26-09-2018, 09:06 PM
Meus cumprimentos, Legado Realista. Escrevo desde Minas Gerais este relato de minha experiência com uma Uniesquina.
1. ANTES DA FACULDADE
Sempre estudei em escolas públicas, do pré-escolar até ao 3º ano do ensino médio. Eu era considerado um bom aluno, tirava notas boas, e não era do tipo bagunceiro. No final do ano de 2011, formei no ensino médio. Saí do 3º ano totalmente desorientado com relação ao meu futuro, não tinha ideia de qual faculdade cursar. Digamos que eu não tinha consciência de vocação para qualquer profissão específica. Já naquela época Medicina era a única graduação que compensava fazer, em termos de retorno financeiro imediato, mas eu não gostava e não era bom nas matérias que mais têm a ver com o curso, Biologia e Química. Por isso, logo descartei fazer Medicina.
Sou o primeiro da minha família, entre pai, mãe e irmãos, a obter diploma em ensino superior, então não tenho nenhuma referência dentro de casa quanto a fazer uma faculdade. Logicamente, meus familiares não tinham condições de me dar qualquer tipo de orientação a respeito. O resultado disso é que fiz um vestibular seriado e também o ENEM sem ter um objetivo claro em minha mente. Em ambos os casos fiz as provas com o intuito de esperar o resultado final e ver para qual curso minha nota seria suficiente.
No vestibular seriado resolvi concorrer para o curso de História, que era uma disciplina que gostava na escola, e por acreditar que com minha nota não conseguiria algo melhor. Mas não tinha certeza disso. Fui aprovado e fiz o primeiro período, era em uma universidade pública da região onde moro. No ENEM, consegui vaga no curso de Direito, em uma faculdade particular, por meio do ProUni. Devido a faculdade Direito ter mais status e por abrir um leque maior de opções de atuação profissional, abandonei o curso de História.
Sou muito grato por ter conseguido uma bolsa integral, afinal não teria condições de pagar uma faculdade de Direito com recursos próprios. Mas, ao mesmo tempo, lamento, porque tenho certeza que com um pouco de estudo direcionado conseguiria uma vaga em uma universidade pública. Faltou alguém ali para me aconselhar… Enfim, fui estudar numa Uniesquina.
2. A FACULDADE
Iniciei a graduação em Direito em uma faculdade a qual não mencionarei o nome para me preservar. Aquela instituição reúne algumas características que a enquadra no conceito de Uniesquina:
- É uma faculdade particular;
- O vestibular é uma mera formalidade, já que não existe uma seleção propriamente dita. O objetivo é matricular o máximo de alunos possíveis.
- Estilo pagou-passou: a reprovação semestral com dependência é evitada para não afugentar os alunos-clientes;
1. ANTES DA FACULDADE
Sempre estudei em escolas públicas, do pré-escolar até ao 3º ano do ensino médio. Eu era considerado um bom aluno, tirava notas boas, e não era do tipo bagunceiro. No final do ano de 2011, formei no ensino médio. Saí do 3º ano totalmente desorientado com relação ao meu futuro, não tinha ideia de qual faculdade cursar. Digamos que eu não tinha consciência de vocação para qualquer profissão específica. Já naquela época Medicina era a única graduação que compensava fazer, em termos de retorno financeiro imediato, mas eu não gostava e não era bom nas matérias que mais têm a ver com o curso, Biologia e Química. Por isso, logo descartei fazer Medicina.
Sou o primeiro da minha família, entre pai, mãe e irmãos, a obter diploma em ensino superior, então não tenho nenhuma referência dentro de casa quanto a fazer uma faculdade. Logicamente, meus familiares não tinham condições de me dar qualquer tipo de orientação a respeito. O resultado disso é que fiz um vestibular seriado e também o ENEM sem ter um objetivo claro em minha mente. Em ambos os casos fiz as provas com o intuito de esperar o resultado final e ver para qual curso minha nota seria suficiente.
No vestibular seriado resolvi concorrer para o curso de História, que era uma disciplina que gostava na escola, e por acreditar que com minha nota não conseguiria algo melhor. Mas não tinha certeza disso. Fui aprovado e fiz o primeiro período, era em uma universidade pública da região onde moro. No ENEM, consegui vaga no curso de Direito, em uma faculdade particular, por meio do ProUni. Devido a faculdade Direito ter mais status e por abrir um leque maior de opções de atuação profissional, abandonei o curso de História.
Sou muito grato por ter conseguido uma bolsa integral, afinal não teria condições de pagar uma faculdade de Direito com recursos próprios. Mas, ao mesmo tempo, lamento, porque tenho certeza que com um pouco de estudo direcionado conseguiria uma vaga em uma universidade pública. Faltou alguém ali para me aconselhar… Enfim, fui estudar numa Uniesquina.
