17-07-2020, 09:47 PM
Acabei de terminar a leitura de Carta ao Pai de Franz Kafka:
Quem me sugeriu esse livro foi o @hjr_10. Vou postar a minha crítica com spoiler do livro abaixo. Essa análise ficou um pouco grande, vou tentar ser mais conciso aqui no tópico. Porém, ressalto que é importante a galera não só comentar quais os livros que leram, mas ir postando uma análise com a sua opinião sobre eles, como disse aqui no início do tópico:
Li esse outro livro do autor porque gostei da leitura de Metamorfose. Esse novo livro basicamente é uma carta que ele escreveu para o pai contando todas as suas frustrações com a vida, uma espécie de desabafo. Porém ele nunca teve coragem de enviar a carta ao pai. E só foi publicado depois de sua morte.
Minha nota final do livro é 4 de 5.
Quem me sugeriu esse livro foi o @hjr_10. Vou postar a minha crítica com spoiler do livro abaixo. Essa análise ficou um pouco grande, vou tentar ser mais conciso aqui no tópico. Porém, ressalto que é importante a galera não só comentar quais os livros que leram, mas ir postando uma análise com a sua opinião sobre eles, como disse aqui no início do tópico:
(26-07-2017, 11:59 PM)Libertador Escreveu: [ -> ]Conforme forem terminando de ler, é interessante fazer um comentário informando se valeu a pena ou não a leitura. O que acharam do livro. Porque assim os livros com bom feedback, a gente vai acrescentando na lista para ler também. E os livros ruins, a gente evita.
Li esse outro livro do autor porque gostei da leitura de Metamorfose. Esse novo livro basicamente é uma carta que ele escreveu para o pai contando todas as suas frustrações com a vida, uma espécie de desabafo. Porém ele nunca teve coragem de enviar a carta ao pai. E só foi publicado depois de sua morte.
Spoiler Revelar
Na descrição do livro, para mim o pai parece o perfeito insensato que é descrito em provérbios na Bíblia, quando alguém discordava de uma ideia ele se sentia ofendido e atacava a pessoa, não sabia lidar com opiniões contrárias e nem respeitava a opinião dos outros, xingava todos com total falta de respeito, julgava rapidamente e sem informações suficientes, opinião formada sobre tudo mesmo sobre coisas que não sabia, era inconsistente, mandava os filhos fazerem algo e ele mesmo descumpria as regras que dizia aos outros para seguir (exemplo: mandava com severidade não falar mal da cozinheira e nem da comida, mas vivia chamando a comida de grude preparado pela Besta), idolatrava pessoas em posição de poder e status mesmo sem conhecer elas ao mesmo tempo que criticava tudo que o filho fazia, gostava de piadas e gracejos imorais e indecentes e as ficava repetindo constantemente. Óbvio que essa é a versão de apenas um lado da história, a do filho, não dá pra saber se é exagero do Kafka ou se o pai era tão ruim como ele descreve.
Interessante observar também como o aspecto fraco e franzino do Franz Kafka intensificou sua submissão e fraqueza mental, parece que uma coisa leva a outra, assim como o oposto é válido, um corpo forte e imponente acaba facilitando a se desenvolver um caráter mais forte e dominante como era o caso do pai dele.
Outro ponto é que o Kafka, baseado em suas características de medo, fraqueza, covardia somatizava demais as coisas, ficava guardando e remoendo e isso ia consumindo ele, o auto-desprezo, o próprio Sams do livro Metamorfose retrata bem esse sentimento de culpa, e auto-recriminação mesmo sem estar errado que o Kafka sentia que representava essa relação que teve com seu pai, inclusive o desejo frustrado de uma autolibertacao e independencia, como se tivesse aprisionado dentro de si mesmo, sem saber se é melhor se libertar ou aprender a conviver bem dentro dessa prisão, que loucura.
Era isso que eu fazia quando era tímido ao extremo, ficava remoendo as coisas mentalmente, me sentia preso dentro do próprio corpo incapaz de me libertar e com raiva da minha fraqueza, sei bem como ele se sentia quando descreve isso no livro, só me curei quando forçadamente virei professor e me curei na força bruta com a exposição diária e constante ao meu maior medo como já relatado aqui no fórum, se eu tivesse dado aula só por uma semana ou duas eu teria voltado mais traumatizado ainda, mas passei pelo vale até chegar no fundo e continuei atravessando até de fato minha mente começar a tramar estratégias para lidar com a exposição constante ao público, depois de dois anos eu me curei por completo da timidez tanto de falar em público quanto a principal que era a de falar e conviver com as pessoas no dia a dia que era o que mais me afetava. Acho que faltou isso no Kafka, se forçar a virar professor em alguma escola para se libertar dessa prisão da timidez, mas no fim isso não faz diferença porque agora ele se encontra em outra prisão ainda maior e mais profunda que é a da morte.
