias do primeiro campeão mundial de xadrez, Willhem Steinitz eram de que não eram corretos os ataques impulsivos de sua época. E sozinho, Steinitz revolucionou o xadrez com seu jogo defensivo, muito à moda com que Hélio revolucionou a competição marcial com sua nova arte defensiva.

As melhores coisas da vida são difíceis e recompensadoras
[Image: fc,550x550,white.u3.jpg]
“O xadrez, como a música e o amor, tem o poder de fazer as pessoas felizes.”
Siegbert Tarrasch


Você já parou para pensar porque, apesar de que hoje em dia termos um acesso enorme a bens materiais, a depressão tem crescido a ponto de ser chamada de o mal do século XXI? Bem, se você não sabe vou reproduzir as ideias do excelente livro Flow¹, de Mihaly Csikszentmihalyi: “O estado ótimo de experiência interna que pode ser alcançado é um onde há ordem na consciência. Isto acontece quando a energia psíquica – ou atenção – é investida em objetivos realistas, e quando as habilidades se adequam às oportunidades para ação.” (NT.: Em tradução livre do livro em inglês).

Isto significa que bens materiais, justamente por serem de fácil acesso, sem a necessidade de serem obtidos através de um foco concentrado, não trazem a felicidade justamente por isto. Somente atividades que requeiram atenção focada e uso de grande parte (ou toda) da habilidade do praticante para resolver os problemas daquela atividade. Ora o Jiu-Jitsu além de ser algo em constante evolução, exige décadas de dedicação para ser dominado, enquanto o xadrez é tão vasto que estima-se que existem mais partidas possíveis que átomos no universo.

Deste modo, fica claro que ambas práticas além de tudo que já se sabia sobre elas, podem também trazer a felicidade.

A verdade sempre prevalece
[Image: BJJchess.jpg]
“Faixa só serve para amarrar quimono.”
Hélio Gracie

Nick Krauser é um de meus escritores prediletos, não só pelos excelentes conselhos que ele dá a outros homens (e de graça), mas também pela sua amplitude intelectual. Em um de seus posts, ele convincentemente descreve como a maioria das profissões está infestada de pseudo-especialistas.
Para boa parte das artes marciais isto é verdadeiro. Como podemos medir o nível de alguém no Aikidô ou Krav-Magá se ambas não possuem métodos de treino realistas ou competições? É simplesmente impossível, e com isto fica difícil também distinguir especialistas de charlatães.

Os campos da economia e da nutrição talvez sejam ainda piores. Os ditos especialistas nessas áreas repetem à exaustão que são capazes de transformar pedras em pão, ou que devemos comer de três em três horas. A partir do momento em que não são eles que têm de arcar com as consequências dessas bobagens, além de protegerem da verdade atrás de meros papéis conhecidos como diplomas, a verdade sofre.

A epidemia de especialistas incompetentes é tão grande que mesmo PhD’s em matemática erraram o cálculo de probabilidades do problema de Monty Hall, mesmo após a clara explicação dada por Marilyn vos Savant.²
Mas não no Xadrez, e não no Jiu Jitsu. Somente os melhores prevalecem. Mova uma peça para o lugar errado e você estará próximo de tomar um xeque-mate. Distraia-se por meio segundo e a hora de bater em desistência para não ser enforcado está mais próxima. E esta é a mais bela das semelhanças entre o Jogo dos Reis e a Arte Suave. Bravatas e um papel qualquer com o nome de diploma nada valem. Você é tão bom quanto sua última performance, e os resultados falam por si sós. Em mundo que é e sempre foi permeado por mentiras, esta beleza não poderia passar despercebida.

Conclusão
E assim retorno ao ponto de onde parti, mas tenho de confessar algo. Eu menti. Alterei as citações do começo do artigo, mas foi por um bom motivo.

As citações verdadeiras são:

“No tabuleiro, mentiras e hipocrisia não duram muito tempo.”
Emanuel Lasker, segundo campeão mundial de xadrez

“Eu nunca derrotei ninguém, eu sempre ajudo meus adversários a se derrotarem.”
Hélio Gracie

Mas, se você acha que as citações “falsas” do começo do artigo bem que são verdadeiras, bem, meu objetivo foi cumprido.

Referências:
1. Csikszentmihalyi, Flow, pág. 6.
2. Mlodinow, O Andar do Bêbado, pág. 61.
Imagens obtidas através da pesquisa Google por “Chess Jiu Jitsu” e “Citação Hélio Gracie”.
  • Sem a visão de um objetivo um homem não pode gerir a sua própria vida, e muito menos a vida dos outros.
Leia: Nuvem de Giz
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#2
Sensacional
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#3
Muito bom. o xadrez é um hobby que aprecio muito. Ainda preciso melhorar, mas falta tempo.