2. A FACULDADE
Iniciei a graduação em Direito em uma faculdade a qual não mencionarei o nome para me preservar. Aquela instituição reúne algumas características que a enquadra no conceito de Uniesquina:
- É uma faculdade particular;
- O vestibular é uma mera formalidade, já que não existe uma seleção propriamente dita. O objetivo é matricular o máximo de alunos possíveis.
- Estilo pagou-passou: a reprovação semestral com dependência é evitada para não afugentar os alunos-clientes;
- Desorganização em diversos aspectos.
Daí que a maioria dos alunos não tinham muito comprometimento com os estudos, já outros não tinham uma boa base escolar, o que impedia os professores aprofundarem determinadas matérias e de serem mais exigentes nas avaliações. Por isso, o aprendizado era quase sempre superficial.
No primeiro dia de aula já dei de cara com um sinal de que se tratava de uma Uniesquina, pois fomos informados que as aulas ocorreriam no auditório da faculdade, pois a sala de aula da minha turma ainda estava em fase de construção. Olhem só, eles receberam mais graduandos sem nem terem estrutura para isso. E não foi só por alguns dias, ficamos tendo aula no auditório durante todo o semestre. Quando tinha algum evento na faculdade realizado no auditório, não tinha aula e os alunos ficavam prejudicados.
Retornando aos alunos, era triste a falta de interesse de grande parte de meus colegas, parecia que eles estavam ali só para cumprir um protocolo, não para adquirir conhecimento e ter uma formação profissional. O que mais tinha era gente conversando ou mexendo no celular durante explicações dos professores. O pessoal também tinha muita preguiça de fazer as atividades. As faltas eram um problema sério, pouquíssimos alunos compareciam às aulas todos os dias da semana, outros apareciam dois ou três dias, no máximo. Mas eles não eram reprovados por falta? Não, os professores não fazem chamada em Uniesquinas.
Era comum o professor está explicando a matéria quando então saía uma fileira de quatro, cinco alunos indo embora mais cedo. Eu percebia a irritação dos professores quando isso acontecia, além de ficarem desmotivados para continuar a aula.
Nos dias em que tinha prova era uma verdadeira histeria na sala antes de começar a avaliação, com os alunos trocando informações sobre a prova que tinha sido aplicada nas outras turmas, fazendo e escondendo colas. A cola parece está enraizada na cultura do estudante brasileiro, e dá para compreender as colinhas feitas lá no Ensino Fundamental, pela infantilidade dos adolescentes nessa fase, mas em uma faculdade não faz sentido algum. Eles não estudavam para as provas e se comportavam igual aos meus colegas da 7ª série.
Abaixo um exemplo de aluno que se forma em uma Uniesquina.
Este convite viralizou na internet. As Uniesquinas estão de cheias de engraçadinhos
Daí que a maioria dos alunos não tinham muito comprometimento com os estudos, já outros não tinham uma boa base escolar, o que impedia os professores aprofundarem determinadas matérias e de serem mais exigentes nas avaliações. Por isso, o aprendizado era quase sempre superficial.
No primeiro dia de aula já dei de cara com um sinal de que se tratava de uma Uniesquina, pois fomos informados que as aulas ocorreriam no auditório da faculdade, pois a sala de aula da minha turma ainda estava em fase de construção. Olhem só, eles receberam mais graduandos sem nem terem estrutura para isso. E não foi só por alguns dias, ficamos tendo aula no auditório durante todo o semestre. Quando tinha algum evento na faculdade realizado no auditório, não tinha aula e os alunos ficavam prejudicados.
Retornando aos alunos, era triste a falta de interesse de grande parte de meus colegas, parecia que eles estavam ali só para cumprir um protocolo, não para adquirir conhecimento e ter uma formação profissional. O que mais tinha era gente conversando ou mexendo no celular durante explicações dos professores. O pessoal também tinha muita preguiça de fazer as atividades. As faltas eram um problema sério, pouquíssimos alunos compareciam às aulas todos os dias da semana, outros apareciam dois ou três dias, no máximo. Mas eles não eram reprovados por falta? Não, os professores não fazem chamada em Uniesquinas.
Era comum o professor está explicando a matéria quando então saía uma fileira de quatro, cinco alunos indo embora mais cedo. Eu percebia a irritação dos professores quando isso acontecia, além de ficarem desmotivados para continuar a aula.
Nos dias em que tinha prova era uma verdadeira histeria na sala antes de começar a avaliação, com os alunos trocando informações sobre a prova que tinha sido aplicada nas outras turmas, fazendo e escondendo colas. A cola parece está enraizada na cultura do estudante brasileiro, e dá para compreender as colinhas feitas lá no Ensino Fundamental, pela infantilidade dos adolescentes nessa fase, mas em uma faculdade não faz sentido algum. Eles não estudavam para as provas e se comportavam igual aos meus colegas da 7ª série.