Se ele não tivesse sido tão tímido e retraído ao seu próprio mundo talvez nunca tivesse escrito as suas obras que viraram clássicos, já que ele conseguia escrever tão bem esse trauma que carregava, então, talvez tenha sido melhor ele nunca ter superado a timidez, não para ele, mas para os outros. Há males que vem para bem.
Outro ponto que incomoda é que ele coloca a culpa de seus fracassos e frustrações no pai, até mesmo na religião, é o jogo da culpa, se você joga os seus problemas como vindo dos outros, tributando toda a culpa a fatores externos, então você é uma eterna vitima e não tem o que mudar já que a causa do problema não veio de você e era assim mesmo que ele se via, apesar de as vezes ter um pouco de lucidez e afirmar que sua personalidade o levaria a esse ponto (mas uma fuga para dizer que o problema era genético e assim consequentemente alem da sua esfera de influência)
Outro aspecto interessante é se observar a empatia dele de tentar entender o que levou o seu pai a ter certos comportamentos que lhe causaram tanta dor, então ele vai buscando analisar mais a fundo as causas. Apesar dele colocar o pai como uma figura imensa e imponente na sua cabeça, fazendo ele dar importância demais ao pai mesmo depois de adulto, como uma espécie de autoridade suprema, pessoas sem referências a Deus parece que projetam uma imagem muito grande à autoridade visível, no caso dele, o pai.
Esse trauma atinge também de forma oposta os homens que crescem sem pai e projetam mil coisas na cabeça idealizando como a vida seria melhor se tivesse um pai presente, e aqueles que ficam numa eterna busca pra descobrir quem são seus pais achando assim que conseguirão dar sentido a própria existência se souberem sua origem. Para mim isso é só idealização em excesso que a mente cria pela ausência de algo.
O ressentimento dele com o pai chega a beirar a loucura e o pior que é assim que muitas pessoas lidam com problemas não resolvidos com familiares e amigos próximos. Deixam a coisa mal resolvida e ficam somatizando pelo resto da vida em vez de simplesmente perdoar e se reconciliar e se livrar do fardo de uma vez por todas. O tópico A Real e o Perdão é muito instrutivo nesse ponto.
Ele é muito derrotista. Chega dá agonia algumas vezes. Em vez de se colocar como um agente ativo na vida ele se põe como um agente passivo e age como se toda a sua vida posterior fosse uma triste consequência que lhe sobrou a fazer depois de tudo que passou, depois do que passou aquele foi o único caminho que lhe restou a seguir, sequelas dos erros do pai que o forçaram a ter uma vida miserável e sem escolha, até para escolher a faculdade e no casamento ele aborda por esse prisma de como o pai destruiu sua vida e limitou suas escolhas, imagina esse infeliz se tivesse vivido poucas décadas depois e passado pelos campos de concentração. Com esse pensamento de vitima e fracassado não me surpreende o fato dele não conseguir prosseguir em paz na vida.
E, para finalizar, fato dele nunca ter enviado a carta ao pai, possivelmente por medo, demonstra na prática a verdade nas afirmações próprias dele de ser um covarde e de ter medo do pai.
Interessante observar também como o aspecto fraco e franzino do Franz Kafka intensificou sua submissão e fraqueza mental, parece que uma coisa leva a outra, assim como o oposto é válido, um corpo forte e imponente acaba facilitando a se desenvolver um caráter mais forte e dominante como era o caso do pai dele.
Outro ponto é que o Kafka, baseado em suas características de medo, fraqueza, covardia somatizava demais as coisas, ficava guardando e remoendo e isso ia consumindo ele, o auto-desprezo, o próprio Sams do livro Metamorfose retrata bem esse sentimento de culpa, e auto-recriminação mesmo sem estar errado que o Kafka sentia que representava essa relação que teve com seu pai, inclusive o desejo frustrado de uma autolibertacao e independencia, como se tivesse aprisionado dentro de si mesmo, sem saber se é melhor se libertar ou aprender a conviver bem dentro dessa prisão, que loucura.