Pra complementar, "ao final do jogo, o rei e o peão voltam para a mesma caixa".
"Primeiro vêm os sorrisos, depois as mentiras; por último, o tiroteio" - Roland de Gilead
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#4
Tópico muito bom, Temujin!

Pra quem já praticou xadrez e jiujitsu como eu o tópico faz todo o sentido, não sei pra quem vê de fora, se consegue entender bem essas comparações, deve parecer meio sem sentido. Big Grin

Eu gosto de jogar xadrez, jogava partidas disputadas com meu pai, e tinha um primo que foi professor de xadrez também, aprendi bastante coisa.

E fiz alguns meses de Jiujitsu na academia Gracie Barra há poucos anos atrás e percebi uma semelhança imensa entre os dois, além do fato que os próprios praticantes fazem bastante essa comparação, pra cada golpe, existe um contragolpe, e o mais incrível é que não é o mais forte que ganha, já que por mais que se tente usar a força no Jiujistu ela é inútil contra alguém que sabe como neutralizar a sua força e usar a sua própria força contra você. Um magrelo com técnica avançada consegue vencer um gigante com facilidade.

É muito edificante praticar este tipo de luta. Se aprende muita coisa.

Tenho o quimono guardado aqui até hoje, em breve pretendo voltar a praticar o jiujitsu e talvez até participar de umas competições pra dar aquela animada nos treinos. Big Grin
“A maior necessidade do mundo é a de homens — homens que se não comprem nem se vendam; homens que, no íntimo de seu coração, sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus.” Ellen White, Educação, Pág 57.
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#5
Excelente tópico, Temujin. Fico feliz com o prazer de tão boa leitura aqui neste fórum.


(i) Muito boa a abordagem do assunto pseudo-especialistas.
Exemplos comuns:
- Médicos já com residência em certa especialidade, mas com conhecimento extremamente raso em determinado assunto, aliás coisa que você aprenderia mais que ele em meia hora de internet, se sustentando atrás do peso do diploma;
- Nutricionistas vendendo informações bobas, algumas óbvias, outras muitas erradas, mas sofisticadas por um dito diploma do orador;
- Pós-graduados stricto sênsu (mestrado ou doutorado), com uma carga alta de informação específica acumulada, mas muito distantes ainda de situações vivenciais relacionadas, fazendo soberba pois são mestres ou doutores;

(ii) Ótimas referências da completude do ser humano.
Que de nada vale um bombado ignorante, já é até sabido. Mas da mesma forma não vale um nerd distante das necessidades humanas intrínsecas à vida. Por mais que leia muito ou outras coisas, estando distante das pessoas, da saúde física, das coisas básicas do instinto humano, isso o faz não conseguir desenvolver merda nenhuma com o que tem dentro da cabeça.



Ps: Na minha adolescência eu tive a oportunidade de fazer 2 meses de Jiu-Jitsu e achei uma experiência fantástica! Muito além da parte física existe um jogo mental muito forte. Você não pode ficar nervosinho e guiado pela emoções, pois assim se torna vulnerável e perde na hora. Diferentemente de muitos esportes onde o desafio é unicamente manter a força, no Jiu é preciso manter a mente.

Acabei por fazer uma cirurgia ocular corneana depois que me afastou disso pra sempre. Não que eu necessariamente não possa, mas não é muito inteligente eu ter esse tipo de contato toda hora. Portanto hoje me preencho com o "fisiculturismo". Mas pra mim são fundamentais essas práticas para se ter uma vida saudável física e mentalmente.
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#6
Joinha Muito bom.....
"É o saldão das balzacas"  Minerin 
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#7
Agradeço a todos os confrades pelos comentários positivos. Joinha

@Roland, é minha opinião que esse ditado (italiano se bem me lembro) é uma das frases mais perversas que existem, ao menos do modo como é utilizada. Explico: Essa frase quer dizer que não importa o que você é na vida, ao final, vem a morte e todos nós após a morte somos iguais. Mas e daí? A frase ignora que peões, reis, e seres humanos importam de acordo com o que eles fazem sobre o tabuleiro, em vida. E nessa fase definitivamente reis e peões não são iguais. Nós, realistas, devemos jogar o melhor possível o jogo da vida e deixar considerações sobre para que caixa vamos para as pessoas de mente fraca.

@Libertador, tentei balancear as comparações com um pouco de informações para os mais leigos, mas seria impossível comparar as modalidades sem trazer características delas Yaoming.