Abaixo um exemplo de aluno que se forma em uma Uniesquina.
Este convite viralizou na internet. As Uniesquinas estão de cheias de engraçadinhos
sem graça igual esse.
O problema disso tudo é que quem realmente está interessado em aprender e no futuro se tornar um bom profissional precisa de muita concentração, para se manter indiferente ao ambiente uniesquinense. Quem não tem autocontrole se deixa levar pela onda de oba-oba, e passa todo o curso em azarações, barzinhos e farras.
A facilidade em passar para o próximo período era imensa, já que as provas não exigiam muito do aluno, nem havia reprovação por falta. Os professores também costumavam distribuir pontos de graça. Todos esses fatores convidavam para fazer da faculdade uma recreação.
Mas eu não estava ali pra perder o meu tempo e foquei nos estudos. Inclusive, na época de fazer estágio eu consegui passar em uma concorrida prova de seleção de estagiários para o estágio mais cobiçado da região, concorrendo também com alunos de universidade pública.
Para finalizar essa parte, após ser aprovado no TCC (na Uniesquina em que formei era um artigo científico, bem mais fácil do que monografia) me formei e estou trabalhando na área, ganhando pouco, o que é normal no início, mas tenho consciência de que fiz uma boa graduação.
3. APÓS A FACULDADE
É de conhecimento geral que hoje em dia um diploma em ensino superior não significa muita coisa. Pra quem se forma em uma Uniesquina a situação é mais desanimadora, pois o currículo fica menos atrativo. No meu caso, a faculdade em que formei tem uma certa má fama, querendo ou não as pessoas têm preconceito em relação a isso. Mas sei que cabe a mim superar essa dificuldade inicial, fazer o meu melhor e os resultados virão.
Apesar de tudo o que eu expus até aqui, acredito de verdade naquela frase já clichê de quem faz a diferença é o aluno, não a instituição em que se forma. Não me sinto inferior aos graduados em universidades públicas. Já provei isso pra mim mesmo quando consegui uma vaga naquele cobiçado estágio que mencionei acima. Também consegui passar no Exame da OAB, que é uma peneira do curso de Direito, temida devido aos altos índices de reprovação, isso na primeira tentativa.
Por isso, digo que quem não tiver oportunidade de estudar em uma universidade conceituada, seja lá qual for o motivo, não deve ficar grilado com isso, apenas se esforce, estude por conta própria se for necessário, evite e supere o que a Uniesquina tem de ruim a oferecer e corra atrás do sucesso.
O problema disso tudo é que quem realmente está interessado em aprender e no futuro se tornar um bom profissional precisa de muita concentração, para se manter indiferente ao ambiente uniesquinense. Quem não tem autocontrole se deixa levar pela onda de oba-oba, e passa todo o curso em azarações, barzinhos e farras.
A facilidade em passar para o próximo período era imensa, já que as provas não exigiam muito do aluno, nem havia reprovação por falta. Os professores também costumavam distribuir pontos de graça. Todos esses fatores convidavam para fazer da faculdade uma recreação.
Mas eu não estava ali pra perder o meu tempo e foquei nos estudos. Inclusive, na época de fazer estágio eu consegui passar em uma concorrida prova de seleção de estagiários para o estágio mais cobiçado da região, concorrendo também com alunos de universidade pública.
Para finalizar essa parte, após ser aprovado no TCC (na Uniesquina em que formei era um artigo científico, bem mais fácil do que monografia) me formei e estou trabalhando na área, ganhando pouco, o que é normal no início, mas tenho consciência de que fiz uma boa graduação.
3. APÓS A FACULDADE
É de conhecimento geral que hoje em dia um diploma em ensino superior não significa muita coisa. Pra quem se forma em uma Uniesquina a situação é mais desanimadora, pois o currículo fica menos atrativo. No meu caso, a faculdade em que formei tem uma certa má fama, querendo ou não as pessoas têm preconceito em relação a isso. Mas sei que cabe a mim superar essa dificuldade inicial, fazer o meu melhor e os resultados virão.
Apesar de tudo o que eu expus até aqui, acredito de verdade naquela frase já clichê de quem faz a diferença é o aluno, não a instituição em que se forma. Não me sinto inferior aos graduados em universidades públicas. Já provei isso pra mim mesmo quando consegui uma vaga naquele cobiçado estágio que mencionei acima. Também consegui passar no Exame da OAB, que é uma peneira do curso de Direito, temida devido aos altos índices de reprovação, isso na primeira tentativa.
Por isso, digo que quem não tiver oportunidade de estudar em uma universidade conceituada, seja lá qual for o motivo, não deve ficar grilado com isso, apenas se esforce, estude por conta própria se for necessário, evite e supere o que a Uniesquina tem de ruim a oferecer e corra atrás do sucesso.