29-09-2020, 09:47 PM
Citação:Gregor Samsa, ao acordar de sonhos intranquilos, encontra-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso.
PUTA QUE O PARIU!
Se você for pesquisar qualquer coisa relacionada ao Kafka e o texto não iniciar com essa citação de A Metamorfose, pode fechar o site e ir para outro, pois o sujeito não sabe absolutamente nada desse cidadão. Essa frase é, inclusive, a primeira do livro. Você abre a obra, e logo na primeira linha se depara com esses dizeres. Depois vou falar mais de A Metamorfose, mas já adianto que no final vou deixar outro começo absurdo de uma outra obra dele. PEDRADA NA FUÇA!
Franz Kafka nasceu em 03 de julho de 1883, na cidade de Praga (na época, Império Austro-Húngaro, hoje, República Tcheca [ele só se tornou cidadão tcheco nos últimos cinco anos de sua vida, ou seja, foi a vida inteira um cidadão austríaco e escreveu em alemão, apesar de ser judeu]).
Teve uma infância e adolescência complicada, devido ao seu relacionamento com o pai, muito rígido e autoritário. Isso causou consequências permanentes no comportamento do Kafka, pois ele era extremamente magoado com isso, ressentido, ao passo que se tornou uma pessoa isolada emocionalmente e rebelde. Até na sua relação com mulheres isso teve influência. Ele frequentava bordéis, os famosos puteiros de hoje em dia, mas não conseguiu se firmar com nenhuma mulher seriamente. Ao que parece, também era um apreciador de pornografia. Tudo isso vai de encontro ao relacionamento agressivo de seu pai com ele. Pode ser que ele via no ato de pegar muitas mulheres uma chance de se achar mais homem, sei lá.
Franz cursou direito e foi na faculdade que conheceu seu fiel amigo de vida, Max Brod, que foi seu biógrafo. Aliás, devemos muito ao Brod, pois muita coisa só foi publicada por conta desse cidadão. O Kafka queria que seus escritos fossem destruídos (ele mesmo queimou uma parte imensa de seu acervo), mas Max não deu ouvidos (graças a Deus). Interessante que o Kafka deixou os direitos de sua obra para seu amigo Brod. No pedido, Franz diz que os escritos deveriam ser queimados sem serem lidos, logo após sua morte.
Uma peguete dele também guardou uma cacetada de livros e cadernos quando ele morreu. Ao que parece, esses papéis foram confiscados pela Gestapo em 1933 (Gestapo era a polícia secreta da Alemanha Nazista).
Depois de se formar em Direito, arrumou um emprego numa corretora de seguros. Ele foi parar em outros trabalhos depois dessa corretora, mas reclamava bastante devido a sua carga horária de trabalho, que o deixava sem muito tempo para produzir suas genialidades.
A expressão “kafkiano” é sempre lembrada por escritores e críticos literários, pois significa algo difícil, surreal, estranhamente estranho (hein?), algo nesse sentido.
Kafka morreu em 3 de junho de 1924, com apenas 40 anos. Sofria de tuberculose.
Imagina se tivesse vivido 60, 70 anos... poderia ter escrito mais uma porrada de livros, foi uma pena.
Falando um pouco sobre minha experiência com os livros dele, até o momento li A Metamorfose e Carta ao Pai, ao passo que estou no fim de O Processo.
Carta ao Pai é interessante, pois por mais que não seja um clássico como os outros, é um divisor de águas para entender a escrita do Kafka. Digo, pois em Carta ao Pai ele descreve toda a conturbada relação que tinha com seu pai. Inclusive, ele não entregou essa carta ao pai e foi seu amigo Brod que publicou.
De cara você já consegue identificar essa relação difícil no livro A Metamorfose, onde Samsa causa repulsa em sua família.
Aproveitando o gancho, eu já li livros mais pesados que A Metamorfose. Li Fuga do Campo 14, Max (esse livro é excepcional, o final mais surpreendente que já tive contato), Noite na Taverna (pedofilia, necrofilia, assassinato, morte e por aí vai, é isso que você vai encontrar), enfim, entre outros, mas nenhum me fez ficar tão mal e refletir quanto A Metamorfose.
Fiquei dias e dias remoendo esse livro, entrei em colisão comigo mesmo e devo confessar: não me sinto à vontade quando lembro da história desse livro. Fico inquieto, incomodado, sem lugar. Samsa vai de chefe de família (mesmo ele sendo o filho, bancava as despesas) para um fardo de toneladas nas costas de sua família.
Livro extremamente claustrofóbico, se passa todo praticamente dentro do quarto de Gregor. Que descaso, que desumano, que barbaridade essa história.
Enfim, quem ainda não leu, pode baixar aqui o PDF.
E detalhe: eu li e tenho o livro físico, mas meu primeiro contato com ele foi através de um audiobook. Ele está disponível de graça no aplicativo da Saraiva.
Sobre O Processo, quando terminar eu relato aqui, mas é essa obra que tem outra pedrada logo na primeira linha do livro.
SEGURA QUE LÁ VEM:
Citação:Alguém certamente havia caluniado Josef K., pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum.
Agora que terminei de escrever essa passagem, me veio aqui a palavra que melhor descreve os momentos de leitura kafkiana: AFLIÇÃO!
Bom, eu escrevi um pouco mais sobre minhas experiências e dei uma esplanada mais geral sobre a vida do Kafka. Mas tem um motivo. O professor Rodrigo Gurgel tem um vídeo que é uma obra prima, falando sobre a vida e o legado deixado pelo Kafka. Qualquer tentativa de igualar o vídeo que ele fez deve ser considerado um crime!
São 33 minutos de vídeo que valem e muito a pena serem assistidos. Coloca pra rodar quando tiver no banho, almoçando, cagando, sei lá, só não fique sem assistir, é valioso demais.
Canal do Gurgel tem 91 mil inscritos. Do Felipe Feto, uns 30 milhões.
Essencial Kafka, vídeo acima, não tem 23 mil visualizações. Kéfera ensinando as moçoilas a peidarem no primeiro encontro, tem 10 milhões.
Faz sentido o Brasil estar nessa situação.