@TheOak E a soberba dos "Dôtores" só aumenta ainda mais com os ignorantes que vivem dizendo " você quer saber mais que os médicus/adevogados/etc?" Uma pena que você tenha se afastado do Jiu, por motivo de força maior. Eu também fiz cirurgia ocular (correção de miopia a laser) mas nunca tive problemas nesse sentido.
  • Sem a visão de um objetivo um homem não pode gerir a sua própria vida, e muito menos a vida dos outros.
Leia: Nuvem de Giz
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#8
Tópico incrível! Jogava Xadrez há uns anos atrás na escola, e pratico a arte suave atualmente, e nunca pensei nessa relação entre ambos, sacada sensacional. Excelente!
Responda-o
#9
A mais pura verdade. Treino a arte suave desde os 13 anos de idade, foi o que mais me agregou na vida, tendo em vista as benesses que me proporcionou tais como: confiança, respeito e auto-estima, só pra citar como exemplo.

Os mestres de verdade são pessoas bem sábias que te aconselham não só na arte como também em outras esferas da vida, como espiritualidade e até mulheres, rs.

E a analogia de xadrez e bjj é perfeita. De cada posição, tem-se, no mínimo, umas 10 combinações diferentes. Cada jogo tem seu contra-jogo. Toda guarda tem sua passagem e não existe guarda intransponível ou passador que não é raspado. O jiu é uma arte realmente mágica, não é valorizada como deveria, mas isso se deve aos próprios praticantes e meios que usaram para 'divulgar' a arte no passado. rs

Tópico excelente!
Responda-o
#10
Um up e um like nesse tópico. Leiam.
"Primeiro vêm os sorrisos, depois as mentiras; por último, o tiroteio" - Roland de Gilead
Responda-o
#11
Tópico excelente! Xadrez melhor jogo que vir até hoje sobre estratégia.
"Antes de mas nada, saiba que você morrera e sera esquecido. Portanto, Busque  a felicidade dentro de sua alma e não fora. Entregue-se ao seu espirito. Somente ele estará com você depois da morte." (Nessahan Alita)

Spoiler Revelar
"Desenvolver apenas algumas camadas, negligenciando outras, mais cedo ou mais tarde, a vida cobrara o preço da negligencia." (Mandrake)

"Como eu sempre digo, o homem que não conhece a Real sempre acaba se dando mal." (Conde de Monte Cristo)
Responda-o
#12
Que texto maravilhoso, dispensando qualquer adendo!

Desde muito cedo, meu pai ensinou a mim e aos meus irmãos a jogar xadrez e isso sempre foi obrigatório em nossa casa. Anos mais tarde, tivemos o privilégio de ter disciplina de xadrez na escola e todo esse universo do "pensar; raciocinar; estrategiar", vem nos acompanhado até então. Paralelamente, também sempre estivemos em contato com artes marciais e a relação entre sí é a mais pura verdade.

Embora meu tempo seja escasso devido a rotina de muito trabalho e estudos, pratico Krav Maga a um bom tempo e agora estou encaixando Jiu Jitsu para complementar a defesa pessoal... Quanto ao xadrez, jogo com frequência com meu velho pai (Meu melhor amigo!!!).

Um grande abraço!
"Fiat justitia, et pereat mundus..."
Responda-o
#13
(28-07-2017, 02:01 PM)Lasker Escreveu: Saudações. Hoje trago mais um texto, dessa vez de minha autoria, que pode ter escapado àqueles que visitam meu blog, e que também pode ser interessante aos que não visitam. É uma pequena obra prima (modéstia a parte) e quem não a ler terá sua cidade visitada por hordas de cavaleiros com arcos, sua casa queimada e suas mulheres escravizadas. Original aqui.

[Image: xadrezsuave1.jpg?w=427&h=175]

“No tatame, mentiras e hipocrisia não duram muito tempo.”
Hélio Gracie

“Eu nunca derrotei outros mestres, eu sempre ajudo eles a se derrotarem.”
Emanuel Lasker, segundo campeão mundial de xadrez

Tendo aprendido a jogar xadrez quando criança, e praticando-o regularmente há cerca de 15 anos, a última coisa que eu esperava seria associar o rei dos jogos mentais a alguma atividade primordialmente física. Mas é exatamente isto que tem acontecido nos últimos 2 meses e meio desde que comecei a praticar também a arte suave. De fato, a minha ideia que o Jiu Jitsu era uma atividade primordialmente física se mostrou superficial, pois esta atividade requer um grau muito elevado de condicionamento mental. Em contra partida, o Xadrez também requer um bom condicionamento físico.

Mens sana in corpore sano

O nerd que vive lendo livros e não tem vida social.