Era isso que eu fazia quando era tímido ao extremo, ficava remoendo as coisas mentalmente, me sentia preso dentro do próprio corpo incapaz de me libertar e com raiva da minha fraqueza, sei bem como ele se sentia quando descreve isso no livro, só me curei quando forçadamente virei professor e me curei na força bruta com a exposição diária e constante ao meu maior medo como já relatado aqui no fórum, se eu tivesse dado aula só por uma semana ou duas eu teria voltado mais traumatizado ainda, mas passei pelo vale até chegar no fundo e continuei atravessando até de fato minha mente começar a tramar estratégias para lidar com a exposição constante ao público, depois de dois anos eu me curei por completo da timidez tanto de falar em público quanto a principal que era a de falar e conviver com as pessoas no dia a dia que era o que mais me afetava. Acho que faltou isso no Kafka, se forçar a virar professor em alguma escola para se libertar dessa prisão da timidez, mas no fim isso não faz diferença porque agora ele se encontra em outra prisão ainda maior e mais profunda que é a da morte.
Se ele não tivesse sido tão tímido e retraído ao seu próprio mundo talvez nunca tivesse escrito as suas obras que viraram clássicos, já que ele conseguia escrever tão bem esse trauma que carregava, então, talvez tenha sido melhor ele nunca ter superado a timidez, não para ele, mas para os outros. Há males que vem para bem.
Outro ponto que incomoda é que ele coloca a culpa de seus fracassos e frustrações no pai, até mesmo na religião, é o jogo da culpa, se você joga os seus problemas como vindo dos outros, tributando toda a culpa a fatores externos, então você é uma eterna vitima e não tem o que mudar já que a causa do problema não veio de você e era assim mesmo que ele se via, apesar de as vezes ter um pouco de lucidez e afirmar que sua personalidade o levaria a esse ponto (mas uma fuga para dizer que o problema era genético e assim consequentemente alem da sua esfera de influência)
Outro aspecto interessante é se observar a empatia dele de tentar entender o que levou o seu pai a ter certos comportamentos que lhe causaram tanta dor, então ele vai buscando analisar mais a fundo as causas. Apesar dele colocar o pai como uma figura imensa e imponente na sua cabeça, fazendo ele dar importância demais ao pai mesmo depois de adulto, como uma espécie de autoridade suprema, pessoas sem referências a Deus parece que projetam uma imagem muito grande à autoridade visível, no caso dele, o pai.
Esse trauma atinge também de forma oposta os homens que crescem sem pai e projetam mil coisas na cabeça idealizando como a vida seria melhor se tivesse um pai presente, e aqueles que ficam numa eterna busca pra descobrir quem são seus pais achando assim que conseguirão dar sentido a própria existência se souberem sua origem. Para mim isso é só idealização em excesso que a mente cria pela ausência de algo.
O ressentimento dele com o pai chega a beirar a loucura e o pior que é assim que muitas pessoas lidam com problemas não resolvidos com familiares e amigos próximos. Deixam a coisa mal resolvida e ficam somatizando pelo resto da vida em vez de simplesmente perdoar e se reconciliar e se livrar do fardo de uma vez por todas. O tópico A Real e o Perdão é muito instrutivo nesse ponto.
Ele é muito derrotista. Chega dá agonia algumas vezes. Em vez de se colocar como um agente ativo na vida ele se põe como um agente passivo e age como se toda a sua vida posterior fosse uma triste consequência que lhe sobrou a fazer depois de tudo que passou, depois do que passou aquele foi o único caminho que lhe restou a seguir, sequelas dos erros do pai que o forçaram a ter uma vida miserável e sem escolha, até para escolher a faculdade e no casamento ele aborda por esse prisma de como o pai destruiu sua vida e limitou suas escolhas, imagina esse infeliz se tivesse vivido poucas décadas depois e passado pelos campos de concentração. Com esse pensamento de vitima e fracassado não me surpreende o fato dele não conseguir prosseguir em paz na vida.
E, para finalizar, fato dele nunca ter enviado a carta ao pai, possivelmente por medo, demonstra na prática a verdade nas afirmações próprias dele de ser um covarde e de ter medo do pai.
Minha nota final do livro é 4 de 5.