O bombadão que não consegue completar uma frase sem erros linguísticos.

O que ambos tem em comum?

Eles são incompletos, desbalanceados, unidimensionais, falsos. Eles ignoram o provérbio latino “Mente sã em um corpo são” e acabam se prejudicando até mesmo em suas supostas áreas fortes.
No primeiro caso, a prática de qualquer uma das atividades, talvez ainda mais a prática do Jiu Jitsu, possa levar o nerd a desenvolver qualidades importantes como raciocínio (nerds geralmente possuem muitas informações armazenadas, mas pouca capacidade de pensar por si sós), confiança, sociabilidade e disciplina, entre outras.

No caso do bombado, ele pode aprender que apesar de a força ser importante, força sem auto-controle, sem inteligência e direção não levam a lugar nenhum, a não ser talvez a muitos problemas.

Qualquer que seja o caso, ambas atividades têm o incrível poder de balancear uma vida desbalanceada.

A posição é fundamental

Para o leigo, ou mesmo para grande parte dos iniciantes, a maioria dos jogos de xadrez de alto nível pode parecer extremamente entediante. Como se não bastasse o jogo se desenrolar às vezes por horas, é pouco comum que grandes mestres ataquem diretamente o rei do adversário, e não é raro que uma partida inteira se desenrole sem o ataque ao mesmo. Dado que o rei adversário é o próprio objetivo do jogo, isto sem duvida soa bizarro. Similarmente, no Jiu-Jitsu, vemos lutas do mais alto nível onde nenhum dos dois lutadores parece disposto a tentar finalizar o adversário, preferindo uma abordagem indireta de ganhos de posição, com o jogo baseado em passagens de guarda e raspagens.

Estas características refletem a beleza de ambas atividades, pois refletem o mundo real, onde não devemos dar passos maiores que a perna sob o risco de sofrermos graves danos. “Não ataque seu adversário se não possuir justificativa para isto” se aplica a ambos, e poderia ser traduzido para a vida real como “Não gaste mais dinheiro do que você possui”, “Não dê opiniões sobre assuntos que você não conhece” entre outros.

O melhor ataque pode ser a defesa

[Image: o-jiu-jitsu-que-criei-foi-para-dar-chanc...gracie.png]


Eu acho muito belo que um sujeito franzino como Hélio Gracie tenha se tornado uma das maiores lendas das artes marciais, criando o padrão ouro das lutas competitivas e um grande clã de lutadores. Talvez o clima ultra esportivo dos dias atuais tenha diminuído um pouco o impacto da ideia genial de Hélio, pois o Jiu Jitsu esportivo é dividido por categorias de peso, sexo e faixa. Em um ambiente não esportivo, de rua, mesmo uma pessoa relativamente frágil, mas que seja jiujitsuca detém uma chance relativamente maior de prevalecer do que quem não estudou a arte suave, apesar de forte.

Conquanto esta não seja exatamente uma semelhança tão próxima com o xadrez, o princípio de defesa como ataque também encontra respaldo neste. As ideias do primeiro campeão mundial de xadrez, Willhem Steinitz eram de que não eram corretos os ataques impulsivos de sua época. E sozinho, Steinitz revolucionou o xadrez com seu jogo defensivo, muito à moda com que Hélio revolucionou a competição marcial com sua nova arte defensiva.

As melhores coisas da vida são difíceis e recompensadoras
[Image: fc,550x550,white.u3.jpg]
“O xadrez, como a música e o amor, tem o poder de fazer as pessoas felizes.”
Siegbert Tarrasch


Você já parou para pensar porque, apesar de que hoje em dia termos um acesso enorme a bens materiais, a depressão tem crescido a ponto de ser chamada de o mal do século XXI? Bem, se você não sabe vou reproduzir as ideias do excelente livro Flow¹, de Mihaly Csikszentmihalyi: “O estado ótimo de experiência interna que pode ser alcançado é um onde há ordem na consciência. Isto acontece quando a energia psíquica – ou atenção – é investida em objetivos realistas, e quando as habilidades se adequam às oportunidades para ação.” (NT.: Em tradução livre do livro em inglês).

Isto significa que bens materiais, justamente por serem de fácil acesso, sem a necessidade de serem obtidos através de um foco concentrado, não trazem a felicidade justamente por isto. Somente atividades que requeiram atenção focada e uso de grande parte (ou toda) da habilidade do praticante para resolver os problemas daquela atividade. Ora o Jiu-Jitsu além de ser algo em constante evolução, exige décadas de dedicação para ser dominado, enquanto o xadrez é tão vasto que estima-se que existem mais partidas possíveis que átomos no universo.

Deste modo, fica claro que ambas práticas além de tudo que já se sabia sobre elas, podem também trazer a felicidade.

A verdade sempre prevalece
[Image: BJJchess.jpg]
“Faixa só serve para amarrar quimono.”
Hélio Gracie

Nick Krauser é um de meus escritores prediletos, não só pelos excelentes conselhos que ele dá a outros homens (e de graça), mas também pela sua amplitude intelectual. Em um de seus posts, ele convincentemente descreve como a maioria das profissões está infestada de pseudo-especialistas.
Para boa parte das artes marciais isto é verdadeiro. Como podemos medir o nível de alguém no Aikidô ou Krav-Magá se ambas não possuem métodos de treino realistas ou competições? É simplesmente impossível, e com isto fica difícil também distinguir especialistas de charlatães.

Os campos da economia e da nutrição talvez sejam ainda piores. Os ditos especialistas nessas áreas repetem à exaustão que são capazes de transformar pedras em pão, ou que devemos comer de três em três horas. A partir do momento em que não são eles que têm de arcar com as consequências dessas bobagens, além de protegerem da verdade atrás de meros papéis conhecidos como diplomas, a verdade sofre.

A epidemia de especialistas incompetentes é tão grande que mesmo PhD’s em matemática erraram o cálculo de probabilidades do problema de Monty Hall, mesmo após a clara explicação dada por Marilyn vos Savant.²
Mas não no Xadrez, e não no Jiu Jitsu. Somente os melhores prevalecem. Mova uma peça para o lugar errado e você estará próximo de tomar um xeque-mate. Distraia-se por meio segundo e a hora de bater em desistência para não ser enforcado está mais próxima. E esta é a mais bela das semelhanças entre o Jogo dos Reis e a Arte Suave. Bravatas e um papel qualquer com o nome de diploma nada valem. Você é tão bom quanto sua última performance, e os resultados falam por si sós. Em mundo que é e sempre foi permeado por mentiras, esta beleza não poderia passar despercebida.

Conclusão
E assim retorno ao ponto de onde parti, mas tenho de confessar algo. Eu menti. Alterei as citações do começo do artigo, mas foi por um bom motivo.

As citações verdadeiras são:

“No tabuleiro, mentiras e hipocrisia não duram muito tempo.”
Emanuel Lasker, segundo campeão mundial de xadrez

“Eu nunca derrotei ninguém, eu sempre ajudo meus adversários a se derrotarem.”
Hélio Gracie

Mas, se você acha que as citações “falsas” do começo do artigo bem que são verdadeiras, bem, meu objetivo foi cumprido.

Referências:
1. Csikszentmihalyi, Flow, pág. 6.
2. Mlodinow, O Andar do Bêbado, pág. 61.
Imagens obtidas através da pesquisa Google por “Chess Jiu Jitsu” e “Citação Hélio Gracie”.

Talvez seja o melhor texto que já li aqui no fórum em todo meu tempo de membro/visitante. So gostaria de ressaltar que o jogo de Steinitz não era bem um jogo defensivo, mas sim posicional, por isso ele é o pai do xadrez moderno. O jogo posicional é aquele que busca adquirir pequenas vantagens de posicao das peças no tabuleiro com o decorrer do jogo. Daí a comparação com o jiu-jitsu ser tão perfeita, este último que tambem se preocupar em conquistar pequenas vantagens sem afobação para finalizar imediatamente.
Responda-o
#14
Spoiler Revelar
(27-02-2019, 07:09 AM)007 Escreveu:
(28-07-2017, 02:01 PM)Lasker Escreveu: Saudações. Hoje trago mais um texto, dessa vez de minha autoria, que pode ter escapado àqueles que visitam meu blog, e que também pode ser interessante aos que não visitam. É uma pequena obra prima (modéstia a parte) e quem não a ler terá sua cidade visitada por hordas de cavaleiros com arcos, sua casa queimada e suas mulheres escravizadas. Original aqui.

[Image: xadrezsuave1.jpg?w=427&h=175]

“No tatame, mentiras e hipocrisia não duram muito tempo.”
Hélio Gracie

“Eu nunca derrotei outros mestres, eu sempre ajudo eles a se derrotarem.”
Emanuel Lasker, segundo campeão mundial de xadrez

Tendo aprendido a jogar xadrez quando criança, e praticando-o regularmente há cerca de 15 anos, a última coisa que eu esperava seria associar o rei dos jogos mentais a alguma atividade primordialmente física. Mas é exatamente isto que tem acontecido nos últimos 2 meses e meio desde que comecei a praticar também a arte suave. De fato, a minha ideia que o Jiu Jitsu era uma atividade primordialmente física se mostrou superficial, pois esta atividade requer um grau muito elevado de condicionamento mental. Em contra partida, o Xadrez também requer um bom condicionamento físico.

Mens sana in corpore sano

O nerd que vive lendo livros e não tem vida social.

O bombadão que não consegue completar uma frase sem erros linguísticos.

O que ambos tem em comum?

Eles são incompletos, desbalanceados, unidimensionais, falsos. Eles ignoram o provérbio latino “Mente sã em um corpo são” e acabam se prejudicando até mesmo em suas supostas áreas fortes.
No primeiro caso, a prática de qualquer uma das atividades, talvez ainda mais a prática do Jiu Jitsu, possa levar o nerd a desenvolver qualidades importantes como raciocínio (nerds geralmente possuem muitas informações armazenadas, mas pouca capacidade de pensar por si sós), confiança, sociabilidade e disciplina, entre outras.

No caso do bombado, ele pode aprender que apesar de a força ser importante, força sem auto-controle, sem inteligência e direção não levam a lugar nenhum, a não ser talvez a muitos problemas.

Qualquer que seja o caso, ambas atividades têm o incrível poder de balancear uma vida desbalanceada.

A posição é fundamental

Para o leigo, ou mesmo para grande parte dos iniciantes, a maioria dos jogos de xadrez de alto nível pode parecer extremamente entediante. Como se não bastasse o jogo se desenrolar às vezes por horas, é pouco comum que grandes mestres ataquem diretamente o rei do adversário, e não é raro que uma partida inteira se desenrole sem o ataque ao mesmo. Dado que o rei adversário é o próprio objetivo do jogo, isto sem duvida soa bizarro. Similarmente, no Jiu-Jitsu, vemos lutas do mais alto nível onde nenhum dos dois lutadores parece disposto a tentar finalizar o adversário, preferindo uma abordagem indireta de ganhos de posição, com o jogo baseado em passagens de guarda e raspagens.

Estas características refletem a beleza de ambas atividades, pois refletem o mundo real, onde não devemos dar passos maiores que a perna sob o risco de sofrermos graves danos. “Não ataque seu adversário se não possuir justificativa para isto” se aplica a ambos, e poderia ser traduzido para a vida real como “Não gaste mais dinheiro do que você possui”, “Não dê opiniões sobre assuntos que você não conhece” entre outros.

O melhor ataque pode ser a defesa

[Image: o-jiu-jitsu-que-criei-foi-para-dar-chanc...gracie.png]


Eu acho muito belo que um sujeito franzino como Hélio Gracie tenha se tornado uma das maiores lendas das artes marciais, criando o padrão ouro das lutas competitivas e um grande clã de lutadores. Talvez o clima ultra esportivo dos dias atuais tenha diminuído um pouco o impacto da ideia genial de Hélio, pois o Jiu Jitsu esportivo é dividido por categorias de peso, sexo e faixa. Em um ambiente não esportivo, de rua, mesmo uma pessoa relativamente frágil, mas que seja jiujitsuca detém uma chance relativamente maior de prevalecer do que quem não estudou a arte suave, apesar de forte.

Conquanto esta não seja exatamente uma semelhança tão próxima com o xadrez, o princípio de defesa como ataque também encontra respaldo neste. As ideias do primeiro campeão mundial de xadrez, Willhem Steinitz eram de que não eram corretos os ataques impulsivos de sua época. E sozinho, Steinitz revolucionou o xadrez com seu jogo defensivo, muito à moda com que Hélio revolucionou a competição marcial com sua nova arte defensiva.

As melhores coisas da vida são difíceis e recompensadoras
[Image: fc,550x550,white.u3.jpg]
“O xadrez, como a música e o amor, tem o poder de fazer as pessoas felizes.”
Siegbert Tarrasch


Você já parou para pensar porque, apesar de que hoje em dia termos um acesso enorme a bens materiais, a depressão tem crescido a ponto de ser chamada de o mal do século XXI? Bem, se você não sabe vou reproduzir as ideias do excelente livro Flow¹, de Mihaly Csikszentmihalyi: “O estado ótimo de experiência interna que pode ser alcançado é um onde há ordem na consciência. Isto acontece quando a energia psíquica – ou atenção – é investida em objetivos realistas, e quando as habilidades se adequam às oportunidades para ação.” (NT.: Em tradução livre do livro em inglês).

Isto significa que bens materiais, justamente por serem de fácil acesso, sem a necessidade de serem obtidos através de um foco concentrado, não trazem a felicidade justamente por isto. Somente atividades que requeiram atenção focada e uso de grande parte (ou toda) da habilidade do praticante para resolver os problemas daquela atividade. Ora o Jiu-Jitsu além de ser algo em constante evolução, exige décadas de dedicação para ser dominado, enquanto o xadrez é tão vasto que estima-se que existem mais partidas possíveis que átomos no universo.

Deste modo, fica claro que ambas práticas além de tudo que já se sabia sobre elas, podem também trazer a felicidade.

A verdade sempre prevalece
[Image: BJJchess.jpg]
“Faixa só serve para amarrar quimono.”
Hélio Gracie

Nick Krauser é um de meus escritores prediletos, não só pelos excelentes conselhos que ele dá a outros homens (e de graça), mas também pela sua amplitude intelectual. Em um de seus posts, ele convincentemente descreve como a maioria das profissões está infestada de pseudo-especialistas.
Para boa parte das artes marciais isto é verdadeiro. Como podemos medir o nível de alguém no Aikidô ou Krav-Magá se ambas não possuem métodos de treino realistas ou competições? É simplesmente impossível, e com isto fica difícil também distinguir especialistas de charlatães.

Os campos da economia e da nutrição talvez sejam ainda piores. Os ditos especialistas nessas áreas repetem à exaustão que são capazes de transformar pedras em pão, ou que devemos comer de três em três horas. A partir do momento em que não são eles que têm de arcar com as consequências dessas bobagens, além de protegerem da verdade atrás de meros papéis conhecidos como diplomas, a verdade sofre.

A epidemia de especialistas incompetentes é tão grande que mesmo PhD’s em matemática erraram o cálculo de probabilidades do problema de Monty Hall, mesmo após a clara explicação dada por Marilyn vos Savant.²
Mas não no Xadrez, e não no Jiu Jitsu. Somente os melhores prevalecem. Mova uma peça para o lugar errado e você estará próximo de tomar um xeque-mate. Distraia-se por meio segundo e a hora de bater em desistência para não ser enforcado está mais próxima. E esta é a mais bela das semelhanças entre o Jogo dos Reis e a Arte Suave. Bravatas e um papel qualquer com o nome de diploma nada valem. Você é tão bom quanto sua última performance, e os resultados falam por si sós. Em mundo que é e sempre foi permeado por mentiras, esta beleza não poderia passar despercebida.

Conclusão
E assim retorno ao ponto de onde parti, mas tenho de confessar algo. Eu menti. Alterei as citações do começo do artigo, mas foi por um bom motivo.

As citações verdadeiras são:

“No tabuleiro, mentiras e hipocrisia não duram muito tempo.”
Emanuel Lasker, segundo campeão mundial de xadrez

“Eu nunca derrotei ninguém, eu sempre ajudo meus adversários a se derrotarem.”
Hélio Gracie

Mas, se você acha que as citações “falsas” do começo do artigo bem que são verdadeiras, bem, meu objetivo foi cumprido.

Referências:
1. Csikszentmihalyi, Flow, pág. 6.
2. Mlodinow, O Andar do Bêbado, pág. 61.
Imagens obtidas através da pesquisa Google por “Chess Jiu Jitsu” e “Citação Hélio Gracie”.

Talvez seja o melhor texto que já li aqui no fórum em todo meu tempo de membro/visitante. So gostaria de ressaltar que o jogo de Steinitz não era bem um jogo defensivo, mas sim posicional, por isso ele é o pai do xadrez moderno. O jogo posicional é aquele que busca adquirir pequenas vantagens de posicao das peças no tabuleiro com o decorrer do jogo. Daí a comparação com o jiu-jitsu ser tão perfeita, este último que tambem se preocupar em conquistar pequenas vantagens sem afobação para finalizar imediatamente.

O Steinitz foi o criador do xadrez moderno ao perceber que o jogo seguia uma sequência lógica, mas também era bem defensivo, em muitos casos recuava várias peças para as primeiras fileiras confiando na solidez da estrutura. Creio que no livro Secrets of Chess Defence (altamente recomendado), de Mihail Marin, há um jogo ilustrativo disto, contra Mihail Chigorin, onde o Chigorin ataca e o Steinitz defende até o ataque do russo perder força e então contra atacar.
  • Sem a visão de um objetivo um homem não pode gerir a sua própria vida, e muito menos a vida dos outros.
Leia: Nuvem de Giz
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#15
O xadrez é um jogo antiquíssimo, tem muitos milênios de existência, e por isso não é de se estranhar que estejam ligadas a ele lendas cuja veracidade é difícil de comprovar, devido à sua antigüaidade. Para compreendê-lo, não é necessário ser um mestre no xadrez, basta simplesmente saber que o tabuleiro onde se joga está dividido em 64 casas, divididas igual e alternadamente em brancas e pretas.

Uma das lendas diz que o jogo de xadrez foi aperfeiçoado na Índia. Quando o rei Cheram o conheceu, ficou maravilhado do engenhoso que era esse jogo e da múltipla variedade de posições que nele são possíveis.

Ao se inteirar de que o suposto inventor era um de seus súditos, o rei mandou chamá-lo com o objetivo de recompensá-lo pessoalmente por seu acertado invento. O estudoso, de nome Seta, apresentou-se ante o soberano, vestindo-se com muita modéstia, e que vivia graças aos meios que lhe proporcionavan seus discípulos.

Seta, quero te recompensar dignamente pelo engenhoso jogo que inventaste, disse o rei. O sábio agradeceu, mas não aceitou a generosidade. Sou rico o bastante para cumprir qualquer desejo teu.

Diz-me recompensa que desejas e eu te satisfarei. Seta continuou calado. Não sejas tímido, expressa teu desejo, não vacilarei em nada para satisfazê-lo.
Grande é a tua magnanimidade, ó soberano, porém concede-me um curto prazo para meditar sobre a resposta, e amanhã, depois de árduas reflexões comunicarei ao senhor a petição.

Quando ao dia seguinte Seta se apresentou de novo ante o trono, deixou o rei maravilhado por sua petição sem precedentes. Soberano, disse Seta, manda que me entreguem um grão de trigo pela primeira casa do tabuleiro de xadrez. Um simples grão de trigo?, contesto admirado o rei. Sim, soberano, e pela segunda casa ordene que me entreguem dois grãos, pela terceira quatro grãos, pela quarta oito, pela quinta dezesseis, pela sexta trinta e dois etc.

Basta, o rei interrompeu irritado, receberás o trigo correspondente às 64 casas do Tabuleiro de acordo com teu desejo: a cada casinha receberás uma dupla quantidade que pediste, porém deverás saber que tua petição é indigna de minha generosidade; ao me pedir tão mísera recompensa menosprezas irreverentemente minha benevolência.

Em verdade, como sábio que és deverias Ter dado maior prova de respeito ante a bondade de teu soberano. Sai daqui, meus servos te darão esse saco de trigo que solicitaste.

Os matemáticos da corte trabalharam intensamente para calcular a recompensa de Seta, que ficou esperando na porta do palácio real. Somente ao amanhecer do outro dia o matemático chefe da corte solicitou audiência para apresentar ao rei um informe muito importante: Ó rei, calculamos escrupulosamente a quantidade de grãos que Seta deseja receber.

Resulta uma cifra astronômica, absurdamente gigantesca. Seja qual for sua magnitude, interrompeu com altivez o rei, meus graneiros não empobrecerão meus depósitos, prometi dar a recompensa a Seta e portanto eu a entregarei. Soberano, agora não depende de tua vontade o cumprir semelhante desejo, em todos os teus graneiros não existe a quantidade de trigo que exige Seta. Tampouco existe nos graneiros de todo o reino, até mesmo os graneiros do mundo são insuficientes.
Se desejas entregar sem falta a recompensa prometida, ordena que todos os reinos da terra se convertam em lavouras, manda secar mares y oceanos, ordena fundir os gelos y as neves que cobrem os distantes desertos do norte, que todo o espaço seja totalmente semeado e se ordene entregar toda a colheita obtida a Seta. Somente então receberá sua recompensa.

Diz-me qual é essa cifra tão monstruosa de grãos, disse o rei, reflexionando espantado. Ó soberano, são DEZOITO QUINTILHÕES, QUATROCENTOS E QUARENTA E SEIS QUATRILHÕES, SETECENTOS E SETENTA E QUATRO TRILHÕES, SETENTA E TRÊS BILHÕES, SETECENTOS E NOVE MILHÕES, CINQUENTA E UM MIL E SEISCENTOS E QUINZE (18.446.744.073.709.051.615).

Ou seja, é o mesmo que 2 elevado à potência 64…
A recompensa do Inventor do Xadrez deverá ocupar um volume aproximado de 12.000 Km3. Se o graneiro tivesse 4 metros de altura e 10 de largura, seu comprimento teria que ter 300.000.000 de quilômetros, ou seja, o dobro da distância que separa a Terra do Sol.





(trechos tomados do livro O Divertido Jogo das Matemáticas, de autoria de Perelman).
"Antes de mas nada, saiba que você morrera e sera esquecido. Portanto, Busque  a felicidade dentro de sua alma e não fora. Entregue-se ao seu espirito. Somente ele estará com você depois da morte." (Nessahan Alita)

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